Fé e Santificação

07/05/2024

1. As 2 naturezas do crente

Este breve artigo foi escrito com o desejo de auxiliar as almas ansiosas, pois o Senhor quer que conheçamos e desfrutemos de nossa completa salvação. Romanos 8:23 nos mostra que devemos esperar pela redenção de nosso corpo que se dará por ocasião da vinda do Senhor, mas podemos nos regozijar no conhecimento, que agora temos, de que Deus removeu nossos pecados por meio do precioso sangue de Cristo, e também naquilo que Ele fez com respeito à natureza caída que trazemos em nós, também chamada de "velho homem".

Quanto mais desejamos agradar ao Senhor, maior fica nosso conflito interno, até que obedeçamos, assim como ocorreu com Israel na antiguidade, à ordem que foi dada: "Estai quietos e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará" (Êx 14:13). Toda bênção espiritual é um dom e não é recebida mediante nossos esforços. É o conhecimento do Seu amor e do que Ele fez por nós que nos constrange a viver para Ele. "O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8:16).

Em João 3:7 o Senhor Jesus Cristo afirmou que "necessário vos é nascer de novo", e eu gostaria de tratar deste assunto tão importante, além daquilo que se refere às duas naturezas no crente e à razão pela qual o crente peca. Isto é revelado na Bíblia, e é uma grande bênção conhecermos que Deus não apenas perdoou nossos pecados mas também nos colocou em uma nova posição diante de Si. As Escrituras nos explicam o que Ele fez no que se refere à nossa velha natureza caída e pecaminosa, a qual todos recebemos em consequência de nosso nascimento natural, e como Ele nos deu uma nova natureza, com novos desejos, a fim de sermos capazes de andar diante dEle em santa liberdade.

Há muito o que aprender acerca do novo nascimento no terceiro capítulo de João. Em nossos dias há muitas pessoas que se referem ao novo nascimento como uma espécie de mudança que ocorre na vida de alguém, a qual costuma ser também chamada de "experiência cristã" naqueles que experimentam uma mudança de vida. Mas quando a Bíblia nos fala do novo nascimento é porque Deus verdadeiramente dá uma nova vida àquele que crê no Senhor Jesus. Não se trata de um aprimoramento da velha vida, mas uma vida completamente nova. Era o nascer de novo (ou nascer do alto) que o Senhor estava apresentando a Nicodemos. Nascer de novo é obter uma nova vida proveniente de Deus, e veremos também que a vida que Deus dá é a vida de Cristo. Ele a dá a todo aquele que crê, e é evidente que a consequência disso será uma mudança, pois a nova vida deseja agradar a Deus.

Nicodemos veio ao Senhor com a intenção de aprender alguma coisa. Sem dúvida alguma o Senhor Jesus era e é um Mestre maravilhoso, mas o que o pecador precisa, antes de mais nada, é receber uma nova vida, e por isso o Senhor respondeu: "aquele que não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus". O homem havia sido ensinado sob a lei, pois "a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Rm 7:12) e todos aqueles preceitos que foram dados ao homem no Antigo Testamento vieram de Deus. Mas não davam uma nova vida, pois as Escrituras afirmam que "se dada fosse uma lei que pudesse vivificar, a justiça, na verdade, teria sido pela lei" (Gl 3:21). Em outra passagem (Dt 5:29) lemos: "Quem dera que eles tivessem tal coração que Me temessem, e guardassem todos os Meus mandamentos todos os dias". Isto significa que a lei exige do homem algo que ele não deseja e nem tem poder para dar. Ele precisa de uma nova vida.

Por que então Deus deu a lei? Bem, quando você conversa com várias pessoas acaba percebendo que elas não crêem naquilo que Deus diz a respeito do homem e por isso Ele teve que nos demonstrar isso. Deus diz que "enganoso é o coração, mais do que todas as cousas, e perverso: quem o conhecerá?" (Jr 17:9). O apóstolo Paulo afirmou: "Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum" (Rm 7:18). Em nosso estado natural não existe nada para Deus. Nossos corações estão em inimizade contra Deus, pois a própria Bíblia afirma que "a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade, o pode ser" (Rm 8:7).

O que provou a lei e por que foi escrita sobre tábuas de pedra? Deus sabia que o homem, por possuir um coração endurecido, não poderia viver em conformidade com os Seus mandamentos, ainda que pensasse poder fazê-lo. Se tenho um filhinho que pensa ser capaz de carregar uma pesada mala, como posso provar a ele que não é capaz? Deixo-o experimentar! Israel pensava poder cumprir os requisitos de Deus, pois assim disseram: "Tudo o que o Senhor tem falado, faremos" (Êx 19:8). Mas eles falharam miseravelmente assim como todos nós falhamos.

O Senhor mostra em João 3 que deve haver uma operação de Deus na alma. Houve uma obra de Deus por nós na cruz do Calvário, mas deve haver uma obra que aconteça dentro de nós, pois o coração natural do homem nunca irá atender aos clamores de Deus. O Senhor está dizendo a Nicodemos que ele deve nascer de novo – nascer do alto. Ele deve receber uma nova vida, e Deus usa Sua preciosa Palavra, aplicada pelo Espírito de Deus, para fazer isso. Tudo fica muito claro em 1 Pedro 1:22-23, onde lemos: "Purificando as vossas almas na obediência à verdade ('por intermédio do Espírito' – cf. algumas versões) … sendo de novo gerados… pela palavra de Deus, viva, e que permanece para sempre". Outrora éramos pecadores e possuíamos somente uma natureza arruinada e pecaminosa, mas quando Deus introduziu a Sua Palavra em nossa alma, pelo poder do Espírito de Deus, fomos gerados ou nascidos de novo, recebendo uma nova vida proveniente de Deus. É por esta razão que passamos a desejar coisas diferentes.

Porém, não se trata de um aperfeiçoamento daquela natureza caída que possuímos. Deus não a melhora; Ele a condena conforme aprendemos em Romanos 8:3 que "Deus, enviando o Seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne". Ele perdoa nossos pecados, mas não a natureza que nos leva a pecar. Ela permanecerá conosco enquanto estivermos neste corpo. Mesmo naquele que foi salvo há cinquenta anos a natureza caída não melhorou nem um pouquinho, e nunca irá melhorar. Esta é a razão pela qual os cristãos pecam: deixam a natureza caída agir. Com o auxílio do Senhor iremos, mais adiante, buscar nas Escrituras o caminho da libertação.

Nicodemos deveria saber, como mestre em Israel, que toda a história de sua nação provou que, apesar de tudo o que Deus havia feito para eles como nação, seus corações endurecidos permaneceram inalterados. No futuro, quando Deus finalmente introduzi-los na bênção, Ele irá tirar "da sua carne o coração de pedra" e dar a eles "um coração de carne" (Ez 11:19). Então nascerá a nação "de uma só vez" (Is 66:8). Quando Nicodemos perguntou "Como pode ser isso?" (Jo 3:9), o Senhor lhe mostrou duas coisas importantes. Primeiro Ele falou da glória da Sua Pessoa, pois, ao mesmo tempo, em que falava com Nicodemos, Ele estava também no céu, conforme diz: "Ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem, que está no céu" (Jo 3:13). Ele é Deus tanto quanto Homem, e o valor da Sua obra está na glória da Sua Pessoa. É por Ele ser Deus que pode ser nosso Salvador (Is 43:10-11). Em seguida Ele falou da Sua obra na cruz como o Filho do Homem sendo levantado ali para os pecadores. Fora dessas duas coisas não há bênção para o homem caído, e foi por essa razão que o Senhor proferiu em seguida aquelas benditas e maravilhosas palavras: "Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3:16).

Vemos então como o Senhor estava apresentando a Nicodemos a necessidade de ser nascido de novo, a necessidade de receber uma nova vida, e também mostrando a ele que a velha natureza não pode ser aperfeiçoada. Aquela velha natureza é chamada de "velho homem". Em Efésios 4:21-24 vemos que "se é que O tendes ouvido, e nEle fostes ensinados, como está a verdade em Jesus; que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito do vosso sentido; e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade". Também em Colossenses 3:3-4 encontramos: "Porque já estais mortos, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, Se manifestar, então também vós vos manifestareis com Ele em glória". E ainda em 1 João 3:9, "Qualquer que é nascido de Deus não comete pecado; porque a Sua semente permanece nele; e não pode pecar, porque é nascido de Deus". No capítulo 3 de João vimos a necessidade do novo nascimento, e aqui nestas passagens vemos o que Deus diz a respeito do velho homem e do novo homem.

Qual é a conseqüência de alguém ser nascido de Deus? Bem, após você haver colocado sua confiança no Senhor Jesus Cristo, seu corpo torna-se como uma casa com dois inquilinos. Antes disso você tinha só uma natureza, a natureza caída com a qual nascemos neste mundo. Mas o Senhor Jesus disse que a menos que venhamos a nascer de novo não poderemos entrar no reino de Deus. Portanto, quando depositamos nossa confiança nEle, Ele nos dá uma nova vida, e essa vida, conforme podemos aprender daqueles versículos que acabamos de citar, é criada "em verdadeira justiça e santidade." Trata-se da vida de Cristo e essa não pode pecar. Quão maravilhoso é isto! Não significa que o velho homem foi aperfeiçoado, pois ele ainda "se corrompe pelas concupiscências do engano", conforme acabamos de ler. O velho homem sempre age do mesmo modo, pois "o que é nascido da carne é carne" (Jo 3:6), e mais uma vez o Senhor volta a dizer: "O Espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita" (Jo 6:63). Podemos ver que, se o velho homem (o velho inquilino) detém o domínio em nosso corpo, então pecamos. O fato de Deus prover sempre o suficiente para sermos restaurados não é desculpa para pecarmos. Deus cuida de nós em todos os aspectos, tanto no que diz respeito aos nossos pecados quanto naquilo que se refere à natureza que os produz, e Seu desejo é que conheçamos e desfrutemos de Sua graciosa provisão.

Em Romanos 6 nos é mostrado o que Deus fez com nossa velha natureza, chamada algumas vezes de carne, velho homem e pecado ou pecado na carne. No versículo 6 somos informados que "nosso velho homem foi com Ele crucificado… para que não sirvamos mais ao pecado". O pecado é a raiz, e os pecados são os frutos, assim como uma macieira e as frutas que ela produz. A natureza da macieira é produzir maçãs. Você pode colher todas as suas maçãs, mas no próximo ano ela produzirá maçãs novamente. O Senhor Jesus levou "Ele mesmo em Seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pd 2:24). Mas era necessário que Ele fizesse algo a respeito daquele velho homem que me fazia pecar. Aqui encontramos o que Ele fez, ou seja, "nosso velho homem foi com Ele crucificado" e assim vemos que encontrou o seu fim diante dEle em Sua morte. O batismo é uma figura disto, conforme é dito: "sepultados com Ele pelo batismo na morte" (Rm 6:4). O velho homem está condenado (Rm 8:3), crucificado (Rm 6:6) e sepultado (Rm 6:4). Na cruz do Calvário o Senhor Jesus não somente levou meus pecados, mas Sua morte foi o fim de minha posição diante dEle como um filho de Adão. Deus não vê mais o crente como um filho do caído Adão, pois morremos para aquela posição e entramos em uma nova posição diante dEle pela ressurreição do Senhor Jesus (Rm 6:9- 11).

Talvez pudéssemos ilustrar esta nova posição com uma mudança de cidadania. Por ser um cidadão deste país, se você quiser cruzar a fronteira e passar para outro país, terá que declarar sua cidadania, ou seja, seu país de origem. Mas se antes disso você mudar sua cidadania, sendo aceito e naturalizado como um cidadão do outro país para o qual pretende viajar, sua passagem pela fronteira terá um caráter completamente diferente. Aos olhos do oficial da fronteira você estará em uma posição totalmente nova. Para ele você não existirá mais na sua antiga posição de cidadão deste país, pois se encontra e permanece agora em uma nova posição. Assim também Deus o vê agora em uma posição diferente desde o momento em que você nasceu de novo e entrou para a família de Deus. Ainda que você carregue o velho homem dentro de si, estando agora com "dois inquilinos" em seu corpo, Deus o vê apenas em sua nova posição, aquela que você ocupa perante Ele. Ele o vê como uma pessoa que morreu para sua velha posição e é agora "nova criatura" em Cristo (2 Co 5:17).

Deus nos apresenta o lado prático disto nos versículos que se seguem. Temos que nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus (Rm 6:11). Antes de sermos salvos, nossas mãos faziam aquilo que nossa velha natureza desejava fazer, e nossos olhos contemplavam todas as coisas que nossa natureza caída, o velho homem, queria ver, pois nossos corpos estavam sob o controle daquele velho homem. Agora Deus dá ao crente uma nova vida, o novo homem que deseja agradá-Lo, e Ele nos diz: "Considerai- vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus" (Rm 6:11). Agora, quando a tentação nos assedia, podemos dizer: – Não! Estamos mortos para aquelas coisas que a velha natureza deseja praticar. Podemos ceder nossos membros para executarem aquilo que o novo homem deseja fazer, coisas que são agradáveis ao Senhor. Permita-me dizer aqui que se você não tem nenhum desejo de agradar ao Senhor, você ainda não é um crente, pois se você é nascido de novo então possui em si mesmo a própria vida de Cristo.

– Ah! – você exclama – Mas às vezes sinto o desejo de fazer aquilo que é errado! Isto não significa que sua nova vida deseje fazer o que é errado; o que ocorre é que você está permitindo que o velho homem (o velho inquilino) permaneça em atividade. Deus diz: "Considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor" (Rm 6:11). O velho homem não detém mais o direito sobre o corpo. Deus afirma que estamos mortos para o pecado, e por isso lemos em 2 Co 4:10: "Trazendo sempre por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos". Muitos cristãos têm dúvidas acerca de sua salvação por não terem sido "ensinados, como está a verdade em Jesus" (Ef 4:21). Ficam surpresos quando percebem que, após terem sido salvos, continuam a desejar aquilo que é errado. E então Satanás lhes diz: – Talvez você não esteja salvo, pois alguns de seus antigos desejos permanecem em você… Mas acaso o Senhor não disse, em João 3:6, que "o que é nascido da carne é carne"? O próprio apóstolo Paulo teve que reconhecer que "em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum" (Rm 7:18). Mesmo após ter estado salvo por tantos anos ele continuava a possuir aquela natureza caída dentro de si.

No capítulo 7 de Romanos a questão deste conflito é tratada de uma maneira prática. A pessoa que é apresentada naquele capítulo está buscando conseguir libertação debaixo da lei. Já se encontra nascido de novo, possuindo assim uma nova vida, mas não está desfrutando de sua nova posição. O Espírito de Deus traz o assunto à tona para nos revelar o caminho de libertação da lei e do velho homem. Por todo o capítulo, até o versículo 18, essa pessoa está chamando o velho homem de "eu" e em outra parte chama o novo homem de "eu". É por isso que se encontra em tal conflito, pois está pensando que os "dois inquilinos" têm os mesmos direitos; mas eles não têm! O velho homem deve ser considerado morto. O novo homem é o único inquilino genuíno, com o direito de dizer o que deve ser feito no corpo, e este novo homem é a vida de Cristo.

Existem três coisas importantes que nos são apresentadas aqui. Primeiro devemos aprender esta grande e importante lição "que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum" (Rm 7:18). Acaso você já teve algum mau pensamento brotando em sua mente e o repudiou imediatamente dizendo – Nunca pensei que um cristão poderia pensar desta maneira -? Se você creu verdadeiramente neste versículo não ficaria surpreso em ver que sua velha natureza (o velho homem) não mudou desde que você foi salvo. Temos que aprender isto. Precisamos entender o que significa. O inimigo de nossas almas, que trabalha naquele velho homem, tenta nos transtornar trazendo-nos maus pensamentos que são correspondidos pela velha natureza. Alguém disse certa vez que seu velho relógio nunca o desapontou porque nunca confiava nele. Você confia em sua velha natureza agora só porque está salvo? Você pensa que pode se colocar nos caminhos das tentações e permanecer confiante? A Bíblia diz: "O que confia no seu próprio coração é insensato" (Pv 28:26). A velha natureza não melhora – nunca! Lembre- se do que é dito, "que em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". Quem disse isto? O amado apóstolo Paulo, um dos homens mais piedosos que já viveu, pois seu velho homem não era nem um pouco melhor do que o de qualquer outro crente.

Preste agora atenção a uma segunda coisa em Romanos 7:20: "Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim". Ele aprendeu que não há nada de bom na carne (no velho homem), mas existe aqui algo de maravilhoso para nos apossarmos. Ele não se refere mais ao velho homem como "eu". Deixe-me dar uma ilustração disto. Suponhamos que exista uma pessoa que acaba de ser salva, tendo deixado muitos de seus velhos pecados, pois passou a viver para agradar a Deus. Um dia alguém lhe pede para fazer algo que ele fazia nos seus dias de incredulidade, mas que agora ele sabe ser errado. Ele responde:- Não; eu não quero mais fazer aquilo, pois sou um cristão. Porém, após ele haver se recusado, algo acontece. Satanás sussurra em seu ouvido: – Você não disse a verdade; você queria fazer aquilo, e disse ao seu amigo que não queria… Terá ele falado uma mentira? Não! Ele apenas deixou que o inquilino genuíno – o novo homem – atendesse à porta! Acaso a nova vida nele desejava fazer aquilo? Não! O que havia nele que desejava tal coisa? Bem, ele poderia dizer, – Não sou mais eu, mas o pecado que habita em mim. Continuamos a ter aquela velha natureza, mas deveríamos deixar o novo homem atender à porta. Sim, ele disse a verdade, pois o velho homem não é mais "eu", agora é o novo homem, o verdadeiro "eu", a vida de Jesus que há em cada crente; a vida que sempre agrada a Deus e não pode pecar. Deixe que sempre o novo homem tome as decisões e elas serão decisões acertadas, pois embora o velho homem esteja em nós, e nunca melhore, ele não é mais o "eu" em sua vida. Que bendito livramento!

Chegamos agora à terceira coisa nos versículos 22-25 de Romanos 7. "Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus. Mas vejo nos meus membros outra lei que batalha contra a lei do meu entendimento e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros. Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte? Dou graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor." Mesmo sabendo daquelas duas coisas que acabamos de considerar, ele mostra que o conflito continua; ele diz que desejo agradar ao Senhor, mas este conflito me faz muito infeliz. A natureza caída continua tentando me arrastar para as coisas que são erradas. Mas após dizer "Miserável homem que eu sou!", ele pergunta, "QUEM me livrará do corpo desta morte?" Ele olha para fora de si, para o Senhor Jesus Cristo, em busca de libertação e então tem a pronta resposta. Começa então a dar graças. Isto é de grande importância. Você já tentou expulsar maus pensamentos e acabou por vê-los de volta piores do que nunca? Alguém disse certa vez que se você tentar lutar com um limpador de chaminés, ficará tão sujo quanto ele!

O que Deus está nos dizendo aqui? Que podemos nos desviar daqueles maus pensamentos que vêm por intermédio do velho homem e deixar que o Espírito de Deus, por meio do novo homem, nos ocupe com Cristo. Podemos agradecer a Deus por termos sido introduzidos, pela obra do Senhor Jesus, em uma nova posição perante Ele, onde podemos nos considerar já mortos para o pecado, e onde o novo homem encontra o seu gozo e livramento ao desviar o nosso olhar de nós mesmos para Cristo.

Permita-me usar de uma ilustração para ajudar a esclarecer este ponto. Suponhamos que eu planeje construir uma garagem para meu automóvel e tenha uma pilha de tábuas que há muito venho guardando para esta finalidade. Decido contratar um carpinteiro para construí-la para mim e peço que ele utilize estas tábuas para a construção. Ele examina a pilha de tábuas e depois de alguns minutos volta dizendo: – Examinei sua pilha de tábuas e tenho más notícias para você. Suas tábuas estão podres. Não há nenhuma boa em toda a pilha! O que foi que ele fez? Acaso ele tentou melhorá-las?. Não! Ele as condenou. Preste atenção no versículo 3 de Romanos 8 e verá que foi isto o que Deus fez com nossa velha natureza – o velho homem. "Porquanto o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne, Deus, enviando o seu Filho em semelhança da carne do pecado, pelo pecado condenou o pecado na carne." Meu carpinteiro condenou minha pilha de tábuas, mas então ele me diz: – Tenho uma boa notícia para você; trouxe a quantidade de madeira nova e boa que você irá precisar para construir sua garagem, e isto não lhe custará absolutamente nada. É um presente. Eu, que havia ficado tão triste quando ele me disse que minha velha pilha de tábuas estava podre, pois dependia dela, vejo agora minha miséria ser transformada em gratidão, e exclamo: – Muito obrigado! Veja a força dos versículos em Romanos 7: "Miserável homem que eu sou!" e em seguida, "Dou graças a Deus por Jesus Cristo nosso Senhor" (v. 24,25). Deixei de olhar para mim e olhei para Cristo e, me regozijando naquilo que Ele fez, encontro-me cheio de gratidão.

Temos aquela pilha de madeira podre dentro de nós – a velha natureza – e alguns cristãos tornam-se miseráveis ao se ocuparem com ela e com o desejo constante que ela tem de tomar o controle de seus corpos. Deixemos de olhar para nós mesmos e passemos a dar graças a Deus por nos enxergar em Cristo. "Portanto, agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus." (Rm 8:1). Você está se condenando por ter uma natureza caída? Deus diz que nos vê em Cristo Jesus e "santos e irrepreensíveis diante dEle em amor" (Ef 1:4). É realmente triste descobrir quão má é a velha natureza, mas isto deveria apenas levar-nos a ficar mais agradecidos pela libertação, conhecendo nossa nova posição diante de Deus em razão daquela bendita obra realizada em nosso favor no Calvário.

Deixe-me continuar um pouco mais com a ilustração acerca do carpinteiro. Depois que ele se foi, começo a pensar naquela velha pilha de tábuas. "Será que estarão todas podres mesmo? Talvez exista alguma tábua boa no meio…" e então me ponho a mexer na pilha para ver se existem algumas tábuas que não estejam podres, pois há muito que contava com elas. Naquele momento o carpinteiro chega e pergunta-me o que estou fazendo. Eu explico o quão mal me senti quando ele me disse que toda a pilha de tábuas estava podre. Achei então que poderia encontrar algumas peças em bom estado em seu meio. – Ah! – exclama ele – Você está se aborrecendo sem necessidade. Por que não agradecer simplesmente pela nova pilha de tábuas ao invés de ficar procurando alguma tábua boa entre as velhas? Querido leitor, você tem estado a procurar por algo de bom na velha natureza? Deus já desistiu disso há muito tempo e se você desistir agora será uma pessoa feliz. O carpinteiro pega então um encerado e cobre a velha pilha de tábuas. É evidente que ela não irá melhorar estando sob o encerado, mas ele me diz para eu viver como se ela não estivesse ali. É isto que significa nos considerarmos "mortos para o pecado" (Rm 6:11). Podemos dizer que a velha natureza – o velho homem – não sou mais "eu, mas o pecado que habita em mim". Nossa posição diante de Deus é em Cristo.

Como podemos ser libertados da atividade daquela natureza caída que permanece em nós? Isto nos é explicado em Romanos 8:2: "Porque a lei do espírito de vida, em Cristo Jesus, me livrou da lei do pecado e da morte". Se eu soltasse um livro que estivesse segurando, a força da gravidade o faria cair, pois ele estaria sujeito à lei da gravitação. Como poderia eu livrá-lo desta lei sem mudar a lei, ou o peso do livro? Se eu amarrasse ao livro um balão de gás hélio, ele subiria. Não teria mudado a lei da gravitação e nem o peso do livro, mas eu o teria colocado sob uma nova lei. O gás hélio é mais leve do que o ar. Desta forma o livro estaria livre da lei da gravitação.

Apliquemos isto à nossa vida. Quando alguns pensamentos ruins se introduzem em sua mente, como você fará para livrar-se deles? Você não pode mudar sua natureza caída. Ela sempre age da mesma maneira. Não há nada de bom nela. Mas se você deixar que o Espírito de Deus, por meio do novo homem, o mantenha ocupado com Cristo, você estará livre. O Espírito de Deus trabalhando no novo homem irá encher o seu coração com Cristo. Ele o levará a ver o que Cristo fez por você, o que Ele está fazendo agora mesmo como seu Advogado e Sumo Sacerdote, e o que fará por você quando o tornar eternamente feliz na casa do Pai. Portanto, quando os maus pensamentos vêm à sua mente, lembre-se de que você não pode mudar a natureza caída, mas pode deixar que o Espírito de Deus trabalhe no novo homem. Pense no que você possui em Cristo. Se regozije no fato que Deus o vê em Cristo. Esta é a única maneira de se livrar da atividade do velho homem dentro de você. De nada adianta tentar expulsar aqueles maus pensamentos, pois eles logo estarão de volta. É como lutar com o limpador de chaminés. Deixe-os de lado dando graças pelo livramento de Deus e regozije-se no Senhor.

Quão maravilhoso é saber que Deus não apenas perdoou nossos pecados, mas condenou aquela natureza caída. Ela foi crucificada com Seu Filho. Ele nos enxerga em uma nova posição diante de Si; uma posição de "nenhuma condenação" (Rm 8:1), mortos e ressuscitados com Cristo. Regozijemo-nos! Demos graças! Ele nos deu uma nova vida, a própria vida de Cristo que será nossa para sempre no céu. Quando você nasceu de novo, você recebeu esta nova vida. Você nasceu do alto e o novo homem é criado em justiça e verdadeira santidade. Deus deseja que você, como cristão, viva uma vida de santa liberdade e gozo na posição na qual Ele o colocou.

Não estamos nos referindo aqui ao que o crente deve fazer caso deixe a natureza pecaminosa agir, mas apenas àquilo que Deus fez com respeito à velha natureza. Mas talvez seja de auxílio acrescentar alguns comentários a respeito disso. Se permitirmos o pecado em nossa vida, Deus providenciou um Advogado, Jesus Cristo, o Justo (1 Jo 2:1) e devemos confessar nosso pecado, reconhecendo que deixamos o velho homem agir. Isto não é com o objetivo de restaurarmos nossa posição diante de Deus, pois ela é sempre em Cristo, mas para sermos restaurados à comunhão com Deus em nossas almas. Que completa provisão para todas nossas necessidades nós podemos encontrar em Cristo!

Quão importante é que leiamos a Palavra de Deus e que oremos, pois se negligenciamos isto o inimigo conhece nossos pontos fracos e virá trabalhar naquele velho homem, levando-nos a pecar. Isto irá roubar nosso gozo no Senhor, e se não confessarmos os pequenos pecados, eles em breve se tornarão grandes pecados pelos quais poderemos vir a ser colocados sob a mão de Deus em disciplina, ou talvez possam até mesmo nos colocar sob a disciplina da assembléia, ou igreja de Deus. Não nos é dito que devamos confessar maus pensamentos, pois o simples fato de os deixarmos de lado já é a forma de julgá-los, mas se permitimos a sua ação em nossa vida então devemos confessar nossos pecados para sermos restaurados (1 Jo 1:9).

Um verdadeiro crente nunca pode se perder, mas pode, como Davi na antiguidade, perder o gozo da salvação de Deus e desonrar o Senhor. A oração do salmista é boa para todos nós. "Quem pode entender os próprios erros? Expurga-me Tu dos que me são ocultos. Também da soberba guarda o teu servo, para que se não assenhoreie de mim: então serei sincero, e ficarei limpo de grande transgressão. Sejam agradáveis às palavras da minha boca e a meditação do meu coração perante a tua face, Senhor. Rocha minha e Libertador meu!" Sl 19:12-14.

Gordon H. Hayhoe

2. O Perigo das Influências Modernas

Um apelo para que, com sinceridade, possamos testar tudo unicamente pelo prumo da Palavra do Senhor. Depois de consideração e oração, sentimos a necessidade de tocar num assunto que apareceu num bom artigo numa revista que chegou recentemente. 

O artigo tratou muito bem do perigo das influências modernas, e das maneiras usadas em muitos lugares hoje para louvar ao Senhor. Mas, ao mesmo tempo, o artigo revelou outro perigo que também existe, já há muito tempo, entre muitas igrejas "tradicionais". 

 Em procurar esclarecer algumas coisas para nossos queridos irmãos, sabemos que nem todos irão gostar do que escrevemos, mas é com mais preocupação para com os mais novos na fé que humildemente mencionamos este assunto no espírito de Ef 4:15, e procurando "seguir a verdade em amor". 

Citamos agora uma frase que especialmente revelou o pensamento que nos preocupa: "Ao longo dos anos as igrejas chamadas tradicionais cresceram adotando em seus cultos um louvor bem moderado. Usavam-se instrumentos que levavam os fiéis a um enlevo espiritual, ouviam-se corais, conjuntos, solos, e durante os cultos um clima de louvor atraia os corações dos salvos, e muitas pessoas foram convertidas a Cristo em tais ocasiões"

 Isto é plena verdade, mas agora temos que perguntar se foi esta a vontade de Deus? 


Em primeiro lugar chamamos atenção à frase "igrejas tradicionais", e perguntamos se sua tradição é baseada nos exemplos Bíblicos ou nas tradições de homens que, ao longo dos anos, adotaram inovações no culto das igrejas? 

Certamente as "igrejas tradicionais", no sentido exato da palavra, são as igrejas mencionadas no Novo Testamento, e como o escritor confessa ao usar as palavras "ao longo dos anos", as igrejas do Novo Testamento não adotaram tais coisas. Então concluímos que as "igrejas tradicionais" do artigo estão seguindo as tradições de homens bons, mas não da Palavra de Deus


Em segundo lugar, a frase citada traz a sugestão que é a música instrumental que completa o louvor ao Senhor. Isto pode ser interpretado como dizendo que se uma igreja não usa instrumentos musicais, então não tem o "enlevo espiritual", e que sua adoração é incompleta. Conhecemos dezenas de igrejas locais em nossa região, e em outros lugares, que não adotam estas coisas, mas que louvam ao Senhor na maneira simples que Deus pediu (Ef 5:19). 

Talvez este "enlevo" seja mais "emocional" do que "espiritual" (Ez. 33:30-33). 

O sentimentalismo tem seu lugar, mas não é um substituto para a obediência simples à Palavra de Deus. É notável que nos sacrifícios antigos o mel e o fermento foram proibidos (Lv 2:11). 

O significado do fermento é bem conhecido, sendo figura do pecado, ou seja, o lado pior da carne. O mel fala da doçura humana, do melhor que a carne pode produzir. 

A igreja adora ao Senhor "em espírito e verdade, porque são estes que o Pai procura para Seus adoradores" (Jo 4:23-24). 

O "sem fermento" corresponde a "em verdade", e o "sem mel" corresponde a "em espírito", ou seja, sem a ajuda da carne, mesmo que seja bem refinada e doce. É evidente do Velho Testamento que os instrumentos musicais foram adotados por Davi (II Sam. 6:5; I Crôn. 15:16; Amós 6:5) e se tornaram parte da cerimônia judaica, junto com outras coisas materiais que já existiam no Templo, como os sacrifícios de animais, incenso, etc. O cristianismo verdadeiro não é um judaísmo modificado, mas uma nova instrução, com seus princípios revelados aos apóstolos, e escritos nas cartas para a direção da igreja até a vinda de Cristo. 

Nossa responsabilidade é simplesmente seguir o padrão deixado para nós no Novo Testamento, sem deixar ou "adotar" mais nada. É exatamente aqui que vem a raiz deste problema que hoje tem se tornado a vergonha das seitas, e que merece a censura que recebeu no artigo citado. 

Contudo, a diferença entre as "igrejas tradicionais" e as do "louvor quente" é somente na distância que partiram do padrão do Novo Testamento. Seria justo o homem que roubou um real chamar de ladrão aquele que roubou dez reais? Também, muitos destes grupos nem sempre agiram assim. A tendência, quando começar o desvio, se não voltar, é geralmente ir mais longe da verdade. 

 Outra coisa que a frase citada sugere é que os instrumentos, corais, conjuntos, solos, etc., produzem muitas conversões. 

Certamente este é um pensamento muito comum hoje, e também é a razão declarada pela prática dos extremos que o artigo corretamente condenou. Dizem que "traz muitos resultados", e que "muita gente vem ouvir a Palavra de Deus". Nossa preocupação não deve ser com resultados. Nossa primeira responsabilidade é obedecer à Palavra de Deus (I Sam. 15:22), e deixar os resultados com Ele. 

O Dia vai mostrar os verdadeiros resultados. Noé, o pregador fiel, não viu muitos resultados, e ninguém além da sua família creu na mensagem que ele pregou. Mas Noé não é considerado uma falha, mas um herói da fé (Hb 11:7), e certamente receberá o seu galardão como servo "bom e fiel", apesar dos poucos resultados. Por outro lado, Jonas viu muito fruto em Nínive, mas nem aparece na lista dos heróis da fé em Hebreus 11. Também, Moisés teve bom resultado quando feriu a rocha pela segunda vez, pois saiu a água salvadora, mas Moisés perdeu o galardão pela sua desobediência à Palavra de Deus nesta ocasião (Nm 20:2-12). 

O fato de que Deus usou os corvos para levar comida para Elias não os fez "limpos". 

Deus pode usar até as nossas falhas para Sua glória, mas isto não justifica as nossas falhas. Seria bom se os irmãos das "igrejas tradicionais" pensassem seriamente sobre qual seria o resultado se parassem com os "instrumentos, corais, conjuntos, solos", etc. 

Já fizemos esta pergunta para alguns, e confessaram que com certeza perderiam a maior parte de suas congregações! Então, qual é o motivo destes se reunir? Será que são atraídos ao Senhor no meio, desejos de aprender da Sua Palavra? Quanto tempo e despesa é aplicado nestas coisas? E devemos lembrar que muitas vezes são as coisas "boas" que são os ladrões das coisas "excelentes" (Fil. 1:10). 

Muito do que nós consideramos necessário na igreja vem da tradição de homens bons. Praticamos as coisas porque sempre foi assim na nossa igreja. 

Os filhos seguem os costumes dos pais. Os que começaram aquele trabalho também trouxeram as suas tradições que aprenderam em outros lugares, e agora esta tradição é considerada parte da doutrina dos apóstolos; mas, de fato, nunca foi. 

 Amados irmãos, sejamos honestos e sinceros neste assunto, testando tudo pelo "prumo" da Palavra do Senhor. Que tenhamos a coragem para rejeitar tudo que não tem esta única autoridade. 


Samuel R. Davidson

3. Santificação espiritual

Todos nós almejamos satisfação. Somos feitos assim. Apetite físico, gosto estético, juízo moral, amor—todos igualmente clamam por satisfação.

Muitas vezes, nós conseguimos, mas outras não. E, quando não conseguimos, sentimo-nos frustrados, traídos, decepcionados. Não conseguimos nos reconciliar com a ideia de que a vida não foi feita para fazer sentido.

A razão não será ridicularizada por tal teoria. Nem nossa imaginação vai consentir em ser perpetuamente desiludida. A ciência revela, em todo lugar, a evidência do desígnio e do propósito racionais. A imaginação pode ver que coisa magnífica a vida poderia ser, se ao menos as pessoas se comportassem racionalmente, e a vida fosse como parece que foi designada para ser. Então, por que não é?

Por que as pessoas, tantas vezes, se comportam tão irracionalmente? Por que nossos sonhos, expectativas e planos bem projetados são tantas vezes frustrados da doença ou pela guerra, ou por processos econômicos anônimos, ou pela imposição da ideologia dos outros? E por que eu arruíno minha própria chance de felicidade irracionalmente, saciando-me no que eu sei que vai me ferir e machucar aqueles de cujo amor minha felicidade depende? Nossa própria frustração nos leva a buscar uma resposta. 

Não podemos simplesmente nos rebaixar a ser constantemente insatisfeitos e progressivamente desiludidos. Se não podemos ser satisfeitos, então, pelo menos, procuramos por alguma explicação satisfatória do porquê não podemos; por que é que na vida, aparentemente tão cheia de promessas, tantas vezes algo dá errado ou falha? Nós queremos saber se há alguma forma de consertar o que quer que esteja errado; se existe algum caminho para a eventual satisfação.

Cedo ou tarde, nos voltaremos à religião. Nós sabemos, é claro, ou pelo menos achamos que sabemos, o que ela irá dizer.

Ela irá dizer que nosso problema básico é o pecado.

Isso é perfeitamente verdade; mas, por si só, não é provável que nos ajude muito. É como dizer a um homem com câncer que seu problema básico é a doença.

Nós todos sabemos que somos pecadores. A questão é, como vamos mudar, erradicar o problema, parar o apodrecimento moral que ameaça comer toda nossa felicidade e frustrar qualquer sentimento de satisfação?

Novamente, nós sabemos, ou achamos que sabemos, o que a religião irá receitar: esforçar-se mais para ser bom; ser mais gentil, menos egoísta e mais puro; orar, negar a si mesmo e disciplinar a si mesmo. Todos esses são fortes remédios. Mas, se a vida é digna de se viver, merece ser levada a sério.

Então, fazemos uma tentativa de levar a religião a sério e participar rigorosamente, talvez mais que rigorosamente, dos nossos deveres religiosos.Por incrível que pareça, isso não nos satisfaz também. E o motivo provavelmente é que nós temos feito simplesmente o que supomos que a religião estava nos mandando fazer, sem parar o tempo suficiente para ouvir Jesus Cristo pessoalmente, para escutar exatamente o que ele está dizendo. 

Ele certamente pode nos dar satisfação, profunda e permanente satisfação, um poço de água viva dentro de nós, como ele uma vez descreveu (João 4:13-14), de forma que, quando a recebemos uma vez, nunca nos faltará satisfação novamente. Mas, para conseguir essa satisfação, primeiro, devemos aceitar seu diagnóstico de nosso problema e, depois, seu tratamento. Ambos são mais radicais do que podemos ter imaginado.


Por David Gooding & John Lennox  

4. Estar de bem com Deus

A insatisfação básica que subjaz todas as outras insatisfações que são possíveis ao coração humano sentir surgem disso: nossos pecados são uma ofensa ao Deus Todo-Poderoso, nosso Criador. Eles constantemente insultam suas leis e provocam a sua ira (Romanos 1:18; 2:1-3; 3:19). 

Ele, portanto, retém de nós aquele sentimento de paz com Deus, sem o qual nenhuma criatura de Deus consegue se sentir verdadeiramente tranquila ou verdadeiramente satisfeita.

Segue que o nosso primeiro passo em direção à satisfação deve ser reconciliar-nos com Deus. As exigências da santa lei de Deus devem ser satisfeitas completamente. Ele deve estar completamente satisfeito de que a justiça tenha sido realizada, de que nunca mais ele vai precisar dirigir sua santa ira aos homens.

Da nossa parte, nosso sentimento de aceitação por Deus deve ser total, sem reservas ou incertezas. Do contrário, a reconciliação não é verdadeira.

Para ilustrar a questão, a Bíblia conta a história (2 Samuel 13:23-18:33) de uma reconciliação no nível humano que não foi completa e sem reservas e foi, portanto, insatisfatória.

O filho do rei Davi, Absalão, assassinou seu meio-irmão, Amnom, e, com medo da justiça do rei, fugiu do país. Cerca de três anos depois, amigos de Davi o convenceram a esquecer o crime e deixar Absalão retornar do exílio. O rei, no entanto, não ficou muito feliz com a justiça da questão; então tentou um acordo. Absalão poderia retornar, mas a ele não seria permitido acesso à presença do rei; a ele não era permitido ver a face do rei (2 Samuel 14:24,28). 

Mas meia reconciliação como essa não é, de forma alguma, verdadeira reconciliação; e, nessa ocasião, isso só levou a mais problemas, alienação e eventual desastre.

Pelo contrário, felizmente, quando Cristo nos reconcilia com Deus, Deus nos aceita e nos recebe sem reservas. Nós podemos ir à presença de Deus a qualquer hora (Romanos 5:2; Efésios 2:18). 

Não precisamos esperar até que morramos para descobrir se seremos admitidos à sua presença ou não. Podemos ir de uma vez, seguros de que a ira de Deus contra nós é uma coisa do passado (Hebreus 10:19-22), de que não existe condenação ou rejeição a ser temida no futuro (Hebreus 10:14-18; 1 João 4:17-19). 

O amor de Deus expulsa o medo; a presença de Deus se torna nosso lar. Mas as condições são rígidas.

Devem existir, da nossa parte, arrependimento radical para com Deus e fé somente em Cristo e no que fez por nós e em nada e ninguém mais (Romanos 5:9; 8:1; João 5:24). 

O verdadeiro arrependimento não é só admitir que coisas, como orgulho, mentira e impureza, são erradas e pecaminosas, nem simplesmente determinar-se a abandoná-las. O verdadeiro arrependimento para com Deus significa enfrentar nossa verdadeira posição legal na luz do veredito que Deus passa para nós em sua Palavra. E é nesse ponto que é tão fácil para nós ser menos que radicais em nosso pensamento, e, portanto, ser menos que realistas em nossas atitudes, e, por fim, tentar recursos que não podem trazer satisfação, porque não satisfazem nem Deus, nem nós.

Nós sabemos que somos pecadores e, como tais, inaceitáveis a Deus. E então, com intenção muito honesta, nós fazemos o que nos parece óbvio fazer: nós começamos a melhorar a nós mesmos na esperança de eventualmente ganhar a aceitação de Deus (Atos 20:21). Na verdade, estamos sendo seriamente irrealistas em dois aspectos.

Primeiramente, os pecados que já cometemos são, por si sós, suficientes para merecermos morte e rejeição de Deus. Nenhuma quantidade de melhora no futuro pode apagar a culpa do passado, ou compensá-la, ou abonar sua merecida pena.

Em segundo lugar, mesmo que nós começássemos a melhorar prontamente, a própria experiência, sem falar na Palavra de Deus, nos adverte que no fim da vida não teremos melhorado o suficiente para ser aceitos por Deus com base na nossa conquista. O veredito de Deus sobre nós, então, ainda vai ter de ser o que é agora: nós todos pecamos no passado e, no presente, ainda ficamos aquém do padrão de Deus (Romanos 3:23). 

E, sendo assim, Deus, em todo seu amor, não vai fingir que não é assim; não vai ficar satisfeito com nossos esforços inadequados. Como a versão de Ronald Knox tão claramente coloca: "A observância da lei não pode conquistar a aceitação para nenhuma criatura humana" (Gálatas 2:16).

Isso é bem sombrio; mas é melhor encararmos a realidade. A satisfação dificilmente pode vir de fechar os olhos para o problema. Nossa situação legal frente à justiça de Deus é séria ao extremo. É por isso que, a fim de efetuar uma reconciliação satisfatória, a justiça de Deus teve de tomar a medida extrema de entregar seu próprio Filho para sofrer as sanções da sua lei por nossa causa. Não havia outra forma. Se a aceitação de Deus fosse alcançável com base na nossa melhora, Cristo nunca teria morrido, nunca teria precisado morrer. Mas ela não foi obtida dessa forma, e Jesus Cristo teve de morrer (Gálatas 2:20-21; 3:21-22; Romanos 4:25; 8:32).

Mas da sua morte vem a maior e mais gloriosa notícia que o homem já ouviu. O que nós nunca poderíamos ter feito, a morte de Cristo conquistou por nós. Ele satisfez a justiça de Deus, ele pagou a pena do pecado (2 Coríntios 5:20-21; Gálatas 3:13-14).

Deus pode agora aceitar, e aceitar com perfeita e inabalada justiça, todos que colocam sua fé em Cristo e vão a Deus unicamente em razão desse sacrifício. A aceitação divina de cada pessoa tal é sem reservas. Na verdade, Deus quase exagera em mostrar quão completa e permanentemente aceita tal pessoa é. 

Ele chama a atenção para o fato de que a morte do nosso Senhor foi seguida pela sua ressurreição, ascensão e entrada na presença imediata de Deus. Ele, então, aponta que Jesus foi logo à presença de Deus não só em seu favor, mas como o representante declarado e precursor daqueles que confiam nele. E Deus finalmente declara que todos que Jesus dessa forma representa podem agora considerar-se aceitos por Deus tão total, completa e definitivamente quanto seu próprio Representante (Hebreus 6:17-20; 9:11-14,24- 28; 10:1-18; Efésios 2:1-10).

Nisso reside o segredo da profunda e da permanente satisfação. Saber que ser aceito por Deus dessa forma, completa e eterna, é estar em paz com Deus. E estar em paz com Deus é o único alicerce seguro para a verdadeira e duradoura satisfação.


Por David Gooding & John Lennox  

5. Destinados a serem santos

Ser aceito por Deus unicamente por causa do sacrifício e da morte de Jesus soa, para muitas pessoas, quando ouvem isso pela primeira vez, bom demais, ou um tanto fácil demais, astuto demais, para ser verdade.

Soa como se você pudesse continuar pecando, e isso não importasse: você ainda poderia ser aceito por Deus, simplesmente porque Jesus morreu pelos seus pecados, e você disse que acreditava nele. Em outras palavras, soa como uma licença para continuar pecando com impunidade.

Claro, isso não é verdade; embora, interessantemente, é precisamente o que as pessoas disseram quando ouviram pela primeira vez os apóstolos pregarem o evangelho (Romanos 3:8,31; 6:1-2,15)— o que mostra que nós devemos estar no caminho certo; e nós sabemos o tipo de coisa que os apóstolos diziam em resposta.

Não é verdade por causa do que está envolvido em "confiar em" Jesus como Salvador.

Confiar em Jesus não significa simplesmente assentir ao fato de que ele morreu por nossos pecados. Significa comprometer-nos sem reservas com ele como Senhor.

E mais.

Significa receber Jesus como Pessoa viva (João 1:12); significa tornar-se unido com ele pelo seu Espírito (Romanos 6:5); tornar-se "um nele" (João 17:20-21; Romanos 8:9-11); ser unido a ele numa parceria espiritual e viva (1 Coríntios 6:15-17).

A analogia mais próxima a isso nas relações normais é quando marido e mulher se tornam "uma só carne", não mais indivíduos completamente separados e independentes, mas uma união viva (Romanos 7:1-4). 

E nessa união com Cristo reside a chave da maneira de Deus nos tornar o que fomos destinados a ser.

Não podem existir céu, satisfação final, sem nos tornarmos o que Deus, nosso Criador, pretendeu que fôssemos e nos comportarmos de acordo. Isso, é claro, nós instintivamente percebemos. Mas a maneira de Deus nos tornar o que fomos destinados a ser é radicalmente diferente do que nós normalmente pensamos.

Nós naturalmente pensamos em termos de melhorar a nós mesmos. Gostamos de pensar em nós como basicamente sãos, com uma ou duas manchinhas morais aqui, talvez uma mancha de completa maldade ali, estragando a maçã de outra forma perfeita. Nossa esperança e nossa expectativa são que, pela aplicação de alguma disciplina religiosa, talvez até mesmo de uma cirurgia espiritual moderadamente rigorosa, eventualmente nos tornemos tão melhorados a ponto de nos qualificarmos a desfrutar e a fazer nossa contribuição ao céu onde Deus habita.

Mas Deus não pensa dessa forma. O Novo Testamento nunca fala de melhorar-nos, ou de melhorar a nossa antiga vida, ou natureza caída.

Deus faz algo muito mais radical.

Ele implanta dentro do crente uma vida nova (1 Pedro 1:23-2:3), que traz consigo uma nova natureza (2 Pedro 1:4; Colossenses 1:27; 3:3-4), com novos poderes e novos instintos e novos potenciais. É por isso que, em tempos passados, quando as pessoas se tornavam cristãs, elas tomavam ou recebiam um novo nome. Simão, por exemplo, foi chamado de Pedro (João 1:42). 

O novo nome não era a expressão de uma piedosa esperança de que, um dia, eles poderiam melhorar. Era o reconhecimento de que Cristo tinha lhes dado uma nova vida (Romanos 6:4), um novo poder, uma nova natureza, que não tinham antes. 

"O novo homem" ou "a nova natureza" (Colossenses 3:10), ou "a nova criação" (2 Coríntios 5:17) — estes são alguns dos termos que os primeiros cristãos usavam para esse dom da nova vida espiritual que receberam pela sua união com Cristo.

Receber essa nova vida não significava que sua antiga natureza caída havia desaparecido e não mais se fez vista ou ouvida. Mas receber a nova vida era como soltar um fruto de carvalho numa sepultura: isso não melhoraria o cadáver; mas começaria a crescer uma nova vida, que, gradual e eventualmente, iria substituir tudo o mais.

Então, o crente em Cristo não tem mais uma natureza, mas duas, a velha e a nova. Ele é chamado pela decisão e pelo esforço constantemente renovados a despojar-se do velho homem (Efésios 4:22-23), a exterminá-lo (Colossenses 3:5), a não deixá-lo reinar (Romanos 6:12) e a revestir-se do novo, que constantemente é renovado (pois essa é uma característica da vida) em conhecimento, à imagem de Deus, seu Criador (Efésios 4:22-24).

Naturalmente, ocupa a vida inteira constantemente despojar-se do velho e cultivar o novo. É uma luta (Gálatas 5:16-17), uma guerra, em que não vencemos todas as batalhas, mas em que há perdão para a derrota (1 João 1:7-9) e a certeza do triunfo final (Romanos 5:2; 8:29-30). Em cada crente, a nova vida vai crescer e desenvolver-se até finalmente estar conforme o padrão do próprio Cristo.

O que acontece, podemos perguntar, se, tendo recebido essa nova vida, a negligenciarmos e estimularmos e favorecermos a velha? Isso importa?

Na verdade, importa.

Se agirmos dessa forma, Deus irá nos disciplinar. Nós devemos usar nossos novos poderes espirituais para evitarmos que a velha natureza caída assuma o controle. Senão, Deus terá de tomar medidas mais drásticas. Elas podem envolver doença ou mesmo morte física prematura. O assunto é tão importante que Paulo se estende longamente nele em 1 Coríntios 11:23-32. Toda a passagem é importante.

As disciplinas de Deus são solenes e sérias. Ele não permitirá, se formos verdadeiros seguidores de Cristo (Hebreus 12:3, 8-11; Filipenses 3:10-14), que nos tornemos presunçosos ou cínicos. Nem nos deixará satisfeitos com nós mesmos, até que Deus esteja satisfeito conosco. Mas note que, mesmo no extremo caso no qual um crente é removido pela morte física, sob a disciplina de Deus, por causa de seu viver descuidado, a Bíblia diz explicitamente que ele não será condenado juntamente com o mundo (1 Coríntios 11:32). 

A razão para isso é que, embora nosso gozo com Deus e o gozo de Deus conosco dependam de nosso cultivo da vida nova que recebemos por meio de Cristo, nossa aceitação por Deus nunca dependeu, e nunca dependerá, de nosso progresso espiritual, mas somente do que Cristo fez por nós pela sua morte. Nossa aceitação, portanto, permanece eternamente segura.

Essa, então, é a maneira de Deus nos tornar aquilo que fomos destinados a ser. É a única maneira eficaz e satisfatória (Gálatas 2:8; Colossenses 1:20-23).


Por David Gooding & John Lennox  

6. Santificação no trabalho

É lógico que, se Deus nos fez, e nos fez primeiramente (como a Bíblia diz) para realizarmos sua vontade e desempenharmos seu desejo (Apocalipse 4:11; Colossenses 1:16), nunca poderemos encontrar satisfação até trabalharmos como fomos destinados a trabalhar e desempenharmos o propósito para o qual Deus nos fez. 

Isso significa, é claro, abrir mão de nossos próprios caminhos e pensamentos onde quer que eles se difiram dos de Deus; isso significa dizer para sempre: "Contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua".

Francamente, para muitos de nós, isso soa como um modo de vida desolado e assustadoramente sem atrativos.

Não nos importamos de ser moderadamente religiosos; mas levar "cativo todo pensamento à obediência de Cristo", como Paulo coloca (2 Coríntios 10:5), consultar Cristo como Senhor sobre tudo o que fazemos na vida e aceitar seu controle em tudo — bem, apenas um nascido santo, dizemos a nós mesmos, poderia considerar viver a vida assim; e mesmo ele, suspeitamos, dificilmente poderia apreciar isso.

Talvez seja bastante natural pensar assim. Mas isso mostra como, desavisados, formamos ideias bastante caluniosas sobre Deus, como se ele fosse um tirano ou um estraga prazeres. Pensar o que queremos sobre Deus, naturalmente, não muda o fato de que, como suas criaturas, é nosso dever servi-lo. Mas servir a ele meramente por um senso de dever é, novamente, menos do que satisfatório, e, mesmo se conseguíssemos fazê-lo, isso tende a provocar em nós um espírito de mártir, uma atitude desagradável do tipo, "que bom rapaz eu sou".

O único modo satisfatório e gratificante de servir a Deus é servir-lhe de bom grado e alegremente, com todo o nosso coração, mente, alma e força; mais por amor do que por dever.

Mas como isso pode ser feito?

Você pode forçar-se a servir a Deus, mas você não pode fazer-se amá-lo. Então, qual é o segredo de amar e servir a Deus como fomos feitos para fazer?

O próprio Paulo nos diz. É uma mistura de amor e lógica. Quando começamos a entender o que Cristo fez por nós, nossa gratidão não só afeta o modo como nos sentimos, como também apresenta poderosas implicações na maneira como vivemos nossa vida. Paulo, com seu esmagador senso do amor de Cristo por ele pessoalmente, é compelido a ver que: "…esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" (Gálatas 2:20). 

E, novamente: "Pois o amor de Cristo nos constrange, julgando nós isto: um morreu por todos; logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Coríntios 5:14-15).

Paulo, como ele nos diz (Filipenses 3:4-6), sempre fora religiosamente intencionado, mas ele nem sempre pensara assim. Em sua jovem idade adulta, ele pensava que servir a Deus era uma forma de armazenar mérito e que esse era um meio de alcançar a salvação. E, então, ele foi servir a Deus com imensa eficácia e com determinação. Mas tudo o que isso conseguiu fazer por ele — e é ele quem diz isso de si mesmo — foi amontoar uma carga de obras religiosas que não valiam absolutamente nada, e pior do que nada na visão de Deus (Filipenses 3:7-8), e transformá-lo em um homem orgulhoso, duro e cruel (1 Timóteo 1:13; Atos 26:9-11).

A mudança veio quando ele descobriu quem Cristo realmente era, o que Cristo realmente fizera por ele e por que precisava que Cristo fizesse isso por ele afinal. Ele descobriu que, longe de ser o sucesso religioso que pensava ser, ele era um pecador miserável e desprezível. Seus supostos méritos eram um lixo censurável, seus exercícios religiosos, sem valor; a lei de Deus, que até então ele imaginara haver guardado, somente o condenava.

E, então, ele descobriu Cristo. Descobriu quem ele era. Este Jesus, a quem ele tinha ofendido e perseguido em nome de Deus, não era outro senão Deus encarnado.

A descoberta era perturbadora.

Isso expôs a religiosidade de Paulo como a expressão de sua própria obstinação; o impulso e serviço de seu próprio ego sob o disfarce da religião, em real (embora oculta e inconsciente) oposição a Deus.

Então, ele descobriu algo mais sobre o Filho de Deus, e a descoberta revolucionou toda a motivação de sua vida.

Ele descobriu que, mesmo quando era seu inimigo, este Jesus o amava pessoalmente e morrera voluntariamente por Paulo, para que Paulo não precisasse morrer sob a ira de Deus.

O efeito sobre Paulo foi de incessante gratidão.

Mas não só gratidão. A pura lógica o fez ver que, se Cristo não tivesse morrido por ele, ele próprio teria morrido.

A vida que ele vivia agora, portanto, devia-se inteiramente a Cristo. Já não era sua própria; pertencia a Jesus, comprada pela morte que a redimira (1 Coríntios 6:19-20). Portanto, ela deveria ser vivida inteiramente para Jesus. E ele, alegremente e de bom grado, viveu-a dessa forma. Somente isso poderia satisfazer ao amor de Paulo por Jesus.

A próxima descoberta que Paulo fez foi que, quando, em amor e em gratidão, alguém submete sua vida ao controle de Cristo, o jugo de Cristo é, na verdade, suave, como o próprio Jesus afirma, e o seu fardo é leve (Mateus 11:28-30).

Cristo é, afinal, nosso Criador. Ele sabe como nós fomos feitos para trabalhar. Seu controle e sua disciplina não são uma tirania, forçando-nos a viver artificialmente. Esse controle é necessário para salvar-nos de arruinarmos a nós mesmos com a frustração de vivermos perpetuamente lutando contra o plano de nosso Criador para nós. É o único caminho verdadeiro para a realização pessoal, para vivermos e trabalharmos como fomos destinados a viver e a trabalhar.

E a outra descoberta que Paulo fez foi a da grande recompensa em servir a Cristo (1 Coríntios 3:11-15). A recompensa não é a salvação, é claro, ou a aceitação de Deus. A recompensa é pelo trabalho realizado (1 Coríntios 3:14), ao passo que a salvação nunca é o resultado do trabalho feito; é dada como um dom gratuito (Efésios 2:8-10).

A recompensa em trabalhar para Cristo é, primeiramente, a pura alegria e a satisfação de saber que agradamos ao Senhor (Mateus 25:23). Em segundo lugar, é a satisfação de conseguirmos algo eternamente significante e que vale a pena (1 Coríntios 3:14; 1 Pedro 5:4). E, em terceiro lugar, é descobrir que desenvolvemos nosso potencial para fazer um trabalho maior e mais significativo (Lucas 19:16-17).

Se Paulo tivesse um lema, penso que teria sido este: "Para mim, o viver é Cristo" (Filipenses 1:21). E, quando ele veio a morrer, não havia o menor arrependimento. Nada, exceto satisfação (2 Timóteo 4:6-8).

Podemos ser tentados a pensar, é claro, que Paulo era tão santo que sua experiência é irrelevante à nossa.

Mas não é assim. Ele mesmo nos diz que Deus projetou sua conversão como um padrão para todos os outros (1 Timóteo 1:16).


Por David Gooding & John Lennox  

7. Santificação em saber o que está acontecendo

Não saber o que está acontecendo pode ser muito frustrante. Alguém lhe pedir ou você ser obrigado a trabalhar em algum esquema sem ninguém lhe dizer o que é exatamente o esquema; alguém esperar que você lute e faça sacrifícios sem saber se o esquema é bem-sucedido ou não, se os sacrifícios serão justificados no final ou se tudo vai acabar em fracasso ou em desastre — essa é uma forma pouco tentadora e insatisfatória de continuar.

Infelizmente é assim que muitas pessoas vivem, trabalham e morrem. Com esquemas e com projetos de vida menores, seus próprios planos e ambições, elas tentam justamente definir seus objetivos, estimar suas chances de sucesso, decidir se o sucesso, quando alcançado, vai valer o esforço empregado para realizá-lo.

Mas sobre o propósito da própria vida e o que está além dela; e se os sacrifícios e as labutas da vida provarão, no final, ter servido para algum objetivo eterno de valor, ou se toda a vida vai acabar em desastre eterno, sobre tudo isso, eles têm apenas uma vaga ideia e as esperanças mais incertas. 

Alguns até mesmo supõem que viver na incerteza é como nós fomos feitos para viver, que, de qualquer maneira, é isso o que a fé significa: viver corajosamente com a incerteza. Mas, é claro, a fé no sentido bíblico é exatamente o oposto da incerteza. "A fé", diz a Bíblia (Romanos 10:17), "vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo".

Fé, em outras palavras, é a nossa resposta para o que Deus nos fala. E, se Deus nos diz qualquer coisa, a última coisa no mundo que devemos ter é incerteza. Quando ouvimos a Cristo, então, ele expulsa a incerteza.

Descobrimos nele não só aquele que criou todas as coisas, mas aquele para quem todas as coisas foram criadas (Colossenses 1:16). Ele herdará todas as coisas: os vastos proventos da história serão dele; ele é o objetivo de todas as coisas (Hebreus 1:2). E há mais, ele não nos mantém no escuro a respeito de seus propósitos, quer para nós pessoalmente, quer para o mundo em geral. 

Obviamente, como criaturas finitas, há muito sobre o mundo vindouro que não nos pode ser dito, uma vez que nós não poderíamos, em nossa presente condição, compreender. Mas muito nos é dito e, certamente, o suficiente para satisfazer a fé e para preencher a vida com significado e com propósito."Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer." (João 15:15) 

Então, nos é dado a saber que Jesus, que se ausentou de nós na ascensão, está para retornar. "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também." (João 14:2-3) 

Então, aqui temos aquela esperança certa da ressurreição na segunda vinda de Cristo, reservada a nós para nosso conforto e nosso encorajamento (1 Tessalonicenses 4:13-18).

Morte não é a palavra final; ela não terá a vitória final (1 Coríntios 15:54-58). Ela não reduz a vida a nada e, consequentemente, à insignificância final. Cristo virá outra vez; e Maranata — em aramaico, "O Senhor virá" (1 Coríntios 16:22), é a palavra de ordem de cada cristão.

Entretanto, até esse grande evento, ao crente individual é dito o que vai acontecer com ele pessoalmente na morte. Como um exilado que viveu fora de casa a negócios, mas, depois, quando o negócio é terminado, vai para casa, assim o crente, na morte, parte para estar com Cristo (Lucas 23:43; Filipenses 1:23; 2 Coríntios 5:6-8), para estar em casa com o Senhor.

Isso é tremendamente confortante para o indivíduo. Mas, maravilhoso como é, Deus planeja fazer muito mais do que salvar e criar indivíduos perfeitos. Cristo nos diz que toda a criação será restaurada. Não é para a natureza estar sempre acorrentada à frustração da corrupção e da decadência. "A própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus." (Romanos 8:21) 

O que isso significa em termos práticos detalhados não nos é dito, e, sem dúvida, não poderíamos compreender em nosso presente estado limitado. Nem importa. O grande ponto é que a encarnação e a ressurreição corporal do Senhor Jesus se combinam para nos dizer que a matéria é basicamente boa. O mundo da natureza não é uma ilusão, nem um ciclo sem sentido do qual, se formos sábios, tentaremos escapar.

O mundo material é uma boa ideia do próprio Deus. Ele vem sendo temporariamente estragado pela rebelião de criaturas inteligentes e moralmente responsáveis contra o Criador. Mas essa condição não deve ser permanente. A própria criação deve ser conciliada e feita para servir à vontade do Criador (Colossenses 1:20). A matéria eventualmente funcionará perfeitamente para a glória de Deus.

Existe, então, um propósito dentro da história, escondido talvez, mas realmente presente. O esforço humano não é, afinal das contas, em vão. A ressurreição de Cristo é descrita como as primícias de uma colheita, que incluirá a ressurreição dos reconciliados com Deus. Se somos crentes, isso nos dará confiança para vivermos e trabalharmos na íntegra, pois sabemos que o que fazemos não é sem sentido (1 Coríntios 15:58). Eis, então, a satisfação.

Que ninguém diga que é escapismo. Isso sugere que cada decisão, cada ação aqui nesta vida, é de consequência eterna, visto que o cristão tem a promessa da vida que agora é e da que há de ser (1 Timóteo 4:8). Para os incrédulos, isso significa que esta vida irá, no final, para sempre provar ter sido demasiadamente significativa (João 3:36; Apocalipse 21:8; Mateus 12:36-37).


Por David Gooding & John Lennox 

8. O caminho para a santificação

Se existe satisfação espiritual, então, como eu a obtenho? Devemos estar brincando se, no final, não trouxermos toda a questão a essa pergunta pessoal e prática.

A resposta é muito simples. "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo", dizem as Escrituras (Atos 16:31). Mas a pura simplicidade disso pode ser tentadoramente difícil. Todos nós, ou a maioria de nós, afinal, não cremos em Jesus Cristo em algum sentido?

De certo modo, sim; mas, obviamente, a crença que realmente recebe de Jesus a satisfação que ele reserva para nós precisa ser, de alguma forma, mais profunda, real e intimamente pessoal do que um tipo de crença superficial e geral em Jesus.

A verdadeira fé, diz a Bíblia (Romanos 10:17), vem de ouvir Jesus falar. Naturalmente, não se trata de ouvir vozes inesperadamente; mas ouvir Jesus falar através da Bíblia, permitindo-lhe, pelo seu Espírito, tornar sua palavra uma realidade viva e criativa para nós. Por essa mesma razão, ele deixou registrada para nós uma conversa que teve com uma mulher sobre esse mesmo tema de receber a satisfação espiritual. 

Aqui está a história. Leia-a. Leia-a mais de uma vez. E, enquanto escuta Jesus falar com uma mulher há todos esses séculos, ore para que ele, por meio de seu Espírito, fale com você agora. E ele irá (João 6:37).

"Chegou, pois, a uma cidade samaritana, chamada Sicar, perto das terras que Jacó dera a seu filho José. Estava ali a fonte de Jacó. Cansado da viagem, assentara-se Jesus junto à fonte, por volta da hora sexta. Nisto, veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. Pois seus discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. 

Então, lhe disse a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se dão com os samaritanos)? 

Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. 

Respondeu-lhe ela: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu, porventura, maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado? 

Afirmou-lhe Jesus: Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. 

Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la. 

Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e vem cá; ao que lhe respondeu a mulher: Não tenho marido. 

Replicou-lhe Jesus: Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos já tiveste, e esse que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade. 

Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. 

Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade. 

Eu sei, respondeu a mulher, que há de vir o Messias, chamado Cristo; quando ele vier, nos anunciará todas as coisas. 

Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo." (João 4:5-26)


Por David Gooding & John Lennox

9. Curandeiros e Movimentos pela Fé

A Bíblia alerta sobre falsos apóstolos (2Co 11:13), falsos irmãos (Gl 2:4), falsos mestres (2Pe 2:1), falsas testemunhas (Mateus 26:60), falsos profetas (Atos 13:6) e até mesmo falsos cristos (Mateus 24:24) porque existem apóstolos, irmãos, mestres, testemunhas, profetas genuínos e, claro, apenas um que é o "Cristo do Senhor" (Lucas 2:26). Hoje, também existem falsos curandeiros que imitam as verdadeiras curas divinas conforme descritas nas Escrituras. De acordo com o Departamento do Tesouro, das notas falsas de US$ 70 milhões em circulação nos EUA, nenhuma é de US$ 13,00. Por que? Os falsificadores apenas duplicam o que é autêntico e tem valor.


A história dos curandeiros

Há apenas cerca de uma dúzia de curas em todo o Antigo Testamento. No Novo Testamento, Jesus e Seus apóstolos realizaram curas durante um período de 30 anos, e Paulo menciona o "dom de cura" na lista dos nove dons dados pelo Espírito (1Co 12:7-10). 


Esses presentes podem ser agrupados da seguinte forma:

Grupo 1: sabedoria e conhecimento

Grupo 2: fé, curas, milagres, profecia , discernimento de espíritos

Grupo 3: línguas e interpretação de línguas


O conhecimento representa o grupo um, as profecias o grupo dois e as línguas o grupo três. Assim, o próximo capítulo declara: "Quanto às profecias, elas passarão; quanto às línguas, cessarão; quanto ao conhecimento, ele passará" (1Co 13:8 ESV ). Tudo não estará mais operacional, pois "quando vier o que é perfeito, então o que o é em parte será aniquilado" (1Co 13:10). [1] 

Paulo está falando sobre a revelação divina, então a autenticação dos homens e de sua mensagem seria agora pelo cânon completo das Escrituras, e não por meio de sinais milagrosos como curas. Não é de surpreender, então, que a frequência das curas caia no Novo Testamento. Por Efésios e 1 Timóteo, Paulo não cura Epafrodito, e simplesmente orienta Timóteo sobre uma solução médica para seus problemas estomacais.

Desde então até o início do Movimento Carismático na década de 1870, as curas milagrosas documentadas são escassas. Com o surgimento das campanhas evangelísticas carismáticas, veio o início dos modernos serviços de cura. 

Alguns dos curadores mais reconhecidos incluíam Smith Wigglesworth, Aimee Semple McPherson, William Branham, Oral Roberts (o primeiro a transmitir serviços de cura pela televisão), Kenneth Copeland, Pat Robertson, Benny Hinn, Joyce Meyer e Joel Osteen. 

O movimento Palavra de Fé começou oficialmente no final dos anos 1900, quando EW Kenyon combinou a cura pela fé com outras doutrinas errôneas. Ele impactou Kenneth Hagin, que se tornou conhecido pelas curas pela fé e pelo evangelho da prosperidade. Ironicamente, todos esses curandeiros zombam de supostas curas semelhantes realizadas pelas aparições católicas da Virgem Maria e das curadoras Ellen White e Mary Baker Eddy, as fundadoras da Igreja Adventista do Sétimo Dia e da Igreja da Ciência Cristã, respectivamente.


As farsas dos curandeiros:


1. Distintos em Observabilidade e Dificuldade: As curas modernas são geralmente inobserváveis, por exemplo, dores de cabeça, febres e prisão de ventre, mas as curas de Cristo eram verificáveis, por exemplo, um homem "que tinha uma mão atrofiada" (Marcos 3:1), um homem com lepra. (1:40-45 de março), e um homem com paralisia (Mateus 9:1-8). Jesus curou doenças contraídas, como edema grave (Lucas 14:1-4), e doenças congênitas, como ser "cego de nascença" (João 9:2). Ele curou doenças de longa duração, como um problema pessoal que durou 12 anos (Lucas 8:41-48), uma grave curvatura da coluna vertebral que durou 18 anos (Lucas 13:10-13) e uma paralisia que durou 38 anos (Jo 5:1-9).


2. Disponibilidade distinta: Por que os curandeiros modernos só realizam curas em serviços religiosos e não em hospitais? Jesus e os apóstolos curavam nas sinagogas, nas casas e nas ruas. Lucas diz: "Eles partiram e percorreram as cidades, pregando o evangelho e curando por toda parte" (Lucas 9:6).


3. Distinto na Imediação: Quando Jesus pronunciou a cura, as pessoas não "melhoraram", mas foram curadas instantânea e completamente. Por exemplo, Jesus curou o filho de um nobre que estava doente a cerca de 32 quilômetros de distância. O homem mais tarde confirmou que isso ocorreu "na mesma hora em que Jesus lhe disse: 'Teu filho vive'" (Jo 4:53).


4. Distinta em Proficiência: Ao contrário de todos os curadores modernos, Jesus e Seus discípulos nunca falharam e não há registro de retorno de qualquer doença. Mateus diz que Jesus estava "curando todas as doenças e todas as aflições entre o povo" (Mateus 4:23 ESV ).


5. Distinta na Condicionalidade: Os curandeiros modernos atribuem curas fracassadas à falta de fé nos enfermos ou naqueles que solicitam o milagre. A única vez que os discípulos de Jesus não conseguiram curar um menino com convulsões, Jesus explicou que foi "por causa da SUA pouca fé" (Mateus 17:20 ESV ). Em vez de repreender o menino ou seu pai, Ele repreendeu os curandeiros pela sua falta de fé. Na verdade, todas as cinco vezes Ele disse: "Ó homens de pouca fé!" (Mateus 6:30; 8:26; 14:31; 16:8; Lucas 12:28), Ele estava falando aos discípulos, não aos enfermos ou às suas famílias.


As heresias dos curandeiros


1. Ensinamento errado sobre a doença: Os curandeiros modernos acreditam que a doença e a pobreza resultam de atividades demoníacas. Sim, Jesus curou pessoas como "um homem mudo e endemoninhado. E, expulso o demônio, o mudo falou" (Mateus 9:32-33). Contudo, a maioria das curas bíblicas não tem ligação com influência demoníaca. Algumas doenças foram causadas pela disciplina divina, como quando Paulo disse aos coríntios errantes: "Há muitos fracos e doentes entre vós" (1Co 11:30). As ações de outras pessoas também podem causar doenças (por exemplo, uma enfermeira deixou cair o jovem Mefibosete, deixando-o coxo em 2 Samuel 4:4). Principalmente, porém, a doença vem de viver em um mundo manchado pelo pecado, infiltrado por bactérias, vírus, cânceres, etc.


2. Ensino errado sobre a cruz: Os curandeiros modernos dizem que na cruz "[Jesus] Ele mesmo tomou as nossas enfermidades e levou as nossas doenças" (Mateus 8:17). Precisamos apenas reivindicar a cura proporcionada na expiação. Incorreta! Esta passagem refere-se aos milagres de Jesus durante Sua vida, não à Sua morte expiatória. Pedro disse que "Cristo sofreu… para nos levar a Deus" (1Pe 3:18), não para curar a nossa diabetes ou nos tornar milionários.


3. Ensino errado sobre a fé: Os curandeiros modernos pregam que Deus quer saúde e riqueza para todos, mas as Escrituras dizem que "Deus… deseja que todos os homens sejam salvos" (1 Timóteo 2:3-4). Para justificar o seu falso ensino, eles distorcem as Escrituras para dizer que Paulo tinha um negócio multinacional de tendas e que Jesus tinha uma casa de férias na praia de Cafarnaum. Além disso, os adeptos do Movimento Palavra da Fé falam da "força da fé". Após a salvação, os crentes retornam a um estado pré-caído à imagem de Deus e, portanto, podem "nomeá-lo e reivindicá-lo" como minideuses soberanos. Às suas palavras de fé, as doenças, os demônios e até o próprio Deus devem responder com cura.


4. Ensinamento errado sobre a oração: Os curandeiros modernos frequentemente citam as palavras de Jesus: "Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei" (Jo 14:14). Eles veem isso como um cheque em branco para preenchermos e "em meu nome" como um "Abracadabra" espiritual para realizar nossos desejos. Contudo, no NT, é a base e a condição controladora de nossas petições para que peçamos o que é consistente com Sua pessoa, vontade e Palavra. Outros textos deixam isso claro, como: "Se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade , ele nos ouve" (1Jo 5:14).

Sua passagem favorita é esta: "Alguém entre vocês está sofrendo? Deixe-o orar. Alguém está alegre? Deixe-o cantar salmos. Alguém entre vocês está doente? Chame ele os presbíteros da igreja e orem por ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o ressuscitará. E se ele cometeu pecados, ele será perdoado. Confessem uns aos outros as suas ofensas e orem uns pelos outros, para que sejam curados" (Tg 5:13-16).

Claramente, Tiago não está ensinando que todo crente será curado se tiver fé. Na verdade, Deus deseja que alguns não sejam curados (por exemplo, Jacó mancou durante toda a vida e Paulo teve uma visão degenerada). A doença aqui é especificamente devida ao pecado. Primeiro, o crente deve dirigir o seu pecado somente a Deus. Após resolução, ele pode cantar salmos – uma expressão de gratidão. Se o testemunho da igreja foi impactado pelo pecado, o crente deve chamar os presbíteros da igreja, não um médico. Eles procurarão tratamento médico disponível ("ungindo-o com óleo") e orarão a Deus. Portanto, esta passagem aborda especificamente doenças físicas e psicológicas resultantes de pecados não confessados, e não um serviço de cura pela fé televisionado para exorcizar o demônio do refluxo ácido.

Jesus reconheceu que os milagres ocorrem independentemente do Seu poder. Ele disse: "Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em Teu nome, expulsamos demônios em Teu nome e não fizemos muitas maravilhas em Teu nome?' E então lhes direi: 'Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade!'" (Mateus 7:22-23). O Senhor nunca negou que eles faziam milagres, nem explicou como os faziam. Os curandeiros modernos podem empregar truques, efeitos placebo, poder demoníaco ou controle da mente sobre a matéria, mas eles não são de Deus. Portanto, ao enfrentarmos a doença hoje, devemos orar a Jeová-Ropheka – "o Senhor que cura" (Êxodo 15:26) – o que, se for da Sua vontade, Ele pode fazer sozinho ou através de tratamento médico.


[1] Todas as citações das Escrituras neste artigo são da NKJV, salvo indicação em contrário.


Denison, John

10. Justificado pela fé

A terra tremeu, os edifícios desmoronaram e as pessoas fugiram quando o terremoto ocorreu. O ano era aproximadamente 50 DC e o lugar era Filipos, na antiga Macedônia. Na prisão da cidade, as portas gradeadas se abriram. O carcereiro, temendo que aqueles sob seu comando tivessem escapado, desembainhou uma espada para se matar, em vez de enfrentar seus superiores severos e irracionais. Mas uma voz perfurou a escuridão quando ele se apoiou na espada: "Não faças mal a ti mesmo, porque estamos todos aqui" (Atos 16:28). 

Incrédulo, ele pegou uma lanterna e correu para as celas escuras. Com certeza, os prisioneiros estavam todos lá. Trêmulo e surpreso, ele se aproximou dos dois prisioneiros que antes estavam orando e cantando hinos enquanto estavam acorrentados em sua cela escura e úmida. Seus nomes eram Paulo e Silas. Eram missionários cristãos que levaram o evangelho a Filipos pela primeira vez e que, como resultado, foram lançados na prisão. O carcereiro deixou escapar a sua pergunta urgente: "Senhores, o que devo fazer para ser salvo?" (Atos 16:30).

Esta mesma pergunta (colocada em termos ligeiramente diferentes) foi feita por Jó naquele que é considerado o livro mais antigo da nossa Bíblia: "Como pode o homem ser justo com [ou correto diante de] Deus?" Ao longo dos tempos, milhões de pessoas também procuraram o caminho que leva um pecador indigno a um lugar de aceitação diante de um Deus justo. Romanos 5:1 descreve o fim dessa jornada como "paz com Deus". Pense nisso – paz profunda, duradoura e inexpugnável! Alguém que luta diariamente sob o peso e a escravidão do pecado pode realmente encontrar liberdade do poder do pecado, perdão da penalidade do pecado e paz com Deus?

O carcereiro, naquela noite escura, sentiu a convicção esmagadora do seu pecado, a fragilidade da sua própria vida e o vasto abismo que o separava de Deus. Confrontado com o impacto da fé genuína evidente nas vidas de Paulo e Silas, a sua preocupação era saber o que deveria fazer para garantir a salvação. Ele compreendeu, talvez pela primeira vez, que era um pecador necessitado. Ele sabia que precisava da salvação de Deus. Ele ansiava pela paz que lhe havia escapado durante toda a vida. Mas como? O que ele deve fazer para ser salvo?

Novamente, lembramos as palavras de Romanos 5:1: "Sendo, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus por nosso Senhor Jesus Cristo" (KJV). Aqui está a resposta incrivelmente simples para esta velha questão. A justificação que Jó procurava, a salvação que o carcereiro ansiava, a paz que nós, como pecadores separados de Deus, necessitamos tão desesperadamente, estão disponíveis apenas através da fé, apenas em Cristo. E assim, a resposta enfática de Paulo à pergunta do carcereiro foi esta: "Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo".

Para muitos, esta parece uma resposta muito simples. Eles sentem que deve haver mais, que Deus exige mais. Mas não há nada que possamos fazer para ganhar o favor de Deus e garantir a Sua salvação (Ef 2:8-9). É a fé, e somente a fé, que agrada a Deus (Hb 11:6). É a fé, com exclusão de tudo o mais, que garante a salvação. É fé somente em Cristo, porque somente a morte de Cristo em nosso favor é suficiente para satisfazer a necessidade do pecador. O carcereiro provou que isso era gloriosamente verdadeiro naquela noite importante. Você já?


Collier, Phil

11. George Müller

Em seus 92 anos de serviço frutífero, George Mueller, de Bristol, leu a Bíblia inteira mais de 200 vezes. Mais de 100 dessas jornadas bíblicas foram percorridas de joelhos, orando ativamente sobre o que estava lendo na Palavra de Deus. Ele expressou sua convicção pessoal desta forma: "Assim como o homem exterior não está apto para trabalhar por muito tempo, a menos que coma, o mesmo acontece com o homem interior. Qual é o alimento para o homem interior? Não a oração, mas a Palavra de Deus – não a simples leitura da Palavra de Deus, para que ela passe apenas pela nossa mente, como a água corre por um cano. Não, devemos considerar o que lemos, ponderar sobre isso e aplicá-lo ao nosso coração."

Não deveria ser surpresa que George Mueller esteja entre os gigantes da fé. O Apóstolo Paulo expressou a verdade tão claramente em sua carta aos Romanos: "Assim, pois, a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela Palavra de Deus" (10:17). [1] 

Ao revermos a vida de George Mueller de Bristol, é evidente que ele não apenas leu a Palavra de Deus, mas também dedicou os seus dias a implementar a sua verdade – fiel e dependente – na sua vida.

Considere os grandes homens de fé das Escrituras. Abraão estava disposto a deixar o lar para trás, mesmo com a idade avançada, para seguir as promessas de Deus. Moisés abandonou fielmente os prazeres do Egito para identificar e resgatar o povo de Deus do cativeiro. Davi, depois de grandes façanhas de fé na juventude, caiu; ainda assim, com fé, ele retornou ao Senhor, como o único que poderia restaurar sua alma. Mas o maior Homem de Fé nas páginas das Escrituras chega no Novo Testamento. Nosso Senhor Jesus Cristo se destaca como o único exemplo infalível de um homem fiel. Como um jovem crente, ponderei sobre estas questões: "Como alguém que é onisciente e onipotente poderia demonstrar fé?" e, "Se o futuro é conhecido, é mesmo necessária fé?" Meu erro provavelmente é claro para você: eu estava focado na fé em um futuro invisível, quando na realidade a fé é a resposta obediente de um coração à Palavra revelada de Deus.

George Mueller era um crente que simplesmente tentou obedecer ao seu Senhor. Podemos ficar tentados a desconsiderar o testemunho de um homem como George Mueller, chamando-o de "um super-homem espiritual". Mas, na verdade, ele não era um super-homem; antes, ele era um homem de fé. O personagem fictício Superman, por mais intrigante que seja, não vive pela fé! Ele enfrenta cada dia e seus desafios com sua própria força. Você quase pode sentir a confiança dele em suas próprias habilidades. Quer o desafio seja um avião caindo, uma locomotiva cambaleando ou o mais diabólico dos inimigos, Superman tem certeza de que, ao sair da cabine telefônica, terá o poder de atender às necessidades.

Quero afirmar claramente que nenhum personagem fictício da literatura pode começar a caracterizar o poder que o Senhor Jesus possui inerentemente. Além disso, nenhuma pessoa ao longo da história pode comparar-se ao Seu poder, autoridade e conhecimento. No entanto, na nossa sociedade saturada de super-heróis, precisamos ser cautelosos ao aplicar subconscientemente esse pensamento ao Senhor Jesus. Ele nunca viveu um dia na força do Seu próprio poder. Fazer isso seria viver separado da fé. O Senhor Jesus Cristo nos deu o exemplo do homem perfeito de fé. Nos dias desde a Sua ressurreição, cada crente, incluindo você, eu e George Mueller, foi chamado a viver essa vida de fé. Como devotado seguidor de Cristo, Mueller não vivia como um super-herói da fé, mas sim como um homem que vivia pela fé. Em sua segunda carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo falou com grande clareza e simplicidade sobre a vida de um crente deste lado do céu. Ele escreveu: "Porque andamos por fé e não por vista" (2Co 5:7). George Mueller foi certamente um homem cuja vida resumiu esta verdade bíblica. A seguir estão alguns exemplos de sua vida que servem para nos encorajar na realidade de viver uma vida de fé no Senhor.

"Onde não há visão, o povo perece" (Pv 29:18). George Mueller desenvolveu uma carga pelas necessidades espirituais de sua época. Na Inglaterra do século XIX e na sua cidade natal, Bristol, a necessidade era claramente evidente. Quando ele olhou em volta para asilos, trabalho infantil e crianças abandonadas na vida nas ruas, seu coração foi movido pelo desejo de sustentá-los de forma prática e espiritual. Atender a essa necessidade começou primeiro com o sacrifício de sua própria casa para fornecer um abrigo para crianças. Com o tempo, conforme o Senhor providenciou, cinco prédios foram construídos com acomodações para mais de 2.000 crianças. Em vez de depender de arrecadação de fundos, Mueller buscou o Senhor em todos os aspectos deste trabalho. Ele estava convencido de que, quer fossem necessários fundos, alimentos, professores, suprimentos ou crianças, seu Deus poderia e iria supri-los.

Notoriamente, certa manhã ele foi informado de que não havia comida para alimentar as crianças no café da manhã, mas ele as fez sentar à mesa enquanto agradecia ao Senhor pelo café da manhã. Sua fé não foi em vão, pois em pouco tempo o padeiro e o leiteiro bateram à porta com suprimentos de pão e leite e histórias sobre como haviam sido conduzidos até lá naquela mesma manhã.

Em outra ocasião, uma caldeira do orfanato quebrou com a aproximação do inverno. Mueller orou muito especificamente por um vento sul quente, pela disposição dos reparadores para trabalhar e pela necessidade de reparos limitados. O Senhor respondeu novamente em cada aspecto da sua oração: à medida que os ventos mudavam, os trabalhadores pediram para continuar durante a noite, e o problema foi rapidamente resolvido.

Considerando a nuvem fiel de testemunhas encontradas nas Escrituras e na história cristã, o desafio para você e para mim é claro. Afirmamos fortemente a salvação somente pela fé, mas será que nossas vidas revelam que acreditamos na suficiência total de nosso Deus para atender às necessidades daqueles que pedem com fé? Temos um peso pelo lamentável estado da nossa sociedade e pelos terríveis efeitos do pecado sobre aqueles que vivem ao nosso redor? Estamos dispostos a começar doando nossos próprios bens e esperando que o Senhor supra a necessidade? O Apóstolo Paulo disse aos Filipenses: "Mas o meu Deus suprirá todas as vossas necessidades, segundo as suas riquezas, na glória, em Cristo Jesus" (Filipenses 4:19). Moisés descobriu isso, Paulo afirmou isso e George Mueller gostou disso; e a mesma promessa permanece para você e para mim hoje.

George Mueller testificou: "Tenha certeza de que se você andar com Ele, olhar para Ele e esperar Sua ajuda, Ele nunca falhará com você". Ele também declarou: "A fé não opera na esfera do possível. Não há glória para Deus naquilo que é humanamente possível. A fé começa onde termina o poder do homem."

Havia uma dualidade fascinante nas convicções pessoais de George Mueller. Ele estava profundamente convencido de que suas necessidades só deveriam ser divulgadas ao Senhor e que deveria ser obra do Senhor colocar um fardo no coração daqueles que doavam. E, no entanto, embora tão fielmente reservado a esse respeito, ele foi equilibrado pelo fardo de que o que o Senhor estava fazendo por ele seria um exemplo e uma exortação para outros.

Para tanto, aos 70 anos, iniciou viagens missionárias que o levaram mais de 320.000 quilômetros pela Europa, Ásia, América do Norte e Austrália. Ele deu testemunho da bondade e fidelidade de Deus falando em inglês, alemão e francês. Ele falou perante o presidente dos EUA, Rutherford B. Hayes, na Casa Branca. Ele manteve correspondência e foi uma fonte de incentivo para Hudson Taylor. No entanto, no meio de toda esta atividade, a sua firme convicção permaneceu: "Segundo a minha opinião, o ponto mais importante a ser atendido é este: acima de tudo, zelem por que suas almas sejam felizes no Senhor. Outras coisas podem oprimir você, a obra do Senhor pode até ter reivindicações urgentes sobre sua atenção, mas eu repito deliberadamente, é de suprema e suma importância que você procure acima de todas as coisas ter sua alma verdadeiramente feliz no próprio Deus!"

Parece apropriado encerrar este artigo, cujo objetivo é encorajar e exortar nossos corações na fé, com mais palavras do Sr. George Mueller: "Agora, depois de muita experiência, recomendo especialmente este ponto ao conhecimento de meus irmãos mais jovens e irmãs em Cristo: o segredo de todo serviço verdadeiro e eficaz é a alegria em Deus, ter conhecimento experimental e comunhão com o próprio Deus."


[1] Todas as citações das Escrituras neste artigo são da KJV.


Higgins, Pedro

12. Explique o significado da frase "fé em fé" - (Romanos 1:17)


"Pois nele se revela a justiça de Deus de [ ek ] fé em [ eis ] fé: como está escrito: O justo viverá pela fé" (KJV).

Praticamente todos os comentaristas de Romanos concordam que 1:16-17 é uma declaração vital da verdade central da carta. No entanto, há uma variação considerável sobre o que exatamente essa afirmação poderia ser, e uma particular falta de consenso sobre o significado da frase "de fé em fé".

O significado das preposições usadas por Paulo neste versículo foi entendido de diversas maneiras. Alguns dos Padres da Igreja – nomeadamente Tertuliano e Orígenes – pensaram que se tratava do movimento dos indivíduos da fé na Lei para a fé no Evangelho. Crisóstomo pensou que isso significava da fé dos santos do AT para a fé dos santos do NT. Agostinho pensava que isso significava passar da fé do pregador para a fé do ouvinte. Calvino entendeu que a frase se referia ao crescimento e desenvolvimento da fé do crente. Outros comentaristas e traduções consideraram a frase intensiva – uma visão que está por trás da tradução do versículo na NEB e na NVI: "pela fé, do princípio ao fim". Ainda outros comentadores entenderam que a frase se refere tanto ao princípio sobre o qual a justiça de Deus é revelada como às pessoas a quem ela é revelada – uma opinião expressa na tradução de JN Darby "no princípio da fé, à fé".

Como este inquérito – incompleto – indica, esta é uma questão difícil e à qual seria imprudente tentar responder de forma demasiado dogmática. É difícil, em parte, porque a nossa leitura provavelmente dependerá de como entendemos o significado de "a justiça de Deus revelada" e "o justo viverá pela fé". 

Mas a dificuldade é agravada pelo fato de que a construção que Paulo usa aqui ocorre apenas em uma outra passagem de seus escritos. 2 Coríntios 2:16 diz: "Para aquele somos o cheiro de [ek] morte até [eis] morte; e para o outro o cheiro de [ek] vida para [eis] vida" (KJV). O esclarecimento que este versículo nos oferece é pequeno, pois há o mesmo espaço para debate sobre o seu significado. É possível que Paulo esteja falando de uma progressão da morte (espiritual?) para a morte (eterna?) e, da mesma forma, de vida para vida. Se esse for o entendimento correto deste versículo, torna-se mais provável (embora de forma alguma inevitável) que Paulo tenha uma progressão semelhante em mente em Romanos 1. 

No entanto, pode-se argumentar fortemente que 2 Coríntios 2:16 significa "somos o cheiro de morte para os que estão mortos" e "um cheiro de vida para os que têm vida", e se isso estiver correto, torna mais provável (embora ainda não inevitável) que Romanos 1:17 signifique "em a base da fé para aqueles que exercem fé." Levando em conta o contexto do versículo deste capítulo e desta epístola, o uso da expressão em 2 Coríntios e as dificuldades associadas aos outros pontos de vista, esta me parece ser a leitura preferível do versículo.

Se for esse o caso, então Paulo está apresentando o evangelho como uma mensagem que revela a justiça de Deus – um padrão objetivo concedido por Deus a cada pessoa que confia em Cristo. Essa justiça só está disponível com base na fé – não nas obras, porque, como Paulo demonstrará, as obras nunca poderão justificar o pecador. E esta justiça é concedida àqueles que exercem fé – é "pela fé em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem" (Romanos 3:22 KJV ).


Sweetnam, Mark

13. Explique "tudo o que não provém de fé é pecado" - (Romanos 14:23)

Este é um princípio vital. Na sua forma mais ampla, fornece um guia para todos os aspectos da vida cristã. Exige obediência às Escrituras. Fé significa obedecer a Deus, e nenhum ato de desobediência à Palavra de Deus pode ser outra coisa senão pecado. Não importa o quanto eu queira fazer, ou o quanto a sociedade me diga que está tudo bem: se a Bíblia proíbe, é pecado fazer, porque (seja lá o que for) não pode ser "de fé". "

Mas o princípio é aplicável de forma mais ampla. Em Romanos 14, Paulo aplica-o a questões que não se relacionam com os mandamentos das Escrituras, mas com as convicções dos santos. Em Roma a grande questão era a alimentação. Os judeus convertidos trouxeram consigo toda uma série de escrúpulos sobre quais alimentos podiam ou não ser consumidos. Para os crentes de origem gentia, isso parecia demonstrar uma fraqueza lamentável, uma falha em desfrutar a liberdade cristã que precisava ser atacada com "disputas duvidosas" (Rm 14:1).

Os efeitos desta situação foram graves – os irmãos fortes, seguros nas suas próprias consciências robustas, desprezavam os fracos. E os fracos retribuíram julgando os mais fortes. Essas atitudes foram – e são – tóxicas, e tornaram – e ainda tornam – impossível para os crentes desfrutarem da "justiça, e paz, e alegria" que deveriam ter sido deles (v17).

Paulo aborda esta situação, não fornecendo uma lista de regras, mas apelando à maturidade espiritual guiada por princípios e prioridades bíblicos. Ele lembra solenemente aos crentes a sua responsabilidade individual para com Deus (vv3-9) e o seu inevitável comparecimento perante o tribunal de Cristo, quando, entre outras coisas, a nossa atitude e comportamento para com os nossos irmãos serão avaliados. E ele lembra a eles – e a nós – o valor incalculável de nossos irmãos crentes. Até o irmão mais fraco é aquele "por quem Cristo morreu" (v15). Finalmente, ele enfatiza as prioridades do reino – o cristianismo, afinal, não se trata realmente do que você pode ou não comer, mas de servir a Deus no desfrute da "justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo" (v17).

Paulo também aborda o perigo sempre presente de que um irmão mais fraco possa sucumbir à pressão dos colegas e, sob a barragem de "disputas duvidosas", ignorar as advertências de sua consciência, comendo algo que ele, no fundo do coração, ainda acreditava que contaminaria. Fazer isso seria pecar, pois "tudo o que não provém de fé é pecado". Se o irmão fraco não pudesse comer com a consciência limpa, comer seria pecado, mesmo que ele não desobedecesse a nenhuma ordem direta da Palavra de Deus.

Isto não é uma relativização do certo e do errado – Paulo não está dizendo que vale tudo. Nenhuma convicção pode tornar algo que está errado em certo. Mas a menor partícula de dúvida pode transformar algo que é certo em errado, pois "tudo o que não provém de fé é pecado". É por isso que devemos guardar as nossas convicções para nós mesmos e abster-nos de interferir nas convicções dos outros: "a fé que você tem, guarde para si mesmo diante de Deus" (v22 ESV ).

A verdade de Romanos 14 é tão desafiadora para nós, quanto foi para aqueles a quem foi escrita pela primeira vez. Mas a maturidade, o amor e a inteligência espiritual que ela exige são tão importantes e tão necessários hoje como eram naquela época.


Sweetnam, Mark

14. Não há problema em ser diferente

Na verdade, está mais do que OK; é uma ordem que surge de uma realidade gloriosa. Deus já nos separou (1Co 1:2) como Seu povo e somos ordenados a viver assim.

A palavra "santo" significa exatamente isso – ser separado, distinto, diferente. E não há privilégio maior do que ser separado para os propósitos e prazer de Deus. Mas, por alguma razão, lutamos com unhas e dentes para sermos iguais a todos os outros, obcecados em ser populares em vez de sermos puros. E preferiríamos que as nossas igrejas locais fossem descritas como relevantes, afirmativas, amorosas ou vibrantes, do que ficar presos ao antiquado rótulo de serem santos. 

A santidade pertencia à geração dos nossos avós e as biografias cristãs acumulavam poeira nas nossas prateleiras. Podemos tender a associar a santidade com roupas ultrapassadas, atitudes de julgamento e carrancas permanentes. Mas estaríamos errados. O mundo é abençoado por ter crentes em Cristo marcados pela santidade e que não são caracterizados por nenhuma dessas coisas. E o mundo precisa que sejamos santos, diferentes, santificados. Eles nunca perguntarão a "razão da esperança que há em [nós]" se não primeiro "santificarmos o Senhor Deus em [nossos] corações" (1Pe 3:15 NKJV). Simplificando, as almas perdidas precisam que sejamos como Deus, não elas. Caso contrário, eles perecerão. Deixe isso penetrar. Não há problema em ser diferente.

Ser santo não significa que precisamos voltar no tempo, imitando o passado; significa voltar às Escrituras e obedecer ao que Deus diz no presente. A palavra "santo" em suas diversas formas é encontrada mais de 700 vezes na Palavra de Deus e está escrita em letras grandes na lombada de nossos exemplares impressos. Existem dezenas de passagens que nos chamam a ações e atitudes sagradas específicas. Se professarmos seguir a Bíblia Sagrada, já é hora de sermos santos. Ser diferente é mais do que OK – é a expectativa e a ordem de Deus para o Seu povo.

A santidade também faz parte da Grande Comissão. Se estivermos obedecendo, talvez seja apenas parcialmente. Podemos ficar felizes em pregar as boas novas da morte e ressurreição de Cristo, e podemos estar ansiosos para batizar novos convertidos em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas e o resto? Jesus acrescentou: "ensinando-os a obedecer a tudo o que vos ordenei" (Mateus 28:20 NET). A obediência à Palavra de Deus é a aparência da santidade (ver 1Pe 1:14-16), e somos ordenados não apenas a ser santos, mas a ensinar outros a serem santos, obedecendo às Escrituras.

Santidade é o tema da Bíblia. Ela contém ensinamentos úteis sobre a santidade de Deus, o nosso chamado e privilégio para sermos santos, a alegria que uma vida santa experimenta e o nosso destino glorioso – habitar eternamente na cidade santa, Nova Jerusalém. Aprenderemos também que a santidade é um trabalho árduo e não acontece simplesmente sem a cooperação da nossa vontade. Mas, felizmente, com os mandamentos de Deus vêm Suas capacitações. Podemos viver uma vida santa porque recebemos o Espírito Santo . Tal bênção nos torna especialmente diferentes. E isso é mais do que OK.


Peterson, David

15. A Santidade de Deus


"Quem é semelhante a ti, ó Senhor, entre os deuses? Quem é como tu, glorioso em santidade, medroso em louvores, fazendo maravilhas?" (Êxodo 15:11). [1]

Há muitas declarações notáveis ​​que atestam a natureza essencial e a inspiradora santidade de Deus. A citação citada acima é uma delas. A sua paixão é ampliada pelo fato de que as pessoas que cantavam estas palavras tinham acabado de ver a manifestação do poder de Deus e notaram a santidade da Sua pessoa na redenção.


A Intimação da Santidade de Deus

Embora a raiz, a etimologia e os derivados de onde vem a palavra hebraica "santo" ainda não estejam resolvidos, o seu significado contrasta diretamente com o que é secular. A palavra indica claramente algo que está separado; ser "santo" marca e denota separação de tudo o que é impuro.

Este contraste é visto quando consideramos a revelação de Deus; Ele se revelou como aquele "que habita na eternidade, cujo nome é Santo" (Is 57:15 NKJV). Os seres angélicos que se movem em Sua presença reconhecem isso, clamando "Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos: toda a terra está cheia da sua glória" (Is 6:3). 

Uma das maneiras pelas quais Deus se descreve ao Seu povo é como o "Santo de Israel" (2Rs 19:22; Is 1:4). Quando este título é usado em referência ao Senhor, especialmente no livro de Isaías, indica um contraste surpreendente com a condição pecaminosa de Israel. Manifesta Sua perfeição e Sua separação absoluta do mal (Hab 1:13). 

A santidade de Deus também será exibida em escala universal nos dias que virão: "Quem não te temerá, Senhor, e não glorificará o teu nome? Porque só tu és santo; porque todas as nações virão e adorarão diante de ti; porque os teus juízos são manifestos" (Apocalipse 15:4).


A Santidade Intrínseca de Deus

Assim como o nome do Senhor é santo, assim também o é Sua natureza. Ele é moralmente perfeito em todos os sentidos: em Seus pensamentos, ações, motivos e movimentos. Ele é e sempre foi e sempre será santo. A revelação de Deus no Novo Testamento está de acordo com a sua contraparte do Antigo Testamento: "Deus é luz, e nele não há treva alguma" (1Jo 1:5). Todas as três pessoas da Divindade são descritas como santas: Deus o Pai (Jo 17:11), o Senhor Jesus (Mar 1:24; Lucas 1:35) e o Espírito Santo (Ef 1:13). A natureza e o caráter da santidade de Deus foram manifestados na vida perfeita e na morte sacrificial do Senhor Jesus (Hb 7:26). A pureza de Cristo foi atestada por demônios (Lucas 4:34); Sua impecabilidade foi reconhecida por aqueles que foram salvos (Lucas 5:8), e Ele também foi declarado irrepreensível pelos pecadores (Lucas 23:14).


O Impacto da Santidade de Deus

A realização da santidade essencial de Deus teve um impacto duradouro e deixou uma marca indelével naqueles a quem foi revelada. Moisés estava cuidando de ovelhas no deserto quando Deus se revelou num espinheiro. No final da sua vida, a impressão daquele que "habitou no mato" (Dt 33,16) ainda estava viva na sua memória. Foi-lhe dito que tirasse os sapatos, pois o lugar onde ele estava era solo sagrado (Êxodo 3:5). A montanha e o lugar onde ele estava foram consagrados e santificados pela presença de Deus, e Moisés renunciou voluntariamente a qualquer reivindicação de sua posse (cf. Deuteronômio 25:9).

De maneira semelhante, Isaías, que atuava e ministrava entre um povo impuro e que condenava estridentemente os seus caminhos pecaminosos, ficou impressionado com a santidade de Deus. Ele recebeu uma visão celestial da pessoa do Senhor e, ao ver a majestade e a glória superlativa do Todo-Poderoso, exclamou: "Ai de mim... sou um homem de lábios impuros" (Is 6:5). Isto, sem dúvida, impactou o seu ministério entre uma nação tão rebelde.

A nação de Israel foi afetada pela santidade de Deus. No Sinai (o monte de Deus) o Senhor desceu em fogo. O povo viu a fumaça e ouviu o barulho de um trovão vindo do topo da montanha. Eles não ousaram se aproximar e foram avisados ​​das consequências de fazê-lo. Nessas circunstâncias, eles foram comissionados como povo santo, para serem separados e distintos; eles estavam associados ao nome desse Deus inspirador (Êxodo 19:6).

As consequências disto marcaram todos os aspectos da sua vida nacional. Foi-lhes confirmado todas as semanas no dia de sábado, que era santificado ao Senhor (Êxodo 16:23). Tal era a santidade da presença de Deus que uma tribo específica daquela nação foi separada para ministrar a Ele. Como tem sido frequentemente observado, isto permitiu que um homem, de uma raça, de uma nação e de uma tribo, que pertencia a uma família, entrasse na presença de Deus num dia num ano. Este fato por si só deveria nos impressionar com a realidade da santidade de Deus.

A santidade de Deus também foi exibida aos crentes no início desta era. Pedro, Tiago e João tiveram o privilégio de acompanhar Cristo ao topo de uma montanha; Pedro nunca perdeu de vista a glória transfigurada de Cristo e a maravilha dessa experiência. Ele escreveu no final de sua vida: "Estávamos com ele no monte santo" (2Pe 1:18).


As Implicações da Santidade de Deus

O desafio para a nossa geração é este: O que a santidade de Deus significa para nós? Dizem-nos: "Sede santos; porque sou santo" (1Pe 1:16). Pedro, nesta passagem, está citando Levítico (11.44; 19.2; 20.7). A santidade de Deus distinguiu Seu povo; eles eram separados em sua dieta, vestimenta e distinção. Somos também um povo distinto que foi santificado e, como tal, está identificado e associado a este Deus santo.

Somos ordenados a buscar "a paz com todos os homens e a santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor" (Hb 12:14).


[1] As citações das escrituras neste artigo são da KJV, salvo indicação em contrário.


Meekin, John

16. Santidade e nosso futuro glorioso

Embora haja muitas coisas que não sabemos sobre o futuro, Deus não nos deixou no escuro sobre os Seus planos para nós que cremos: temos a esperança certa de um futuro glorioso no céu. Lá, na perfeição da santidade, desfrutaremos de uma comunhão sem nuvens com nosso Pai e com Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo.

Atualmente, somos uma obra em andamento, como Paulo explicou aos Filipenses: "Aquele que em vós começou a boa obra a realizará até o dia de Jesus Cristo" (Filipenses 1:6). [1] 

A santificação prática – viver uma vida santa dia após dia e tornar-se mais semelhante a Cristo – tem um objetivo divino em vista: "Porque aqueles que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8). :29); fomos escolhidos Nele "para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor" (Ef 1:4). Pensemos brevemente numa série de grandes eventos que estão por vir no calendário de Deus.


O Arrebatamento – Cristo, o Noivo

O Senhor Jesus Cristo está voltando para a Igreja, Sua noiva, e talvez muito em breve! Ele cumpre Suas promessas: "E, se eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo; para que onde eu estiver, estejais vós também" (João 14:3). Sua noiva será apresentada a Ele, "sem mancha, nem ruga, nem coisa semelhante; mas que seja santo e sem mancha" (Ef 5:27).

A maneira de Seu retorno será distinta quando Ele descer do céu com um grito. Os crentes que morreram em Cristo passarão pela ressurreição corporal, e aqueles que ainda estão vivos passarão pela transformação corporal (Filipenses 3:21). Juntos serão arrebatados nas nuvens para encontrar o Senhor nos ares e estar com Ele para sempre (1Ts 4:16-17). O melhor de tudo é que, como João nos diz de uma forma mais pessoal, seremos finalmente como Ele (1Jo 3:2)! Isto significa que, além de termos corpos preparados para o céu – livres de corrupção, desonra e fraqueza – exibiremos conformidade moral com Cristo. Não haverá mais pecado nem fracasso.

Nossos inimigos inveterados – o mundo, a carne e o diabo – não terão mais poder ou influência sobre nós. Já tendo sido salvos da penalidade e do poder do pecado, experimentaremos a salvação em sua plenitude ao sermos libertos da própria presença do pecado.


A Tribulação – Cristo, o Juiz

Após o regresso de Cristo ao ar para a Sua Igreja, a 70ª semana da profecia de Daniel irá desenrolar-se rapidamente. Terá lugar um período de sete anos de julgamentos globais catastróficos, com Israel no centro desta turbulência geopolítica. O mal abundará, sem a influência restritiva do Espírito Santo através da Igreja. Estará em casa no céu e a salvo da ira predominante (1Tessalonicenses 1:10; 5:4,9).


O Milênio – Cristo Rei

A segunda vinda de Cristo a esta terra será muito diferente da Sua primeira vinda como um bebê à manjedoura de Belém, em grande parte invisível. Quando Ele retornar, acompanhado de Sua Igreja, Ele manifestará diante de todos, Seu poder, glória e majestade ilimitados como o Rei.

Os seus inimigos serão derrotados num momento (Apocalipse 19:19-21), trazendo libertação ao remanescente fiel de Israel e a outros crentes dentre as nações. Haverá uma ressurreição daqueles que foram martirizados por sua fé, juntamente com os santos da era do Antigo Testamento. O julgamento das nações vivas resultará numa separação, de modo que os únicos que entrarão no reino milenar de Cristo serão aqueles que creram.

Esse reino será aquele em que a beleza e a glória da criação serão restauradas. O pecado não será tolerado porque o Rei governará com vara de ferro, se necessário, e em justiça (Sl 2:9; Is 32:1). Os santos da Igreja que O acompanham serão "irrepreensíveis em santidade" (1 Tessalonicenses 3:13), compartilhando Sua glória e reinando com Ele: "Bem-aventurado e santo aquele que tem parte na primeira ressurreição… eles… reinarão com ele mil anos" (Ap 20:6). Durante este período, Satanás ficará preso no abismo, deixando a humanidade desfrutar de um período de paz e prosperidade incomparáveis ​​(Ap 20:1-3). "Naquele dia haverá nas campainhas dos cavalos: SANTIDADE AO SENHOR" (Zacarias 14:20). No entanto, no final do milênio, Satanás será solto e liderará uma rebelião final, mas de curta duração, contra o Senhor (Ap 20:7-10).


O Estado Eterno – Deus Tudo em Todos

O período conhecido como "o dia do Senhor" terminará com o último dos julgamentos de Deus, não apenas aqueles sobre a terra durante a tribulação, mas também o julgamento final no Grande Trono Branco. Os atuais céus e terra serão destruídos pelo fogo e um novo céu e uma nova terra serão formados. Isto dará início ao "dia de Deus", o grande dia eterno que não terá fim e no qual Deus será tudo em todos (2Pe 3:10-13; 1Co 15:28).

Uma característica proeminente do estado eterno será "a cidade santa, a nova Jerusalém" (Apocalipse 21:2). Embora as opiniões divergem quanto à natureza desta cidade, o autor tende a considerá-la como uma cidade literal, mas singularmente gloriosa, onde Deus será adorado na beleza da santidade (Sl 96:9). Será que João achou mais fácil descrever as belezas das coisas que viriam, dizendo-nos o que não estará lá? Não haverá lágrimas, nem morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, nem templo, nem sol ou lua, e nem noite. Mais importante ainda, a ausência de pecado em todas as suas formas não significará mais maldição (Ap 21:27; 22:3).

A Igreja, juntamente com os fiéis de Israel e das nações, desfrutará de glória e bem-aventurança eternas. Significativamente, a noiva de Cristo estará vestida de "linho fino, puro e branco", representando os atos justos dos santos (Apocalipse 19:8). Em outras palavras, nosso viver santo agora será manifestado por toda a eternidade.

A segura e "bendita esperança" de um dia estarmos com Cristo e sermos como Cristo deveria nos estimular a trilhar um caminho de pureza e santidade aqui (Tito 2:12-13; 1Jo 3:3). Ao escrever sobre o tema da santidade, JC Ryle lançou este desafio: "Como você poderia ser feliz [no céu] se não tivesse sido santo na terra?"


[1] As citações das escrituras neste artigo são da KJV.


Logan, Clark