Eleição e Predestinação
1. Eleitos de Deus
"3 como me foi este mistério manifestado pela revelação como acima, em pouco, vos escrevi,
4 pelo que, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo,
5 o qual, noutros séculos, não foi manifestado aos filhos dos homens, como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas,
6 a saber, que os gentios são coerdeiros, e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho;
7 do qual fui feito ministro, pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder.
8 A mim, o mínimo de todos os santos, me foi dada esta graça de anunciar entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo."
(Efésios 1.3-8)
3. Este versículo está repleto da ideia de bênção, Os santos bendizem a Deus por tê-los abençoado com todas as bênçãos espirituais. Quando bendizemos a Deus, não Lhe acrescentamos nada, simplesmente rendemos-Lhe Seu devido louvor. Quando, porém, Deus nos abençoa, Ele acrescenta-nos tudo que vale a pena ter, "todas as bênçãos espirituais".
Aquele que abençoa é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, e as bênçãos são todas de natureza espiritual, e se encontram nos lugares celestiais em Cristo, Aquele que abençoa é um que nem os patriarcas, nem a nação de Israel, conheciam como tal - Ele é o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, ressurrecto dentre os mortos (João 20:17); as bênçãos são coerentes com isto estão em Cristo, agora à destra de Deus, não assentado no trono de Davi, e são, portanto, celestiais e não terrestres, espirituais e não temporais. Nenhuma bênção terrestre ou temporal poderá ser maior do que estas.
Leia "com todas as bênçãos espirituais"(en pase eulogiay, e entenda que a totalidade de bênçãos espirituais é o dom de Deus para cada um dos Seus santos.
Deus não distribui Suas bênçãos por etapas; não há primeira, segunda e terceira bênçãos; todas elas já nos pertencem. Contudo, o desfrutar delas é outra questão.
4. Agora Paulo fala mais sobre essas bênçãos espirituais, referindo-se, especialmente, Àquele que as dá. No v. 4, o Deus soberano faz uma escolha em Cristo antes da fundação do mundo; no v. 5, o Pai de nosso Senhor Jesus, segundo o beneplácito da Sua vontade, predestina para a adoção de filhos, Vemos Deus operando para Sua própria glória, e para a satisfação eterna de Seu próprio coração.
No v. 4, Ele quer um povo diante (katenopion) dEle em amor; no v. 5, Ele quer um povo para (eis) Si, como filhos, Eleição, conforme o v, 4 ensina, relaciona-se com um Deus soberano, refere-se ao passado, e diz respeito a pessoas; predestinação, porém, conforme o v, 5 ensina, tem a ver com o beneplácito do Pai, refere-se ao futuro, e diz respeito a uma posição designada para pessoas (veja também Rom, 8:29).
No caso de Israel houve também eleição e adoção de filhos, mas com esta diferença: a sua eleição foi como nação, eram uma raça eleita; sua adoção também foi como nação: "Israel é Meu filho" (Êx, 4:22).
A eleição desta era presente é individual, como também o é a adoção de filhos, A Bíblia ensina sobre a eleição de anjos, de Israel, e da Igreja e, embora haja muito nesta verdade que não podemos compreender, nós a aceitamos com humildade e adoração. Para entendê-Ia plenamente, seria necessário saber tanto quanto Deus sabe. É a orgulhosa mente humana que rejeita aquilo que não pode compreender.
Paulo mostra a esfera, o tempo, e o propósito da escolha de Deus. A esfera foi "em Cristo": a escolha do indivíduo foi em Cristo, e não em qualquer coisa no próprio indivíduo, O tempo foi "antes da fundação do mundo" (veja também João 17:24; I Ped. 1:20): isto é, antes da criação do mundo, antes que o tempo começasse, antes que o homem existisse, e antes da entrada do pecado.
O propósito foi "que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em já tornou-se essencialmente verdadeiro dos santos de Deus. O que a Igreja há de ser naquele grande dia, quando Cristo a apresentar a Si mesmo (5:27), assim é cada filho de Deus agora, essencialmente, e assim será eternamente, perante a face de Deus. Embora muitos julgam que a expressão "em amor" introduz o assunto da predestinação no v. 5 (veja, por exemplo, a pontuação dos vs. 4 e 5 na ARA; N. do R.) o pensamento parece ser, todavia, que o propósito de Deus é ter perante Si um povo, não somente conforme a Sua santidade, "santos e irrepreensíveis", mas também um povo que se alegra no Seu amor.
5. Predestinação significa simplesmente "designar de antemão" (veja também Atos 4:28; Rom. 8:29,30; I Cor. 2:7).
A palavra ocorre duas vezes neste capítulo (nos vs. 5 e 11), e a ligação, além de ser importante, é preciosa: no v. 5 é predestinação para adoção de filhos, mas no v. II é predestinação para uma herança. "Filhos de adoção" é uma só palavra no texto grego (huiothesia), e ocorre em Rom. 8:15, 23; 9:4; Gál. 4:5; e Ef. 1:5.
É composta de duas palavras, e quer dizer, literalmente, "colocação de filhos" ou "posição de filho".
Já recebemos esta adoção (Gál. 4:5); e já temos o Espírito de adoção (Rom. 8: 15); mas na sua plenitude, adoção de filhos também indica conformidade física com o Filho de Deus, e isto nós aguardamos (Rom. 8:23), e para isto fomos predestinados (Ef. 1 :5; veja também Rom. 8:29). O Pai terá para Si muitos filhos trazendo a imagem de Seu próprio Filho, e está realizando isto por meio de Jesus Cristo (veja também Gál. 4:4, 5).
Desse modo, o Pai manifesta o beneplácito de Sua própria vontade. Deus queria ter prazer nos homens (Luc. 2:14), mas nunca o encontrou, a não ser no Seu próprio Filho (Mal. 3: 17; 17:5; Mar. I: 11; Luc. 3:22); alcançá-lo-á também em nós, pois nos predestinou para sermos semelhantes ao Seu próprio Filho.
6. "Agradáveis a Si no Amado" resume o ensino dos vs. 4 e 5.
Traduzir charitoo como "agradáveis" é insuficiente; esta palavra ocorre outra vez somente em Luc. 1:28, onde é traduzida "muito favorecida" (ARA). Usando esta palavra, Paulo refere-se à plenitude do favor que Deus nos concedeu, quando nos elegeu e nos predestinou. Sendo abençoados em Cristo (v. 3), e eleitos nEle (v. 4), agora, diz o apóstolo, somos "muito favorecidos no Amado".
Essa plenitude de favor divino nos pertence nAquele que é o Amado de Seu Pai. Foi-nos concedido, não somente favor divino no Amado, mas isto é uma expressão da glória da graça de Deus, e há de ser o motivo de louvor a Deus, tanto agora como para todo o sempre.
7. Nos vs. 7-12 Paulo escreve sobre a obra de Cristo em relação ao passado e ao futuro.
Observe a repetição de "em quem" nos vs. 7 e 11;
"Em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas" (v. 7);
"Em quem também fomos feitos herança" (v. 11).
Na sua defesa perante Agripa, em Atos 26: 18, Paulo outra vez associa a remissão com uma herança. A vontade de Deus a nosso respeito jamais poderia ser realizada sem a obra de Cristo; nunca poderíamos ser tão favorecidos por Deus, sem que a nossa necessidade, devido ao pecado, fosse resolvida.
Agora Paulo dá-nos a entender que, conforme as mesmas riquezas da Sua graça, pelas quais, Deus perdoou os nossos pecados. Ele também nos recebe e nos revela os segredos de Seu coração.
Os nossos pecados, ou transgressões (paraptoma), necessitam de perdão divino, ou remissão (aphesis), e isto já temos como possessão nEle (no Amado), e pelo Seu sangue.
Tudo isso é segundo as riquezas da graça de Deus. Deus veio ao encontro de nossas necessidades, não segundo a medida da nossa necessidade, e sim, segundo as riquezas da Sua graça.
No v. 6, Paulo faz menção da glória da graça de Deus, e no v. 7 das riquezas da Sua graça. A glória da Sua graça é graça coerente com a Sua glória; as riquezas da Sua graça é uma graça que supre abundantemente a nossa necessidade.
8. "Que Ele fez abundar para conosco" indica que há algo nas riquezas da Sua graça que vai além do mero suprimento de nossa necessidade como pecadores.
Nestas mesmas riquezas da Sua graça, por meio das quais, Deus perdoou as nossas transgressões.
Ele também fez abundar o Seu favor para conosco em toda a sabedoria e prudência. Sabedoria ou esclarecimento (sophia), e prudência ou inteligência (phronesis), não se referem à maneira como Deus fez abundar a Sua graça, mas antes, referem-se àquilo que Ele nos outorgou, capacitando-nos a conhecer aquilo que está além da compreensão natural - a inteligência para conhecer, e toda a sabedoria para admirar.
Por A. Leckie
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"Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos estrangeiros dispersos no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia,2 eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: graça e paz vos sejam multiplicadas."
(1 Pedro 1.1-2)
1b. Três das províncias mencionadas por Pedro foram representadas no dia de Pentecostes (Atos 2:9), bem como "judeus ... de todas as nações" (Atos 2:5).
Sem dúvida o Evangelho foi levado às suas localidades por estes novos convertidos. Paulo também tinha trabalhado em algumas partes da Ásia e da Galácia, de sorte que "todos os que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor Jesus, assim judeus como gregos" (Atos 16:6; 19: 10, 26).
As cinco localidades mencionadas eram províncias do império romano, situadas na Ásia Menor, no que agora se chama Turquia.
Ponto e Bitínia ocupavam a região norte, formando o litoral sul do Mar Negro. A Galácia ficava no centro, com a província da Ásia ao oeste e Capadócia ao leste.
A ordem dos nomes não é alfabética, mas poderia sugerir o trajeto de uma suposta viagem, começando em algum lugar no Ponto, no litoral do Mar Negro, indo ao sudeste, atravessando uma parte do norte da Galácia, entrando na Capadócia, e então voltando pelo centro da Galácia, diretamente ao oeste da Ásia e virando para o norte para Bitínia e o litoral.
Pedro chama seus leitores de "estrangeiros".
A palavra foi escolhida com cuidado para descrever um povo que não somente estava longe da sua terra natal, mas como se diz, eram "estranhos numa terra estranha".
É a palavra parepidemos, que significa "residente temporário que não pertence à região". Estavam "junto" deles, mas não eram "de entre" eles.
Em outras palavras, eram "forasteiros", distantes do lar, mas caminhando para o lar, um povo peregrino.Podemos perceber, em todos os escritos de Pedro, a grande influência das palavras do Senhor Jesus.
Ao escrever esta palavra, ele bem poderia estar-se lembrando da oração do Senhor, em João 17: " ... o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como Eu do mundo não sou. Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal" (João 17:14b-15).
Estas pessoas não eram somente peregrinos, mas estavam "dispersos". Novamente, uma palavra específica (diaspora) é usada para descrevê-los.
Normalmente traduzida "a dispersão", esta palavra tornou-se sinônima dos judeus distantes da sua terra natal, a Palestina (João 7:35; Atos 8:1, 4).
Contudo, o uso do nome Pedro indica outros leitores, além de cristãos judeus.
Isso parece ser apoiado pelas suas referências aos leitores, por exemplo, como aqueles cujo passado é descrito como "vossa ignorância" (I: 14).
Naquele tempo "não éreis povo" (2: 10) mas seguiam práticas pagãs das quais foram libertos (4:3,4). Por meio da sua conversão eles se tornaram filhos de Abraão (Gál. 3:7).A palavra diaspora, porém, é muito mais esclarecedora. É derivada do verbo speiro, "semear como semente".
Temos aqui, novamente, ecos das palavras do Mestre ouvidas por Pedro: "O que semeia a boa semente, é o Filho do homem; o campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino" (Mat. 13:37,38).
Alguns, por causa da perseguição e opressão, e outros por causa das circunstâncias, foram "dispersas"; mas por trás da mão humana de repressão estava outra mão, a do soberano Senhor da seara.
Como Pedro dirá mais adiante nesta epístola (3:22), todos os poderes estão sujeitos a Ele (3:22).
Que consolo e incentivo isso é para santos sofredores de todas as eras. As consequências desta palavra atingem o próprio trono e propósito de Deus.
O Seu povo não é disperso pelos ventos do destino, nem pela mão do inimigo, nem pelas mudanças das circunstâncias. Eles não são o resultado de alguma coincidência química nem de algum acidente genético. Não são os peões da providência.
O que são, onde estão e quando estão, tudo é pela vontade e propósito do seu soberano Senhor (veja também Is. 43: 1-7).
2a. Assim como a soberania de Deus é vista nas circunstâncias do Seu POVO, assim também o é na sua salvação. Eles não eram somente peregrinos, espalhados como sementes semeadas na esperança de uma colheita gloriosa, mas eram também peregrinos "eleitos", selecionados por causa de um propósito glorioso.
"Eleitos" quer dizer selecionados, escolhidos. Através dos séculos muitas coisas, algumas proveitosas, outras não, foram apresentadas sobre a doutrina de eleição.
"Pedro, como os outros escritores do NT, não entra em tais discussões. Se, vivendo na certeza absoluta de uma fé recém-adquirida, os cristãos primitivos não encontravam dificuldades intelectuais, ou se o Espírito que habitava neles os levou a sentir que tais questionamentos eram insolúveis, não sabemos; mas é instrutivo observar que as Escrituras não as mencionam" (R. Lumby).
Aqui, em um só versículo, estão apresentadas as atividades das Pessoas divinas no plano da redenção: a determinação soberana do Pai, o ministério santificador do Espírito, e a provisão e aplicação do sangue do Filho, Jesus Cristo.
Eleição é "segundo a presciência de Deus".
A palavra "presciência" (prognosis), em sua forma substantiva, ocorre duas vezes no NT, e é usada somente' por Pedro (v. 2; Atos 2:23).
Não sabemos tudo que esta presciência abrange, mas é muito mais do que um mero saber de antemão, no sentido de ter conhecimento antecipado de acontecimentos futuros. Na forma verbal, ela aparece em Rom. 8:29: " ... os que dantes conheceu ... " Embora Deus conhece todos os homens.
Ele não conhece a todos com respeito ao Seu propósito em eleição. No juízo, o Senhor Jesus dirá aos falsos professos: "Nunca vos conheci" (Mat. 7:23). Quanto à Sua onisciência: "a todos conhecia" (João 2:24).
Quanto à eleição divina, Ele disse: "Eu bem sei os que tenho escolhido" (João 13: 18).
Paulo escreveu aos coríntios: "se alguém ama a Deus, esse é conhecido dEle" (I Cor. 8:3). A presciência de Deus, portanto, parece incluir uma escolha em amor. Qualquer receio que os leitores desta epístola pudessem ter sobre sua eleição seria tranquilizada pela certeza de que foi segundo a presciência de Deus Pai.
"A escolha e o conhecimento não eram a vontade arbitrária de um soberano inconstante, como são os soberanos da terra, mas de um Pai, cujas misericórdias são sobre todas as Suas obras " (E. H. Plumptre).
A fonte daquela grande eleição estava no coração de Deus Pai. A operação dela vem pelo ministério santificador do Espírito Santo: "em santificação do Espírito".
"O Espírito Santo é o Agente em santificação ... é um ato divino ... " (C. F. Hogg e W. E. Vine).
O substantivo usado aqui, hagiasmos, refere-se ao ato de santificar, não ao seu aperfeiçoamento num caráter santo; isto seria expresso pela palavra hagiosune.
"O caráter santo ... não é vicário, isto é, não pode ser transferido ou imputado, é uma possessão individual, acumulada, pouco a pouco, como resultado da obediência à palavra de Deus, e de seguir o exemplo de Cristo ... no poder do Espírito Santo" (Expository Dictionary of NT Words, W. E. Vine - Dicionário Expositivo de Palavras do NT, pág. 317).
Hagiasmos é "a soma e medida, como efeito, como um todo, de modo característico, não hagiosune, a qualidade ... " (JND, I Cor. 1:30, nota de rodapé).
Esta é a obra inicial do Espírito Santo que resulta na formação progressiva do caráter santo no cristão, durante toda a sua vida, e o aperfeiçoamento disto na presença do Senhor.
Esta santificação é "para [tendo em vista] a obediência", não como resultado da obediência. Não é um galardão, mas sim a obra da graça sobre o indivíduo.
Tem que haver a obediência da fé. "A doutrina da eleição nunca teve por intenção anular a responsabilidade do homem sobre o estado da sua própria alma. A Bíblia toda se dirige aos homens como tendo livre arbítrio, como sendo responsáveis diante de Deus ... " (J. C. Ryle).
O Evangelho sempre chama o pecador à obediência voluntária. Isso sugere que há uma alternativa. O Evangelho é apresentado e há os que creem e os que não crerem (João 3:36). Há os que "obedeceram de coração" (Rom. 6: 17) e os que "não obedeceram ao evangelho" (II Tess. 1:8).
Há aspectos da vontade divina que podem ser resistidos. Exemplos disso foram deixados para nosso aviso.
Na Sua própria pátria, o Senhor Jesus "não podia fazer ali obras maravilhosas ..." (Mar. 6:5).
Esta limitação não foi por causa da Sua própria Pessoa ou poder, mas sim, por causa do princípio da fé: Ele "estava admirado da incredulidade deles" (v. 6).
Ele chorou sobre a cidade, dizendo: "quantas vezes quis Eu ajuntar os teus filhos ... e não quisestes".
A perda não foi por causa da Sua vontade, mas por causa da vontade deles. Esta obediência não é o mero consentimento a um credo ou sistema de doutrina, mas "para a obediência ... de Jesus Cristo".
Primeiro, obediência ao Evangelho, resultando numa vida de obediência. Assim como foi a obediência de Cristo à vontade do Pai, assim será também o caráter e atitude dos eleitos (Fil. 2:5-8). Aos eleitos, santificados para obediência, se aplica todo o valor e virtude do "sangue de Jesus Cristo".
Isto não é o derramamento do sangue, mas a aspersão dele.
O sangue precisava ser derramado antes de poder ser aspergido, mas poderia ser derramado e a sua eficácia nunca ser aplicada ao indivíduo.
O derramamento do sangue é a entrega da vida como sacrifício pelo pecado. É a provisão feita.
A aspersão do sangue é a aplicação do valor e da eficácia do sacrifício. Esta é a comunicação do poder.
No VT, a aspersão era vista em relação ao seu poder para proteger os primogênitos no Egito, seu poder para purificar os sacerdotes para o serviço, seu poder para preparar o caminho de entrada ao lugar santíssimo, e seu poder para purificar o leproso de sua imundícia cerimonial.
Porém, parece que aqui se refere a Êxodo 24, quando Moisés tomou o sangue do sacrifício, e aspergiu a metade dele sobre o altar e em seguida leu o livro da aliança na presença do povo que respondeu, prometendo obedecer.
Moisés então tomou a outra metade do sangue e aspergiu o povo, dizendo: "Eis aqui o sangue da aliança ... ". Aquele sangue ligou o povo ao altar dos frequentes e repetidos sacrifícios. Prendeu-os à palavra da sua própria frágil promessa. Sua aplicação era limitada à nação.
Quão gloriosamente diferente era a porção dos cristãos a quem Pedro estava escrevendo. Esta aspersão de sangue associa os cristãos do NT com uma obra consumada, um sacrifício que nunca precisará ser repetido (Heb. 10: 11,12).
Liga o cristão à infalível promessa de Deus (Heb. 6: 17-18). A sua eficácia é ilimitada em favor de "quem quiser", quer seja judeu, quer seja gentio.
Que ânimo e incentivo estas palavras trariam e que esperança inspirariam a um grupo de peregrinos dispersos, que possuíam muito pouco, ou talvez nada, neste mundo, não tinham pousada certa e viviam sob a constante ameaça de perseguição ou até mesmo de morte.
Como o seu Senhor, eles foram rejeitados pelos homens, mas, oh pensamento bendito! foram escolhidos por Deus Pai, escolhidos para uma herança eterna, para estar na presença de Deus, mais privilegiados do que os anjos, para servi-la como filhos adoradores no Seu santuário celeste.
Rejeitados e excluídos da comunidade dos homens, foram separados pelo Espírito Santo para aquela obediência semelhante à obediência de Cristo para com Seu Pai.
Eles eram homens desprezados, censurados enquanto andavam entre o povo, mas invisível aos olhos dos homens, eles tinham sido aspergidos com o sangue precioso de Cristo, sinal de um sacrifício mais nobre do que qualquer um que em qualquer tempo manchou os altares de Israel ou os pedestais pagãos romanos.
Por J. B. Nicholson
2. Erros do Calvinismo: Eleição Incondicional
Qualquer pessoa que leia o Novo Testamento não pode escapar da conclusão de que Deus elegeu (escolheu) certas pessoas e as predestinou (predeterminou) para a bênção eterna. A questão espinhosa é: "Como e por que Ele os escolheu?" Dependia apenas Dele ou apenas da decisão evangélica das pessoas envolvidas, da qual, é claro, Ele já sabia de antemão? Se dependesse apenas de Deus, a eleição (escolha) é chamada de "incondicional", mas se realmente dependesse da fé dos indivíduos envolvidos, é chamada de "condicional". O argumento de Armínio era o último, isto é, que Deus escolheu aqueles que Ele sabia de antemão que escolheriam a Cristo. Isto pretendia contrariar a afirmação anterior de Calvino de que os homens, estando mortos, eram incapazes por si próprios de escolher a Cristo. Então, na verdade, Calvino disse, Deus escolheu os crentes, então eles – e somente eles – poderiam escolher Cristo como Salvador.
O homem é uma criatura responsável – na verdade, o Deus soberano escolheu fazer o homem assim! Assim, o homem poderia escolher a Cristo, mas escolheria ele a Cristo? É claro que Deus sabia quem seria salvo, mas será que esse conhecimento prévio determinou Sua escolha?
Será que nós, ao tentarmos compreender a base da eleição, temos que fazer a nossa seleção entre Deus escolhendo porque o homem não poderia, e o homem escolhendo porque ele podia? Argumentamos aqui que tal escolha é desnecessária e que tanto a soberania divina como a responsabilidade humana coexistem, embora sejam irreconciliáveis para as nossas mentes humanas finitas. Portanto, podemos dizer que Deus escolheu os eleitos, e todos os que ouvem o evangelho podem escolher ser salvos.
Eleição
Deus, o Pai, abençoou Paulo e os crentes de Éfeso "com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais", assim como Ele os escolheu para Si dentre a massa da humanidade (Ef 1: 4). Paulo está escrevendo em primeiro lugar sobre os efésios e sobre si mesmo como indivíduos. Deus os escolheu em Cristo, assim como todo o Seu trato na graça teve, e sempre será, "Nele". Da mesma forma, Ele também encabeçaria todas as coisas "Nele" nos dias milenares (ver Ef 1:10).
O último versículo nos mostra que a expressão "nele" não se esgota em pensamentos sobre a membresia da igreja que é o Seu corpo, como afirmam aqueles que são a favor da eleição corporativa.
Da mesma forma, Paulo escreveu aos crentes tessalonicenses dizendo que ele, Silas e Timóteo, "dai sempre graças a Deus por vós... porque Deus... vos escolheu para a salvação através da santificação do Espírito e da crença, na verdade: para a qual Ele vos chamei pelo nosso evangelho" (2Ts 2:13, 14).
Aqui encontramos a soberania divina e a responsabilidade humana reunidas, mas não desculpadas ou explicadas!
Vemos também como Deus realiza Seus propósitos eternos no tempo através da obra do Espírito Santo – Deus escolheu, o Espírito Santo separou e os Tessalonicenses creram, na verdade do evangelho. Paulo, Silas e Timóteo já haviam dado "sempre graças a Deus por todos vocês... conhecendo... a eleição de Deus" (1Ts 1:2-4). Eles sabiam da eleição dos crentes em Tessalônica por meio de sua clara conversão, quando eles, com grande custo para si mesmos, "se converteram dos ídolos para Deus, para servirem ao Deus vivo e verdadeiro" (1Tes 1:9, ver também 2Pedro 1: 10).
Tiago também reúne os dois pensamentos: "Não escolheu Deus os pobres como para o mundo, ricos na fé e herdeiros do reino que prometeu aos que O amam?" (Tiago 2:5, Darby).
Lemos sobre os eleitos de Deus em Romanos 8:33, Colossenses 3:12 e Tito 1:1. Diz-se que os indivíduos são eleitos, como a senhora em 2 João 1 e sua irmã em 2 João 13, bem como Rufo em Romanos 16:13.
O remanescente judeu crente hoje é eleito (Romanos 11:5, 7, 28), assim como os santos da tribulação de um dia futuro (Mateus 22:14; 24:22, 24, 31; Marcos 13:20, 22, 27; Lucas 18:7). Notamos também que aqueles crentes declarados como estando com o Cordeiro em Apocalipse 17:14 são "chamados, e eleitos, e fiéis". Vemos um ponto interessante levantado por Paulo sobre sua resistência ao sofrimento "por causa dos eleitos, para que também eles alcancem a salvação" (2Tm 2:10).
Por último, notamos em Atos 13:48 que em Antioquia e na Pisídia, quando "os gentios ouviram… [o evangelho]… creram todos os que foram ordenados [designados] para a vida eterna". (Houve tentativas de traduzir a palavra "ordenado" como "disposto" e de torná-la um verbo reflexivo, mas o autor ainda não encontrou uma tradução confiável ou uma concordância maior que não diga "ordenado" ou "nomeado". Veja Romanos 13:1 para a mesma palavra.)
Presciência
A eleição é determinada pela presciência? Deus escolheu aqueles em quem Ele sabia que acreditariam? Pedro se dirige aos seus leitores como "estranhos… eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pedro 1:1; 2:9). A eleição deles está de acordo com a presciência de Deus, isto é, "perfeitamente consistente com" Sua presciência, sendo Seu entendimento infinito (Sl 147:5; veja também Atos 15:18). Da mesma forma, em outros lugares, lemos sobre presciência no contexto da predestinação (Rm 8:29, 30; Ef 1:5, 11).
Conclusão
Deus elegeu (escolheu) certas pessoas e as destinou para a bênção eterna, tudo de acordo com o Seu propósito. Isto não dependia de nada que aqueles indivíduos fizessem, ou de Deus saber alguma coisa sobre eles de antemão, portanto, a eleição é incondicional. Como diz a Bíblia de Referência Scofield (nota em 1 Pedro 1:2): "A eleição é… o ato soberano de Deus na graça, pelo qual alguns são escolhidos dentre a humanidade para Si mesmo." "Eu escolhi você do mundo" (João 15:19).
Barnes, Howard A.
(Uso com permissão da revista Truth & Tidings)
3. Erros do Calvinismo: Depravação Total
À primeira vista, a doutrina calvinista da depravação total parece bastante convincente: parece dizer que o homem não poderia ser pior. Isto tem apoio bíblico, como disse Davi: "Fui formado em iniquidade; e em pecado me concebeu minha mãe" (Sl 51:5), e Paulo acrescentou mais tarde "como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte; e assim a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram" (Romanos 5:12). O homem está espiritualmente morto; nas trevas e distante de Deus. Podemos perguntar: "Todos os homens e mulheres, sem distinção, são capazes de responder à mensagem do evangelho?"
Com base nesta doutrina da depravação total, a resposta da ortodoxia calvinista à questão é "Não! Os descendentes de Adão nascem com natureza pecaminosa; eles não têm a capacidade de escolher o bem espiritual em vez do mal" [Thomas Steele, Five Points of Calvinism, Presbyterian and Reformed, Phillipsburg , 1963, p. 25]. Isto inclui escolher Cristo para a salvação. Este ensino continua dizendo que somente os eleitos são capacitados por Deus a cumprir os mandamentos do evangelho de arrependimento; acreditar; receber Cristo; obedecer ao evangelho, etc., quando ouvem o evangelho pregado. Mas poderíamos perguntar: "Será que a responsabilidade humana não tem nenhum papel a desempenhar no evangelho?"
A responsabilidade humana e o evangelho
Este assunto é melhor compreendido quando examinamos as seguintes escolhas opostas no contexto do evangelho: obediência e desobediência; recepção (ou aceitação) e rejeição. Todas estas são, de uma forma ou de outra, expressões óbvias da vontade humana.
Vejamos primeiro as palavras aliadas à obediência. Encontramos esse pensamento pela primeira vez nos Atos dos Apóstolos, onde o dom do Espírito Santo de Deus é prometido "aos que lhe obedecem" (Atos 5:32). Tal obediência foi demonstrada quando "um grande grupo de sacerdotes foi obediente à fé" (Atos 6:7).
Contudo, o uso desta ideia aparece mais claramente na grande obra-prima de explicação evangélica de Paulo, a epístola aos Romanos. Ele começa dizendo que seu apostolado era para "obediência à fé entre todas as nações" (Rm 1:5; cp 15:18). Depois ele falou sobre aqueles que "não obedecem à verdade, mas obedecem à injustiça, à indignação e à ira" (Rm 2:8). Em seguida, ele ressalta que foi originalmente "pela desobediência de um homem, muitos foram feitos pecadores" (Romanos 5:19), mas tendo recebido o evangelho, os crentes romanos "obedeceram de coração à forma de doutrina que vos foi transmitida" ( Romanos 6:17).
No entanto, no que diz respeito aos judeus que ouviram o evangelho, "nem todos obedeceram ao evangelho" (Rm 10:16). Na verdade, era da obediência dos crentes romanos (em grande parte gentios) que todos tinham ouvido falar (Rm 16:19). Paulo termina o uso desta palavra com uma declaração dos propósitos de Deus atualmente revelados no evangelho: "dados conhecidos a todas as nações pela obediência da fé" (Romanos 16:26).
Da mesma forma, a desobediência é um ato de vontade, e esta é a raiz do problema, como Paulo escreveu sobre Adão: "Como pela desobediência de um homem, muitos foram feitos pecadores" (Romanos 5:19), e também de Israel, que era " um povo desobediente…" (Romanos 10:21). Não é assim, é claro, para Paulo, que disse a Agripa: "Não fui desobediente à visão celestial" (Atos 26:19).
Ele olhou para trás, com os crentes de Éfeso, e disse que eles eram então, como os incrédulos são agora, "os filhos da desobediência" (Ef 2:2). Na verdade, isso traria "a ira de Deus sobre os filhos da desobediência" (Ef 5:6; veja também Col 3:6).
Novamente, a aceitação é um ato de escolha, como lemos no primeiro capítulo do evangelho de João; "A todos quantos O receberam, Ele lhes deu poder para se tornarem filhos de Deus" (v12; cp Cl 2:6). Por outro lado, também está claro que os pecadores podem rejeitar o evangelho, com igual responsabilidade. Durante a Sua vida houve aqueles que rejeitaram o Senhor Jesus Cristo, especialmente os líderes judeus nacionais, uma vez que Ele era "a pedra que os construtores rejeitaram" (Mateus 21:42; Marcos 12:10).
Isso chegou ao ponto de querer matá-lo, "o qual foi rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas" (Marcos 8:31; Lucas 9:22). Na verdade, Ele foi "rejeitado por esta geração" (Lucas 17:25). Isso o levaria a ser seu Juiz, já que "aquele que me rejeita e não recebe as minhas palavras já tem quem o julgue; a palavra que eu falei, essa o julgará no último dia" (João 12:48). .
Paulo lembra a Tito que antes de sermos salvos, "nós também éramos… desobedientes" (Tito 3:3). Então Pedro falou daqueles que rejeitaram a Cristo como "os que são desobedientes" (1 Pedro 2:7, 8), assim como aqueles que rejeitaram o testemunho de Deus antes do dilúvio, "os quais... foram desobedientes" (1 Pedro 3:20). A responsabilidade humana no Antigo Testamento muitas vezes se resumia ao exercício da escolha individual (Dt 30:19; Js 24:15).
(Também poderíamos ter examinado mais exemplos de responsabilidade humana, como acreditar e não acreditar, em João capítulo 3.)
A partir das declarações claras das Escrituras (lidas sem sobrepô-las com quaisquer pressupostos calvinistas), vemos que o homem é certamente responsável no contexto do evangelho. Então, quando Deus ordena que todos os homens em todos os lugares se arrependam (Atos 17:30), Ele realmente está falando sério, porque Ele "não deseja que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3:9)!
Assim, a Palavra de Deus termina dizendo: "Quem quiser, tome de graça a água da vida" (Ap 22:17 YLT ).
É claro que não estamos dizendo que as pessoas são capazes de responder ao evangelho independentemente da ação de Deus em suas vidas – mas falaremos mais sobre isso mais tarde, quando examinarmos a obra do Espírito Santo na salvação.
Barnes, Howard A.
(Uso com permissão da revista Truth & Tidings)