Salvação Eterna

07/05/2024

1. O Pecado, os Pecados e o Pecador


Vamos abordar um princípio básico do evangelho, essencial para entender a salvação. Nosso tema é o pecado, os pecados e os pecadores. A Bíblia dá muita atenção ao pecado, e é crucial entender isso para compreender a salvação de Deus. Precisamos ver como o pecado nos afetou e nos tornamos pecadores para entender a salvação.


A Diferença entre Pecado e Pecados

A diferença entre pecado e pecados é mais que singular e plural. Pecado refere-se ao poder dentro de nós que nos motiva a cometer atos pecaminosos. Pecados são atos específicos que cometemos. Pecado é a raiz do problema; pecados são os frutos (Rm 7:8, 16-17; Rm 8:13).


Pecado

Pecado é a lei que controla nossos membros (Rm 7:23). É uma força interior que nos leva a cometer atos malignos. A Bíblia trata o pecado como um princípio em nossa vida natural.


Pecados

Os pecados são ações cometidas exteriormente por nós e precisam ser perdoados (Mt 26:28; At 2:38; 10:43). A Bíblia nunca fala de "perdão do pecado", mas de "perdão dos pecados". Pecados referem-se às nossas transgressões, que são atos cometidos um por um.


Quem é Pecador?

Quem é pecador? Muitos responderiam que é quem comete pecado. Contudo, a Bíblia mostra que todos nascidos em Adão são pecadores (Rm 5:19). Não nos tornamos pecadores porque pecamos; pecamos porque já somos pecadores. Paulo afirma ser pecador, mesmo após a sua conversão (1 Tm 1:15).


O Maior Pecado

O maior pecado, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento, é não amar a Deus e não crer no Senhor Jesus (Mt 22:36-37; Mc 12:30; Jo 3:15-16, 36; 5:24; 6:40, 47; 11:25). Esse é o pecado que leva à condenação e à manifestação da ira de Deus.


Os Outros Pecados

Os outros pecados, embora importantes, são secundários em relação ao pecado principal de incredulidade. Esses pecados incluem injustiça, atos malignos, ganância, e muitos outros (Rm 1:29-31; 2 Tm 3:2-5).


O Resultado do Pecado e dos Pecados

O pecado em nós nos leva a cometer pecados, trazendo culpa e condenação. A culpa não resulta apenas de atos de transgressão, mas da nossa natureza pecaminosa. Precisamos tanto do perdão pelos nossos pecados quanto da libertação do poder do pecado.


Os Três Aspectos do Pecado

A Bíblia mostra que o pecado está em três lugares: diante de Deus, na nossa consciência, e na nossa carne.


Pecado Diante de Deus

O pecado é registrado diante de Deus e requer julgamento e punição (Rm 6:23).


Pecado na Consciência

Nossa consciência se torna ciente do pecado e nos acusa, levando-nos a buscar justificativas (1 Jo 1:8-9).


Pecado na Carne

O pecado na carne é o poder que nos incita a pecar, mesmo quando sabemos que é errado (Rm 7:23-25).


Conclusão

A salvação de Deus é completa, tratando com nossos pecados diante Dele, a condenação em nossa consciência, e o poder do pecado em nossa carne. Precisamos do perdão pelos nossos pecados e da libertação do poder do pecado para viver em paz com Deus.

A Bíblia nos ensina que a solução para os pecados vem do perdão, enquanto a solução para o pecado vem da libertação. Compreender essas distinções nos ajuda a entender melhor nossa salvação em Cristo.

2. Pecado - A doença, os sintomas e a cura

Uma pessoa não precisa viver muito tempo para descobrir que há algo errado com a humanidade. Algumas desafortunadas crianças descobrem isso muito cedo, quando seus pais, de quem eles têm o direito de esperar que sejam sempre amorosos e gentis, agem irracionalmente, perdem a paciência com eles e os maltratam. Eles irão descobrir, mais tarde, que este "algo errado" não se limita a seus pais e familiares: em diferentes formas, e em maior ou menos grau, há algo de errado com todo mundo.

A história mostra que este "algo errado" tem sido endêmico nas relações internacionais em todas as eras, sem exceção e, ainda hoje, apesar dos enormes avanços benéficos em todas as áreas da ciência e da tecnologia, essas relações revelam um comportamento monstruosamente irracional. Se as nações pudessem meramente confiar umas nas outras e cooperar, em vez de competir no desenvolvimento de recursos naturais, elas poderiam transformar o mundo atual no paraíso. 

Desertos poderiam tornar-se frutíferos; a pobreza, a fome, e as epidemias seriam eliminadas: e o bem-estar e a expectativa de vida de todos aumentariam. Mas não, as nações não confiam nem podem confiar umas nas outras. Em consequência disso, montanhas de dinheiro, tempo e energia são gastas em armas de destruição cada vez mais sofisticadas.

No entanto, as nações não são as únicas que se comportam de forma irracional. Todos nós o fazemos. Você faz, eu faço. Cedo ou tarde e apesar de todos os nossos esforços e boas intenções, nós temos de admitir, como Paulo fez séculos atrás: "Não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço" (Romanos 7:19).

Então, o que há de errado conosco? Qual é essa doença universal de que todos nós sofremos? Os tragediógrafos da Grécia Antiga — Ésquilo, Sófocles e Eurípides — estudaram seus sintomas e tentaram descobrir suas causas. Assim como fizeram os filósofos antigos, também fazem os modernos. O mesmo foi feito por gigantes da Literatura, como Dostoievski, Tolstói e Solzhenitsyn. 

O fato é que jamais entenderemos a nós mesmos ou o mundo em que vivemos sem encarar essa doença de forma realista. A Bíblia, de modo confiante e alegre, insiste que podemos encontrar contínua e crescente libertação dessa doença; e, na Bíblia, essa libertação é chamada de salvação. Contudo, não podemos entender qual é o significado de salvação, ou como ela funciona, a menos que primeiro entendamos o termo bíblico para a doença em questão.O termo bíblico para essa doença é "pecado". 

Para nos ajudar a entendê-lo, vamos fazer uma analogia com a doença física. Os médicos devem saber distinguir a diferença entre os sintomas da própria doença e as causas da doença. Se alguém deseja obter a cura, não é satisfatório apenas suprimir os sintomas, mas, sim, eliminar a doença por completo. E não há esperança disso, a menos que se possa agir contra a raiz que causa a doença e eliminá-la.

Observando a icterícia, por exemplo, que não é uma doença, e sim um sintoma externo de algum distúrbio interno, ou de um baço traumatizado, ou de um câncer no fígado etc. Obviamente, não seria útil livrar-se apenas da icterícia sem chegar à sua causa subjacente.


OS SINTOMAS DO PECADO
O Novo Testamento nos dá várias listas dos sintomas do pecado e, normalmente, adiciona a elas um alerta sobre a gravidade desses sintomas. Aqui, está uma dessas listas:"As obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus" (Gálatas 5:19-21).

Aqui, há outra lista, que dá uma descrição terrível dos sintomas que podem ocorrer quando a doença do pecado está em estágio avançado:"Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. A sua garganta é um sepulcro aberto; com a língua tratam enganosamente; peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; cuja boca está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. Em seus caminhos há destruição e miséria; e não conheceram o caminho da paz. Não há temor de Deus diante de seus olhos" (Romanos 3:10-18).

Nenhuma dessas listas implica, obviamente, que todos os sintomas podem ser encontrados nas mesmas proporções em todo mundo. No entanto, o Novo Testamento insiste que todos exibem alguns desses sintomas, pois a doença é universal.

Depois, há ainda os que podem ser chamados sintomas gerais. Um deles é a fraqueza moral; "...estando nós ainda fracos..." (Romanos 5:6).

Como exemplo, podemos observar Pôncio Pilatos, o governador romano responsável pela crucificação de Jesus Cristo (Mateus 27:11-26; Lucas 23:1-25; João 18:28-19:16). Ele era o último homem de quem suspeitaríamos de ser fraco. Ele era um soldado de alta patente, oficial no comando do exército romano na Judeia e também o responsável pela lei e pela ordem no país.

Exteriormente, Pilatos era como uma grande viga de madeira, que ostenta uma superfície sólida e forte, mas internamente foi devorada por cupins e, em razão disso, entra em colapso quando sofre alguma pressão.

Quando ele falou com Jesus em particular e tomou ciência da realidade de Deus e do enorme pecado que cometeria se crucificasse o inocente Filho de Deus, ele decidiu que deveria fazer o que ele sabia ser certo e libertar Jesus (João 19:8-12). Mas, quando ele saiu, a multidão gritou ameaçadoramente, e os líderes o chantagearam, ameaçando difamá-lo ao imperador romano. Assim, Pilatos entrou em colapso. Embora soubesse que o que ele estava prestes a fazer era uma traição criminal da justiça, o medo destruiu sua resistência e, devido ao medo, ele condenou Jesus a ser crucificado.

Isso nos leva a questionar: já contamos alguma mentira por medo das prováveis consequências de dizer a verdade? Nunca fizemos algo que sabíamos ser errado apenas porque o grupo de que fazíamos parte insistiu para que fizéssemos e nós não tivemos a coragem necessária para enfrentá-lo?
Outro sintoma geral do pecado é a impiedade:"Sabendo isto: que a lei não é feita para o justo, mas para os injustos e obstinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e irreligiosos, para os parricidas e matricidas, para os homicidas, para os fornicadores, para os sodomitas, para os roubadores de homens, para os mentirosos, para os perjuros e para o que for contrário à sã doutrina, conforme o evangelho da glória do Deus bem-aventurado, que me foi confiado" (1 Timóteo 1:9-11).

A palavra grega aqui traduzida como "ímpios" significa "pessoas que não têm respeito ou reverência". 

E aquele com quem elas faltam com o respeito ou com a reverência é, principalmente, Deus. Mas não para por aí. O homem é feito à imagem de Deus, e, quando as pessoas perdem o respeito e reverência para com o Criador, elas começam a desvalorizar também a sua criação, o ser humano. Elas perdem o respeito pela santidade do corpo humano — de seu próprio corpo, e do corpo das outras pessoas. Isso gera a horrível e vasta prole de pecados sexuais, abuso de álcool e drogas, que prejudicam a saúde física e enfraquecem a mente.

Elas perdem o respeito pela santidade da verdade. A partir daí, surgem todos os tipos de mentiras, enganos e promessas não cumpridas. No final, elas perdem o respeito pela santidade da vida. E, assim, surge e se segue a infindável onda de crimes e violência.
A alienação e inimizade com Deus é outro sintoma:"Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus" (Romanos 8:7). "

A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más." (Colossenses 1:21)

Nos últimos séculos, existem grandes exemplos deste sintoma em particular. Os governos de muitos países usaram todo o seu poder numa tentativa de apagar sistematicamente toda a crença em Deus e em Cristo. Mas a inimizade com Deus não está restrita apenas aos ateus declarados. Às vezes, até mesmo as pessoas religiosas externamente são inimigas de Deus em seus corações. O apóstolo Paulo sempre foi muito religioso, mas era um amargo inimigo de Jesus Cristo antes de se converter (1 Timóteo 1:12-17).

O fato é que há um rebelde contra Deus no coração de cada um de nós. Quando Deus nos ordena na Bíblia que façamos ou não façamos algo, sua ordem, muitas vezes, desperta ressentimento dentro de nós e nos faz querer agir exatamente do modo oposto. O apóstolo Paulo cita um exemplo em sua própria experiência (Romanos 7:5, 7-9). Por alguns anos, ele viveu sem conhecimento do mandamento de Deus, "Não cobiçarás". 

Então, Deus trouxe tal ordem ao coração de Paulo, e ele percebeu que esse mandamento despertou todos os tipos de cobiça em seu interior, que, mesmo lutando como podia, ele não conseguia controlar — e o que é mais importante, no fundo, dentro de si, ele não dese java completamente controlar.

É claro que esta inimizade básica com Deus não se expressa, necessária ou frequentemente, na forma de uma clara hostilidade contra Deus. É mais comum que ela adote a forma da indiferença.

Quando alguém diz, "eu não tenho interesse em música, ou arte", podemos pensar que é uma pena, mas não ficamos chateados a respeito, pois é apenas uma questão de gosto. Mas, se uma mulher diz, "eu não estou interessada no meu marido", isso é trágico, pois é uma prova clara de que ela está indiferente ao seu esposo. O amor foi destruído. E, se alguém diz, "eu não estou interessado em Deus", isso é extremamente trágico. Nós devemos nossa existência a Deus. Não estar interessado nele é um sintoma inequívoco de que, em algum lugar ao longo da linha, uma séria alienação a respeito de Deus se instalou.

Esses, então, são alguns dos sintomas. Mas a doença subjacente envolve um desejo de ser independente de Deus.

O desejo de ser independente de Deus, nosso Criador: de acordo com a Bíblia (Gênesis 3), o primeiro pecado que a humanidade cometeu não era algo grosseiro e macabro como o assassinato ou a imoralidade. Ele ocorreu quando Adão e Eva foram tentados pelo diabo a buscar a independência de Deus, com a finalidade de decidirem por si mesmos o que era bom e o que era mau. Eles imaginaram que poderiam seguramente ser seus próprios deuses. 

Então, eles provaram do fruto proibido. E isso os levou à alienação de Deus e ao sentimento de culpa e de vergonha, que os fez correrem para se esconder de Deus, que agora viam como um inimigo. Todos nós lhes seguimos no caminho da desobediência e da independência. Mas viver dessa forma é viver uma mentira, uma irrealidade. Nós não criamos a nós mesmos. 

Nós somos criaturas de Deus. Viver separados e independentes dele é contrário à lei fundamental de nossa existência.
Dessa forma, o Novo Testamento diz que o pecado é iniquidade:"Qualquer que pratica o pecado também pratica iniquidade, porque o pecado é iniquidade" (1 John 3:4).

Nós sabemos quais perigos corremos quando desconsideramos as leis físicas do Criador como, por exemplo, as leis da eletricidade. Suponhamos que um homem compre uma chaleira elétrica, mas não se preocupe em ler o manual de instruções do fabricante. Ele liga os fios do modo que acha mais conveniente. Como resultado, ele eletrocuta a si mesmo. Dificilmente, iríamos ter pena dele: iríamos chamá-lo de tolo por negligenciar o manual de instruções e ignorar as leis da eletricidade. Da mesma forma, a negligência fundamental e a desobediência às leis morais e espirituais do Criador devem levar a um desastre moral e espiritual. Essa é a raiz de todos os sintomas do pecado.O notável é que, segundo a Bíblia, há uma cura.

"Esta é uma palavra fiel e digna de toda aceitação; que Cristo Jesus veio ao mundo, para salvar os pecadores." 

"Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele." (1 Timóteo 1:15; João 3:17)

Os capítulos seguintes irão examinar os termos que o Novo Testamento usa para descrever essa salvação e como ela funciona.

Mas há duas coisas que devemos salientar. Muitas pessoas pensam que o caminho para ser salvo é fazer o nosso melhor para cortar os sintomas do pecado de nossa vida. Isso é, em si mesmo, algo bom, mas não pode nos salvar. Você pode cortar cada maçã da macieira, mas a árvore ainda é uma macieira. Essa é a sua natureza interior. Assim, mesmo que possamos suprimir todos os sintomas do pecado, nós ainda teremos uma natureza pecaminosa dentro de nós. E isso, segundo o Novo Testamento, não é nossa culpa. Nós nascemos assim. Nós herdamos uma natureza pecaminosa e caída de nosso primeiro ancestral, Adão. Mas, de uma maneira semelhante, nós podemos, se desejarmos, receber de Cristo sua vida pura, santificada, cuja natureza consiste em viver uma vida agradável a Deus.

"Porque, como, pela desobediência de um só homem, (Adão) muitos foram feitos pecadores, assim, pela obediência de um, (Cristo) muitos serão feitos justos." (Romanos 5:19)

E o segundo fato a se notar é este: Deus nos ama mesmo enquanto ainda somos pecadores. 

Este é o motivo secreto que explica por que a salvação vinda de Deus é tão prática e realmente funciona. Não é necessário melhorar nossa natureza para que Deus possa nos aceitar como somos e começar a operar sua grande obra de salvação. Este é o peso do argumento de Romanos 5:6-11, uma passagem sobre a qual qualquer pessoa que leve a sério o problema do pecado deve refletir com rigor.


Por John Lennox

Site da Ciência e da Fé Cristã

Por favor, visite o site do Professor John Lennox (JohnLennox.org), no qual você irá encontrar apresentações e debates em vídeo sobre o tema "Ciência e a Fé Cristã". Para outras publicações dos Professores Gooding e Lennox, por favor visite o site: www.keybibleconcepts.org

3. Reconciliação

Tendo conhecimento da doença moral e espiritual da qual todos nós sofremos e os sintomas de afastamento do nosso Criador. Vamos começar a examinar os termos que descrevem a cura.

Primeiro, vem a agradável palavra "reconciliação", juntamente com seu verbo cognato "reconciliar". Talvez este seja o mais fácil de entender dentre todos os nossos termos, porque nós já sabemos o que isso significa em nossos relacionamentos com outras pessoas. A maioria de nós, em algum momento da vida, passou por alguma experiência como a que é descrita em seguida. Nós fizemos, ou dissemos algo errado que magoou profundamente, ou mesmo prejudicou, algum amigo ou outra pessoa. 

Eventualmente, o amigo descobre nossos erros. Mas, em vez de admitir e pedir perdão, o orgulho ou o medo nos fazem negar nosso erro, ou mesmo mentir sobre ele; e nos zangamos, fazendo várias contra-acusações à pessoa. E, então, nós vamos embora murmurando, "Eu nunca mais quero falar com ele". Com isso, inicia-se um longo período de afastamento, distância, alienação e silêncio. Durante esse tempo, se alguém inocentemente elogia o nosso ex-amigo, ficamos ressentidos. E, então, nós apresentamos o nosso lado (distorcido) da história, para denegrir o caráter de nosso amigo e, assim, justificar nossa hostilidade com ele.

É assim que muitas pessoas são em seu relacionamento com Deus. Memórias e uma má consciência as conscientizam, lá, no fundo, que, se existe um Criador, ele deve ser contrário aos seus pecados, e essas pessoas pensam que o Criador deve estar contra elas também. Ao invés de admitir seus pecados, então, elas negam que existe um Criador. E, se elas encontram alguém que crê em Deus, que o ama e o louva, elas interiormente ficam ressentidas e acusam Deus de todos os males que as pessoas religiosas cometeram, como se fossem culpa de Deus (e como se um ateu nunca houvesse cometido mal algum), ou, então, elas culpam a Deus por permitir tanto sofrimento no mundo, e assim por diante. Assim, seu afastamento do Criador persiste, e a vida permanece cinza com as sombras escuras de falta de esperança e de propósito, iluminada apenas pelos protestos intermitentes de uma má consciência, que se recusa permanentemente a aquietar-se.

Reconciliação é a palavra que nos diz que o próprio Deus tem agido para superar esse afastamento, para dissipar os mal-entendidos, sobre os quais a alienação se baseia, e para remover os obstáculos à paz. Há duas passagens do Novo Testamento que nos dizem como. 

Vejamos:"O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele. 

E ele é a cabeça do corpo, da igreja; é o princípio e o primogênito dentre os mortos, para que em tudo tenha a preeminência, porque foi do agrado do Pai que toda a plenitude nele habitasse e que, havendo por ele feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, tanto as que estão na terra como as que estão nos céus. A vós também, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos no entendimento pelas vossas obras más, agora, contudo, vos reconciliou no corpo da sua carne, pela morte, para, perante ele, vos apresentar santos, e irrepreensíveis, e inculpáveis" (Colossenses 1:15-22).

E você pode encontrar a segunda passagem em 2 Coríntios 5:18-21.

A primeira coisa a notar nessas passagens sobre a reconciliação é que neste processo Deus deu o primeiro passo:"Isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nós a palavra da reconciliação."

Isso é impressionante, pois a regra normal de Deus para os seres humanos, quando eles se afastam por conta própria, é que a responsabilidade de tomar iniciativa na realização de uma reconciliação é daquele que cometeu o erro.

"Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta." (Mateus 5:23-24)Mas Deus não fez nada de errado no mundo. Ele não tinha nada pelo quê se desculpar. Foram os seres humanos que começaram a inimizade, rebelando-se contra ele. No entanto, foi Deus quem deu o primeiro passo em direção à nossa reconciliação com ele, enviando seu Filho ao mundo.

Isso é impressionante também por outra razão. Muitas vezes, quando dois seres humanos se afastam, eles desejam poder dar um passo no sentido de serem amigos novamente. Mas ambos ficam com medo de serem rejeitados pela outra parte. Mas Deus enviou o seu Filho ao mundo, sabendo de antemão que ele seria rejeitado, humilhado e crucificado. Na verdade, essa é a razão pela qual o Filho de Deus, pelo qual o universo foi criado, veio ao meio de nós com sua glória divina velada na forma humana. Sua glória revelada teria tornado impossível aproximar-se dele, muito menos expressar hostilidade para com ele. Mas, da forma que aconteceu, eles expressaram toda a hostilidade contra seu Deus em Jesus Cristo e colocaram-no na cruz. E, quando eles fizeram isso, Deus anunciou que ele ainda os amava e estava preparado para lhes perdoar por isso e por todos os seus outros pecados (Atos 2:36-39), pois ele os amava, mesmo enquanto eles ainda eram seus inimigos.

Aqui, então, está a resposta para a calúnia que o diabo insinuava nas mentes humanas, de que Deus é um tirano apenas esperando pela primeira oportunidade de impedir os seres humanos de expressarem sua personalidade ao máximo e de perseguirem suas próprias ambições saudáveis (Gênesis 3).

Não é que Deus tenha sido leviano com o pecado e estava preparado para render-se à arrogância humana e à maldade, a fim de manter ou recuperar a amizade do homem. O Todo-Poderoso não é bobo. Ele não poderia e não iria tomar o ponto de vista humano de que o pecado não importa. Nós precisamos, então, entender o que o Novo Testamento quer dizer com o termo "reconciliar" quando diz que "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo". E, para fazer isso, precisamos considerar a forma como a palavra era usada na antiga língua grega, a linguagem em que o Novo Testamento foi escrito.

Se um homem A tivesse ofendido profundamente outro homem B com algum ato, o homem B teria todo o direito de ficar irado e ofendido com o erro do homem A. Para reconciliá-los, então, seria necessário não tanto mudar a ideia do homem A a respeito do B, mas remover a causa da justa ira de B.Assim também, a ira de Deus contra o pecado não é alguma mágoa temporária que o leva a agir de forma inadequada. Também não é um sentimento de indignação que eventualmente desaparece. Nem pode ser um sentimento particular de desagrado ao qual ele continua preso secretamente em sua mente. 

O pecado é um desafio para o próprio ser e caráter de Deus e, como Governador Moral do universo, Deus deve, aberta e ativamente, expressar a indignação de todo o seu ser contra ele. Isso significa, então, que ele não pode ignorar o pecado permanentemente, muito menos agir como se não importasse. Até que o pecado seja punido publicamente diante de todo o universo, Deus não pode ter sua indignação amenizada e seu caráter justificado. Para reconciliar o mundo com ele, então, Deus precisava primeiro remover a causa de sua indignação com o mundo: ele tinha de punir o mundo por seu pecado. Não poderia haver reconciliação e reacolhimento do homem e da mulher em sua companhia sem isso.

E é por isso, pela ordem unida da Trindade, que o Filho de Deus se tornou humano, sem deixar de ser Deus. Como toda a plenitude da Trindade habitava nele, ele poderia representar Deus diante dos homens. O que os homens fizeram com ele, fizeram com Deus. A forma como ele reagiu ao homem é a forma que Deus reagiu. Nele, os homens podiam ver como Deus realmente era.Ao mesmo tempo, por ele ser genuinamente humano (ainda que não fosse meramente humano), ele poderia ser o representante da raça humana diante de Deus. Assim, ele pode, e ele o fez, tomar para si, como substituto e representante da humanidade, o pecado do mundo, e receber publicamente a indignação de Deus e sofrer o castigo do pecado. Ele, assim, removeu completamente a causa da indignação de Deus contra o mundo e tornou possível ao homem reconciliar-se com Deus e estar em paz com ele.

Lemos em 2 Coríntios 5:18-21, "Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados... Àquele que não conheceu pecado (Jesus Cristo), o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus". 

Isso quer dizer que, quando Cristo, embora sem pecado em si mesmo, tomou sobre si o pecado do mundo, como representante da humanidade, Deus tratou-o como se os pecados do mundo fossem seus. O justo castigo pelos pecados da humanidade foi, assim, suportado e esgotado por Cristo, com o resultado de que não há mais obstáculo no caminho do ser humano em retorno a Deus. A justiça não obriga mais Deus a imputar os pecados do mundo sobre os homens. Todos podem vir a Deus por Cristo, reconciliando-se com ele, e estar em paz com ele agora e para sempre. O homem não necessita fazer as pazes com Deus por si próprio. Cristo já fez isso pelo homem. Tudo o que o homem precisa é aceitar a reconciliação e a paz que Cristo concluiu. Então, chegando a Deus, ele se encontra sendo aceito como se ele fosse Cristo, ou, colocando em termos bíblicos, ele é considerado como tão perfeitamente reto com Deus quanto Cristo é ("para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus").

Será que isso significa, então, que todos os homens, em todas as partes, são salvos, ou, em última análise, serão, ainda que continuem ignorando a Deus e levando sua vida no pecado ou até mesmo permanecendo ateus? Não, claro que não. Cristo certamente fez a reconciliação e paz com Deus por toda a humanidade. Mas a questão permanece, quer estejamos aceitando a reconciliação e a paz, quer não. Aconteceu algumas vezes na história, quando líderes de dois países em guerra pedem tréguas e, em seguida, assinam um tratado de paz, um grupo rebelde em uma das nações recusa-se a aceitar a paz. Eles continuam a considerar a outra nação como inimiga e aqueles de sua nação que aceitam a paz como traidores. E continuam a lutar.

Assim somos nós com Deus. Aqueles que aceitam a paz que Cristo fez, segundo o Novo Testamento, recebem a reconciliação (Romanos 5:1) e, assim, entram e permanecem em paz permanente com Deus. Mas é possível que as pessoas recusem a reconciliação e continuem com sua indiferença e com sua hostilidade para com Deus. E uma criatura que faz isso deve, é claro, inevitavelmente, caminhar rumo ao desastre.

Dois benefícios mais profundos afloram da paz que Cristo produziu. O primeiro é este. Aqueles que, por meio de Cristo, foram pessoalmente reconciliados com Deus, percebem que isso também produz a paz entre eles e todos os outros que foram igualmente reconciliados com Deus por Cristo."

Portanto, lembrai-vos de que vós, noutro tempo, éreis gentios na carne... estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel... Mas, agora, em Cristo Jesus, vós, que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto. Porque ele é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derribando a parede de separação que estava no meio, na sua carne, desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz, e, pela cruz, reconciliar ambos com Deus em um corpo, matando com ela as inimizades. E, vindo, ele evangelizou a paz, a vós que estáveis longe e aos que estavam perto; porque, por ele, ambos temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito." (Efésios 2:11-18)

Essa passagem descreve como Cristo põe um fim à hostilidade antiga entre judeus e não judeus. Mas o mesmo se aplica a todas aquelas outras barreiras de raça, nacionalidade, status social e religião, que produziram divisões tão profundas na raça humana. Isto é, claro, uma infeliz verdade, que, frequentemente, no curso da história, as pessoas e as nações que se declaravam cristãs perseguiram e lutaram com outras pessoas e nações que também se declaram cristãs (do mesmo modo que, às vezes, nações declaradamente marxistas lutaram com outras nações declaradamente marxistas). 

Mas tal comportamento lança sérias dúvidas sobre a reconciliação das partes com Deus ter realmente ocorrido. Isso sugere, sim, que o cristianismo declarado foi meramente formal e superficial; e que, como o Novo Testamento diz, eles receberam "a graça de Deus em vão" (2 Coríntios 6:1).

O segundo e imenso benefício é: um dia Deus irá reconciliar a si mesmo todo o universo de seres inteligíveis (Colossenses 1:20). Mais uma vez, infelizmente, isso não significa que todos os seres no universo, inclusive o Diabo, irão tornar-se amigos leais de Deus; pois Deus não irá remover o livre-arbítrio de nenhuma criatura, nem mesmo com a finalidade de transformar os rebeldes em santos. Mas a situação é esta: Deus não vai esperar para sempre. Um dia, ele irá restaurar e reconstruir a Terra e o universo. 

Isso significa que ele terá de conter pela força todos os que persistem em se rebelar contra ele. Quando ele fizer isso, ninguém irá conseguir elevar sua voz em protesto moral. A cruz de Cristo irá silenciar qualquer objeção. Todos poderiam ter sido salvos pela graça magnífica à custa de Cristo. Nem mesmo aqueles que perecem serão capazes de criticar Deus em sua moralidade. O universo será completamente pacificado (Apocalipse 5:11-14).


Por John Lennox

4. Justificação

Os dois outros termos que o Novo Testamento utiliza para descrever o que Deus está disposto a fazer por nós é "justificar" e "justificação".

São termos legais, que fazem parte do léxico jurídico. Isso deixa algumas pessoas bastante irritadas.

E essas pessoas costumam argumentar que Deus, se é que ele existe, tem de ser um Deus amoroso, que nos ama como um pai ama seus filhos e que estará sempre pronto a receber seus filhos errantes com a mesma disposição que o pai recebeu o seu filho na famosa Parábola do Filho Pródigo (Lucas 15). 

O pai da parábola contada por Jesus não agiu como um juiz ou arrastou seu filho arrependido para um tribunal. E Deus também não fará isso, argumentam esses críticos.

Mas esse é um modo bastante superficial de pensar.

Afinal, mesmo na parábola em questão, conquanto o pai tenha perdoado o pródigo e o restabelecido como filho, ele não pegou a herança de seu filho mais velho e a dividiu para dar a metade ao filho que retornava e que já havia desperdiçado a sua própria herança. Fazer isso seria algo profundamente injusto, e a misericórdia de Deus nunca pode passar por cima de sua justiça, seja em relação a outras pessoas ou a ele próprio.

Suponha que você tem uma filha e que ela trabalha em um banco. Em um determinado dia, um assaltante invade o banco, atira nela e consegue fugir com uma quantidade considerável de dinheiro. Qual seria a sua reação se, quando o assaltante fosse preso e estivesse sendo julgado, o juiz dissesse algo como, "Embora esse homem seja um criminoso, ele é meu filho e eu o amo muito; além disso, ele diz que está arrependido. Portanto, eu irei perdoá-lo sem prescrever a ele nenhuma pena"? 

Você não se revoltaria e protestaria, dizendo que esse perdão foi extremamente injusto para você e para a sua filha e que uma decisão como essa minaria as bases de uma sociedade justa e civilizada? O que a Parábola do Filho Pródigo ensina é certamente verdadeiro: Deus está pronto para receber seus filhos. Mas essa é apenas uma parte da verdade. A outra parte é que o perdão e a misericórdia de Deus devem ser, e devem ser vistos como consistentes com os princípios universais de justiça.

O verbo "justificar" tem dois sentidos básicos:1. Declarar que uma pessoa é justa;2. Demonstrar que alguém ou algo é justo, ou está certo.

Justificar não significa fazer alguém se tornar correto. Em Lucas 7:29 está escrito que "todo o povo... justificaram a Deus". Isso não pode significar que o povo tornou Deus justo. Deus nunca foi menos que justo; ninguém teve de fazê-lo tornar-se justo. O que isso significa é que o povo declarou que Deus é justo.

Mas vamos voltar ao começo. Temos aqui um exemplo do uso dessa palavra em um tribunal de justiça que existiu nos tempos bíblicos.

"Quando houver contenda entre alguns, e vierem a juízo para que os juízes os julguem, ao justo justificarão e ao injusto condenarão." (Deuteronômio 25:1)O significado da frase "ao justo justificarão e ao injusto condenarão" é bastante óbvio. Condenar o injusto não significa torná-lo injusto, e sim declará-lo injusto. Do mesmo modo, justificar o justo significa que aquele que comprovadamente agiu de forma correta deve ser declarado justo.

Infelizmente, nos tribunais humanos, é possível que os injustos subornem os juízes e o júri para conseguir ser inocentados por um veredito fraudulento. A Bíblia explicitamente condena essa perversão da justiça:"O que justifica o ímpio e o que condena o justo abomináveis são para o SENHOR, tanto um como o outro" (Provérbios 17:15).

Tendo isso em mente, leia a seguinte parábola contada por Jesus. Ela contém algumas surpresas.

"E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, a orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou, porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado." (Lucas 18:9-14)


1. O primeiro aspecto que devemos notar é que aqui, nessa parábola, Jesus usa o termo "justificar": "(o publicano) desceu justificado para sua casa". Bem, isso é bastante interessante. O fariseu e o publicano não foram submetidos a um julgamento terreno, eles não compareceram perante um tribunal humano. Eles apenas foram ao templo orar, mas, enquanto eles se examinavam diante de Deus, Deus os julgava e proferia um veredito sobre cada um deles.


2. O segundo aspecto que devemos notar é que, de acordo com Jesus, um dos dois voltou justificado para casa. Ou seja, Deus, exercendo o papel de juiz, declarou que um desses homens era justo e estava correto perante o tribunal divino.


3. O terceiro aspecto que devemos notar é que, embora um deles tenha sido justificado por Deus, o outro não foi. E aqui somos surpreendidos, pois o próprio publicano se confessava um pecador e, naquela época, qualquer pessoa teria relacionado a atividade desempenhada por ele – a coleta de impostos – às injustiças, trapaças e pecados dos imperadores romanos. Mas, apesar de tudo isso, foi ele, o publicano, quem Deus justificou. O fariseu, por outro lado, era um homem que tentava viver uma vida tão boa quanto possível em todos os aspectos, no aspecto religioso, no aspecto comercial e no aspecto social; ele não era um homem injusto, um adúltero ou um usurário. Ele jejuava duas vezes por semana e pagava o dízimo fielmente. E, apesar disso tudo, Deus não o justificou.

Na verdade, essa parábola não é apenas surpreendente, mas chocante. A própria Bíblia, como nós vimos um pouco acima, proibiu os juízes terrenos de justificar os injustos e condenar os justos. Assim sendo, como Deus pôde justificar o publicano e não justificar o fariseu, que era considerado um bom homem? Uma parte da resposta a essa pergunta pode ser encontrada nos princípios que veremos a seguir.


1. Os padrões da lei de Deus são absolutos.

Os padrões de Deus são diferentes dos nossos. Se um garoto faz uma prova em uma escola e acerta setenta de cem questões, ele provavelmente será aprovado mesmo tendo errado trinta questões. Mas a lei de Deus não funciona assim. A lei divina exige que se acerte todas as questões sempre; exige a perfeição. E nenhum de nós é capaz de alcançar essa perfeição. Alguns de nós podemos até ser melhores do que os outros. Mas Deus é verdadeiro: ele não pode fingir que somos melhores do que de fato somos. O veredito dado por ele é: "Todos pecaram e destituídos estão da glória (isto é, dos padrões de perfeição) de Deus" (Romanos 3:23).


2. A lei de Deus é um todo indivisível.

Transgrida um único mandamento e você será culpado de ter transgredido toda a lei (Tiago 2:10). Talvez isso soe injusto em um primeiro momento, mas a lei de Deus não é um conjunto de regras sem relação umas com as outras, de forma que uma lei pode ser transgredida sem que isso afete as demais. A lei de Deus é um todo indivisível. O seu objetivo e sua exigência são a perfeição. Quebre um único mandamento e, mesmo que você cumpra todos os outros, você não será perfeito. Quebre um único elo da corrente de uma âncora, e o navio irá à deriva. Cometa um único deslize em uma equação e você errará todo o cálculo. E não podemos esquecer que mesmo os melhores de nós já quebramos muito mais que um único mandamento divino.


3. A lei de Deus, portanto, condena a todos.

Quer tenhamos tentado fazer o que é correto como o fariseu, quer tenhamos feito o que é errado como o publicano, nós todos pecamos, nós todos quebramos a lei de Deus. E a Bíblia diz:"Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da lei o diz, para que toda boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável diante de Deus" (Romanos 3:19).


A RESPOSTA PARA PARTE DE NOSSO PROBLEMA
E agora podemos começar a ver a resposta para pelo menos uma parte de nosso problema. Por que o fariseu não foi justificado? 

Porque, quando ele se colocou diante de Deus, ele apresentou todas as suas boas obras e todos os seus esforços para guardar a lei divina; e ele esperava que Deus o justificasse com base nisso. Mas isso era impossível. Por melhores que fossem as obras dele, elas não seriam suficientes, em algum ponto, ele certamente transgrediu a lei de Deus. Portanto, ele merecia sofrer a punição por seus erros. Deus não podia fingir que a situação era diferente. 

Sua Palavra diz:"Nenhuma carne (nenhum ser humano) será justificada diante dele pelas obras da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado" (Romanos 3:20).

"Mas, se é assim," alguém pode dizer, "isso significa que Deus não pode considerar ninguém justo; ele não pode justificar ninguém que se coloque perante o juízo dele. E, nesse caso, o que explica a justificação do publicano? Ele certamente havia transgredido os mandamentos de Deus de um modo muito pior. Então, como Jesus poderia dizer que o publicano saiu do templo justificado?"


A RESPOSTA PARA A OUTRA PARTE DO NOSSO PROBLEMA
Há, teoricamente, duas maneiras de sermos justificados por Deus. Uma delas é cumprir todos os mandamentos de modo perfeito: nesse caso, Deus poderia nos declarar justos perante ele. Mas, como já vimos, essa maneira é impossível para nós, pois todos nós já transgredimos a lei divina.

A outra maneira de sermos justificados é cumprindo a punição por ter transgredido a lei de Deus. 

Mas, se tivéssemos de fazer isso, nós teríamos de nos submeter a uma separação eterna de Deus. Essa é a situação em que nós nos encontramos.A solução de Deus para essa situação é que seu próprio Filho, como representante da humanidade, pagou e cumpriu a pena em nosso lugar, sofrendo o julgamento de Deus contra o pecado e morrendo sobre a cruz. Portanto, se colocarmos nossa fé em Jesus Cristo, Deus pode considerar a morte dele, como se fosse a nossa própria morte. Como nossa pena foi paga por Jesus, Deus pode nos justificar, isto é, ele pode nos declarar justo perante o seu juízo.

Veja como a Bíblia fala disso:"Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos, sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus" (Romanos 3:23-26).

Mas, será que isso significa que todos os homens e todas as mulheres estão automaticamente justificados? Não. De acordo com a parábola que analisamos acima, o fariseu não foi justificado. O publicano foi justificado e isso ocorreu porque, quando ele se colocou diante de Deus, ele bateu em seu peito e confessou os seus pecados, condenou a si mesmo e admitiu que merecia sofrer a punição por ter transgredido a lei de Deus. E, em um ato de fé, lançou-se na misericórdia de Deus e disse, "Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador". Então, Deus o justificou, isto é, o declarou justo perante Deus, livre da condenação do pecado, justificado de uma vez por todas.

A Bíblia também nos diz que, "aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo" (Hebreus 9:27-28). Isso significa que Deus não nos coloca em seu tribunal todos os dias da nossa vida. Haverá um único dia do juízo, e esse dia virá depois que morrermos. No dia desse julgamento, toda a nossa vida será analisada e, então, Deus proferirá o seu juízo, o seu veredito.

A boa notícia é que não precisamos esperar até o dia do juízo final para descobrir qual será o veredito (veja João 5:24). Deus diz àqueles que depositam sua fé em Jesus Cristo, que a morte de Cristo na cruz, de uma vez por todas, é suficiente para perdoar todos os pecados cometidos por eles ao longo de toda a vida. Portanto, eles não têm nada a temer no dia do julgamento. Uma vez justificados por meio da fé em Jesus Cristo, permanecem justificados para sempre; e, sendo justificados pela fé, têm paz permanente com Deus (Romanos 5:1).

Vamos resumir o que vimos até aqui. Se nós perguntarmos "Em que condições podemos ser justificados perante Deus?", a resposta que o Novo Testamento nos dará é que "o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei" (Romanos 3:28). "E por que então," – alguém pode perguntar – "o Novo Testamento diz o seguinte em outro lugar: "Vedes, então, que o homem é justificado pelas obras e não somente pela fé"? (Tiago 2:24). Isso não é uma contradição?"


O SIGNIFICADO DA JUSTIFICAÇÃO PELAS OBRAS
Não, não é uma contradição. Tiago apenas está utilizando o termo "justificar" com o seu outro significado; isto é, não com o significado de declarar alguém justo, mas com o significado de provar ou demonstrar que alguém é justo. É certo que o homem é declarado justo por Deus pela sua fé em Jesus Cristo e não pelas suas obras. Mas o único modo de que um homem dispõe para demonstrar à sua família e aos seus amigos que ele de fato tem essa fé é apresentando boas obras, apresentando um bom comportamento.

Suponha que um homem diga a seu amigo: "Na semana passada, eu recebi uma carta que dizia que um parente distante muito rico que eu tinha morreu e me deixou como herança uma fortuna. Tudo o que eu tinha de fazer, segundo a carta, era ir ao banco e reclamar esse dinheiro para retirá-lo gratuitamente, sem dar nada em troca. Eu acreditei na carta, fui ao banco, reclamei e retirei o dinheiro e agora sou um milionário".

Você não concorda que o amigo desse homem teria o direito de responder dizendo: "Você diz ter ficado rico apenas por ter acreditado na carta. Mas, por favor, me demonstre que isso é verdade, que aquilo em que você acreditou não é uma fantasia e que o dinheiro que você conseguiu gratuitamente é verdadeiro. Justifique a história que você está contando com suas obras, com atitudes reais, me mostre o que mudou na sua vida". Então, aqueles que foram justificados por Deus por meio da fé e não pelas obras devem demonstrar que a fé deles foi e é genuína. E há uma única forma de demonstrar a genuinidade dessa fé, isto é, como diz Tiago, pelas suas obras.


Por John Lennox

5. Redenção e resgate

Neste capítulo, iremos investigar mais dois dos termos chaves do Novo Testamento, os termos "redenção" e "resgate".

Em seu sentido literal, esses termos já eram utilizados na Antiguidade do mesmo modo que nós os utilizamos atualmente. As pessoas eram sequestradas e só eram devolvidas com um resgate. Isto é, os familiares e os amigos dessas pessoas tinham de pagar uma grande quantia de dinheiro caso quisessem que os sequestradores as libertassem. 

Os terroristas modernos sequestram aviões e ameaçam matar cada um dos passageiros ou explodir todo o avião, a menos que suas demandas e exigências sejam atendidas. E eles podem não pedir dinheiro; a exigência deles pode ser algo como a libertação de algum outro terrorista preso anteriormente pelo governo. 

Em uma situação assim, nós ainda utilizamos palavras como "preço", "custo" ou "resgate", mas em um sentido metafórico. Nós dizemos que a libertação do terrorista que se encontra preso é o preço que o governo teria de pagar pelo resgate dos passageiros sob custódia dos terroristas e sob risco de morte, a menos que optasse por invadir o avião com uma tropa militar especializada.É importante notarmos que nós só utilizamos corretamente a palavra "redimir", quando a utilizamos para descrever o ato de quem está comprando a liberdade de um prisioneiro ou de um escravo, ou para descrever o ato de quem está pagando para que uma pessoa se livre da ameaça de morte e seja posta em liberdade. 

Não seria correto utilizar a palavra "redimir" ou "resgatar" para descrever, por exemplo, os atos dos homens de negócios que, em alguns países, estão dispostos a pagar uma fortuna para comprar pequenas garotas de seus pobres pais com a finalidade de explorá-las como prostitutas infantis. Nesse caso, eles estariam comprando as meninas não para libertá-las, mas para escravizá-las.

Em algumas circunstâncias, é possível que as pessoas resgatem até mesmo aquilo que lhes pertence. Uma pessoa que precisa urgentemente de dinheiro pode decidir penhorar o seu relógio. O penhorista, então, pegará o relógio e emprestará uma quantia de dinheiro para o dono dele. O relógio, no entanto, não passa a ser propriedade do penhorista de modo imediato. Por algum tempo, o relógio continua sendo propriedade da pessoa que o penhorou. Mas, se ela quiser reconquistar a posse real de sua propriedade, ela terá de redimir, de resgatar aquilo que ela penhorou; isto é, ela terá de comprar sua propriedade de volta. E o valor que ela irá pagar, é claro, será muito maior do que o valor que ela originalmente recebeu do penhorista.

Em seu uso comum, as palavras "resgate" e "redenção" possuem muitas conotações sutilmente diferentes entre si; algumas literais e outras metafóricas. E o mesmo vale para o uso feito no Novo Testamento, ainda que, no contexto teológico, os termos sejam sempre usados no sentido metafórico. No uso feito no Novo Testamento, não há uma referência a transações reais de dinheiro. 

"Não foi com prata ou ouro que fostes resgatados", diz o apóstolo Pedro (1 Pedro 1:18). 

Mas, ao longo do Novo Testamento, os termos são utilizados para se referir às seguintes questões e das seguintes maneiras:


1. Comprar, ou comprar de volta, a liberdade de uma pessoa, da escravidão, da dívida, do aprisionamento, da condenação e da morte.


2. É sempre Deus ou Cristo quem realiza a compra, ou redime. Nenhum homem é capaz de redimir a ele próprio e aos demais homens.


3. O pagamento de um preço ou de um resgate. E aqui, mais uma vez, é apenas Deus ou Cristo quem paga o valor, ou cobre o custo do resgate. Não se pede ou se permite jamais que as pessoas contribuam com o que quer que seja para cobrir o valor que precisava ser pago por sua redenção. Isso demonstra um grande contraste com as demais religiões, que exigem que as pessoas alcancem a salvação pagando o preço com seus próprios esforços e sofrimentos, ou mesmo com o pagamento de dinheiro. Quando os sacerdotes e os mercadores do templo de Jerusalém deram às pessoas a impressão de que elas podiam e deveriam pagar pela salvação, Cristo expulsou todos eles (João 2:13-16).


4. O propósito da redenção é sempre libertar as pessoas e enriquecê-las com uma herança eterna.


1. Liberdade da culpa dos pecados passados.

Nós não podemos apagar nosso passado. Nem mesmo Deus pode mudar a história. O que foi feito, foi feito. O que Deus nos oferece por meio de Cristo é a liberdade da culpa dos pecados passados. Muitas pessoas são assombradas pelo passado. Por mais que elas tentem apagar o que aconteceu e recomeçar, elas não conseguem se livrar da culpa que sentem por suas transgressões e más obras passadas.

Outras pessoas, com uma consciência bem menos sincera, acreditam que podem ignorar o passado, como a adúltera que é descrita em Provérbios 30:20 da seguinte forma: "Ela come, e limpa a sua boca, e diz: Não cometi maldade". 

Mas essa irresponsabilidade não quebra nem desfaz a corrente da culpa real (não estamos tratando aqui de complexos psicológicos de culpa). Anos atrás, alguns assaltantes roubaram um trem na Grã-Bretanha, feriram o maquinista e depois fugiram para a América do Sul com milhões e milhões em dinheiro. E, estando lá, subornaram as autoridades para evitar sua extradição. Talvez os assaltantes depois não sentissem nenhuma culpa pelo crime que cometeram. Mas isso não muda o fato de que, se eles tivessem pisado no território britânico, eles teriam sido capturados e aprisionados. Um dia, todos os homens e todas as mulheres se verão diante do tribunal de Deus. A mera passagem dos anos ou uma memória convenientemente curta não terão apagado o passado. A menos que eles tenham permitido que Cristo removesse a culpa que os acorrenta ao passado, essa corrente permanecerá eternamente.

A redenção significa que Deus pode quebrar essas correntes ainda nesta vida, se nós nos arrependermos. O ato de quebrar essas correntes se chama perdão. No texto original em grego do Novo Testamento, a palavra mais frequente para perdão (aphesis) significa "libertar" ou "absolver". É uma palavra utilizada para falar do ato de libertar alguém da prisão, de perdoar a dívida de um devedor, ou de libertar um escravo. E o custo dessa libertação é pago por Cristo: "Temos a redenção", diz o Novo Testamento, "pelo seu sangue, a remissão das ofensas" (Efésios 1:7). Dessa forma, a corrente é quebrada para nunca mais ser restaurada ou substituída. A redenção que Cristo pagou é uma redenção eterna (Hebreus 9:11-12).


2. Liberdade da maldição prescrita pela lei de Deus.

"Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós." (Gálatas 3:13)A maldição prescrita pela lei de Deus não é apenas um conjunto vazio de palavras. É a prescrição da pena que se segue necessariamente a toda transgressão dessa lei. Alguns podem argumentar que, já que não acreditam em Deus, eles não reconhecem a autoridade dele para estabelecer mandamentos e proibições ou impor penas. Mas o argumento é inválido. A lei moral do Criador está escrita no coração de todos os seres humanos (Romanos 2:14-16). 

Toda vez que acusamos alguém de ter feito algo moralmente errado, toda vez que nos desculpamos por termos cometido algum deslize moral, toda vez que dizemos que precisamos ser pessoas melhores e prometemos nos esforçar para melhorar, nós estamos, talvez até inconscientemente, dando testemunho sobre a veracidade da afirmação de que a lei de Deus está escrita em nossos corações, bem como demonstrando que reconhecemos a validade e a autoridade dessa lei. 

Para usar uma metáfora do Novo Testamento, é como se a lei moral de Deus fosse apresentada a nós em um documento e, pelas nossas acusações dos erros alheios, pelas nossas desculpas pelos nossos erros e pelas nossas resoluções de nos aperfeiçoarmos moralmente, nós tivéssemos assinado nossos nomes no documento, concordando em aceitar sua autoridade, suas exigências e suas penalidades.

Aqueles que não se arrependerem encontrarão esse "documento" com os seus nomes assinados nele, e este será utilizado como evidência contra eles no Juízo Final. Aqueles que se arrependem, por outro lado, têm a garantia dada pelo próprio Deus de que esse "documento" que assinamos e que declara nossa culpa foi apagado, que essa "cédula que era contra nós" foi riscada; e ele cravou-a na cruz, livrando-nos da condenação. Deus, assim, declarou perante todo o universo que, ao morrer na cruz, Cristo tomou sobre si a maldição da lei, libertando todos aqueles que se arrependem e nele confiam (veja Colossenses 2:13-15).


O CUSTO DA REDENÇÃO

O resgate pago pela redenção da humanidade foi nada menos do que a morte de Cristo. Na verdade, ele mesmo disse que esse era o principal propósito de sua vinda à Terra:"Porque o Filho do Homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos" (Marcos 10:45). 

"Fostes resgatados com o precioso sangue de Cristo." (1 Peter 1:18-19)Para compreender a imensidão do custo desse resgate, temos de lembrar quem Cristo é:"Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados; o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação; porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele. E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele" (Colossenses 1:14-17).

Em outras palavras, o Redentor é o próprio Criador encarnado. Jesus é tanto Deus quanto homem. E foi por isso que ele pôde exercer o papel de mediador entre Deus e o homem, entregando-se a si mesmo em resgate de todos (1 Timóteo 2:5-6). Entenda que o que aconteceu não foi, como alguns pensam, que Jesus, que amava a humanidade, teve de pagar o resgate para um Deus maldoso com a finalidade de persuadi-lo a não derramar sua ira sobre a raça humana. Aquele que pagou o resgate era Deus. E o amor que motivou Cristo a entregar sua vida como um resgate pelos homens foi uma expressão perfeita e exata do amor do Pai por nós; pois Cristo, sendo ele o próprio Deus, foi e ainda é a perfeita imagem e expressão do Deus invisível. 

"Nisto está o amor", diz 1 João 4:10, "não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados".

"Mas, nesse caso", alguém pode argumentar, "se Jesus não pagou o resgate para Deus, para quem ele pagou? Afinal, ele deve ter pagado para alguém". Mas sustentar tal argumento é ignorar o que nós vimos anteriormente, que o termo "resgate", no contexto neotestamentário, é utilizado como uma metáfora para expressar o preço que nossa redenção custou a Deus e a Cristo. E o preço não foi literalmente uma quantia em dinheiro que um terceiro poderia receber. O preço foi sofrimento e morte.

Suponha que um barco salva-vidas esteja superlotado e correndo o risco de afundar, quando um homem voluntariamente mergulha no mar congelante, sabendo que isso resultaria em sua morte. Nós poderíamos muito bem dizer que ele pagou um preço muito alto para salvar a vida dos demais passageiros. Mas não faria sentido perguntar: "Para quem ele pagou o preço?"

Mas aqui surge outra questão. A Bíblia ensina que todos nós somos criaturas de Deus e, portanto, suas propriedades. Então, por que Deus tem de pagar um resgate ou qualquer outra coisa para ter de volta sua propriedade? Admitimos que tenhamos nos deixado acorrentar pelo pecado e acabado nas mãos de Satanás como prisioneiros dele. Por que Deus simplesmente não exerce sua onipotência, destrói Satanás, rompe as correntes que aprisionam a humanidade e leva todas as pessoas para ele pela força, sem ter de pagar nenhum resgate?

A resposta é que o pecado é uma questão moral, e não se pode resolver uma questão moral pela força. Há certas coisas que nem mesmo um Deus todo-poderoso pode fazer. Ele não pode fazer coisas logicamente impossíveis como desenhar um círculo quadrado. Ele também não pode fazer o que é moralmente incorreto. Ele não pode mentir (Tito 1:2). Ele não pode transgredir sua própria lei moral. Sua lei é a expressão de seu próprio caráter. Se negá-la, ele negará a si próprio; e ele não pode negar-se a si mesmo (2 Timóteo 2:13).

Então, não havia a opção de nos libertar das correntes do pecado através do uso arbitrário do poder e da força. A única forma de fazer isso era cumprindo a pena prescrita por sua lei moral. E foi isso que, por amor, ele fez por nós. Por isso o preço pago; por isso o sofrimento experimentado.


LIBERDADE PARA QUÊ?
Nós vimos anteriormente que, se você compra alguém para utilizá-lo ou fazê-lo de escravo, o preço que você paga por essa pessoa não pode ser chamado de resgate. E nós sabemos que Cristo pagou o resgate para libertar as pessoas da culpa do pecado e dar-lhes liberdade. Mas liberdade para quê? Bem, certamente não foi para que elas continuassem pecando impunemente, pois o pecado é viciante e escraviza aquele que constantemente e sem se arrepender o pratica (Romanos 6:16-23). 

Aqui está uma afirmação que aponta do que Cristo libertou os seus discípulos e fala para que ele os libertou:"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tito 2:11-14).

Nós vamos deixar para tratar em outro capítulo da questão sobre como Cristo garante que essa nova vida seja, de fato, uma vida de liberdade e não apenas uma vida de escravidão religiosa. Por enquanto, vamos notar que o Novo Testamento deixa muito claro que nós não recebemos todos os benefícios e frutos de nossa redenção nesta vida, aqui e agora. Inclusa nos benefícios que o resgate de Cristo obteve para nós está "a redenção do nosso corpo (físico)". Mas, para isso, devemos esperar a Segunda Vinda de Cristo (Romanos 8:18-25; Filipenses 3:20-21).

Por outro lado, Deus dá, ainda nesta vida, o Espírito Santo a todos aqueles que se arrependem e colocam sua fé em Cristo. O Espírito Santo garante a todo crente que as promessas de Deus são dignas de toda credibilidade e ele próprio é o penhor e a garantia da herança que um dia será de todos os crentes, quando Deus cumprir todas as suas promessas e levar para os céus todos os que ele comprou com o sangue de seu Filho (Efésios 1:13-14; Atos 20:28).


Por John Lennox

6. A vida eterna

Uma das declarações mais maravilhosas já feitas por Cristo, quando ele esteve na Terra, foi a declaração de que ele tinha a autoridade e o poder para dar a vida eterna aos homens e às mulheres (João 17:1-3).

Essa declaração, como nós sabemos, já foi muito ridicularizada. Alguns críticos supuseram que Jesus estava prometendo aos seus discípulos que eles nunca morreriam fisicamente, quando ele disse isso e, então, com base nessa suposição, eles concluíram que Jesus foi apenas um fanático religioso frustrado. Afinal, ele morreu bem cedo, e o mesmo aconteceu com os seus discípulos.

Mas esse tipo de crítica é baseado na total ignorância sobre o que Jesus de fato disse.

Qualquer olhar rápido pelas páginas do Novo Testamento é suficiente para mostrar que Jesus não apenas avisou aos seus discípulos que ele seria crucificado muito em breve, mas também que, depois que ele partisse, os próprios discípulos deveriam estar prontos para morrer por amor a ele (Lucas 9:22; 12:4; João 16:1-3). Seja qual for o significado dessas palavras, a declaração de Jesus de que ele daria vida eterna aos seus seguidores certamente não significava que eles não morreriam fisicamente.

Outros críticos, um pouco mais sérios, supuseram que a "vida eterna" prometida é algo que as pessoas boas devem receber após deixarem este mundo: em outras palavras, "elas vão para o céu quando elas morrem". Esses críticos, então, tratam com desprezo toda a ideia, que eles veem como uma fantasia perigosa e irritante. Homens e mulheres famintos, eles dizem, sonham com suculentos bifes; do mesmo modo, o pobre e o oprimido, os desenganados e os enfermos, inventam um céu imaginário para aliviar suas misérias e seus sofrimentos. Mas os ateus, eles afirmam, não precisam dessa muleta; eles possuem a coragem e a inteligência para lutar para viver uma boa vida e, no final, encarar a dura realidade da morte sem entorpecer suas mentes com a esperança de um céu imaginário que alcançarão em um futuro distante e incerto.

É preciso dizer que o Novo Testamento de fato ensina que os que creem "irão para o céu quando morrerem", mas temos de esclarecer que isso é mais frequentemente colocado em outros termos: "partir e estar com Cristo", ou "deixar este corpo, para habitar com o Senhor" (Filipenses 1:23; 2 Coríntios 5:8).

 Porém, as acusações dos críticos de que essa esperança de um céu futuro necessariamente enfraquece, se não elimina, os esforços que as pessoas fazem para tirar o máximo da vida aqui na Terra, são obviamente falsas. O Novo Testamento deixa bem claro que a vida eterna não é algo que recebemos quando morremos e vamos para o céu. Pelo contrário, é uma vida que podemos receber e gozar aqui e agora na Terra – muito antes de morrermos e irmos para o céu. É, de fato, uma outra dimensão da vida, acima e além da vida intelectual, estética, emocional e física de que todo ser humano naturalmente goza. É a vida de que Cristo estava falando, quando disse, "Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mateus 4:4).

Tente imaginar um casamento que não seja nada mais do que uma união física, um casamento em que o esposo e a esposa nunca conversem, em que nenhum pensamento íntimo seja compartilhado, em que o mesmo ocorra com as esperanças, com as alegrias, com os medos e com as tristezas, com o amor pela música ou com o amor pela arte, e os dois nunca venham a se conhecer de verdade. Um casamento assim seria pouco mais que o acasalamento dos animais; faltariam a ele as dimensões humanas. Do mesmo modo, um ser humano que se contenta em gozar a vida em seu aspecto físico, emocional, estético e intelectual, mas não sabe nada a respeito de comunhão espiritual com Deus, está perdendo, aqui e agora, o aspecto mais elevado da vida. Além disso, ele também corre o gravíssimo risco de perder a vida eterna no mundo vindouro. 

O Novo Testamento é claro: "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna". Note que o verbo está no presente: portanto, aquele que crê tem a vida eterna aqui e agora. Por outro lado, há um aviso: "Mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece" (João 3:36).

E aqui temos de compreender uma outra distinção: a vida eterna de que o Novo Testamento fala não é a mesma coisa que existência eterna. Todos os seres humanos sobreviverão à morte de seus corpos, todos irão existir eternamente. Mas alguns irão existir em um estado espiritual que a Bíblia chama, não de "vida eterna", e sim de "a segunda morte" (Apocalipse 20:11-15; nós iremos estudar esse assunto mais próximo do final deste livro).Nesta altura, alguns críticos poderiam, talvez, argumentar que tudo o que se diz sobre uma vida eterna possível de ser apreciada ainda nesta vida não passa de uma forma de auto-engano psicológico. É mera subjetividade que não corresponde a nenhuma realidade concreta. 

O problema é que exatamente a mesma coisa poderia ser dita sobre a apreciação da arte, o que seria também uma falácia. É verdade que há pessoas que podem olhar para uma obra de arte e ver pouco mais do que manchas de tinta sobre uma tela; é verdade também que as pessoas cegas não podem ter nem noção do que é o mundo da arte. Mas isso não prova que o mundo da arte não existe, ou que a apreciação da arte é uma forma de auto-engano psicológico. O fato é que algumas pessoas que não enxergam, que são fisicamente cegas, não desejam poder ver. Certa vez, conheci um homem que, durante a infância, chegou a enxergar por um tempo, mas acabou por perder a visão pouco depois e ficou totalmente cego. E, por incrível que pareça, ele sempre me disse que não iria querer ver, mesmo que lhe dessem essa oportunidade. Ele estava contente como era. Na verdade, ele tinha medo de que, caso recuperasse sua visão, ele viesse a ficar muito confuso com as milhares de coisas que iria poder ver e que, portanto, a vida ficasse complicada demais. Ele me dizia que preferia a simplicidade da vida sem visão.

Da mesma forma, há muitas pessoas que sentem que a vida se tornaria muito complicada e que elas se envolveriam em mudanças muito radicais, se admitissem a existência de Deus e a possibilidade de receberem a vida eterna. Elas preferem a simplicidade do ateísmo. E, assim, elas afirmam que "Deus" e a "vida eterna" são entidades imaginárias. Mas o fato de afirmarem isso não mostra que as coisas são assim; mostra apenas que os que afirmam isso são espiritualmente cegos.Qual é, então, o significado de ter a vida eterna?


1. Ter a vida eterna significa compartilhar a vida de Deus.

Na terminologia do Novo Testamento, as pessoas estão mortas até o momento que iniciam um relacionamento pessoal e direto com Deus e passam a conhecê-lo. Isto é, elas estão mortas, não no aspecto físico, mas no aspecto espiritual.

A famosa Parábola do Filho Pródigo fornece um ótimo exemplo do uso da palavra "morto" com esse sentido. Conversando com o seu filho mais velho, após o retorno do filho pródigo, o pai diz: "Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão estava morto e reviveu; tinha-se perdido, e foi achado" (Lucas 15:32).

O filho pródigo havia virado as costas para o seu pai, abandonado sua casa, e ido para um país distante. Ele não tinha nenhum amor ou interesse em seu pai. Ele não se comunicava com o seu pai, ele não tinha nenhum desejo de compartilhar os interesses ou a vida de seu pai. Até onde o seu pai sabia, ele estava morto.O filho pródigo "voltou à vida" quando se arrependeu, voltou para a casa e se reconciliou com seu pai. Da mesma forma, quando as pessoas que ignoraram a Deus e estiveram espiritualmente mortas, arrependem-se e reconciliam-se com Deus, elas recebem vida espiritual; elas passam a viver espiritualmente.

Mas há ainda mais do que isso. Quando as pessoas se arrependem e se convertem a Deus, elas não apenas descobrem a Deus, da mesma forma que alguém pode descobrir o mundo da arte para o qual ela sempre foi completamente morta. Quando as pessoas se arrependem, voltam-se para Deus e colocam sua fé em Cristo, Deus gera dentro delas uma nova vida, uma vida que elas nunca tiveram até aquele momento. Para utilizar a terminologia do Novo Testamento mais uma vez, Deus as "vivifica". Ele gera nelas sua própria vida espiritual, assim como um pai humano transmite a sua própria vida física para os filhos que ele gera.

"Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos)." (Efésios 2:4,5)Deixe-me fazer uma analogia. Uma lâmpada elétrica, dentro de sua embalagem protetora, não tem ainda como ser acesa. 

Mas retire-a de sua embalagem, coloque-a no soquete do castiçal e coloque esse castiçal em uma sala que já esteja sendo iluminada por uma grande luz elétrica central. A lâmpada agora está cercada pela iluminação que vem da fonte central de luz; mas ela continua não acendendo, ela continua não iluminando; ela continua "morta". E continuará "morta" até que seja ligada à mesma corrente de energia elétrica que mantém a luz central acesa. Mas, quando isso acontece, quando ela é ligada na corrente de energia elétrica e a eletricidade chega até a lâmpada, nós vemos a lâmpada ser "vivificada".


2. O dom da vida eterna estabelece uma relação pessoal entre aquele que o recebe e Deus.

Um computador de última geração pode aprender a reconhecer a voz de seu dono, do homem que o utiliza. Tudo que esse homem precisa fazer é dizer algumas palavras próximo ao computador, e o computador irá reproduzir tudo o que ele disse em forma de texto. Mas o computador nunca conhecerá o seu dono da mesma forma que o filho ou a esposa dele o conhecem; tampouco irá amá-lo como os filhos e as filhas dele o amam. O computador não tem uma vida humana. 

Por outro lado, quando o homem gerou seus filhos e lhes transmitiu sua própria vida, junto com a vida, as crianças receberam a capacidade de conhecer e amar seu pai e de desfrutar de uma relação cada vez mais profunda com ele. Do mesmo modo, quando Deus transmite a sua própria vida espiritual para as pessoas, quando ele as vivífica e as regenera, isso faz nascer um relacionamento entre essas pessoas e ele; e elas passam a conhecê-lo e amá-lo. É por isso que o Novo Testamento diz que a vida eterna consiste em conhecer a Deus e a Jesus Cristo (João 17:3), e em compartilhar a vida de Deus por meio de Cristo (1 João 1:1-4).


3. A vida eterna: um dom presente, uma propriedade eterna.

E isso explica como a vida eterna pode ser, como o próprio nome diz, eterna. Quando Deus estabelece essa relação espiritual com uma pessoa e compartilha a sua própria vida com ela, essa relação é, por definição, eterna. A morte física não pode dar fim a ela, não pode destruí-la. Uma vez que Deus tiver estabelecido um relacionamento pessoal com alguém pelo dom da vida eterna, ele permanecerá fiel a essa promessa e manterá o relacionamento para sempre.

"E dou-lhes (as minhas ovelhas) a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos." (João 10:28) 

"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna." (João 3:16)

A vida eterna, então, não pode ser afetada pela morte do corpo. O corpo humano, tal como o conhecemos aqui na Terra, é comparado no Novo Testamento com um tabernáculo, uma tenda, muito propícia e adequada à nossa peregrinação terrena e temporária, mas relativamente frágil, fácil de se desmontar. Na ressurreição, por outro lado, todos os salvos receberão um corpo glorificado, projetado para expressar sua personalidade aperfeiçoada e redimida, o que é descrito no Novo Testamento como tendo, "de Deus um edifício, uma casa não feita por mãos, eterna, nos céus" (2 Coríntios 5:1).

Além disso, junto com a vida eterna vem uma série de outras coisas eternas que Deus dá a todos os que estão dispostos a receber Cristo. Assim, o Novo Testamento ensina que a salvação é eterna (Hebreus 5:9), a redenção e seus efeitos são eternos (Hebreus 9:12), a herança prometida para aqueles que confiam em Deus é eterna (Hebreus 9:15), e a glória que os sofrimentos e as experiências de vida trarão para aqueles que amam Deus é igualmente eterna (2 Coríntios 4:17). E o fato maravilhoso sobre isso tudo é que a vida eterna é um dom gratuito, que é oferecido a todos os que, com verdadeiro arrependimento e fé, aceitam a Jesus Cristo como Senhor e Salvador:"Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus, nosso Senhor" (Romanos 6:23).


O POTENCIAL DA VIDA ETERNA
A vida eterna, assim como a vida física, não é estática. Quando um bebê nasce, ele tem vida física, mas, nas semanas, meses e anos pela frente, ele tem de aprender a desenvolver seu potencial. Assim é com a vida eterna: ela é cheia de potencial, portanto sempre cheia de esperança para o futuro. 

Aqueles que recebem a vida eterna são exortados, pelo Novo Testamento, a "tomar posse" da vida eterna, para a qual Deus os chamou, da mesma forma que um jovem que tem potencial para se tornar um atleta olímpico pode ser encorajado a não negligenciar seu dom, e sim a explorá-lo tanto quanto possível (1 Timóteo 4:7-8; 6:11-12). E a principal recompensa para quem desenvolve o potencial da vida eterna é uma capacidade cada vez maior de desfrutar aquela vida. 

"O que semeia no Espírito", diz o Novo Testamento, "do Espírito ceifará a vida eterna" (Gálatas 6:8). Quanto mais um atleta corre, mais ele desenvolve o seu coração, os seus pulmões, os seus músculos e a sua respiração e, quanto mais ele desenvolve essas coisas, mais ele pode melhorar seu desempenho ao correr e mais pode desfrutar do esporte.

É claro que um treinamento sério vai exigir do atleta muita disciplina, autocontrole, austeridade, objetividade e trabalho duro. E, se o atleta deseja ganhar o campeonato, ele terá de seguir as regras do jogo. Se ele não seguir essas regras, ele não irá perder a sua vida, mas ele certamente não irá ganhar nenhum prêmio. E assim é com a vida eterna. Para desenvolver o seu potencial e conquistar os maiores prêmios, aqueles que a possuem devem estar preparados para deixar de lado todo o embaraço, e o pecado que tão de perto os rodeia, e correr, com paciência, a carreira que está diante deles (Hebreus 12:1). Eles devem estar prontos para negar a si mesmos, tomar cada um a sua cruz e seguir a Cristo. E eles também devem aprender a desenvolver autocontrole e "a manter as regras do jogo". Caso contrário, eles serão desclassificados e não obterão nenhum prêmio (1 Coríntios 9:24-27; 2 Timóteo 2:5).

Mas o fato mais maravilhoso sobre a vida eterna é que ela permite que aqueles que a possuem vivam de tal forma que as experiências, os deveres, os prazeres e as dores deste mundo passageiro tenham um significado eterno e possam produzir uma recompensa eterna (João 12:25; 2 Pedro 1:5-11).

A possibilidade de saber que temos a vida eterna Algumas pessoas, mesmo pessoas religiosas, afirmam que é impossível ter ainda nesta vida a certeza de que temos a vida eterna. É importante, portanto, saber o que o Novo Testamento de fato afirma sobre esse tema. Iremos considerar com mais profundidade esse assunto em um capítulo posterior, mas aqui, para começar, vejamos o que está escrito:"E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus" (1 João 5:11-13).


Por John Lennox

7. Arrependimento

Até aqui, estudamos os termos que o Novo Testamento utiliza para descrever o que Deus fez para reconciliar, justificar, remir, resgatar e regenerar a humanidade. De agora em diante, porém, vamos estudar os termos utilizados para descrever o que nós devemos fazer para conseguir nos beneficiar e desfrutar do que Deus fez, está fazendo e ainda fará.

O primeiro desses termos é o "arrependimento". A primeira pregação pública feita por Jesus foi esta: "O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo.

Arrependei-vos e crede no evangelho" (Marcos 1:15).

De acordo com Jesus, o arrependimento é um acontecimento de grande alegria: "Vos digo que há grande alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende" (Lucas 15:10). 

O arrependimento também é algo muito saudável. Assim como a chuva amolece a terra e a prepara para que as sementes germinem e cresçam, o arrependimento abre o caminho para a vida espiritual: "Aos gentios deu Deus o arrependimento para a vida", é como o Novo Testamento faz essa afirmação (Atos 11:18).

O arrependimento, no entanto, é algo complexo e, para que ele seja verdadeiro, saudável e eficaz, é imprescindível que ele tenha todos os ingredientes necessários. O arrependimento pleno, por exemplo, pode envolver um tipo saudável de tristeza: "Porque a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende" (2 Coríntios 7:10). 

Por outro lado, a tristeza que não conduz ao arrependimento pleno não apenas é ineficaz, já que não leva à salvação e à vida, como é também mórbida e destrutiva. "A tristeza do mundo opera a morte." (2 Coríntios 7:10)

Um exemplo claro disso é Judas, que traiu Jesus. Quando ele viu que Jesus havia sido condenado, ele, "arrependido", tentou desfazer o mal que tinha feito, mas isso se mostrou impossível. Ele poderia, é claro, ter corrido para a cruz e clamado a Jesus por misericórdia e perdão como fez o ladrão moribundo. Mas não! O que ele sentiu não foi um arrependimento pleno e saudável como aquele para o qual o Novo Testamento convida todos nós. O que ele sentiu foi apenas remorso que não podia levar à vida e à salvação. Muito pelo contrário, Judas se enforcou e cometeu suicídio (Mateus 27:3-5).

Através das inúmeras traduções e também do uso comum do termo, o sentido que o Novo Testamento dá à palavra "arrependimento" foi deturpado com grande frequência, portanto vamos examinar de forma bastante cuidadosa essa questão. 


No grego original em que o Novo Testamento foi escrito, duas palavras foram utilizadas para falar de arrependimento:

1. A palavra metanoia e o verbo dela derivado, metanoeo. O significado básico dessas duas palavras é "mudança de mente". Várias emoções e vários sentimentos podem ou não acompanhar, ou seguir essa mudança de mente. Mas o elemento principal dessa mudança é intelectual. É um exercício do juízo moral.

2. O verbo metamelomai e o verbo impessoal, metamelei. Esses dois verbos também são utilizados para expressar a ideia de arrependimento, mas eles enfatizam mais a tristeza por ter feito algo.

Então, podemos dizer que o arrependimento é, primeiramente, uma mudança de mente, uma transformação do juízo moral, um repúdio ao comportamento anteriormente adotado. Há nele um elemento negativo. 

Por isso, o Novo Testamento fala do ato de arrepender-se de coisas más e falsas. Por exemplo, "arrependimento de obras mortas" (Hebreus 6:1). Mas também há um elemento positivo: "a conversão a Deus" (Atos 20:21). Observe como a passagem a seguir enfatiza o elemento intelectual do arrependimento (nossos pensamentos e os pensamentos de Deus), o elemento negativo (deixar o mau caminho) e o elemento positivo (converter ao Senhor).

"Deixe o ímpio o seu caminho, e o homem maligno os seus pensamentos, e se converta ao Senhor, que se compadecerá dele; torne para o nosso Deus, porque grandioso é em perdoar. Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o SENHOR." (Isaías 55:7-8)


Existem três grandes áreas em que somos chamados ao arrependimento:
1. Em relação a Deus. Obviamente, para quem é ateu, o arrependimento significa abandonar seu ateísmo e reconhecer a existência de Deus. Mas não são apenas os ateus que precisam se arrepender em relação a Deus. É possível acreditar na existência de Deus e, na prática, ignorá-lo, desprezar todas as suas leis e viver como se ele não existisse e ignorar todos os apelos feitos por ele, para que nos arrependamos e sejamos salvos. Em grau maior ou menor, isso é verdade para todos nós. "Todos nós andamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo seu caminho, mas o SENHOR fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos." (Isaías 53:6) 

O arrependimento não significa nada menos do que isto: converter-se a Deus dos ídolos (qualquer coisa que colocamos no lugar do Deus único e verdadeiro), para servir ao Deus vivo e verdadeiro (1 Tessalonicenses 1:9).


2. Em relação a nós mesmos. O Novo Testamento exige arrependimento em dois níveis distintos. E, já que isso é facilmente esquecido e negligenciado, começaremos com uma ilustração que mostra bem a diferença entre um nível e o outro.

Um homem de 50 anos de idade está se sentindo muito mal. Ele vai a um médico. E, depois de um exame geral, o médico lhe diz que a causa de sua doença é o consumo excessivo de cigarro. "Sim, eu me dou conta disso agora", diz o homem, "e eu me arrependo. Por favor, dê-me algo que possa me ajudar a parar de fumar.

"Tudo bem até aqui. O homem se arrependeu de seu pecado individual de fumar. Mas o médico lhe diz: "Bem, você é muito sábio por desejar parar de fumar, mas deixar de fumar não poderá salvá-lo. Os seus pulmões estão praticamente destruídos, e o seu coração está severamente danificado. A única coisa que pode salvá-lo agora é permitir que um cirurgião realize um transplante de coração e de pulmões em você. Agora a pergunta crucial aqui é: será que o homem estaria disposto a arrepender-se, neste nível mais elementar? Isto é, será que ele concordaria com o médico que sua condição é tão ruim que deixar de fumar não basta para salvá-lo, que só um coração novo e pulmões novos podem salvá-lo?

Suponha que o homem rejeite o veredito do médico: "Não, eu não estou preparado para me submeter a essa cirurgia tão drástica. Eu não estou tão doente quanto você diz. Estou confiante de que, se eu parar de fumar, vou ficar bem". O que aconteceria? Ele certamente morreria muito em breve.

Por outro lado, mesmo se ele se arrependesse neste nível mais elementar e concordasse com o diagnóstico do médico, decidisse se submeter à cirurgia e receber o coração e os pulmões de outra pessoa, ainda seria importante que ele se arrependesse do pecado de fumar. Na verdade, o cirurgião poderia muito bem lhe dizer, quando ele estivesse recebendo alta: "Eu insisto que daqui para frente você pare totalmente de fumar. E, se alguma vez você sucumbir à tentação de fumar de novo, volte aqui e eu te darei alguma coisa para ajudá-lo a superar a tentação."

O mesmo vale para nós. O veredito de Deus é que estamos tão mal que arrepender de nossos pecados individuais, por mais importante que isso seja, não é o suficiente para sermos salvos. Precisamos do que poderia ser chamado de arrependimento radical. Ou seja, é necessário que nós concordemos com o veredito de Deus não só no que diz respeito aos nossos pecados, mas também no que diz respeito a nós mesmos. Não é apenas uma questão do que fizemos, mas também do que somos. O veredito de Deus não se resume ao fato de que pecamos no passado e de que, mesmo no presente, continuamos muito aquém dos padrões divinos de santidade (Romanos 3:23), mas inclui também o fato de que, devido à nossa própria natureza, somos "filhos da ira" (Efésios 2:1-13). Nossa natureza é pecaminosa e constantemente desagrada a Deus. Isso não significa, é claro, que cada parte de nós é tão ruim quanto poderia ser. O que isso significa é que nenhuma parte de nós está livre dos danos causados pelo pecado.

Uma árvore não se torna uma macieira ao produzir maçãs. Na verdade, ela produz maçãs porque ela é, por natureza, uma macieira. Tire todas as maçãs visíveis da árvore, e ela continuará sendo uma macieira. Apenas confessar os nossos pecados individuais, sejam poucos ou muitos, é o equivalente a cortar as maçãs da árvore. Essa confissão não enfrenta nem lida com o problema do que somos por natureza, do que somos em nós mesmos. O fato é que nós somos, como João Batista disse, "árvores ruins" que merecem ser cortadas e lançadas no fogo (Mateus 3:10).

Neste ponto, no entanto, muitas pessoas se recusam a aceitar o veredito de Deus. Elas se recusam a se arrepender. Elas estão preparadas para admitir que elas fizeram e fazem coisas erradas, até mesmo coisas escandalosamente erradas. Elas podem até admitir que há falhas em seu caráter. Mas elas se apegam à ideia de que tudo que elas precisam fazer é se arrepender de seus últimos atos errados e procurar a ajuda de Deus para deixarem os maus hábitos. E elas esperam que isso as faça voltar a ser as pessoas boas que elas sempre acreditaram ter sido, tendo assim uma boa chance de se qualificar para ir para o céu com Deus.

Mas isso é uma ilusão, como o próprio Senhor Jesus Cristo assinalou:"Não há boa árvore que dê mau fruto, nem má árvore que dê bom fruto. Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos" (Lucas 6:43-44).

Não adianta um espinheiro dizer: "Eu admito que produzi muitos espinhos. Mas, na realidade, eu não sou um espinheiro, eu sou uma figueira".

Arrependimento radical, então, significa abrir mão de nossa própria autoestima, bem como das opiniões que temos sobre nós mesmos, para concordar com o veredito de Deus que afirma que, para alcançarmos a salvação, não basta nos arrependermos de nossos pecados individuais. Precisamos de uma nova vida espiritual que venha de uma fonte que esteja fora de nós mesmos. Essa fonte é Cristo, que morreu por nós, e agora vive para ser o nosso Salvador.

Este é, de fato, o significado histórico do batismo cristão. Batismo, segundo a explicação do Novo Testamento (Romanos 6:3-4), é um enterro simbólico, pelo qual uma pessoa publicamente confessa que aceitou o veredito dado por Deus de que ela não era digna de nada além de ser executada e enterrada. Não é um método mágico pelo qual as partes ruins do caráter de uma pessoa são apagadas de alguma forma, deixando espaço para as partes boas crescerem e florescerem. No batismo, a pessoa é enterrada nas águas por completo da mesma forma que, no mundo, um homem, que foi condenado à pena de morte por homicídio, é completamente executado e enterrado; não é apenas o seu mau temperamento, o seu ciúme e a sua raiva que são enterrados, ele é inteiramente enterrado. Da mesma forma, quando uma pessoa é condenada à pena de morte por assassinato, a pena não se resume a cancelar apenas a sua vida passada, dando-lhe oportunidade de viver da melhor forma possível dali para frente. Não, a execução da pena é o final. A vida do condenado termina. A morte nunca precisa ser (nem pode ser) repetida.

Assim, quando Cristo morreu por nossos pecados, ele morreu uma vez, e ele nunca irá morrer novamente, pois ele nunca precisará (Romanos 6:8-11). Sua única morte pagou de modo completo a penalidade dos pecados daqueles que o aceitaram como Salvador, pelos pecados de toda vida dessas pessoas — passada, presente e futura. Portanto, quando uma pessoa é batizada, ela está também declarando que aceitou a Cristo como o Substituto e o Salvador preparado por Deus e, ao aceitar a Cristo, ela se tornou uma com ele, da mesma forma que um homem e uma mulher se tornam um, quando se casam (1 Coríntios 6:15-17). Portanto, do ponto de vista de Deus, quando Cristo morreu, o crente também morreu e, quando Cristo foi sepultado, ele também foi sepultado, e, legalmente, esse foi o fim da pessoa pecaminosa do crente para todo o sempre. Pode-se dizer que o crente declara o que o apóstolo Paulo declarou em uma de suas cartas: "Estou crucificado com Cristo" (Gálatas 2:19-21).

O batismo, portanto, é também uma ressurreição simbólica. E significa que, assim como Deus ressuscitou Cristo dentre os mortos, Deus também deu a todos que aceitam a Cristo uma vida espiritual completamente nova; não se trata da velha vida de alguma forma melhorada e aperfeiçoada, mas, sim, de uma nova vida que ele nunca teve antes. Não é nada mais nem nada menos do que a vida do próprio Cristo. O crente pode, portanto, verdadeiramente dizer (para completar a declaração feita pelo apóstolo Paulo): "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim" (Gálatas 2:19-21).

Não podemos deixar de enfatizar, é claro, que o batismo é apenas um símbolo. Ele não afeta de fato a morte e a ressurreição que ele simboliza. O batismo é como um anel de casamento. Uma mulher solteira poderia colocar um anel de casamento em seu dedo, mas isso não significaria que ela estaria casada. O anel só terá importância e significado, depois que ela concordar em aceitar um homem como seu marido. Então, uma pessoa tem de se arrepender no sentido radical, de que estamos tratando e, pessoalmente, aceitar a Cristo como Salvador antes de ser batizada. Caso contrário, o batismo será apenas um símbolo vazio de significado, uma representação de algo que não é verdade.


3. A terceira e última área em que somos admoestados a nos arrepender é a que diz respeito aos nossos pecados. Alguém que se arrependeu de modo radical e recebeu Cristo está agora livre sob o aspecto legal. Ele não precisa se esforçar para se aperfeiçoar e assim conquistar a aceitação de Deus, pois ele já é aceito. 

Mas, precisamente porque Deus, por amor de Cristo, o aceitou, haverá uma expectativa de que ele desenvolva uma vida legitimamente cristã. Isso significa ler a Palavra de Deus para descobrir quais atitudes e atos Deus considera pecaminosos e então arrepender-se deles, buscando o poder e a força de Cristo para eliminá-los. E, quando ele cair em tentação e em fraqueza, como ocorrerá algumas vezes, ele precisa confessar seus pecados a Deus, pois a promessa é: "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). Este tipo de arrependimento, então, é um empreendimento que dura a vida toda: um empreendimento que terá de ser repetido diariamente (Apocalipse 2:5, 16, 21; 3:3).


ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ADICIONAIS DO ARREPENDIMENTO VERDADEIRO
1. Arrependimento não é apenas uma questão de palavras. O arrependimento produz um comportamento que demonstra que a pessoa de fato se arrependeu. "Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento", disse João Batista (Mateus 3:8).


2. Ao mesmo tempo, o arrependimento não conquista ou merece a salvação. O perdão do pecado não depende da força da tristeza que sentimos por termos pecado, nem pode ser conquistado por obras de penitência. O perdão continua sendo um dom absolutamente gratuito e imerecido dado a pecadores falidos e recebido apenas por meio da fé. É por isso que a "conversão a Deus" tem de ser acompanhada pela "fé em nosso Senhor Jesus Cristo" (Atos 20:21).


3. O arrependimento é algo urgente. "Deus anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam" (Atos 17:30-31). E o próprio Cristo nos lembrou: "Se vos não arrependerdes, todos de igual modo perecereis" (Lucas 13:3, 5).


Por John Lennox

8. FÉ: Não é um Salto no Escuro

Em nosso último capítulo, nós vimos que, para nos beneficiarmos de tudo o que Deus fez, está fazendo e ainda fará pela humanidade, nosso primeiro passo deve ser o arrependimento para com Deus. Mas há um segundo, que é a fé em nosso Senhor Jesus Cristo (Atos 20:21). De acordo com o Novo Testamento, as condições da salvação são as seguintes: 

a) "Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus" (que ele é, objetivamente, o Filho de Deus e, subjetivamente,o seu Senhor), e

b) "se, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo" (Romanos 10:9). 

A questão que imediatamente é suscitada é esta: Como é possível ter esta fé? Hoje, podemos ouvir muitas pessoas dizendo: "Nós gostaríamos de acreditar em Deus e em Cristo, mas é muito difícil para nós acreditar depois de tantos anos de doutrinação no ateísmo. 

Para nós, a fé parece uma coisa arbitrária. Na ciência, você pode ter evidências e provas, e a fé nunca é necessária. Mas, no que diz respeito ao cristianismo, nós temos de acreditar sem qualquer prova ou evidências. É como saltar com os olhos fechados de uma janela em uma noite muito escura e esperar que vai pousar com segurança em algum lugar.

"Outros acreditam que a fé é como uma habilidade artística: ou você tem, ou você não tem, e não há nada que seja possível fazer para mudar isso.Nenhuma dessas perspectivas é verdadeira. Além disso, a ideia de que a ciência não envolve a fé também é falsa. Na verdade, a fé é fundamental para o empreendimento científico. Albert Einstein disse: "A crença de que o universo das coisas existentes é acessível à razão humana e que as regras válidas neste universo são racionais pertence ao domínio da religião. Eu não consigo sequer imaginar um cientista autêntico que não compartilha dessa fé profunda".

Houve, é claro, tanto cientistas quanto filósofos que questionaram se o universo que os cientistas dizem descrever existe de fato. Eles sugeriram que esse universo existe somente nas mentes e nas fórmulas dos próprios cientistas. As teorias dos cientistas, alegam eles, não correspondem a nenhuma realidade objetiva. Mas essa é, claramente, a visão de uma pequena minoria.A grande maioria dos cientistas acredita que o universo que eles investigam, seja diretamente, seja por seus instrumentos, realmente existe. Eles não o criaram mediante suas observações, medições, hipóteses, teorias, experiências e interpretações. Eles aceitam a sua existência como um fato. É verdade que eles descobriram detalhes desse universo, como partículas elementares que até então eles não sabiam que existiam. Mas esses detalhes já existiam antes dos cientistas descobri-los. O cientista, portanto, não cria o universo com seus estudos, ele simplesmente tenta compreendê-lo. 

E, com esse propósito, ele submete a sua mente às evidências apresentadas pelo universo e julga a veracidade de suas teorias de acordo com a capacidade delas de explicar as evidências que existem.Pois bem, a Bíblia afirma que o universo existe, porque Deus o colocou onde ele está, porque Deus o criou. Segundo a Bíblia, ele trouxe o universo à existência por meio de sua Palavra criadora (Gênesis 1; João 1:1-4; Hebreus 11:3). Isso é uma revelação sobre a mente de Deus, uma expressão de seu pensamento criador. E, ao estudar essa revelação, um cientista, quer ele saiba ou não, está, como disse Johannes Kepler, pensando os pensamentos de Deus.

A Bíblia afirma ainda que o mesmo Deus que se revelou pela criação, se revelou a nós também por seu Filho, Jesus Cristo. Cristo não é uma invenção da igreja ou o produto da especulação religiosa e teológica. A Bíblia o chama de a Palavra de Deus, pois, através dele, Deus se revelou e falou aos homens e às mulheres de uma forma muito mais direta e muito mais plena do que jamais havia feito pela criação. Na criação, Deus nos falou de seu poder, de sua glória e majestade. Em Cristo, a Palavra de Deus, ele nos falou de seu coração. 

Nossa tarefa, então, deve ser estudar as provas fornecidas por Deus em sua revelação em Cristo, da mesma forma que os cientistas estudam as evidências fornecidas por Deus em sua revelação na criação.Ora, é notório que os cientistas têm muita cautela com explicações científicas que são muito fáceis. Eles aprenderam, pela experiência, que o universo está constantemente nos apresentando coisas inesperadas e fenômenos que só podem ser explicados em termos que desafiam, ou parecem desafiar, o senso comum. 

Mas eles não rejeitam de antemão essas explicações incomuns e difíceis. Na verdade, eles estão preparados para confiar mais nessas explicações do que no senso comum; e a maior justificação dessa confiança que eles podem obter vem quando, ao realizar experiências e testes, elas se mostram verdadeiras.E o mesmo vale para a revelação de Deus ao homem por meio de Jesus Cristo. Como sabemos, o Novo Testamento afirma que Jesus Cristo é tanto Deus quanto homem. 

Para muitas pessoas, essa afirmação parece estar em total desacordo com o senso comum e, quando elas descobrem que nem mesmo a Bíblia oferece uma explicação completa e suficientemente clara de como é possível que Jesus seja Deus e homem ao mesmo tempo, elas acabam se sentindo impelidas a ver essa afirmação como mero mito primitivo. Mas, como acabamos de ver, essa é uma reação muito pouco científica.Aqueles que se encontraram com Jesus Cristo pessoalmente, quando ele esteve aqui na Terra, descobriram antes de qualquer outra coisa que ele era genuinamente humano. 

Ao mesmo tempo, eles perceberam que ele apresentava e realizava fenômenos indiscutíveis que demonstravam que ele era muito mais do que um simples ser humano. E a explicação oferecida pelo próprio Jesus Cristo era que ele era, simultaneamente, tanto homem quanto Deus. Se perguntarmos como podem esperar que acreditemos nessa explicação, o Novo Testamento nos indicará algumas investigações e experiências que podem ser feitas para averiguar a veracidade dessa explicação e provar que ela é verdadeira (João 7:16-17; 20:30-31). 

Na verdade, o Novo Testamento afirma que Jesus não só foi uma figura histórica real, mas também que, tendo ressuscitado dos mortos, ele é uma pessoa que está viva agora e com a qual nós podemos entrar em contato a qualquer momento. 


POR QUE LER O NOVO TESTAMENTO? 

Mas aqui alguém poderia contestar: "Eu não vejo nenhum proveito em ler o Novo Testamento. De fato, para que o Novo Testamento me beneficiasse de alguma forma, eu teria que acreditar que ele é verdadeiro mesmo antes de lê-lo. E, já que eu não acredito que ele seja verdade, não faz sentido que eu o leia". 

Mas essa objeção repousa sobre um mal-entendido, pois ninguém tem de acreditar no Novo Testamento antes de ter de fato lido o que ele diz. Por outro lado, se você nunca leu o Novo Testamento de forma séria, você jamais poderá afirmar, de forma honesta e científica, que ele não é verdadeiro. Você não faria algo assim com, por exemplo, jornais. Por ter lido muitos jornais, você sabe que é bem provável que eles contenham informações que não são verdadeiras. Mas nem por isso você se recusa a ler um jornal. 

Você os lê, confiante de que será capaz de distinguir a verdade da mentira, e, quando percebe que não pode fazer isso, você simplesmente deixa de emitir um julgamento. Leia o Novo Testamento da mesma forma, e então, quando tiver terminado a leitura, e só após isso, decida por você mesmo se Jesus falou ou não a verdade. É impossível ter fé em Jesus a menos que primeiro você ouça o que ele tem a dizer; se recusar a ouvi-lo não é um sinal de coragem intelectual, e sim de obscurantismo. 

É claro que as questões que estão em jogo são muito maiores e muito mais importantes do que aquelas com que nos deparamos, quando lemos uma notícia em um jornal. Na verdade, como vimos no início deste capítulo, a primeira condição para a salvação, tal como ensinada pelo Novo Testamento, é a confissão de Jesus Cristo como Senhor. Isso, naturalmente, implica aceitar a Jesus como seu Senhor e Mestre pessoal, bem como estar disposto e preparado para confessá-lo como tal, perante o mundo todo. Mas isso envolve ainda mais do que isso. No Antigo Testamento, Deus diz: "Eu, eu sou o SENHOR, e fora de mim não há Salvador" (Isaías 43:11). 

"O Senhor" é um sinônimo para Deus, o Criador. Se Jesus não fosse esse Senhor, se ele não fosse Deus em uma forma humana, ele não poderia salvar ninguém. Essa é uma alegação extraordinária, e o Novo Testamento, certamente, não nos pede que acreditemos nela sem nos fornecer evidências que possam fundamentar nossa fé. Então, o que devemos perguntar é: que evidências existem que justifiquem a crença de que Jesus é o Senhor nesse sentido? 


A EVIDÊNCIA DAS DECLARAÇÕES FEITAS PELO PRÓPRIO CRISTO 

Em um primeiro momento, pode soar ingênuo, mas a principal razão para acreditarmos que Jesus é o Filho de Deus é que ele próprio afirmou isso. Tal suscita a questão da veracidade e honestidade dele. E isso é muito adequado, já que, mesmo quando todas as evidências demonstram de forma inequívoca a sua divindade, a questão mais fundamental com que temos que lidar e cuja resposta temos de decidir quando confrontados com Jesus Cristo é: ele é verdadeiro? Ele fala a verdade? 

Que credibilidade podemos dar à expressão "Em verdade, em verdade, vos digo", tão frequentemente utilizada por ele? A situação é a mesma com Deus. A última pergunta não é "Deus existe?" mas, sim, "Deus é verdadeiro? Será que devemos confiar nele?" O apóstolo Tiago afirma com uma certa ironia que os demônios creem que há um só Deus (Tiago 2:19). 

Mas eles não confiam nele nem lhe obedecem. Da mesma forma, muitas pessoas que acreditam na existência de Deus, não confiam nele, nem estão dispostas a dedicar sua vida neste ou no mundo por vir com base na veracidade da palavra dele. Eles sentem que não conseguem fazer isso."Mas você não pode esperar que nós acreditemos", pode dizer alguém, "que Jesus é o Filho de Deus apenas porque ele mesmo disse que era. Isso não faz sentido. Não é racional." 

Os contemporâneos de Cristo levantaram a mesma questão: "Tu testificas de ti mesmo", disseram eles; e, partindo dessa afirmação, chegaram a esta conclusão: "o teu testemunho não é verdadeiro" (João 8:13).Cristo imediatamente contestou de forma desafiadora essa conclusão injustificada:"Ainda que eu testifico de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro, porque sei de onde vim e para onde vou; mas vós não sabeis de onde vim, nem para onde vou" (João 8:14).Ele estava, é claro, se referindo ao céu, o lugar de onde ele havia vindo e para o qual ele logo retornaria.Ele falou com a autoridade da experiência pessoal. Não havia nenhuma justificativa para concluir que, apenas porque ele era o único que podia falar dessas coisas, o testemunho dele necessariamente não era verdadeiro.

Vamos fazer uma analogia. As pessoas que viviam na bacia do Mediterrâneo há três mil anos sustentavam que era incontestável que, se alguém se colocasse diante do sol do meio-dia, seria correto dizer que o sol havia nascido à esquerda dessa pessoa e que se poria à direita dela. Agora, suponha que em um belo dia chegasse na bacia do Mediterrâneo um sul-africano solitário, o primeiro homem da África do Sul a visitar aquele lugar. Esse homem poderia dizer que, no país de onde ele veio, se alguém se coloca diante do sol do meio-dia, é correto dizer que o sol nasceu à direita dessa pessoa e se pôs à esquerda dela. 

A questão é a seguinte: as pessoas que vivem no Mediterrâneo estariam certas se acreditassem nele? As palavras dele seriam contrárias a tudo o que eles já haviam experimentado e iriam contra a ciência e a cosmologia então vigente. Eles poderiam muito bem dizer a ele: "Você é a única pessoa que já nos disse isso. E nós não podemos acreditar nisso só porque você está dizendo. O seu testemunho não é válido. Não podemos acreditar que existe um país onde o sol se comporta da forma que você está dizendo".

E, então, ele poderia responder: "Mesmo que eu seja o único que já disse isso, o meu testemunho é verdadeiro. 

Eu sei de que país eu vim e para o qual eu devo voltar. Mas vocês não conhecem o meu país". E ele estaria certo. Seu testemunho era válido e, se eles tivessem acreditado no que ele disse, eles teriam apenas acreditado no que era a verdade.É claro que seria muito difícil para os mediterrâneos acreditar no que o sul-africano desconhecido estava dizendo, pois, naquela época, havia muitos contos de viagens que narravam histórias fantásticas, sobre pessoas que estiveram nos confins da Terra e que lá viram coisas fantásticas e maravilhosas. Nenhum desses contos era verdadeiro. 

Não passava de pura imaginação. Como eles poderiam, então, distinguir os contos de viagem daquilo que o sul-africano estava dizendo? E como nós podemos distinguir as palavras de Cristo das lendas e das superstições religiosas?O próprio Cristo respondeu a essa pergunta, indicando que, embora suas próprias afirmações fossem válidas em si mesmas, havia evidências adicionas que corroboravam o que ele dizia: e essas evidências eram os seus milagres (João 5:36). Ele realizava coisas que ninguém jamais havia realizado (João 15:24). E é dessas coisas que ele realizava, desses milagres que iremos tratar no próximo capítulo. 


A. A EVIDÊNCIA DOS MILAGRES DE CRISTO 

Concluímos o capítulo anterior dizendo que as declarações de Cristo são confirmadas pelos milagres por ele feitos. O Novo estamento chama os seus milagres de sinais, porque eles apontam para a verdade em sua afirmação de ser o Filho de Deus:"Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome" (João 20:30-31).

Alguém pode dizer: tudo bem, mas quais evidências nós temos de que os milagres registrados nos Evangelhos realmente aconteceram? Nós não estávamos lá para vê-los acontecer. Como podemos ter certeza de que esses registros são verdadeiros? E qual era o objetivo desses milagres? A Bíblia não alega que outras pessoas, como Elias, também fizeram milagres? E isso não prova que qualquer um deles era o Filho de Deus. Então, como os milagres de Cristo provam que ele é?Para termos as evidências históricas de que Jesus realmente realizou milagres, dependemos do testemunho dos apóstolos cristãos. 

Não temos nenhuma razão convincente para não confiar neles, pois a ideia de que milagres são impossíveis não foi comprovada pela ciência, é uma norma não provada e improvável em certas ideologias (mas não todas).

A questão, então, não é científica, mas histórica: o testemunho dos apóstolos é confiável?Podemos ter certeza, em primeiro lugar, de que os apóstolos não eram mentirosos deliberados e conhecedores. O apóstolo João estabelece isso, quando ensina que, "nenhuma mentira vem da verdade" (1 João 2:21). 

As mentiras, em sua opinião, eram inaceitáveis, mesmo que o propósito fosse a propagação da verdade maior e totalmente incompatíveis com quem dizia ser a Verdade (João 14:6) e com quem proibiu todos os falsos testemunhos (Mateus 5:33-37). 

Quando, portanto, João nos diz que ele e seus companheiros apóstolos viram Jesus fazer milagres diante de seus olhos, fica claro que ele crê estar registrando eventos históricos reais.Em segundo lugar, devemos observar a afirmação de João de que, quando ele registra os milagres de Jesus, ele não está simplesmente repetindo boatos. Ele e os seus companheiros apóstolos foram testemunhas em primeira mão. 

Os milagres que eles relatam foram feitos na presença dos seus discípulos.Mas, em terceiro lugar, e mais importante, devemos observar a natureza dos milagres de Cristo. Eles não eram apenas eventos históricos. Eles nos apresentam outro tipo de evidência, que nos desafia ainda hoje com um imediatismo que transcende a história. 

O grego do Novo Testamento nos alerta para isso. Os milagres de Cristo, o Novo Testamento diz, não foram apenas obras de poder especial (em grego: dunamis), e não foram apenas maravilhas surpreendentes (em grego: teras) que prendia a atenção das pessoas: eles também foram sinais (grego: semeion) que apontavam além de si mesmos, para algo muito mais importante do que o milagre físico em si.

Veja, por exemplo, o milagre da alimentação dos cinco mil (João 6). Em seu primeiro nível de significância, isso foi realizado por Cristo a partir de sua compaixão para com a fome das pessoas físicas. Mas esse não era a sua única, nem mesmo a sua principal, finalidade. As pessoas, naturalmente, ficariam com fome no dia seguinte também. Mas o próprio registro nos conta que, quando eles, vindo a Jesus, clamaram por uma repetição desse milagre físico, ele recusou-se a repeti-lo. Por quê? Se ele tinha esses poderes milagrosos, por que ele não iria usá-los dia após dia, até que a fome física fosse banida da Terra? E por que ele não continua fazendo isso hoje? Porque, conforme ele disse, eles não tinham conseguido ver, ou então estavam deliberadamente ignorando, o objetivo maior, o significado desse sinal miraculoso (João 6:26). 

O milagre foi feito para alertá-los não só para o fato de que Jesus era o seu Criador em forma humana, mas também que ele havia descido do céu para oferecer-se a eles como o Pão da Vida para satisfazer sua fome espiritual. O estômago, sendo material, pode ser satisfeito com as coisas materiais. Mas o espírito humano, derivando de Deus, que é espírito, não pode nunca ser totalmente satisfeito com as coisas materiais, nem com os prazeres meramente estéticos ou intelectuais. Ele precisa da comunhão com uma pessoa, e ninguém além do seu Criador. Sem ele, o espírito humano está condenado à fome perpétua, que nem dez mil milagres físicos nunca saciariam.


TESTANDO A VERACIDADE DOS MILAGRES 

Nesse nível, nós podemos testar a veracidade da história desse milagre por conta própria. Ela nos oferece um diagnóstico da necessidade humana. Ela nos diz que nós estamos espiritualmente famintos, conscientemente ou não do que (ou de quem) estamos famintos. Isso é verdade? Nós conhecemos nossos próprios corações, nós podemos decidir, cada um por si mesmo, se esse diagnóstico é verdadeiro.

É claro, multidões foram treinadas e ensinadas para suprimir sua fome espiritual. Alguns foram bem-sucedidos e honestamente afirmam que eles não sentem nenhuma angústia de fome espiritual. Mas isso pode ser um sintoma alarmante. Somos informados de que, quando as pessoas estão morrendo de fome fisicamente, sem qualquer alimento, no início, é muito doloroso. 

Mas, depois de um tempo, a dor vai embora e não volta até que a morte seja iminente e inevitável. Pode ser do mesmo modo com fome espiritual e sua fase final, a segunda morte.Mas para aqueles que reconhecem sua fome espiritual, Cristo se oferece como o Pão Vivo. Eles clamam pela dimensão espiritual de vida que é a comunhão eterna com Deus, que começa aqui na Terra e se estende para além da nossa morte, no paraíso de Deus?Cristo garante que ele pode dar isso (João 6:28-58). 

Será que eles anseiam ter seu espírito livre da sombra projetada sobre ele pela culpa e pela escravidão do pecado? Cristo, por sua morte, pode lhes dar isso também (João 8:31-36).

Como então podemos saber que é verdade, que ele é, como ele diz ser, o nosso Criador em forma humana? Da mesma forma como se sabe que um pedaço de pão pode realmente satisfazer a fome física. 

Ao vir a ele, confiando nele, tomando-o, comendo-o. Então, para aqueles que reconhecem a verdade de seu diagnóstico de sua fome espiritual, Cristo diz:"Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede" (João 6:35).Aqueles que vêm até ele e creem descobrem que ele é a verdade.Mas agora voltamos para outro tipo de evidência um pouco diferente da fornecida pelos milagres de Cristo. 


B. A EVIDÊNCIA FORNECIDA PELA MORTE DE CRISTO 

De acordo com o Novo Testamento, não são apenas, nem sequer principalmente, os milagres de Cristo que são planejados por Deus para motivar nossa fé nele, mas, sim, a morte de Cristo na cruz:"Porque os judeus pedem sinal (isto é milagre), e os gregos buscam sabedoria; mas nós pregamos a Cristo crucificado... Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado... Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus" (1 Coríntios 1:22-23; 2:2, 5; 1:18).

Como, então, a cruz de Cristo provoca nossa fé de que ele é nosso Criador encarnado, o Filho do Deus vivo? Ela faz isso porque a cruz do Filho de Deus revela como Deus realmente é.Obviamente, se os nossos corações irão acreditar em Deus, amá-lo e confiar nele, precisamos primeiro saber como é o coração de Deus. A filosofia não pode nos dizer isso. Ela pode especular sobre Deus, mas não pode nos dizer o que está em seu coração. (Ela não pode nem sequer nos dizer o que está acontecendo no coração do homem ao lado.) A criação de Deus também não pode fazer isso. 

Ela pode nos deixar ver o poder dele, mas não pode, de forma inequívoca, nos mostrar o coração de Deus. Se fôssemos conhecer como é a atitude do coração de Deus a nosso respeito, então Deus precisava tomar a iniciativa e se revelar, de modo que nós, seres humanos, possamos entender. Daí a encarnação, o Verbo de Deus feito carne.Mas nesse ponto Deus teve um problema, por assim dizer, e era um problema que Cristo apontou para seus contemporâneos. 

Eles sugeriram, de modo um pouco cínico, que, para ganhar a confiança e o apoio do público, deveria tentar obter o máximo de publicidade possível e praticar uma grande sucessão de milagres espetaculares. Mas eles não contavam com uma dificuldade fundamental. "O mundo não vos pode odiar", ele disse, "mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más" (João 7:1-7). 

Seu testemunho nasceu não da hipocrisia orgulhosa, nem da misantropia de uma mente estreita e atrasada. Ele era a expressão perfeita de Deus, a própria comunicação de Deus em termos humanos. Portanto, inevitavelmente ele revelou a santidade de Deus de uma forma sem precedentes e, quanto mais ele fazia isso, mais exposta a natureza pecadora do homem ficava, mais ressentidas as pessoas ficavam e mais elas resistiam às alegações sobre ele ser o Filho de Deus.Mas isso é compreensível. Se um amigo seu diz que algo que você fez foi um ato malvado e desprezível, você pode muito bem ressentir-se em um primeiro momento, então, depois de um tempo, você pode se consolar com o pensamento de que aquela era apenas a opinião dele e que ele não tem o direito de criticá-lo. Então você decide ignorar seu comentário e continuar sendo seu amigo. 

Mas se alguém lhe diz que você é um pecador digno do juízo de Deus e depois acrescenta: "E eu, que estou lhe dizendo isso, sou o Filho de Deus", sua reação natural muito provavelmente seria, primeiro, de ridicularizar sua pretensão de ser o Filho de Deus e, depois, se ele insistir nisso, resistir de forma consistente, porque, se ele estiver certo, você estará condenado.O antigo poeta latino, Lucrécio, que, em um longo e majestoso trabalho, expôs a antiga teoria atômica grega e a teoria da evolução em curso para o benefício de seus companheiros romanos, confessa na introdução o porquê de essas teorias apelarem a ele de modo tão poderoso (De Rerum Natura, Livro I). 

Em primeiro lugar, elas pareciam provar-lhe que na morte tudo termina: não há vida após a morte, e esta, por sua vez, o deixava livre de todas as perspectivas e medos de punição por seus pecados na vida que estaria por vir. Ele, portanto, pregou essas teorias com o fervor de um evangelista.E ainda é assim com muitas pessoas. Admitir a declaração de que Cristo é o Filho de Deus e, juntamente com isso, eles sentiriam o medo de um Deus santo, de um julgamento final e de castigo para o pecado. Eles, portanto, resistem à alegação e determinam que não estão convencidos. Sendo assim, Cristo, ao realizar toda uma sucessão de milagres que eram pura e simplesmente exposições de poder sobrenatural, a tendência seria aumentar o medo das pessoas, reforçando a sua resistência e levando-as a procurar explicações alternativas do poder de Cristo. 

Assim sendo, Deus não se apoiou apenas nos milagres de Cristo para ganhar o coração humano, mas em sua cruz. O próprio Cristo acalmou a hostilidade de seus oponentes que estavam enfurecidos com ele com sua exposição de seus pecados:"Quando levantardes (isto é, crucificardes) o Filho do Homem, então, conhecereis quem EU SOU (seu Deus, Criador e Senhor) e que nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou" (João 8:28)

Pela cruz de seu Filho, Deus, é claro, expõe nosso pecado. E não apenas o expõe, mas o exibe diante dos olhos de todo o universo. Vejamos o estranhamento e a rebelião do coração humano, que crucificaria o Criador, dada a oportunidade pela encarnação de Deus, como de fato aconteceu. Por meio da cruz de seu Filho, Deus também, é claro, demonstra sua santidade inflexível. O pecado não pode fazer nada a não ser se sujeitar a seu desagrado inflexível. 

O pecado deve ser punido.Mas, ao mesmo tempo, e, acima de tudo, pela morte de seu Filho, Deus mostra todo o seu coração para as suas criaturas. Apesar de terem sido enganados por Satanás e terem se tornado seus inimigos devido ao pecado, Deus permanece fiel a eles. Ele os ama com um amor que somente o Criador poderia ter por suas criaturas. Ele não deseja que qualquer um deles pereça, mas que todos venham a arrepender-se (2 Pedro 3:9). 

Em vez de que eles pereçam sob a penalidade do pecado, ele se dispõe a pagar essa pena pelo custo dos sofrimentos de seu Filho Divino e assim ser justo e livre para oferecer a todos a redenção, completa e eterna.A cruz proclama que Deus deseja que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade, isto é, que descubram o que Deus realmente é e como ele se sente em relação ao homem. Para mostrar ao mundo como é o coração do Pai, o Filho deu a si mesmo em resgate de todos, para que os anseios do amor de Deus pudessem ser alcançados (1 Timóteo 2:3-6). 

Seu perfeito amor anseia expulsar todo o nosso medo (1 João 4:18).A cruz de Cristo é, portanto, a mais completa expressão do amor de Deus que já existiu e que jamais existirá. Nem todas as delícias do céu podem manifestar o amor de Deus de forma mais completa do que o oferecer de seu Filho no Calvário. Nesse sentido, essa é a última mensagem de Deus, ele não tem nada mais poderoso ou mais glorioso que poderia ganhar a nossa fé e o nosso amor.A questão é se podemos reconhecer o amor de Deus, quando o vemos. As ovelhas, ainda que sejam criaturas humildes, podem instintivamente reconhecer o amor e os cuidados de um pastor genuíno, quando se deparam com ele. 

Ele disse:"Eu sou o bom pastor, o bom Pastor dá a sua vida pelas ovelhas" (João 10:11). "Conhecemos o amor nisto", diz o apóstolo João (1 João 3:16), "que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos" (1 João 3:16). 

"Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido... e dou a minha vida pelas ovelhas... Por isso, o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la" (João 10:14-17).

A questão, portanto, é: "Este Jesus, que foi crucificado e que morreu na cruz por nós (conforme ele diz), é o Filho de Deus?" Essa questão é única. 

Nenhum outro líder religioso ou fundador de uma religião mundial nunca vai estar diante de você e, dirigindo-se diretamente ao seu coração, dizer: "Eu sou o seu Criador. E, por ser seu Criador, eu o amo como você é, apesar dos seus pecados. E a evidência disso é: eu morri por você."

A afirmação de Cristo é extraordinária. Mas há ainda mais evidências para mostrar que isso é verdade. E nós as consideraremos no próximo capítulo.


Por John Lennox

9. FÉ: Uma Resposta às Evidências

É de conhecimento comum que a ressurreição de Jesus Cristo é central para o cristianismo.

Também é evidente, a partir do Novo Testamento, que a ressurreição de Cristo e sua ascensão ao céu não eram doutrinas teológicas difíceis, que os primeiros cristãos precisaram se esforçar para acreditar.

Esses foram dois eventos poderosos que desencadearam um poder enorme, que transformou os primeiros discípulos, que eram pessoas assustadas, em pregadores irrepreensíveis do evangelho. Sua fé não sofreu nenhum abalo com a ressurreição de Cristo, mas, sim, um aumento incrível. Ela os levou a conhecer a realidade do Deus vivo, como nunca antes. 

Veja o que eles falaram:"E por ele (Jesus Cristo) credes em Deus, que o ressuscitou dos mortos e lhe deu glória, para que a vossa fé e esperança estivessem em Deus" (1 Pedro 1:21).

Sua esperança aumentou muito também. Sem Deus, a morte é o fim de toda a esperança, a indignidade final para o corpo, o absurdo final e a frustração que encerra toda a luta pelo progresso. Mas a ressurreição de Cristo mudou tudo isso. O apóstolo Pedro diz: "Deus... nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós" (1 Pedro 1:3-4).

Os cristãos logo viram que a ressurreição do Homem, Jesus Cristo, abriu a porta da glória eterna para toda a humanidade redimida. A ressurreição de Cristo foi, portanto, o protótipo e a promessa de sua própria ressurreição (1 Coríntios 15:20-23).

Além disso, a ressurreição de Cristo produziu um fenômeno notável: os primeiros cristãos, mesmo aqueles que nunca tinham visto Jesus, o amaram verdadeiramente. Ouça como eles falaram sobre isso:"Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso" (1 Pedro 1:8).

Se alguém disser: "Eu amo Tchaikovsky", você acharia que ele quis dizer "Eu amo a música de Tchaikovsky", não "Eu amo Tchaikovsky como pessoa". 

Ninguém entenderia que essa pessoa quis dizer que ama Tchaikovsky como pessoa, isso não faria sentido. Tchaikovsky está morto, e você não pode amar uma pessoa morta. Uma viúva normalmente diz: "Eu amava o meu marido", mas não "Eu amo o meu marido".

Mas é assim que todos os cristãos falam de Cristo. Para eles, Jesus não é apenas uma figura histórica, um professor de moral do passado, ele é uma Pessoa viva. Embora eles nunca tenham visto a ele, eles o amam, falam com ele (em oração), ouvem-no falar na mente com eles (através da Bíblia), cantam para ele, adoram-no, e vivem sua vida pelo poder dele e para agradar a ele. Esse é o tipo de fé que a realidade da ressurreição produz."

Mas isso não é necessariamente uma realidade", alguém pode dizer. "Toda esta experiência ocorre em pessoas que assumem primeiro que a ressurreição de Cristo é um fato histórico. Eles se persuadem a crer que Jesus está vivo, formam uma imagem mental dele idealizada e se apaixonam por essa imagem. Certamente é apenas uma pura fantasia subjetiva, pois quais são as evidências históricas objetivas de que Jesus realmente ressuscitou dos mortos?"

A resposta são evidências muito poderosas e cumulativas de várias espécies, de um grande número de fontes diferentes. Nós podemos dar exemplos aqui.

1. A prova do túmulo vazio. 

Está bastante claro, a partir dos registros do Novo Testamento, que os primeiros visitantes ao túmulo de Cristo, no domingo, depois que ele foi enterrado, esperavam encontrar seu corpo ainda no túmulo. Eles tinham vindo com especiarias para embalsamar o corpo, com a intenção de, por esse processo, preservar o corpo morto enquanto podiam.

Quando eles relataram aos apóstolos que eles haviam encontrado o túmulo vazio, os apóstolos ficaram admirados, e João e Pedro imediatamente correram ao sepulcro para tentar descobrir o que realmente aconteceu (João 20:1-10). Eles nos dizem o que eles encontraram. A sepultura não estava exatamente vazia.O corpo havia desaparecido, mas as roupas fúnebres que haviam sido enroladas em torno do corpo, da forma que ocorria em um enterro judaico, ainda estavam lá na posição que ocupavam, quando o corpo ainda estava dentro das vestes, exceto pelo fato de que agora elas estavam vazias e planas. Os panos que haviam sido colocados em volta da cabeça estavam levemente distantes das outras roupas na borda rasa do túmulo, que foi projetado como uma almofada para apoiar a cabeça do cadáver.

Esses dois discípulos dizem-nos que esta foi a primeira evidência que os fez acreditar que Jesus deve ter ressuscitado dos mortos: o corpo havia transpassado as roupas, deixando-as sem perturbações. Que outra explicação poderia haver? Eles sabiam que nenhum dos outros apóstolos tinha removido o corpo, nem poderia, nem ninguém teria feito isso, já que as autoridades haviam posto uma guarda de soldados em volta do túmulo precisamente para este fim: impedir que alguém roubasse o corpo para fingir uma ressurreição.

Foram os soldados que, ao descobrir que o corpo não estava mais lá, espalharam o boato de que os discípulos vieram e roubaram o corpo enquanto dormiam (Mateus 27:62-66; 28:11-15). Mas isso nos leva a pensar que, em face dessa alegação, como eles poderiam ter visto o que aconteceu, se eles estavam dormindo? Porém, em um nível mais profundo, é difícil acreditar que alguns discípulos passariam pelos guardas, depois tirariam a lápide pesada na entrada do túmulo, roubariam o corpo, escondê-lo-iam, e então, deliberadamente inventariam a mentira de que Jesus tinha ressuscitado dos mortos. É difícil acreditar nisso devido às seguintes duas razões.


2. O comportamento dos apóstolos quando submetidos à pressão. 

Charles Colson foi um dos assessores do ex-presidente Nixon. Ele inventou uma história falsa para encobrir o ato criminoso do Presidente ao invadir as instalações de seus adversários políticos – o chamado caso Watergate.Por um tempo, esses homens durões mantiveram a sua história falsa. Mas, quando a pressão surgiu, e eles foram ameaçados de punições severas, eles se traíram um após o outro e confessaram a verdade. Eles perceberam que não podiam sofrer por uma mentira que eles próprios tinham inventado.

Colson tira essa conclusão a partir de sua própria experiência. Os apóstolos não eram homens sofisticados, política e diplomaticamente. Se a sua história da ressurreição foi uma mentira de sua própria invenção, então, quando uma enorme pressão veio sobre eles, como de fato ocorreu, eles não poderiam ter mantido a solidariedade: um ou outro deles teria cedido e confessado que a coisa toda era uma fraude. Mas nenhum deles fez, nem mesmo quando eles viram muitas pessoas perseguidas e executadas inocentemente por acreditar em sua história da ressurreição, nem mesmo quando eles próprios sofreram o martírio.

No entanto, suponha que admitimos que eles poderiam ter mantido a solidariedade sob pressão, como é que a sua história teria convencido um homem como Saulo de Tarso?


3. O testemunho de Saulo de Tarso. 

Costuma-se dizer que as evidências da ressurreição de Cristo são seriamente enfraquecidas pelo fato de que todas elas vêm de cristãos. Afirma-se que nenhum descrente já testificou que Jesus ressuscitou dos mortos. Bem, claro que não. Todos os não-cristãos que se tornam convencidos da ressurreição de Cristo tornaram-se, naturalmente, cristãos. Mas o ponto que devemos entender é que eles não eram cristãos antes de eles se convencerem da ressurreição, e foi a ressurreição que os convenceu.

Saulo de Tarso é um caso famoso disso. Antes de sua conversão, ele não só se recusou a acreditar em Jesus e em sua ressurreição relatada: ele vigorosamente perseguiu todos os que o fizeram. Então, a eventual conversão de Saulo de Tarso é um evento histórico inquestionável. O mundo ainda traz as marcas do grande impacto disso. O que, então, causou sua conversão? O Cristo vivo e ressuscitado, diz Saulo, que ele pensava estar morto e enterrado, encontrou-o no caminho de Damasco (Atos 9).

Alguém pode argumentar que Saulo era um caso muito especial. Mas ele não foi o único a ser convencido da ressurreição pela experiência pessoal de Cristo ressuscitado.


4. O comportamento das mulheres cristãs. 

As primeiras pessoas a visitar o túmulo de Cristo no terceiro dia eram mulheres cristãs que vieram para embalsamar o corpo. Podendo agir como quisessem, elas, sem dúvida, transformariam o túmulo em um santuário e um local de peregrinação, como tem sido feito por muitos outros líderes religiosos e como foi feito, de fato, mais tarde, pelas gerações supersticiosas da cristandade.

Mas essas mulheres não fizeram isso. Elas, e todos os primeiros cristãos, praticamente abandonaram o túmulo. Por quê? Porque o túmulo estava vazio, e elas encontraram o Senhor Jesus em pessoa, ressuscitado dos mortos. Ninguém faz um santuário em torno de alguém que está vivo! (Mateus 28:1-10; João 20:11-18).


5. O depoimento de testemunhas oculares. 

A Primeira Epístola aos Coríntios é uma das primeiras cartas de Paulo. No capítulo 15 (versículos 3-8), ele resume o evangelho. Ele inclui não apenas a proclamação de que Cristo ressuscitou dos mortos no terceiro dia, mas uma lista de testemunhas que tinham realmente visto Cristo após sua ressurreição. Essa lista não pretende ser exaustiva, mas isso mostra que as pessoas de tipos de personalidade muito diferentes foram testemunhas oculares. 

As circunstâncias em que eles viram o Cristo ressuscitado também foram variadas: algumas pessoas estavam sozinhas, algumas em pequenos grupos, outras em grupos de mais de 500. Nós aprendemos em outro lugar que Cristo apareceu para algumas pessoas à tarde e com portas fechadas (João 20:19-23), para outras, em plena luz do dia em um lado da montanha (Mateus 28:16-20), para outras pela manhã, à beira do lago perto de seus barcos de pesca (João 21) e para outras, ainda, em uma viagem (Lucas 24).

Seria difícil argumentar que todas essas personalidades variadas foram vítimas de alucinação ou hipnotismo em massa.

Há ainda muito mais evidências históricas que poderiam ser citadas. Mas devemos considerar outra objeção: "De acordo com o Novo Testamento, os apóstolos tiveram de ver e tocar fisicamente o Cristo ressuscitado antes de estarem preparados para acreditar em sua ressurreição. Como, então, você pode esperar que eu acredite, a menos que eu também possa vê-lo e tocar nele?"

A objeção é compreensível, mas não é tão razoável quanto pode parecer. Vamos usar uma analogia. Suponha que eu venho de um país muito primitivo e nunca tive contato com a luz elétrica. Quando eu visitar seu apartamento, você diz: "Pressione o interruptor na parede do seu quarto, e uma luz se acende". 

Eu pergunto: "Como é possível?" 

Você responde: "A luz é produzida pela eletricidade que vem de um edifício chamado de estação de energia que está a quilômetros de distância". 

Eu pergunto: "Você já viu essa eletricidade?" "Não", você diz. "Você já viu a estação de energia?" "Eu nunca estive lá", você admite. 

Posso perguntar, "Por que, então, você acredita nesta estação de energia e nessa energia, o que quer que ela seja?" 

Você pacientemente explica: "Quando nos mudamos para o apartamento, um homem que nos visitou disse que veio da estação de energia. Ele explicou que o nosso apartamento estava desconectado da fonte de eletricidade, mas ele estava indo de volta para a estação de energia e iria conectar-nos. A eletricidade então iria fluir e, quando o botão fosse pressionado, a luz viria. Nós acreditamos no que ele disse, apertamos o botão, e a luz veio. Então, agora vá para o seu quarto, pressione o interruptor, e a luz vai acender em seu quarto também".

Suponha que eu respondo: "Não, eu não estou preparado para fazer isso. Eu poderia acabar me enganando e imaginando que eu vi a luz. Eu insisto que, antes, eu veja o homem da estação de energia por mim mesmo, assim como você fez antes de pressionar o botão." Você provavelmente acharia que eu sou louco.

Os apóstolos nos dizem que Jesus lhes informou, antes de morrer, e depois que ele ressuscitou dos mortos, que ele iria deixá-los, deliberadamente. Ele estava voltando para o Pai, de quem ele tinha vindo, para que ele pudesse enviar-lhes o Espírito Santo (João 16:7-14,28). 

Eles deviam esperar em Jerusalém alguns dias e depois iriam receber o Espírito Santo. Ele, então, deixou-os e subiu ao céu (Atos 1:4-9). Eles creram e esperaram conforme Jesus lhes disse e depois receberam o Espírito Santo e com ele a luz, a paz e o poder para viver uma vida em comunhão diária com Deus.

Eles, então, disseram a seus contemporâneos que se houvesse arrependimento de seu pecado e crença em Cristo, eles também receberiam o Espírito Santo (Atos 2:38). Eles não iriam nem poderiam ver o Espírito Santo, mas eles teriam sua luz e poder. Os apóstolos nos dizem o mesmo hoje. Eles mesmos precisaram ver o Cristo ressuscitado, para que pudessem ser capazes de assegurar ao mundo que ele era o mesmo Jesus com quem eles viveram por três anos (Atos 1:21-22). Mas nós não precisamos ver "o homem da estação elétrica". 

Podemos descobrir que ele está realmente vivo sem vê-lo. Pressione o interruptor de arrependimento e de fé, e a luz e o poder do seu Espírito iluminarão os nossos corações.Nós temos uma outra salvaguarda contra o perigo do mero subjetivismo. A ressurreição de Jesus não foi a ressurreição de um homem qualquer. As Escrituras do Antigo Testamento eram o livro de Deus de instruções dizendo às pessoas o que elas deviam esperar que o Salvador fizesse quando ele viesse. 

Ele teria primeiro de morrer como sacrifício nomeado de Deus pelos pecados do mundo. Deus então validaria esse sacrifício, ressuscitando-o dos mortos (Isaías 53:4-6,10-12). 

Jesus afirmou ser esse Salvador. É por isso que o evangelho cristão não é meramente que Cristo morreu e ressuscitou. É que "Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras... e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3-4). 

Leia as Escrituras e então prove com a ação apropriada que este evangelho é verdadeiro.


Por John Lennox

10. FÉ: Uma Questão de, em Quem Confiar

Até agora, nos capítulos sobre o conceito de fé, temos considerado os motivos pelos quais somos convidados a acreditar no fato de que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. A Bíblia nos adverte honestamente que acreditar nesse fato pode envolver as pessoas em considerável sofrimento. Assim, a fé necessita de um rumo bem definido sobre o que exatamente se acredita. Se Jesus é realmente o Filho de Deus, Filho do Dono do universo, Criador e Possuidor de todas as coisas, então qualquer perda ou sofrimento que incorrer por causa dele não é nada comparado com o que temos nele. Por outro lado, se Jesus não é o Filho de Deus, seria insensato incorrer em qualquer sofrimento ou prejuízo por sua causa.

Mais uma vez, algumas pessoas, por exemplo, vão dizer: "Nós acreditamos em Cristo e em todas as outras religiões também". Mas tal mente aberta é perigosamente ilógica.A fé em Cristo, de acordo com o Novo Testamento, significa acreditar que:"Há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos" (1 Timóteo 2:5-6).
Significa acreditar que:"Em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há... pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12).
Significa acreditar que o seu sacrifício pelo pecado é totalmente suficiente. Nenhum outro sacrifício é possível, nem é necessário outro (Hebreus 10:11-12). Alegar acreditar em Cristo como Salvador e em algum outro salvador também, não é a fé (nem mesmo inteligência), mas, sim, incredulidade.

Mas a verdadeira fé cristã não significa apenas crer em certos fatos: ela também significa acreditar, confiar e comprometer-se inteiramente com uma Pessoa, isto é, o nosso Senhor Jesus Cristo. Infelizmente, há muitas pessoas que acreditam no fato de que Jesus é o Filho de Deus e Salvador do mundo, mas que não se comprometeram completamente com ele, para que sejam pessoalmente salvos. Curiosamente, esta é a tentação a que as pessoas religiosas (embora, é claro, não só elas) estão particularmente propensas.

Alguns não sentem necessidade de comprometer-se pessoalmente com Cristo. Elas estão confiantes de que o registro de suas tentativas honestas para guardar a lei de Deus e seu uso regular dos sacramentos da igreja é o suficiente. Elas parecem ignorar o lembrete austero de Deus que todos que confiam na lei estão debaixo de uma maldição (Gálatas 3:10-12).

Alguns têm medo de comprometer-se unicamente com Cristo por sua salvação. Eles sentem que Cristo faz a sua parte em nos salvar, mas nós também temos de fazer uma quantidade considerável para nos salvar. Eles acham que isso é um trabalho bastante difícil e creem que, mesmo assim, eles nunca saberão com completa certeza de que isso vai ser o suficiente para salvá-los no final. 

Eles precisam ouvir de novo as palavras libertadoras do Novo Testamento:"Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei... Mas, àquele que não pratica, porém, crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é imputada como justiça" (Romanos 3:28; 4:5).

Quando um salva-vidas nada para resgatar uma pessoa que está em perigo de afogamento, ele não necessariamente tenta salvar a pessoa no momento em que chega até ela. A razão para isso é que a vítima, em pânico, pode continuar lutando para se salvar, agarrando-se ao salva-vidas e, assim, tornar o resgate impossível. Então, o socorrista vai nadar ao redor da vítima mantendo uma pequena distância, até que a pessoa esteja esgotada e desista de lutar para se salvar. Então, nesse momento, o socorrista irá aproximar-se dela e efetuar o resgate. Muitas vezes Cristo tem de agir assim. Ele espera até que as pessoas descubram que não há nada que possam fazer para se salvar e, então, ele se apresenta a elas como o Salvador que realiza a salvação.

Outras pessoas têm um problema diferente. Percebendo que a salvação é pela fé, elas se esforçam arduamente para crer. Mas, apesar de todos os seus esforços para crer, elas sentem que sua fé não é forte o suficiente e, por isso, elas não têm certeza da salvação. Seu erro é que, consciente ou inconscientemente, elas estão tratando a fé como uma obra meritória, que irá qualificar para a salvação apenas se for forte o suficiente. Mas a salvação é um presente genuíno. A fé não é mérito para a salvação. A fé é a mão estendida e trêmula de um mendigo falido, que simplesmente pega um presente não merecido (Efésios 2:8-9).

Uma criança irá adormecer feliz nos braços de sua mãe, confiando em sua mãe para mantê-la segura. A fé da criança em sua mãe não gera merecimento dos cuidados da mãe, a criança também não tem de trabalhar arduamente a fim de desfrutar a segurança que o amor de sua mãe livremente lhe dá.

Por outro lado, a fé não é mera autoconfiança. Algumas pessoas, por exemplo, vão dizer: "Eu tenho muita fé de que, se eu faço o melhor que posso, Deus irá, no final, ter misericórdia de mim e me conceder a salvação". 

Mas essa fé não é o que o Novo Testamento quer dizer com fé, pois essa confiança é baseada, não em Deus e no que Deus diz, mas em opiniões próprias de quem declara isso. Essa confiança é, na verdade, perigosamente equivocada.

Suponha que uma mãe compre um remédio para seu filho. O rótulo diz que o medicamento só deve ser aplicado externamente: é venenoso se ingerido. Mas a mãe não se preocupa em ler o rótulo e faz seu filho tomar uma colher grande do medicamento. Ela se sente confiante de que o remédio vai fazer bem ao filho. Mas será que vai? Claro que não. A criança poderia morrer. Confiança, então, só é válida quando é baseada em Deus e no que Deus diz.

E aqui está outra diferença importante: a fé não é um sentimento. Muitas pessoas (embora não todas), quando confiam pela primeira vez em Cristo e recebem o perdão completo dos pecados e a certeza da salvação, sentem um grande alívio emocional e alegria. Isso é bom. Mas, depois de um tempo, esses sentimentos desaparecem naturalmente. Nesse ponto, se sua fé está apoiada em seus sentimentos e não em Cristo, eles podem vir a pensar que talvez eles tenham perdido sua salvação, ou talvez nunca realmente a tiveram. Não devemos, portanto, confundir fé com sentimentos. 

A fé em Deus pode, de fato, por vezes, nos causar sentimentos de tristeza e dor como, por exemplo, quando a palavra de Deus nos convence do nosso erro comportamental e dos danos que o erro causou, ou quando descobrimos que Deus requer de nós a desistência de práticas antiéticas que temos usado para ganhar dinheiro, ou quando temos de sofrer abuso ou perseguição por ser crentes. Devemos, portanto, fazer da palavra de Deus, e não das nossas emoções, o nosso guia supremo.

Suponha que uma mulher vive em um apartamento no quinto andar de um edifício. Seu apartamento pega fogo. Então um bombeiro aparece fora de sua janela, no topo de uma longa escada. Ele dá um passo para dentro e diz que ela deve deixá-lo levá-la para baixo da escada. Ela consente e confia nele. Mas, quando ela olha para baixo e vê o chão lá embaixo, ela está cheia de sentimentos de medo. Mas seus sentimentos não fazem diferença para sua segurança. O bombeiro a tem segura nos seus equipamentos de resgate e a traz com segurança para baixo. Portanto, uma vez que colocamos a nossa fé em Cristo como Salvador, é a sua força e sua fidelidade que garantem a nossa salvação. Nossos sentimentos são irrelevantes para a nossa segurança.


A FÉ ENVOLVE A REALIZAÇÃO DE UM JULGAMENTO MORAL
Alguém pode dizer: "Se eu confiar em Cristo para me dar a segurança da vida eterna, como é que vou saber que eu tenho isso?" 

Aqui está a resposta do Novo Testamento para essa questão:"Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou. 

Quem crê no Filho de Deus em si mesmo tem o testemunho; quem em Deus não crê mentiroso o fez, porquanto não creu no testemunho que Deus de seu Filho deu. E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida. Estas coisas vos escrevi, para que saibais que tendes a vida eterna e para que creiais no nome do Filho de Deus" (1 João 5:9-13).

Essa passagem da própria Palavra de Deus nos diz que um crente em Cristo pode estar totalmente certo de que ele tem a vida eterna por dois motivos.


1. Porque Deus assim o diz! E não crer em Deus, quando Ele nos diz algo é insinuar que ele é um mentiroso.A Palavra de Deus é clara, simples e direta:"O testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida."

Isso deve resolver a questão para cada um dos que crê.

Suponha que a primeira vez que eu o encontrei, eu lhe perguntei qual era o seu nome, e você respondeu: "Elizabeth". E suponha que, naquele momento, alguém veio e me disse: "Qual é o nome daquela senhora?" e eu respondi: "Eu não sei. Ela diz que é Elizabeth. Mas eu não posso ter certeza". 

Como você se sentiria? Você ficaria muito indignado, pois, por não acreditar no que você me disse, eu estaria insinuando que você era um mentiroso. Eu estaria impugnando o seu caráter moral. Isso seria grave, mas nem de perto tão grave como se recusar a acreditar no que Deus diz e, assim, impugnar o caráter de Deus. Crer em Deus, portanto, envolve a realização de um julgamento a respeito de seu caráter moral: ele é confiável? Será que ele diz a verdade?

Todo o problema do homem começou, quando, no Jardim do Éden, Satanás o enganou engenhosamente e o fez questionar a palavra de Deus e duvidar dela; assim começou o seu afastamento de Deus (Gênesis 3:1-7). Esse afastamento é desfeito, quando um homem em arrependimento e fé põe sua absoluta confiança na palavra e no caráter de Deus, que não pode mentir.


2. Porque "quem crê no Filho de Deus, em si mesmo tem o testemunho" (1 João 5:10). Suponha que você estivesse doente, e um médico lhe oferece algum medicamento e diz: "Tome este medicamento, e isso vai curar você". 

Você teria de decidir primeiro se ia acreditar nele ou não. Ele era devidamente qualificado? Você poderia ter certeza de que o que ele estava oferecendo a você era um bom remédio e não veneno? 

Mas suponha que você decidiu que ele era um médico bem qualificado e um homem de caráter confiável. Então você teria de tomar o remédio e, como o medicamento teve efeito e lhe curou, você teria as provas dentro de si mesmo que o médico era verdadeiro e que o medicamento era bom.

Da mesma forma, Deus se oferece para nos dar a vida eterna como um presente. Se nós acreditamos nele, nós viremos a perceber que temos esse presente, primeiro porque Deus nos diz que sim, mas, em seguida, também por causa das mudanças reais que surgirão dentro de nós.


A VIDA DE FÉ
No início deste capítulo, aprendemos que, quando se trata de receber a salvação, a fé é o oposto de obras: "pela fé" significa "não por obras". 

Agora estamos a aprender que a verdadeira fé conduz a, ou produz, obras. Na verdade, a fé que não produz obras não é a fé genuína. Se isso soa contraditório, considere a seguinte analogia.

Um agricultor tem um coração tão fraco que ele não pode mais trabalhar. Um amigo dele, que é cirurgião cardíaco, oferece-se para realizar uma operação de transplante de coração gratuito. A operação e o novo coração serão aceitos como um presente gratuito. O agricultor acredita no cirurgião, compromete-se com ele, a operação é realizada, e o coração novo é instalado com sucesso. Como resultado, o fazendeiro se encontra cheio de vida nova e de energia e trabalha de bom grado, não para obter o novo coração, mas porque ele já o tem.

Assim também, Deus dá a cada um que crê em Cristo o presente espiritual de um novo coração. É um presente genuinamente livre, não ganho através do trabalho. Mas com o novo coração vêm vida nova, energias novas, objetivos, motivos e desejos novos e o agrado é se gastar em serviço de Cristo (ver Ezequiel 11:19-20). 

Este é o objetivo da salvação, como Paulo aponta a seus convertidos. Os versículos em que ele lhes lembra que eles foram salvos pela fé sem as obras são acompanhadas por versículos que dizem que eles foram, "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2:8-10).

Assim também, cada passo ao longo do caminho da vida será um chamado para o exercício contínuo de fé, e a fé, assim como os músculos, se tornará mais forte com o exercício. A fé permitirá ao crente viver e trabalhar de acordo com os mandamentos de Cristo. A fé irá fortalecê-lo a seguir o exemplo dos grandes heróis da fé de todas as idades, que fizeram grandes façanhas, ou suportaram grande sofrimento por amor a Deus (veja Hebreus 11).

Além disso, Deus permitirá que a fé seja testada, por vezes severamente, de modo que possa ser demonstrada ser verdadeira. É assim purificada, como o ouro, que é aquecido para retirar as impurezas e formar o ouro mais valioso (1 Pedro 1:6-7). 

Mas o crente é assegurado de que Deus não vai permitir que ele seja tentado além do que ele é capaz de suportar (1 Coríntios 10:13). Com efeito, Cristo, por sua intercessão, irá manter a sua fé e, se vacilar, restaurá-la, como fez com Pedro há muito tempo (Lucas 22:31-32; Hebreus 7:25).

A fé também vai capacitar o crente a guardar firmemente as doutrinas fundamentais do cristianismo, que o Novo Testamento chama de "a fé". Como Paulo escreveu, devemos "militar a boa milícia da fé" (1 Timóteo 6:12-16). 

E a fé seguramente irá colher sua recompensa final: "Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda" (2 Timóteo 4:7-8).


Por John Lennox

11. Santificação: Tal Pai, Tal Filho

Neste capítulo, estudaremos o termo "santificação".

Ele indica o processo pelo qual Deus transforma as pessoas pecaminosas em santos.

O Novo Testamento, em geral, é cheio de surpresas para quem não está familiarizado com ele, mas nada mais do que em seu uso da palavra "santo". 

Na fala popular, "Santo" é comumente usado como um título honorífico ao se referir aos apóstolos cristãos, São Pedro, São Paulo etc., e também é aplicado para as pessoas que se pensa terem atingido um grau avançado de santidade durante o seu tempo de vida, tais como, por exemplo, São Simeão ou Santa Sophia.

Mas o uso do termo no Novo Testamento é muito diferente disso. Nenhuma vez no texto original (os títulos para as epístolas não são originais: são adições posteriores) os apóstolos individuais são referidos como São Pedro, ou São Paulo etc., (embora os apóstolos e os profetas como um todo são referidos ocasionalmente como, "os santos apóstolos e profetas", Efésios 3:5; 2 Pedro 3:2). Por outro lado, todos os cristãos, sem exceção, são constantemente chamados de santos. 

Quando se diz em Atos 9:32, por exemplo, que Pedro, "veio também aos santos que habitavam em Lida", isso não significa que ele foi visitar somente um seleto grupo de poucos dos cristãos: "os santos" é a forma normal do Novo Testamento para se referir a todos os cristãos em uma localidade.

Ainda mais surpreendente, a carta de Paulo à igreja de Corinto mostra que muito do comportamento de seus membros era indigno. No entanto, em seu discurso de abertura, ele aborda todos os seus membros como, "os santificados em Cristo Jesus, chamados santos" (1 Coríntios 1:2).

Tal linguagem, no entanto, não é uma bajulação, ou diplomacia superficial. Ela brota do coração do evangelho. Alguns dos crentes coríntios tinham anteriormente sido extremamente imorais, todos haviam sido pecadores, muitos deles ainda estavam espiritualmente fracos e imaturos. 

"Mas, haveis sido lavados, mas haveis sido santificados, mas haveis sido justificados em nome do Senhor Jesus e pelo Espírito do nosso Deus." (1 Coríntios 6:11)

Ao falar assim, o Novo Testamento não quer dizer que as pessoas que foram assim santificadas e se tornaram santas não têm necessidade de constantemente fazer progresso na santidade prática. Mas o que o Novo Testamento afirma é que tais são os méritos do sacrifício de Cristo que todos aqueles que depositam sua fé nele são, no ato, declarados por Deus verdadeiramente santificados e justamente chamados de santos. Para ver como isso é possível, vamos começar com uma definição de "santidade". 


A santificação tem dois lados, um negativo, e outro positivo: 

1. Negativamente: envolve a separação de impurezas, em outras palavras, consiste na purificação. 

2. Positivamente: significa ser separado para Deus e para servi-lo, em outras palavras, consagração. 

Ambos os aspectos são bem explicados em Hebreus 9:13-14. Aqui o autor está contrastando o método de santificação dos judeus antigos com o do cristianismo. Ele associa a santificação tanto com purificação da corrupção quanto com a consagração ao serviço de Deus: "Porque, se o sangue dos touros e bodes e a cinza de uma novilha, esparzida sobre os imundos, os santificam, quanto à purificação da carne, quanto mais o sangue de Cristo, que, pelo Espírito eterno, se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará a vossa consciência das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?" (Hebreus 9:13-14)

Em seguida, devemos notar que o Novo Testamento fala de "santificação" sendo realizada em três fases: inicial, progressiva e final. 


SANTIFICAÇÃO INICIAL 

Primeiro, observe como a santificação inicial pode ser efetuada: 

1. Pela oferta do corpo de Cristo. 

"Pelo que, entrando no mundo, (Cristo) diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste... Então, disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade... Na qual vontade temos sido santificados pela oblação do corpo de Jesus Cristo, feita uma vez." (Hebreus 10:5, 7, 10)

Não é, então, por nossos próprios esforços em guardar a lei de Deus e fazer a sua vontade que podemos nos tornar santos. Todos os nossos esforços para esse fim estariam desastrosamente abaixo do necessário para atingir a pureza, a santidade e a devoção que Deus requer. O evangelho diz que somos feitos santos e agradáveis a Deus por aquilo que outra pessoa, ou seja, Cristo, fez. Foi a vontade de Deus que Cristo deveria oferecer o seu corpo como um sacrifício sem pecado, nosso Substituto, e ele fez isso, uma vez por todas, quando ele se ofereceu a Deus na cruz. É esse sacrifício, e não os nossos esforços, que nos faz, apesar de todas as nossas falhas, aceitáveis a Deus. 


2. Pelo sangue de Cristo. (Hebreus 9:13-14) 

Ninguém pode servir ao Deus vivo de modo aceitável enquanto sua consciência está contaminada pela culpa. A culpa lança uma sombra e uma aura de decadência e morbidade sobre o homem como um todo, e sobre tudo o que ele faz. Não há aumento da atividade religiosa de nossa parte que possa dissipar essa contaminação, nem mesmo cerimônias religiosas e rituais de limpeza (ver Mateus 15). Mas o que não podemos fazer, o sangue de Cristo pode, pois, "O sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo pecado" (1 João 1:7). 

Ele limpa a nossa consciência e nos liberta para servir ao Deus vivo. O sangue de Cristo efetua, então, o que temos chamado de elemento negativo na santificação, a purificação da contaminação. E o que efetua o outro lado da santificação, isto é, a consagração positiva a Deus?

Da parte de Deus é feita por obra do Espírito to em nossos corações, convencendo-nos do pecado, levando-nos ao Salvador, revelando-nos o caminho da salvação de Deus e implantando dentro de nós, pelo seu poder de regeneração, a própria vida de Deus, com todo o potencial necessário para o desenvolvimento de uma vida santa."

Deus nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5). "Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo" (1 Pedro 1:2).E do nosso lado, tanto os elementos positivos quanto os negativos da santificação são efetuados em nossos corações pela fé:"E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós; e não fez diferença alguma entre eles (gentios) e nós (judeus), purificando o seu coração pela fé" (Atos 15:8-9).

Quando, em resposta à ação do Espírito Santo em nossos corações, nós abandonamos a fé em nós mesmos para alcançar a salvação e colocamos nossa confiança somente em Deus e no sacrifício de Cristo, isso produz uma mudança fundamental na orientação dos nossos corações. A antiga alienação e a inimizade contra Deus vão embora. Vai também a nossa independência e desprezo com Deus. Em seu lugar, o Espírito Santo nos torna conscientes do amor de Deus para conosco:"O amor de Deus está derramado em nosso coração pelo Espírito Santo" (Romanos 5:5).

Ele nos torna conscientes de que já se tornamos filhos de Deus, compartilhando a vida e a natureza de nosso Pai, de modo que, instintiva e naturalmente, dirigimo-nos a ele como Abba Pai (Romanos 8:14-17) e sentimos tanto o direito quanto a possibilidade de sermos santos como nosso Pai é santo (1 Pedro 1:14-16).

Simultaneamente, descobrimos que, "por ele (Cristo), ambos (judeus e gentios), temos acesso ao Pai em um mesmo Espírito" (Efésios 2:18). Isso, é claro, não foi sempre assim. Nos séculos antes do nascimento, da vida e da morte de Cristo, os sacrifícios que os israelitas ofereciam por seus pecados eram apenas símbolos. Eles não podiam tirar os seus pecados, uma vez que não chegaram a pagar a pena por eles. Em consequência, o israelita comum era autorizado a entrar apenas no pátio exterior do tabernáculo terrestre de Deus ou do templo. Os sacerdotes entraram no Lugar Santo, mas não mais do que isso. Apenas o Sumo Sacerdote tinha permissão para entrar no Lugar Santíssimo, onde ficava o trono de Deus.

Mas agora que Cristo veio e ofereceu um sacrifício perfeito para o pecado, tudo isso mudou. Cristo aperfeiçoou para sempre os que são santificados (Hebreus 10:14). Todos os crentes, portanto, e não apenas alguns especialmente ordenados, têm - até agora, aqui na Terra - o direito de acesso espiritual no Lugar Santíssimo no próprio céu, e, assim, a confiança para entrar e se aproximar de Deus. Hebreus 10:19-22 explica como isso foi possível: Jesus abriu o caminho para eles pelo seu sangue, e cada crente teve seu coração aspergido por esse sangue para purificá-lo de uma consciência culpada e o seu corpo, metaforicamente falando, lavado com água pura (compare João 13:6-11).

Com o gozo constante desse acesso à presença de Deus, os crentes se tornam conscientes de que eles foram feitos sacerdotes para Deus, todos eles, consagrados ao serviço de Deus pelo sangue de Cristo (Apocalipse 1:5-6; 5:9-10). Assim, o apóstolo Pedro informa a todos os crentes:"Vós também... sois edificados casa espiritual e sacerdócio santo, para oferecerdes sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo... Mas vós sois... o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós que, em outro tempo, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus; que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia" (1 Pedro 2:5,9-10).

Tudo isso, compreensivelmente, produz nos crentes um amor profundo para com Deus. "Nós o amamos", diz o apóstolo João, "porque ele nos amou primeiro" (1 João 4:19). Isso, por sua vez, se torna a sua feliz motivação para dedicar sua vida em casa, na escola, na fábrica, no escritório, ou na fazenda, para o serviço de Deus. O apóstolo Paulo diz:"Rogo-vos, pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis o vosso corpo em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:1-2).

Esse apelo é baseado em uma lógica inescapável. Várias passagens do Novo Testamento falam a respeito disso. Aqui está um exemplo:"Porque o amor de Cristo nos constrange, julgando nós assim: que, se um morreu por todos, logo, todos morreram. E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou" (2 Coríntios 5:14-15).

Outra passagem acrescenta mais um motivo para levar uma vida santa:"Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por bom preço; glorificai, pois, a Deus no vosso corpo" (1 Coríntios 6:19-20).

Notamos aqui a mesma lógica de antes: um crente foi resgatado a custo do sangue de Cristo. A partir de agora, nem o crente, nem o seu corpo físico pertence a si mesmo. Ambos pertencem a Cristo. E mais: mediante a redenção de Cristo, o corpo do crente foi constituído em um templo do Espírito Santo, pois, quando ele creu, Deus colocou o Espírito Santo dentro dele. A própria presença do Espírito Santo, portanto, no corpo de um crente, torna-o santo e consagra-o como um lugar de habitação de Deus. É este fato impressionante que estabelece sobre o crente o dever indeclinável de glorificar a Deus em seu corpo e de evitar a profanação do que agora se tornou templo do Espírito Santo.

A ordem dos eventos aqui é tanto impressionante quanto instrutiva. O crente não é avisado que, se ele primeiro adaptar a sua vida, o suficiente, então o Espírito Santo vai talvez condescender a vir e tornar o seu corpo um templo. É o contrário. Cristo, por seu sacrifício e sangue, já purificou e santificou o corpo do crente e o transformou em um templo do Espírito Santo. E, como isso já é um fato, o crente é agora responsável e motivado a abster-se de comportamentos que possam contaminar o seu corpo.Vamos resumir o que aprendemos até agora. A santificação inicial, como já chamamos, não é algo que temos de alcançar ou realizar por nossos próprios esforços para levar uma vida santa. É algo que Deus nos concede a partir do momento em que colocamos nossa fé em Cristo: "Vós sois dele (de Deus), em Jesus Cristo, o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Coríntios 1:30).

Essa santificação inicial constitui cada crente como um santo. Ela dá a cada crente acesso imediato e direto ao Pai. Ela consagra cada crente como sacerdote para Deus, para oferecer a Deus sacrifícios espirituais e para contar aos outros sobre o amor redentor e sobre a graça de Deus. Ela torna o corpo de cada crente um templo santo, no qual o Espírito de Deus reside. Ela cria em cada crente a consciência instintiva de que ele agora é um filho de Deus, com a própria vida de seu Pai dentro de si e, portanto, com todo o potencial necessário para ser santo como o Pai é santo. E ela produz em cada crente um amor e uma gratidão a Deus e a Cristo que o motivam a viver uma vida de devoção a Deus, e não só o amor para com Deus e Cristo, mas também o amor a todos aqueles, de qualquer raça ou nacionalidade, que têm sido igualmente gerados do mesmo Pai (1 João 5:1).

Mas, neste ponto, alguém pode muito bem objetar: "Isto faz parecer muito fácil. A Bíblia não representa a vida cristã como uma vida de luta, de esforço, e de guerra?" Sim, ela faz, e vamos considerar isso em nosso próximo capítulo.


Por John Lennox

12. Santificação: Filiação e não Escravidão

No capítulo anterior, estudamos a santificação inicial, agora, é preciso investigar qual o significado de santificação progressiva no Novo Testamento e depois de santificação final.

SANTIFICAÇÃO PROGRESSIVA
A primeira coisa a notar aqui é um fato simples: a Bíblia insiste que, ainda que as pessoas sejam santificadas e constituídas santas genuínas no momento em que colocam a sua fé em Cristo (como vimos no capítulo anterior), elas ainda precisam continuar constantemente a purificar-se, "de toda imundícia da carne e do espírito, aperfeiçoando a santificação no temor de Deus" (2 Coríntios 7:1). 

Perceber isso vai nos salvar de um erro comum. A Bíblia realmente ensina que o ser humano é justificado pela fé, somente pela graça de Deus e não em razão de suas obras ou de sua realização espiritual, seja antes ou depois de sua conversão (Romanos 3:19-28). 

Mas isso não significa, como muitos erroneamente supõem que, uma vez justificado pela graça, o ser humano é livre para viver uma vida pecaminosa. Ouça o protesto duplo de Paulo: "Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele? Pois quê? Pecaremos porque não estamos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum!" (Romanos 6:1-2, 15).

Além disso, Paulo deixa indiscutivelmente claro que, quando Cristo se compromete a nos salvar, ele não só perdoa os nossos pecados, ele insiste em nos tornar cada vez mais santos. A verdadeira conversão, segundo ele lembra seus convertidos (Efésios 4:17-24), envolve concordância com Cristo decisivamente, desde o começo para, "se despojar do velho homem", isto é, o antigo estilo de vida pecaminoso, e, "se revestir do novo homem", que é o estilo de vida que Deus projetou para aqueles que foram reconciliados com ele. 

Isto significa persistir ativamente na mudança e descartar o velho estilo para o resto da vida. Em outras palavras, para um homem que foi justificado pela fé, somente pela graça de Deus e não por suas obras, a santificação progressiva não é opcional. De acordo com o Novo Testamento, ela é obrigatória. Na verdade, qualquer um que rejeita essa obrigação não é um verdadeiro crente.

Mas agora perceba por meio do que essa santificação progressiva deve ser alcançada. Existem basicamente duas maneiras de agir a esse respeito. Ambas envolvem ação positiva e perseverança da nossa parte. Mas uma dessas maneiras de agir está errada, e a outra está certa. Um caminho é o caminho da escravidão, que é ineficaz e conduz à frustração e ao desespero (ver Romanos 7:7-25).

O outro caminho é o caminho dos filhos de Deus, nascidos livres, que os leva a ter cada vez mais profunda comunhão com o Pai e cada vez mais conformidade com a sua maneira de pensar e agir (ver Mateus 5:43-48). 

Isso é bem resumido em Romanos 8:13-17:"Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o Espírito de adoção de filhos, pelo qual clamamos: Aba, Pai. O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus" (Romanos 8:13-17).

O problema com o método errado é esse: percebe-se que a lei de Deus é santa, justa e boa; que seus mandamentos são razoáveis e que os benefícios que vêm de cumprir a lei são totalmente desejáveis (Romanos 7:12). 

Mas, partindo disso, chega-se à conclusão de que a receita do Novo Testamento para a santificação progressiva será simplesmente isto: "Aqui está a lei de Deus, aqui estão os dez mandamentos, e aqui está o sermão da montanha; faça sua decisão, sustente sua vontade, faça o seu melhor para mantê-los, e você vai se tornar mais e mais santo".


Essa visão, no entanto, ignora três fatos importantes:

1. Os seres humanos têm sido tão danificados, enfraquecidos e corrompidos pelo pecado, que não importa quanto tentem, eles não conseguem manter a lei de Deus. Eles podem se encantar com a lei de Deus, servi-la intelectualmente e se determinar com toda a sua força de vontade a mantê-la, como o apóstolo Paulo confessa que havia feito (Romanos 7:22, 25, 15, 18-19). Mas eles vão descobrir, como Paulo fez, que invariavelmente eles não conseguem pôr plenamente o seu objetivo em prática. Na verdade, no íntimo de cada um, há uma forte oposição à manutenção da lei de Deus, que age com toda a determinação de uma campanha militar para manter o domínio do pecado (Romanos 7:23).

2. Nesta situação, a lei de Deus, que é boa em si mesma, não pode ajudar a pessoa. É, como diz a Bíblia, incapaz de alcançar o sucesso, por causa da fraqueza da carne (Romanos 8:3). Na verdade, a concentração da mente da pessoa em suas tendências pecaminosas, muitas vezes, as reforça (Romanos 7:7-8); e o enfatizar das falhas constantes da pessoa diminui a força para superar os erros (Romanos 7:21-24).

3. Depois há um terceiro fato, que nós facilmente esquecemos. A lei de Deus nos instrui sobre como devemos nos comportar, mas ela é mais do que isso. Trata-se de comandos e penalidades por faltas ou desobediência, e sua pena máxima é a rejeição por Deus. Um homem só precisa falhar uma vez, e nenhuma quantidade de sucesso depois disso pode compensar o fracasso ou cancelar a pena. 

Num sistema em que a procura pela perfeição é constante, não pode haver bondade excessiva que possa compensar qualquer imperfeição.
Para nos ajudar a compreender as implicações práticas disso, vamos construir uma analogia. Suponha que um sanatório para portadores de tuberculose está situado em um vale remoto. Na outra extremidade do vale está uma usina nuclear, que começa a vazar sua radiação invisível, mas letal. O governo, portanto, aconselha os pacientes a fugirem para salvar sua vida. Infelizmente, a única saída é por quatro passagens em montanhas de até 12 mil pés, e o governo informa os pacientes que, até que eles cruzarem esta área, eles não estarão a salvo da radiação.

O conselho do governo é de bem claro; qualquer pessoa sensata iria querer segui-lo. Mas acontece que o governo não pode dar aos pacientes qualquer ajuda para atravessar a faixa de risco: não há helicópteros, ônibus, nem mesmo cavalos ou mulas. Eles têm de fazer o seu melhor, caminhando. Impulsionados pelo medo da radiação fatal, eles podem fazer um esforço heroico para escapar, mas sua doença tornaria seu progresso lamentavelmente lento, até que se torne óbvio que eles tinham praticamente nenhuma esperança de cruzar a área, até que eles venham a sucumbir, ou à sua doença original, ou aos elementos e aos efeitos da radiação.

Mas suponha que, além disso, o governo lhes disse que eles devem cruzar as quatro montanhas em três dias. Qualquer um que leve mais tempo que isso estaria infectado pela radiação e se tornaria um perigo para outras pessoas. Portanto, assim que aparecessem, eles seriam recebidos com tiros. Em seu estado fraco, eles iriam descobrir que atravessar as duas primeiras montanhas levaria mais do que os três dias permitidos. Qual seria, então, o ponto de sua luta para atravessar as outras duas montanhas, se, no final, apesar de todos os seus esforços, eles devem enfrentar a pena de morte?

Cada fibra de nosso ser protesta que Deus não pode ser assim, e é claro que ele não é! Suas instruções para alcançar a santidade progressiva não são simplesmente dar às pessoas a sua lei e ordenar-lhes fazer o seu melhor para cumpri-la. Se fosse assim, a sua situação não seria melhor do que a dos pacientes. Tanto o amor de Deus quanto seu realismo o levam a oferecer uma forma completamente diferente.

Seu primeiro passo para quebrar o domínio avassalador do pecado em sua vida tem sido de retirar deles eternamente a pena para quem não guardar a sua lei perfeitamente. 

"O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça." (Romanos 6:14) Cristo, por sua morte, pagou o preço por eles de uma vez por todas (Romanos 6:6-11). 

Agora, portanto, são livres. Se ainda estivessem "debaixo da lei" e passíveis de receber suas punições, um erro, uma queda, ou um pecado seriam suficientes para incorrer na punição. Nesse caso, todas as tentativas de fazer mais progresso na santificação seriam inúteis. Assim, o pecado teria derrotado a tentativa de escaparem de seu domínio.

Mas, dessa forma, temos um objetivo concreto. Quando, apesar dos esforços, há erros e pecados, se pode confessar o pecado a Deus, e, "Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). 

E, não havendo punições a enfrentar agora ou no futuro, há liberdade para se levantar e lutar novamente no caminho da santidade progressiva.O segundo passo que Deus tomou para quebrar o domínio do pecado é fornecer ajuda e energia, de modo que a lei nunca poderia dar.

"Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais doutro, daquele que ressuscitou de entre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus." (Romanos 7:4)Novamente, não é que a lei de Deus seja ruim, ou que os seus requisitos podem ser ignorados. O propósito de Deus é que devemos satisfazer as suas necessidades (Romanos 8:4). 

Mas a própria lei não pode nos fornecer o poder de fazer isso. A resposta do Novo Testamento para este problema, no entanto, é o que pode ser chamado, metaforicamente, de "casamento com Cristo", ou, como a nossa passagem diz, "para que sejais de outro" (veja também 1 Coríntios 6:16-17).

Uma mulher pode ler livros intermináveis sobre a fisiologia da gravidez e desejar ter filhos, mas ela não teria nenhuma esperança disso sem um marido. Assim, Cristo, ressuscitado dentre os mortos, torna-se um marido amoroso, vivo e espiritual para aqueles que confiam nele, fornecendo a vida e o poder necessários, de modo que possam dar frutos para Deus, na forma de santidade progressiva.

É evidente que o Novo Testamento não concebe que essa relação vai subjugar a personalidade de um crente, do mesmo modo que casar não reduz a mulher a uma mera máquina. Um crente continua a ser um indivíduo responsável. É ele quem deve ser diligente para fazer progresso na santidade (2 Pedro 1:1-11), ele que deve viver para agradar a Deus e servi-lo. 

Mas já não é uma questão de simplesmente ler as instruções escritas em um livro, ou em tábuas de pedra, como os dez mandamentos foram e, em seguida, tentar realizá-los. Isso seria o que a passagem a seguir chama de "servir na velhice da letra". 

"Mas agora temos sido libertados da lei... para que sirvamos em novidade de espírito, e não na velhice da letra" (Romanos 7:6).

O Espírito Santo de Deus, que tinha as leis de Deus escritas na Bíblia como uma expressão do caráter santo de Deus, agora cumpre essas leis como uma Pessoa no crente e pelo crente. Ele trabalha dentro do crente para renovar sua mente, mudar sua perspectiva, reorganizar a sua escala de valores, fortalecer a sua vontade, redirecionar sua ambição e se opor a seus desejos errados. Ele, "cobiça [aplica grandes forças] contra a carne... para que não façais o que quereis" (ver Gálatas 5:16-24).

Esta relação entre o crente e Cristo, pelo Espírito Santo, no entanto, não é uma questão de impressões vagas e nebulosas, visões incompreensíveis, e inexprimíveis. Cristo dirige constantemente as mentes das pessoas para a Palavra de Deus. O Novo Testamento registra que, quando ele orou ao Pai pelo progresso de seus discípulos na santificação, ele disse: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17). 

O crente, é claro, ainda é capaz de escolher se quer "semear na carne, ou semear no Espírito" (cf. Gálatas 6:8).

 Mas, em sua escolha, ele não é mais dirigido, como um escravo sob o chicote, pelo medo da pena da lei de Deus, mas guiado pelo Espírito que o faz instintivamente ciente de que ele é um filho do Pai, com o amor, a vida e a natureza do Pai dentro dele (Romanos 8:14-17). 

E, assim, como a força gerada por um giroscópio ajuda a manter uma aeronave em seu curso, da mesma forma as intercessões do Espírito Santo, ao lado dos próprios desejos internos do crente, o mantêm dentro da rota traçada para ele por Deus, uma rota que prossegue através de sua vocação e justificação para o objetivo final de sua glorificação (Romanos 8:26-30).

Não há pretensão na Bíblia de que o progresso ao longo dessa rota seja sempre bom. Quando um filho de Deus se desvia do caminho, como as crianças fazem, ou quando precisa de um impulso para aumentar seu progresso, Deus, como seu Pai, não hesitará em discipliná-lo. E a disciplina pode ser dolorosa. Mas ela é aplicada por amor e por sabedoria do Pai, para que o crente possa melhor participar da santidade do Pai (Hebreus 12:1-13). E o objetivo é certo e seguro. Desde o início da rota, o crente tem certeza de que, tendo sido justificado pela fé, ele vai alcançar a glória de Deus (Romanos 5:1-2).

SANTIFICAÇÃO FINAL
De tempos em tempos, algumas pessoas têm formado a ideia de que um cristão pode ser perfeito e sem pecado nesta vida. A Bíblia nega. Enquanto vivemos neste mundo, todos nós temos de admitir o mesmo que Paulo: "Não que já a tenha alcançado ou que seja perfeito; mas prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus" (Filipenses 3:12).

A santificação do crente será concluída na Segunda Vinda de Cristo. Então, o crente vai estar física, moral e espiritualmente conforme Cristo. 

E a Bíblia nos diz como:"Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos" (1 João 3:2).


Por John Lennox

13. O Julgamento final: As Exigências da Justiça

É um fato muito interessante que as crianças, mesmo em uma idade jovem, desenvolvem um sentimento muito forte sobre o que é justo e correto e o que é injusto. "Não é justo", diz a criança, quando seu irmão mais novo rouba seu brinquedo, e seus pais permitem que o filho mais novo fique com o brinquedo para brincar com ele. "Não é justo", diz o garoto de escola, quando o professor lhe acusa e pune por algo que, na verdade, ele não fez.

Talvez à medida que envelhecemos, a intensidade da nossa indignação com a injustiça é atenuada, pela simples razão de que temos testemunhado tantos casos dela, que nos tornamos endurecidos e cínicos. Mesmo assim, ainda podemos nos sentir ofendidos, quando, por exemplo, vemos alguém ficar fabulosamente rico vendendo o patrimônio público e colocando o lucro em seu próprio bolso. 

Nós podemos nos resignar ao fato de que nós mesmos não podemos fazer nada sobre isso, mas nós ainda protestamos: "Não é justo", e o nosso protesto carrega dentro de nos, revelada ou não, a sensação de que alguém deveria fazer algo sobre isso: a injustiça não deve ser autorizada a continuar. Trapaceiros, mentirosos, assassinos e todos os outros perpetradores do mal não devem ser autorizados a ficar impunes.

E ainda assim, a história e a nossa própria experiência recente nos mostram que é precisamente isso que parece acontecer. Até mesmo os governos, cuja responsabilidade é para punir os criminosos, têm sido muitas vezes culpados de corrupção e, por vezes, de crimes monstruosos. A morte, no final, parece levar todos embora de forma indiscriminada, os cumpridores da lei e os infratores, santos e pecadores. Devemos concluir, então, que o crime e o pecado, a injustiça mesquinha e bruta nunca serão punidos, que nosso senso de certo e errado é uma ilusão de zombaria, que a nossa esperança na justiça será sempre frustrada? Não. 

Segundo a Bíblia, o próprio Deus é o autor do nosso senso de certo e errado. O Criador escreveu a sua lei em nosso coração (Romanos 2:14-15), e a consciência é o seu monitor interno que nos adverte para não quebrar a lei, testemunhando nossos atos, quando a quebramos e erramos, e nos preenchendo, após a má ação ser feita, com um sentimento de culpa. Um dia, o Novo Testamento nos assegura, Deus vai reivindicar a sua lei. Há de chegar o julgamento final, que é o tema deste capítulo. Neste contexto, outro termo também é usado, a "Segunda Morte". Este termo descreve o estado eterno de quem se encontra condenado no Juízo Final.

"E vi um grande trono branco e o que estava assentado sobre ele, de cuja presença fugiu a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante do trono, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras. E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia; e foram julgados cada um segundo as suas obras. E a morte e o inferno foram lançados no lago de fogo. Esta é a segunda morte. E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo." (Apocalipse 20:11-15)


QUANDO O JULGAMENTO FINAL ACONTECERÁ
O julgamento de cada indivíduo acontece após a morte: "Aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo" (Hebreus 9:27). Mas, se perguntar quanto tempo após a morte do indivíduo o Julgamento Final vem, a resposta é: o Julgamento Final vem depois de o céu e a Terra se afastarem, isto é, após o fim do mundo.E é fácil entender por que deve ser assim. 

O pecado, uma vez cometido, pode ter uma reação em cadeia que continua muito tempo após a pessoa que cometeu o pecado morrer. Um pai, por exemplo, pode através de seu tratamento severo e desamor, ferir seu filho psicologicamente. O filho, crescendo psicologicamente mal ajustado, pode se comportar de forma prejudicial para a sua esposa, filhos, parentes e colegas de trabalho, que, como resultado, podem, por sua vez, reagir repreensivelmente.

Da mesma forma, o dano e a injustiça que os grandes tiranos têm feito a milhões de pessoas não cessou, quando os tiranos morreram, mas passou a se espalhar como ondulações em uma lagoa. Somente quando toda a teia complicada da história humana seja completada no fim do mundo, será possível estimar plena e justamente o verdadeiro significado de qualquer pecado.


O RIGOR DO JULGAMENTO
A passagem do Novo Testamento, citado acima, diz: "Abriram-se os livros… E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros". 

Nós não precisamos supor que os livros de registros de Deus sejam exatamente como os livros que temos na Terra: a palavra "livros" aqui é uma metáfora. Mas isso nos lembra de que Deus tem um registro de tudo que cada pessoa pensou, disse e fez. A habilidade de Deus para manter tais registros não deve nos parecer incrível. O próprio homem pode hoje fazer computadores com memória de dados quase ilimitada.

O Novo Testamento também nos lembra de que, depois da morte, as pessoas não só continuam a existir, mas serão capazes de se lembrar de sua vida passada, talvez em maior detalhe do que elas eram capazes de se lembrar nesta vida (Lucas 16:25). Deus vai julgar não somente os atos externos, mas os segredos dos homens (Romanos 2:16). Assim como podemos capturar as nossas ações em um vídeo e depois reproduzi-las, para que possamos, no presente, nos ver fazendo e dizendo coisas de anos atrás, assim Deus será capaz de passar na frente dos olhos das pessoas os seus pensamentos secretos e mostrar ações de anos atrás, ou mesmo séculos.

O julgamento, portanto, é escrupulosamente justo, uma vez que cada indivíduo vai ser julgado, diz a passagem, de acordo com as suas obras. Ninguém vai ser punido ou recompensado, pelo que outra pessoa fez. Além disso, o Juiz (que será ninguém menos que o nosso Senhor Jesus Cristo: ver João 5:22, 27-29), vai levar em conta qual o conhecimento as pessoas tinham do certo e do errado. Ele mesmo disse assim:"

E o servo que soube a vontade do seu senhor e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites. Mas o que a não soube e fez coisas dignas de açoites com poucos açoites será castigado" (Lucas 12:47-48).

Um selvagem pode muito bem matar simplesmente porque ele foi educado desde a infância em uma tribo analfabeta, que lhe ensinou que o assassinato de membros de uma tribo ao lado é uma coisa boa e gloriosa. O que ele faz é pecaminoso aos olhos de Deus, mas ele não será tratado com a mesma severidade que a traficante em um país civilizado que sabe muito bem que o assassinato é pecado, mas ainda assim deliberadamente assassina os membros de uma rede rival de tráfico.

E o Juiz enunciou um outro princípio que guiará o seu julgamento:"A qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá" (Lucas 12:48).

Um homem com cérebro excelente e excelente saúde física, que usa seus talentos egoisticamente simplesmente para acumular riqueza, independentemente dos sofrimentos dos pobres e não faz nenhuma tentativa de amar o próximo como a si mesmo, será tratado com mais severidade do que o homem pobre e sem talento, cuja pobreza tornou impossível para ele ajudar o seu próximo (Lucas 16:19-31).


O DESTINO COMUM DOS IMPENITENTES E INCRÉDULOS
O castigo imposto, então, irá variar de indivíduo para indivíduo. Por outro lado, o destino de todas as pessoas impenitentes e incrédulas será o mesmo. Ele é descrito em Apocalipse 20:11-15 como, "a segunda morte" e como, "o lago de fogo".


a) A Segunda Morte. 

A segunda morte é assim chamada a fim de distingui-la da morte física como a conhecemos aqui na Terra. A morte física é a porta pela qual um ser humano passa para o mundo invisível (que não pode ser visto por nós), chamado de Hades (que é a palavra grega para 'invisível'). Nesse mundo invisível, os espíritos dos incrédulos e dos que não se arrependem são mantidos sob custódia, por assim dizer, esperando o Juízo Final, da mesma forma como aqui na Terra um criminoso, quando é preso, é mantido em prisão preventiva, até que ele seja trazido ao tribunal para ser julgado frente ao juiz (ver Judas 6).

Para preparar os espíritos para serem julgados, o Juízo Final será precedido pela Ressurreição, e os espíritos serão libertados de sua prisão temporária e reunidos com seus corpos ressuscitados. 

É a isso que Apocalipse 20:13 se refere: "E deu o mar os mortos que nele havia; e a morte e o inferno deram os mortos que neles havia" (Apocalipse 20:13). 

Os corpos dos afogados no mar (ou cujas cinzas foram espalhadas sobre as ondas) serão ressuscitados; seus espíritos, liberados de sua prisão temporária, serão reunidos com seus corpos. Isso, é claro, é apenas um exemplo de todos os que morreram de várias formas e em lugares diferentes.

O que acontece em seguida, para aqueles que são condenados no Julgamento Final? Será que vão ser condenados a passar pela experiência da morte física de novo? Não. A morte física, a porta pela qual eles passaram de nosso mundo atual para o mundo invisível, não terá mais nenhuma função a desempenhar. Ela deve dar lugar e ser substituída por outro tipo diferente de morte, que é chamado nessa passagem de Segunda Morte. Mas que tipo de morte será essa?


1. Para o indivíduo, vai ser um estado de morte espiritual e moral. Olhe novamente para o que aprendemos no capítulo anterior. O Novo Testamento declara que cada pessoa não regenerada já está morta nesta vida, obscurecida no entendimento e separada da vida de Deus por causa do endurecimento do coração. Cada uma delas está espiritualmente morta, intelectualmente obscurecida e emocionalmente amortecida (Efésios 2:1-3; 4:17-19). 

A vida nesta Terra dá a oportunidade de se arrepender, de se reconciliar com Deus, para ser espiritualmente renascido e de compartilhar a vida de Deus, tanto aqui quanto na vida após a morte. Mas, se uma pessoa joga fora essa oportunidade e passa pela morte física no mundo eterno e é condenada no Julgamento Final, em seguida, a Segunda Morte irá mantê-la para sempre nesse estado de alienação da vida de Deus. Não vai ser a aniquilação, mas um estado fixo e eterno espiritualmente mórbido, sem alívio pela misericórdia vivificante de Deus ou por qualquer esperança de melhoria.


2. Mas essa será a morte espiritual não só para o indivíduo, mas para toda a sociedade em que ela vive. O pecado não é simplesmente uma doença espiritual da qual um indivíduo pode sofrer em total isolamento de todos os outros pecadores. 

Ele também se expressa em atitudes de um indivíduo e em comportamento em relação aos outros. As pessoas que nesta vida agem com ciúmes, inveja, lascivo, mentira, crueldade, orgulho, ou agressividade, não vão mudar, de repente, se tornar santos, ao passar pela morte física e aparecer diante do Juízo Final. A morte não realiza nenhuma magia. A descrição bíblica do mundo que está por vir não é um conto de fadas. Imagine, então, o que significará viver em uma sociedade podre com doenças espirituais e morais, fechada à graça de Deus, que, uma vez, poderiam ter recebido, mas que eles rejeitaram agora, finalmente e para sempre.

O Novo Testamento aponta a bem-aventurança da vida com Deus e com os redimidos no céu em contraste (entre outras coisas) com o tipo de sociedade que existe fora disso: "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que tenham direito à árvore da vida e possam entrar na (celestial) cidade pelas portas. Ficarão de fora os cães e os feiticeiros, e os que se prostituem, e os homicidas, e os idólatras, e qualquer que ama e comete a mentira" (Apocalipse 22:14-15).


b) O Lago de Fogo

O destino do impenitente e descrente é também descrito como o Lago de Fogo. Mesmo se assumirmos que esses termos são metafóricos e não literais, podemos estar certos de que eles apontam para uma realidade que é muito mais terrível do que qualquer interpretação literal dos termos iria transmitir.

Haverá, em primeiro lugar, a dor da consciência de estar sob o desagrado de Deus (Romanos 2:4-6). 

E, em segundo lugar, a dor de ter de suportar as consequências e os desdobramentos de atitudes e comportamentos pecaminosos (Gálatas 6:7-8). E, em terceiro lugar, haverá a angústia do remorso, agravada pela falta de vontade e pela incapacidade de se arrepender do pecado que dá origem ao remorso (Hebreus 6:4-8).

Este fogo não vai aniquilar as pessoas que estão nele, como o fogo terrestre literal faria. Nosso Senhor Jesus descreveu-o nestes termos: "O fogo do inferno, onde o seu bicho não morre, e o fogo nunca se apaga" (Marcos 9:47-48). 

Quando não há mais nada para queimar, o fogo se apaga e, quando um verme não tem nada para se alimentar, ele morre. Mas como as atitudes pecaminosas dessas pessoas perdidas nunca vão mudar, a dor do desagrado de Deus que elas atraem nunca morrerá. E as memórias que alimentam o fogo do remorso nunca serão extintas.

Por outro lado, assim como o sal retira o apodrecimento da carne, parece que o fogo eterno vai parar a corrupção moral e espiritual dessas pessoas e evitar que elas aumentem (Marcos 9:49). 

Como C. S. Lewis colocou, "Deus, em Sua misericórdia, fez as dores contínuas do inferno. Para limitar a miséria Deus, em sua misericórdia, fez limites eternos e determinou quais eles seriam". A corrupção moral e espiritual de cada indivíduo não deve ser autorizada a aumentar indefinidamente, até que atinja proporções infinitas. Na misericórdia de Deus, permanece o que era no Juízo Final. O "fogo" irá conter todo o desenvolvimento posterior.


Por John Lennox

14. O Julgamento Final: A Bondade e a Severidade de Deus

O pensamento de que a justiça será eventualmente feita, e os malfeitores serão punidos, deve existir em cada pessoa sensata, com profunda satisfação, se não júbilo. Um antigo poeta bíblico expõe desta forma: "Cantai louvores ao SENHOR com a harpa… Os rios batam palmas; regozijem-se também as montanhas, perante a face do SENHOR, porque vem a julgar a terra; com justiça julgará o mundo e o povo, com equidade" (Salmo 98:5-9).

Mesmo os ateus que não acreditam que haverá um Juízo Final deveriam desejar que houvesse um. Eles não podem certamente ficar felizes se milhões de pessoas sofram injustiças na vida e morram injustamente e que nunca, em sua teoria, seria feita justiça.

E ainda há um outro lado da questão. Enquanto todo mundo está do lado da justiça, e nosso julgamento moral concorda que a justiça deve ser feita, o coração humano tem suas próprias razões e recua diante da ideia de que qualquer ser humano deve ser submetido ao castigo eterno. A pena parece inimaginavelmente severa e desproporcional. Mesmo o instinto humano sugere que a misericórdia deve triunfar sobre a estrita justiça, e se sentir assim, não deveria Deus, por definição, se sentir assim, mais ainda?

E depois há outra razão pela qual recuamos contra a ideia de um Juízo Final. É simplesmente isso. Cada um de nós percebe que também pecou e que seus pecados também merecem ser punidos e que não são apenas os pecados dos pecadores mais notórios que devem ser punidos, mas os nossos também. E, quando as pessoas percebem isso, elas tendem a começar a pensar em objeções para tentar provar a si mesmas que não poderia haver, e não vai haver, qualquer coisa parecida com um castigo eterno.Vamos examinar algumas dessas objeções.


OBJEÇÃO 1
"Um Deus de amor nunca puniria alguém."


a) Primeira resposta. O contrário é que é verdadeiro. É precisamente porque Deus é um Deus de amor que ele vai punir o pecado. Se um traficante influencia sua filha, ela fica viciada em drogas e destrói seu cérebro, Deus nunca vai agir como se não importasse. Ele ama sua filha. Qualquer pecado contra ela incorre em sua ira. E, se o traficante nunca se arrepender, Deus nunca vai esquecer o seu crime, justamente porque o amor de Deus é eterno. E isso significa que ele vai ficar irado com o traficante eternamente.


b) Segunda resposta. Deus é realmente um Deus de amor, e nunca ninguém nos disse mais sobre o amor de Deus e nos fez sentir a sua realidade mais profunda do que Jesus Cristo. Talvez a expressão maior e mais famosa do amor de Deus seja:"Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 3:16).

No entanto, neste versículo, devemos perceber que o amor de Deus é demonstrado supremamente no que ele fez para nos salvar de perecer. Ele deu o maior de todos os presentes que se possa imaginar, sua própria substância, o próprio Filho de Deus. E ele deu esse presente para que os pecadores como nós possamos ser perdoados, e nunca tenhamos de sofrer o castigo dos nossos pecados. Mas, novamente, o fato de que Deus tenha de ir a tais extremos para nos salvar de perecer deve mostrar, no nosso pensamento, a gravidade do que significaria se alguém se perdesse.


A mesma impressão é criada pelas palavras de Cristo:
"Na verdade, na verdade, vos digo que quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna e não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida" (João 5:24).

Aqui, ele apela para a nossa fé e confiança para que ele possa nos absolver de toda condenação e nos salvar da morte eterna.

Nós, naturalmente, perguntamos como ele tem direito de dizer isso e por que razões ele fez seu apelo. A resposta é, primeiro, porque ele o fez como aquele que será o Juiz do Juízo Final:"E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo… E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do homem" (João 5:22,27).

E, em segundo lugar, a resposta é que o único que deve ser Juiz do Juízo Final é aquele que na cruz suportou a pena e o castigo da lei de Deus, em nome de todos os que se arrependem e creem, para que eles possam nunca precisar suportar a pena e o castigo sobre si. Mas o corolário inevitável disso é: se alguém desconsiderar o apelo de Cristo para o arrependimento e a fé, ele inevitavelmente perecerá.

Neste ponto, portanto, temos de olhar novamente para a passagem que estudamos no último capítulo (Apocalipse 20:11-15) e perceber exatamente o que lá é apontado como o fator crucial que decide se uma pessoa deve ou não ser lançada no Lago de Fogo. Aqui estão os versos relevantes:"E vi os mortos, grandes e pequenos, que estavam diante de Deus, e abriram-se os livros. E abriu-se outro livro, que é o da vida. E os mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas nos livros, segundo as suas obras... E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo".

Observe primeiro o que essa passagem não diz. Ela não diz que, se uma pessoa cometer muitos pecados, pecados muito ruins, ela é lançada no lago de fogo, nem que, se uma pessoa cometer apenas alguns pecados menores e compensá-los, fazendo um monte de boas obras, ela não será lançada no lago de fogo. Não, de acordo com a nossa passagem o fator decisivo é este: "E aquele que não foi achado escrito no livro da vida foi lançado no lago de fogo" (Apocalipse 20:15).

Esse livro da vida é o livro da vida do Cordeiro (Apocalipse 21:27), e no livro estão escritos os nomes de todos aqueles que se arrependeram e colocaram sua fé no Cordeiro de Deus. E, já que ele pagou a penalidade de seus pecados por eles, o Novo Testamento lhes dá essas garantias gloriosas:"Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus... Seremos por ele salvos da ira" (Romanos 8:1; 5:8-9).

E, além disso, todos aqueles que, assim, aceitarem a Cristo como seu Substituto e Salvador podem saber, aqui e agora, nesta vida, que seus nomes estão escritos nesse livro da vida. O apóstolo Paulo e seu amigo o fizeram (Filipenses 4:3), e nós também podemos.Se, no entanto, as pessoas rejeitam o Salvador que Deus providenciou, como infelizmente muitos fazem, seus nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro. O que Deus pode, então, fazer para salvá-los? Eles fizeram a sua própria escolha. Inevitavelmente, eles serão lançados no lago de fogo e sofrerão a pena e as consequências de seus pecados. Mas eles não têm ninguém para culpar além de si mesmos. Eles certamente não serão capazes de criticar a Deus por isso. Deus é a soma de todo o bem. Por definição, não pode haver paraíso alternativo para aqueles que o rejeitam. Deus também não tem qualquer obrigação moral de fornecer o impossível. Eles amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más (João 3:19) e serão dados ao que eles mesmos escolheram.

Agora vamos observar outra característica da justiça de Deus. Todos os que rejeitam a salvação de Deus serão iguais nisso, eles serão lançados no lago de fogo. Mas nem todos vão suportar a mesma severidade de punição. Nossa passagem nos diz que eles serão julgados de acordo com suas obras. Mesmo em um tribunal humano de justiça, dois homens podem ser condenados à prisão por um crime semelhante e ainda assim receber penas diferentes por causa de circunstâncias atenuantes no caso de um deles que não existe no outro. A senhora gentil, cujo orgulho não permite que ela se humilhe, se arrependa e confie no Salvador, vai sofrer perdas eternas, mas ela não será punida com a mesma quantidade de sofrimento que, por exemplo, Hitler com o sangue de milhões em suas mãos.

Além disso, para ver que Deus é justo e igual em todas as suas relações, vamos relembrar uma outra característica de seu julgamento. Todos os que depositam sua fé em Cristo para a salvação serão salvos eternamente com base, não em suas obras, mas em sua fé. Por outro lado, aqueles que, desde a sua conversão, viveram sua vida para agradar a Deus devem ser recompensados por suas boas obras, enquanto os cristãos genuínos, que, no entanto, viveram descuidados e produziram obras de qualidade inferior, vão sofrer perda. Suas obras indignas serão queimadas pelo fogo, mesmo que eles próprios sejam salvos, todavia como pelo fogo (1 Coríntios 3:14-15).


OBJEÇÃO 2
"Mas milhões de pessoas nos séculos antes de Cristo, e milhões desde então, nunca ouviram falar de Jesus. Como seria justo se Deus as condenasse por não acreditar em Jesus?"
Mas ele não irá fazer isso. Deus nunca condena ninguém por não acreditar no que ele nunca ouviu falar (João 15:22-24). Mas todo o mundo sabe, no fundo, de seu coração, que há um Deus. O universo oferece ampla evidência de sua existência. E todos sabem em sua consciência que pecaram contra Deus (Romanos 1:18-2:16). 

Aqueles que confessam seus pecados e lançam-se à misericórdia de Deus serão perdoados. A morte e o sacrifício de Jesus na cruz torna perfeitamente justo de Deus perdoe seus pecados, mesmo que eles nunca tenham ouvido falar de Jesus (Romanos 3:25). 

Os homens vão ser julgados por sua resposta à luz da informação que tinham, e não de acordo com informações que eles nunca tiveram.

Mas todos os que lerem este artigo ouviram falar de Jesus, e eles precisam deixar Deus avisá-los de que, no Juízo Final, cuidado escrupuloso será tomado para avaliar o que cada um, sabia e conhecia e a oportunidade de conhecer a verdade e acreditar. De acordo com Cristo, aqueles que têm mais informações não são aqueles que necessariamente tomam a atitude certa. Muitas das pessoas cultas e religiosas entre os próprios contemporâneos de Cristo eram menos dispostos do que gentios pagãos a se arrepender e crer (Lucas 11:29-32).


OBJEÇÃO 3
"Seria injusto Deus punir alguém por toda a eternidade por pecados, ainda que graves, que foram cometidos durante o breve período de uma vida de mais ou menos 70 anos."
Essa objeção é baseada em um equívoco duplo:
1. Ela assume que, tendo pecado nesta vida, aqueles que rejeitam Deus e Cristo de alguma forma deixam de pecar e ser pecadores no mundo por vir. Isso não é verdade.
2. Ela assume que, tendo recusado a arrepender-se nesta vida, eles se arrependeriam e confiariam no Salvador do mundo a vir. Mas isso também não é verdade. Aqueles que rejeitaram o Salvador e desafiam Deus aqui vão continuar rejeitando o Salvador e desafiando Deus no mundo invisível. Eles são culpados de um pecado eterno (Marcos 3:29). O homem rico na história que nosso Senhor contou (Lucas 16:19-31) que se viu após a morte separado de Deus e, em tormento, mostra evidências de remorso e de angústia, mas não qualquer arrependimento genuíno.


OBJEÇÃO 4
"Se tudo isso fosse verdade, um Deus de amor iria obrigar as pessoas a se arrependerem e crerem, mesmo contra a sua vontade."
Não, ele não faria isso. Uma das coisas que distinguem os seres humanos de animais e vegetais é a posse do livre-arbítrio. O homem é um ser moral e espiritual, feito à imagem de Deus, com o incrível poder de escolha, seja em amar e obedecer ao seu Criador ou rejeitá-lo. Deus não vai remover o livre-arbítrio de um ser humano, nem mesmo com o propósito de salvá-lo, porque, se ele o fizer, essa pessoa salva já não seria um ser humano, mas um animal, vegetal ou, até mesmo, uma máquina. Além disso, Deus não é um ditador. É possível para um ser humano rejeitar e resistir a ele e existir eternamente.


OBJEÇÃO 5

"Concentrar a mente das pessoas no que vai acontecer com elas depois da morte distrai e desencoraja de viver ao máximo suas vidas aqui na Terra."
O contrário é que é verdadeiro. A crença em céu e inferno investe de um significado infinito cada pensamento, atitude e ação em nossa vida na Terra. É a recusa em acreditar em céu e inferno que relativiza e degrada os valores morais e espirituais do homem.


OBJEÇÃO 6
"Só um monstro insensível e desumano iria pregar e acreditar em um inferno eterno."
Mas foi Jesus Cristo que, mais do que qualquer outro, nos ensinou que Deus é amor e que, por meio de suas lágrimas, nos advertiu da realidade do inferno. Ele falou mais sobre esse assunto do que qualquer outra pessoa em toda a Bíblia. Aquele que morreu para nos salvar do inferno adverte-nos ainda que ele não morreu desnecessariamente; e ele lamenta sobre o que não se arrepende hoje, como ele certa vez lamentou sobre Jerusalém:"Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e não quiseste?" (Lucas 13:34).

Por este lamento de Cristo, são ouvidas as batidas do coração de Deus, nosso Criador:"Porque não tomo prazer na morte do que morre, diz o Senhor JEOVÁ; convertei-vos, pois, e vivei" (Ezequiel 18:32).

Nossa sabedoria seria, portanto, seguir o exemplo dos milhões incontáveis ao longo dos séculos que:"Dos ídolos vos convertestes a Deus, para servir ao Deus vivo e verdadeiro e esperar dos céus a seu Filho, a quem ressuscitou dos mortos, a saber, Jesus, que nos livra da ira futura" (1 Tessalonicenses 1:9-10).


Por John Lennox

15. A grande salvação

O conceito de salvação é central para o Novo Testamento, e a razão disso é óbvia. Quando Cristo estava prestes a nascer, José, o futuro marido de Maria, foi instruído a dar-lhe o nome de "Jesus", a forma grega de um nome hebraico que significa "Jeová salva". 

Esse nome foi lhe dado por um anjo que disse: "Porque ele salvará o seu povo dos seus pecados" (Mateus 1:21). 

A salvação, portanto, foi o propósito da vinda de Cristo ao mundo: "O Filho do Homem veio buscar e salvar o que se havia perdido" (Lucas 19:10; ver também João 3:17, 1 Timóteo 1:15 ).

Compreensivelmente, então, as palavras "salvação", "salvador" e "salvar" aparecem com enorme frequência no Novo Testamento. Além disso, "salvação" é um termo muito amplo. Ele engloba muitos dos outros termos que estudamos neste livro, como justificação, resgate, regeneração, vida eterna etc., pois cada um desses termos define um aspecto da salvação. 

Ademais, o conceito de salvação frequentemente está presente em passagens e em contextos em que a palavra em si não é explicitamente utilizada. Portanto, um estudo da "salvação" nos ajudará a revisar os assuntos que estudamos neste livro.


SEUS SIGNIFICADOS AMPLOS
O verbo grego equivalente ao verbo "salvar" (sozo) possui várias conotações. Ele pode ser utilizado para falar de resgatar alguém de um perigo; ou para falar de livrar uma pessoa de uma doença, com o mesmo significado de "curar". Nos Evangelhos, vemos Jesus salvando as pessoas nesses diferentes sentidos. 

Em resposta ao clamor de Pedro: "Senhor, salva-me!", Cristo o salvou do afogamento (Mateus 14:30-31). Ele curou uma mulher que estava doente havia muitos anos e comentou: "Filha, a tua fé te salvou; vai em paz" (Lucas 8:48). 

Ele assegurou a um homem cuja única filha tinha acabado de morrer: "Não temas; crê somente, e será salva", e então foi a casa desse homem e ressuscitou a filha dele (Lucas 8:49-56).

Em outras ocasiões, porém, Cristo utiliza o termo "salvar" em um sentido moral e espiritual. Por exemplo, ele disse a uma mulher pecadora que havia se arrependido: "Os teus pecados te são perdoados... A tua fé te salvou; vai-te em paz" (Lucas 7:48-50). Pois bem, é nesse sentido que as palavras "salvar" e "salvação" são utilizadas com mais frequência no Novo Testamento; e muitas das curas físicas e das libertações realizadas por Cristo servem também como ilustrações da salvação espiritual.

Em João 9, quando o nosso Senhor deu a visão a um homem que havia nascido cego, ele utilizou essa salvação física como uma ilustração ou uma figura de sua capacidade de dar visão espiritual aos que são espiritualmente cegos. "Disse-lhe Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não veem vejam e os que veem sejam cegos." (João 9:39) 

É principalmente (embora não exclusivamente) do aspecto moral e espiritual da salvação que nós iremos tratar ao longo deste capítulo.Ora, como esse é um termo amplo que denota o que Deus fez, está fazendo e ainda irá fazer pelo crente, nós trataremos dele em três tempos verbais: passado, presente e futuro.


SALVAÇÃO NO PASSADO
De acordo com o Novo Testamento, Deus deseja que todos sejam salvos, e, por isso, Cristo deu a si mesmo em resgate por todos os homens (1 Timóteo 2:3-6). 

A boa notícia é, portanto, que a salvação está disponível para todos, mesmo que só seja eficiente para as pessoas que creem. 

Assim que uma pessoa passar a crer, no entanto, ela pode dizer com razão que a sua salvação já ocorreu. Ela não precisa se limitar a dizer: "Eu espero ser salva um dia". Ela pode, adequada e justificadamente, utilizar o verbo no passado e dizer: "Eu fui salva". Falando aos crentes, o Novo Testamento diz: "Pela graça sois salvos" (Efésios 2:5). 

Isso não significa que os crentes já experimentaram toda a salvação, pois algumas fases da salvação estão ainda por vir; estão no futuro. Mas a verdade permanece que certas fases da salvação têm efeito e são consumadas no momento em que um indivíduo confia pessoalmente em Cristo.


Dentre essas fases estão:
1. O Perdão. No caso da mulher pecadora mencionada acima, Cristo utilizou o verbo no passado: tua fé te salvou" (Lucas 7:50). 

De modo semelhante, o apóstolo João diz: "Filhinhos, escrevo-vos porque, pelo seu nome, vos são perdoados os pecados" (1 João 2:12); e o apóstolo Paulo escreve: "Deus... vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas" (Colossenses 2:13).

Várias metáforas são utilizadas nas Escrituras para nos impressionar com a completude desse perdão.


Deus colocou nossos pecados:

a) Fora de sua visão: "Lançaste para trás das tuas costas todos os meus pecados" (Isaías 38:17);

b) Fora do alcance: "Quanto está longe o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós as nossas transgressões" (Salmos 103:12);

c) Fora da existência: "Eu, eu mesmo, sou o que apaga as tuas transgressões" (Isaías 43:25);

d) Além da lembrança: "Nunca mais me lembrarei dos seus pecados" (Jeremias 31:34);

e) Além da recuperação: "Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade... O SENHOR... lançará todos os nossos pecados nas profundezas do mar" (Miqueias 7:18-19).


2. A Regeneração e a Nova Vida Espiritual (ver Capítulo 7):

a) "Não pelas obras de justiça que houvéssemos feito, mas, segundo a sua misericórdia, nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo" (Tito 3:5).

b) "Mas Deus... estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo... Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:4-9).


3. A Reconciliação com Deus (ver Capítulo 4):

"E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação" (Romanos 5:11).


SALVAÇÃO NO PRESENTE
A salvação não diz respeito apenas ao passado de uma pessoa. Ela afeta o presente também. Um bom exemplo pelo qual começarmos é o de Zaqueu (leia a história dele em Lucas 19:1-10). 

Quando a salvação chegou à casa de Zaqueu, não lhe levou apenas o perdão por seus pecados passados, mas também alterou, no presente, de forma drástica, o seu estilo de vida. A salvação começou a ativar a consciência social dele. Como ele havia extorquido das pessoas mais impostos do que ele estava legalmente autorizado a fazer, ele agora estava se oferecendo para devolver quatro vezes mais do que o que ele havia pegado. Mais do que isso. Ele não conseguia mais se contentar em guardar um monte de dinheiro apenas para o deleite dele, ainda que legalmente, enquanto muitos de seus concidadãos eram pobres: "Eis que eu dou aos pobres", disse ele, "metade dos meus bens".

A preocupação com os pobres, com os doentes e com os deficientes sempre foi uma das marcas do verdadeiro cristianismo. Na verdade, aqueles que foram salvos pelo evangelho de Cristo estão sob o dever indeclinável de se comportar de tal forma, em todos os seus relacionamentos, "para que, em tudo, sejam ornamento da doutrina de Deus, nosso Salvador". Isso é, eles devem demonstrar quão atraente o evangelho é, mostrando os efeitos práticos dele sobre o modo como eles vivem (Tito 2:10-14).

Aqui está outra área em que a salvação deve exercer controle sobre o que o cristão faz com sua vida. 

Cristo diz isso desta forma:"Qualquer que quiser salvar a sua vida perdê-la-á, mas qualquer que perder a sua vida por amor de mim e do evangelho, esse a salvará" (Marcos 8:35).

Compreenderemos melhor essa afirmação, se observarmos que a palavra grega aqui traduzida por "vida" possui uma ampla gama de significados. Ela pode significar a vida física de alguém (como em Mateus 2:20): "Já morreram os que atentavam contra a vida do menino" (VA). Pode significar também a vida interior de alguém, tudo aquilo que faz da vida mais do que mera existência, o amor, a energia, o intelecto, as emoções, as habilidades, as ambições e os desejos (como em 3 João 2): "Desejo que te vá bem em todas as coisas e que tenhas saúde, assim como bem vai a tua alma (vida)". 

Na afirmação feita por nosso Senhor (Marcos 8:35) essas duas conotações estão presentes, como veremos em breve.

Mas como alguém pode salvar a sua vida, ou a sua alma, ao perdê-la? Isso parece contraditório. Na verdade, só é possível entender essa afirmação se lembrarmos que esse mundo não é o único que existe: há um outro, a saber, o reino de Deus. Foi nesse contexto que Jesus ensinou a seguinte lição:"Qualquer que, entre esta geração adúltera e pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na glória de seu Pai, com os santos anjos" (Marcos 8:38).

Cristo havia acabado de anunciar que as autoridades de Jerusalém iriam condená-lo à morte. E Pedro, ao afirmar que, se isso acontecesse, eles teriam de executá-lo também, tentou persuadir Cristo a evitar sua própria morte. Mas Cristo não iria comprometer sua missão apenas para salvar a sua própria vida. Ele disse a Pedro que não tentasse salvar a sua vida neste mundo, negando a Cristo, pois, se ele o fizesse, iria perder a vida no mundo vindouro. Pedro, como nós sabemos, acabou perdendo a coragem e negando Cristo. Mas isso foi apenas um lapso temporário do qual Cristo o restaurou com sua intercessão (Lucas 22:31-34).

Mas a lição continua válida para todos nós. É verdade que nós não ganhamos a salvação por morrermos por Cristo. A salvação é um dom gratuito. Mas não podemos ter o dom da salvação, sem termos o Salvador. "A vós", dizem as Escrituras, "vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele" (Filipenses 1:29). Suponha, então, que tenhamos de enfrentar a seguinte decisão: ou negamos e renunciamos a Cristo e salvamos nossa vida física neste mundo, ou mantemos nossa fé nele, permanecemos fiéis a ele e perdemos a nossa vida neste mundo. Então, é necessário estar preparados para perder a nossa vida neste mundo, certos de que iremos salvá-la no mundo por vir. Pelo contrário, se salvarmos a nossa vida neste mundo negando Cristo, iremos perdê-la no mundo vindouro.

Além disso, a vida que temos neste mundo não é algo que podemos colocar em um cofre para proteger. A vida tem de ser vivida: suas energias, seu tempo, suas ambições, seu amor e suas habilidades têm de ser utilizados com as pessoas ou com coisas, ou com projetos. A questão é: no que devemos gastá-los?

Os cristãos são chamados a fazer tudo o que fazem de todo o coração, como ao Senhor (Colossenses 3:23) e também a dedicar tanto o seu tempo quanto a sua energia para a propagação do evangelho de Cristo. E, se eles decidirem viver realmente dessa maneira, cedo ou tarde, eles se envolverão em todo tipo de abnegação e terão de realizar inúmeros sacrifícios. Para um homem mundano, o cristão parece estar desperdiçando sua vida e jogando-a fora. Mas, na realidade, tudo o que um cristão faz para Cristo ou gasta por Cristo e nos seus interesses se torna eternamente importante, recebe um significado permanente e eterno. E os seus resultados irão durar para todo o sempre (João 12:25).

Se, por outro lado, o cristão não estiver preparado para viver para Cristo e, por isso, decidir gastar o seu tempo, a sua energia, o seu amor, as suas habilidades de forma egoísta consigo mesmo ou com coisas mundanas e sem valor, tudo o que ele gastar nesse mundo estará perdido para sempre e não terá qualquer valor no que se refere ao reino eterno de Deus. E, quando Cristo, em sua Segunda Vinda, examinar as obras desse cristão, as obras dele serão queimadas, e ele sofrerá perdas, mesmo que a salvação esteja guardada para ele (1 Coríntios 3:10-15).


SALVAÇÃO NO FUTURO
Embora um crente possa dizer com confiança e com exatidão que foi salvo, algumas partes importantes de sua salvação ainda estão no futuro. É por isso que o crente é exortado a esperar por elas, não porque elas são incertas, mas apenas porque a hora delas ainda não chegou.E ele pode falar sobre elas com a mesma confiança e humildade que fala de sua salvação presente; ele pode afirmar: "Eu serei salvo".


Entre as partes futuras da salvação estão:
1. Salvação da ira de Deus.

"Muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira (de Deus)" (Romanos 5:9, ver também 1 Tessalonicenses 5:9-10).


2. A redenção de nossos corpos físicos.

Isso também é algo que ocorrerá na Segunda Vinda de Cristo.

a) "Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas." (Filipenses 3:20-21)

b) "Não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo. Porque, em esperança, somos salvos. Ora, a esperança que se vê não é esperança; porque o que alguém vê, como o esperará? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos." (Romanos 8:23-25)


3. A santificação final do cristão (ver Capítulo 14).

a) "Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, incontaminável e que se não pode murchar, guardada nos céus para vós." (1 Pedro 1:3-5)

b) "Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, também vós vos manifestareis com ele em glória." (Colossenses 3:4)


4. A entrada do cristão no céu.

A entrada de um cristão no céu pode ocorrer de duas maneiras. Aqueles que morrem antes do retorno do Senhor deixam o corpo para habitar com o Senhor (2 Coríntios 5:8), embora o seu corpo físico ainda não tenha sido ressuscitado. E, então, na vinda do Senhor, os corpos desses crentes serão ressuscitados, os corpos dos crentes que ainda estiverem vivos serão transformados, e todos serão arrebatados para encontrar o Senhor nos ares (1 Tessalonicenses 4:13-18).

"Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos, mas todos seremos transformados; num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados... E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então, cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória." (1 Coríntios 15:51-54)

É com esse sentido que as Escrituras dizem: "A nossa salvação está, agora, mais perto de nós do que quando aceitamos a fé" (Romanos 13:11) — mais perto porque, a cada dia, a segunda vinda de Cristo se aproxima ainda mais.


Por John Lennox

16. Cristianismo: Ópio do Povo?

Foi, sem dúvida, a genuína compaixão pelos pobres que levou Marx a declarar: "A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração... o ópio do povo". Assim dizendo, Marx não estava meramente criticando a falsa religião. A própria Bíblia não é menos rigorosa do que Marx ao denunciar a falsa religião que é conivente com capitalistas sem coração que oprimem seus trabalhadores (ver, por exemplo, Tiago 2:6-7; 5:1-6). 

Marx estava acusando todas as religiões, porque os trabalhadores as tomaram como um narcótico que atenuava sua dor com promessas ilusórias de céu e, assim, fazia-os tolerar passivamente a injustiça ao invés de lutarem ativamente contra ela.

A cura marxista, portanto, foi primeiramente abandonar toda a religião para, em seguida, começando com o homem como homem, no espírito do verdadeiro humanismo, iniciar a formação de um 'novo homem'.

"O partido considera a educação do novo homem como a tarefa mais difícil na reforma comunista da sociedade. Até removermos as raízes dos princípios morais burgueses e tudo mais, treinarmos os homens no espírito da moral comunista e os renovarmos espiritual e moralmente, não será possível construir uma sociedade comunista." (22º Congresso do Partido Comunista da União Soviética, 1961) 

De modo interessante, o Novo Testamento concorda com o marxismo nesse particular, que pelo menos os rituais religiosos, as disciplinas e o esforço moral são todos insuficientes; nada se aproveita exceto a criação de um 'novo homem' (ver 2 Coríntios 5:17; Efésios 2:8-10; 4:22-24). Naturalmente, marxismo e cristianismo irão discordar sobre o que há de errado com o 'velho homem', sobre qual tipo de 'novo homem' é desejável e sobre quais os meios de introduzir o 'novo homem'. Mas falaremos disso mais tarde. Por enquanto, vamos retornar à questão do ópio.

Se é verdade que, em alguns séculos e em alguns países, a religião tem agido como um sedativo, também é verdade que, em nosso próprio século, as filosofias humanistas, tanto de direita quanto de esquerda, têm agido como poderosos estimulantes. Suas promessas de uma utopia futura reanimaram o senso inato de certo e errado das pessoas em ação heroica e sacrifício para ajudar a realizar a utopia prometida. Por essa causa, durante o último século, milhões morreram. Mas a utopia prometida não foi alcançada. Ela parece mais distante do que antes. E, no que diz respeito a esses milhões de pessoas agora mortas, as esperanças geradas nelas por essas filosofias humanistas, pelas quais deram ou foram privadas de sua vida, provaram ser ilusórias.

O que diremos, então, sobre esse senso instintivo de certo e errado, que todos nós possuímos, o qual nos faz sentir que temos um direito de justiça e que leva muitas pessoas a lutar para obtê-la? Obviamente, ele não foi implantado nos seres humanos pela religião, visto que os ateus o possuem tão ardentemente quanto aqueles que acreditam em Deus. Então, de onde ele vem? E quão válido é considerado como guia para se esperar que a justiça, um dia, irá triunfar?

A Bíblia diz que ele foi implantado em nós por Deus, nosso Criador. Toda a sua autoridade divina o sustenta. E, embora, em nós e em nosso mundo, ele seja constantemente suprimido, distorcido, frustrado e traído como resultado do pecado do homem e da rebelião contra Deus, ele, um dia, será vindicado. Deus irá julgar este mundo com justiça, por meio de Jesus Cristo, e também haverá um julgamento final. A justiça será feita para todos aqueles que já viveram nesta terra (Atos 17:31; Apocalipse 20:11-15). 

Aqui, então, está uma tremenda garantia. Vale a pena lutar pela justiça e resistir ao pecado, ao mal e a todo tipo de corrupção. Nosso senso de certo e errado é válido: ele não é uma ilusão.

"Mas, não", diz o humanismo, "nosso senso de certo e errado não é tão significante assim: é, simplesmente, o produto do desenvolvimento evolutivo". 

Então, não há nenhuma garantia de que ele será satisfeito no caso de qualquer indivíduo ou de qualquer geração! E, uma vez que não existe Deus e uma vez que não haverá nenhum julgamento final, os milhões que sofreram injustamente na terra, no passado, não encontrarão justiça nem na vida futura, já que não há nenhuma vida futura. Além disso, os milhões que ainda vivem na esperança da justiça nesta vida, ou na próxima, irão, do mesmo modo, provar uma desilusão zombeteira.

Que tipo de incentivo é esse para se lutar pela justiça agora, ou mesmo por alguma utopia futura que, como aquela que nos foi prometida no último século, pode, de qualquer modo, nunca chegar? Isso não é um estimulante.

Isso não é, nem mesmo, um sedativo. Isso é um depressivo.

Mas vamos, agora, considerar a proposição de que nada se aproveita, exceto a formação de um 'novo homem'.

Aqui, a Bíblia concorda totalmente com Marx contra muitas formas de religião popular. A Bíblia ensina que o homem é essencialmente mau. Seu coração é enganoso, acima de todas as coisas, e desesperadamente corrupto (Jeremias 17: 9). 

Nada, nem mesmo os melhores rituais religiosos ou disciplinas, nem mesmo o honesto empenho moral do homem podem curar seu mau coração e tornar o homem aceitável a Deus ou um cidadão apto a qualquer utopia, nada, isto é, exceto a remoção do mau coração do homem e sua substituição por um coração novo, por um espírito novo; em outras palavras, nada, a não ser a criação de um novo homem por meio do arrependimento pessoal e da fé no Filho de Deus, crucificado e ressuscitado, levando à reconciliação com Deus, ao perdão e a uma nova vida (Ezequiel 36:26; Tito 3:1-7; 2 Coríntios 5:17; Efésios 2:8-10).

O marxismo, em contrapartida, ensinou que o homem não é essencialmente mau, apenas ainda imperfeito, corrompido e alienado pela opressão capitalista.

Remova a opressão, e o homem salvará a si mesmo e a sua sociedade por seu próprio trabalho. Porém, mais uma vez, a amarga experiência provou que essa esperança também é ilusória. Em todos os séculos, os melhores esquemas políticos e econômicos foram, e continuam sendo, destruídos pelo contínuo egoísmo, inveja, ciúme, ganância, luxúria, embriaguez, roubo, mentira, crueldade e assassínio do homem. A história mostra que o homem é, como a Bíblia diz que ele é, essencialmente pecador e mau.

Então, como ele pode ser salvo? Certamente, não o será pela independência de Deus: isso é a causa de seus problemas, não há cura, nem mesmo pelos rituais religiosos e pelas boas obras. Falando com um homem que já era muito religioso, Cristo colocou desta forma: "O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito. Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo" (João 3:6-7).

Você pode alimentar, escovar e treinar um cão, mas você nunca irá, por esses meios, transformá-lo em um ser humano. Para se tornar um homem, ele teria que nascer de novo. A única maneira de tornar um ser humano caído e pecador em um filho de Deus é a regeneração pelo Espírito de Deus. As esperanças de fazê-lo por quaisquer outros meios são ilusórias.


Por David Gooding & John Lennox

17. Todas as religiões levam a Deus?

Certamente, não é exagero dizer que, para muitas pessoas, hoje, o ateísmo é apenas mais um credo viável. A dificuldade que impede as pessoas de abandoná-lo completamente, entretanto, é a sua incerteza sobre qual credo poderiam satisfatoriamente colocar em seu lugar. Não é autoevidente para elas que a alternativa óbvia ao ateísmo é o cristianismo.Admitindo que a única alternativa ao ateísmo é acreditar em um deus de algum tipo: mas por que, perguntam-se, deve este ser o Deus do cristianismo?

Por que não Shiva, Vishnu, Rama, Krishna ou qualquer um, ou todos, os numerosos deuses do hinduísmo? Ou Alá, o primeiro e único deus do islamismo? Ou, o budismo Theravada poderia ser a alternativa mais atrativa ao ateísmo? 

Ao contrário do budismo Mahayana, que acredita em dez mil e uma divindades, o budismo Theravada não é, de fato, uma religião, mas uma filosofia que não acredita em nenhum deus, seja qual for. Contudo, oferece a seus adeptos um corpo de doutrina (Tri-Pitakas) e um conjunto de disciplinas calculado para livrá-los da tirania de seus desejos e levá-los a um modo de vida cada vez mais livre da agitação, do estresse e do medo, e a relações pacíficas com seus semelhantes, homens e mulheres.O propósito de toda religião, como muitas pessoas sentem, é produzir um comportamento aceitável. 

Portanto, que importância tem, eles dizem, qual sistema específico você escolhe, desde que você siga os preceitos de sua religião escolhida de forma consistente e sincera? Se o objetivo moral é o mesmo, o que importa em qual direção e por qual caminho alguém sobe a montanha? Você atinge o mesmo cume no final. Não é verdade que todos os raios de uma roda levam ao seu cubo? Como G. B. Shaw disse: "Existe apenas uma religião no mundo, embora haja uma centena de versões dela." Então, todas as religiões levam a Deus?


O QUE AS RELIGIÕES DIZEM SOBRE SI MESMAS
No entanto, nem todas as religiões individuais concordam que são simplesmente rotas alternativas para o mesmo objetivo. Buda afirmou: "Há um único caminho para a purificação dos seres humanos"1 e "A verdade é uma só, não há uma segunda"2. 

O judaísmo monoteísta nunca vai concordar com o hinduísmo que há milhões de deuses. E o cristianismo dirá ao judaísmo monoteísta e ao islamismo que "Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12). 

Para muitas pessoas, essas afirmações mutuamente exclusivas de primazia parecem arrogantes e perigosamente fora de lugar na aldeia global que o mundo se tornou. Não seria, então, melhor para um ex-ateu seguir a filosofia eclética do movimento da Nova Era, tomando o que ele gosta de todas as religiões e combinando elementos de animismo, culto à natureza, panteísmo e moralidade cristã em um amálgama pragmático? A Nova Era, negando a existência objetiva da verdade, pode acomodar quase qualquer crença religiosa — desde que a crença não faça nenhuma afirmação absoluta por si só.

Irresistível como tudo isso pode parecer, no entanto, devemos estar vigilantes, pois sua demasiada atratividade é uma ilusão não suportada pelos fatos.Tome primeiro a alegação de que não importa qual sistema uma pessoa segue desde que ela seja sincera. Em qualquer outro departamento da vida, nenhuma pessoa responsável ficaria contente em ter a sinceridade como garantia da verdade ou de segurança. Todas as formas de prática médica têm, por definição, o mesmo objetivo, a saber, a cura dos doentes. 

Mas nem todos os medicamentos são igualmente potentes ou igualmente seguros. Alguns produzem efeitos colaterais nocivos. Outros são venenos. Nós não seríamos sábios ao engolir o conteúdo de uma garrafa sem saber diferenciá-lo, porque o rótulo trazia a palavra "medicamento". Todos nós acreditamos na objetividade da verdade quando se trata de medicamento!Em segundo lugar, mesmo se fosse verdade — e não é — que o alvo principal de todas as religiões é levar as pessoas a comportarem-se bem umas com as outras, não seria seguro supor, sem investigações adicionais, que se comportarem bem umas com as outras é uma meta suficiente a visar. Nos séculos passados, os mares do mundo foram navegados por muitos navios piratas. 

Em alguns desses navios, os piratas, sem dúvida, comportavam-se muito bem uns para com os outros e possuíam regras rigorosas e bem mantidas para garantir que o espólio capturado fosse compartilhado de forma justa. Nesse sentido, eles podem muito bem ter ficado satisfeitos com o padrão de moralidade que haviam alcançado. Mas isso teria negligenciado o fato fundamental de que eles eram piratas em rebelião contra o governo legal em terra! Se esse governo os tivesse pegado, sua moralidade não os salvaria da forca. Supor que o principal objetivo da religião é levar-nos a nos comportarmos bem uns para com os outros negligência a questão de saber se existe um ser supremo, um criador que nos fez, a quem devemos a lealdade e que irá chamar-nos para prestarmos contas de nossa negligência e de nossa deslealdade a ele. 

E, se houver tal ser supremo e o tivermos ignorado e quebrado as suas leis, não será desculpa, quando ele nos chamar para prestarmos contas, pleitear dizendo que nos comportamos bem para com nossos contemporâneos seres humanos. Aqui há um abismo intransponível entre, digamos, o budismo Theravada, por um lado, e o cristianismo, por outro. Para os budistas Theravada, o homem em sua essência eterna é a maior presença espiritual no universo.3 

No judaísmo e no cristianismo, um homem adotar essa atitude sobre si mesmo equivale à blasfêmia. Para eles, o homem é certamente feito à imagem de Deus; mas o homem não é Deus. Deus continua a ser a maior realidade espiritual, e o homem usurpar seu lugar é o cúmulo da rebelião contra o Altíssimo.Além disso, existe outra diferença irreconciliável entre religiões como o hinduísmo e o budismo, por um lado, e o judaísmo e cristianismo, por outro. 

O primeiro par afirma que o mundo material é uma ilusão (maya) e que o objetivo verdadeiro do homem sábio é escapar do mundo material para um nirvana imaterial. Judaísmo e cristianismo negam isso categoricamente. Eles afirmam que a criação material, feita pela mão do Criador, era boa, que os nossos corpos materiais, da mesma forma, eram bons; e, embora corrompidos pelo pecado, serão, um dia, fisicamente ressuscitados. Aqui, então, estão duas irreconciliáveis visões opostas de mundo. Seria um sinal de pensamento muito superficial supor que alguém poderia tirar o melhor de ambos e colocá-los juntos. 

E, obviamente, fará uma enorme diferença na atitude de um homem para com o mundo em torno dele e até mesmo para com seu próprio ser, qual das duas visões ele vai adotar.


RELIGIÕES E O PROBLEMA DA CULPA
Naturalmente, é verdade que, quando se trata dos preceitos básicos da moralidade — honrar os pais, não matar etc. — todas as religiões ensinam mais ou menos o mesmo. Compare, por exemplo, os cinco preceitos do budismo com os dez mandamentos do judaísmo. Em uma palavra, as religiões nos ensinam que devemos ser bons. Mas o nosso problema é que nós não fomos bons. Nós já pecamos contra Deus, quebramos suas leis e ficamos sujeitos a suas penalidades. 

Nós pecamos contra nossos semelhantes, homens e mulheres, e lhes causamos dano. Pecamos contra nós mesmos, e, se somos, de fato, criaturas de Deus, então pecar contra nossos semelhantes e contra nós mesmos também é um pecado grave contra Deus. Os seres humanos são feitos de tal forma que, quando pecam contra Deus e seus semelhantes, desenvolvem uma consciência culpada que destrói sua paz e os assombra como um esqueleto no armário. 

Para ficarem em paz, para encararem o futuro com confiança, eles devem ser capazes de se livrar dessa consciência culpada. Assim, qualquer religião digna desse nome deve lidar com essa questão da culpa. Mas como? É pior do que inútil tentar se livrar da culpa da consciência dizendo a homens e a mulheres que seus pecados e sua culpa passados não importam. 

De fato, no fim, isso significaria que as pessoas contra as quais pecaram não importam, que o dano que causaram não importa e que a consciência é uma mera fraqueza de caráter que pode convenientemente ser suprimida com impunidade. Nenhum paraíso jamais poderia ser construído sobre uma teoria como essa, que sugere que, no fim, os seres humanos não importam; porém, infelizmente, a tentativa foi feita mais de uma vez.

Cada homem e cada mulher, portanto, precisa urgentemente de uma solução para esse problema, uma que pode sustentar seus padrões morais e seu senso de justiça e, ao mesmo tempo, trazer-lhes perdão e justamente libertá-los das cadeias da culpa passada.Aqui, naturalmente, as grandes religiões diferem, e não adianta esconder o fato. Certas formas de budismo negam que haja tal coisa como o perdão. Homens e mulheres simplesmente têm de sofrer seu inevitável karma de demérito, que cada indivíduo acumula para si ao longo de suas vidas presentes e passadas, até que isso se esgote, e eles sejam liberados ao seu nirvana esperado.Eles não podem esperar nenhuma ajuda externa."Ninguém pode purificar outro."4 

Existe apenas a operação inexorável da lei de causa e efeito, e qualquer excesso de demérito sobre mérito deve ser liquidado em uma sucessão de reencarnações possivelmente infinita.Algumas formas primitivas do hinduísmo sugeriam que o perdão podia ser obtido pela oferta de presentes cerimoniais e sacrifícios aos deuses. 

O judaísmo, da mesma forma, tinha um elaborado sistema de sacrifícios em razão dos quais as pessoas poderiam encontrar o perdão de Deus. Mas o próprio judaísmo teve o cuidado de salientar que o sacrifício de bois e vacas não podia ser considerado uma solução adequada ao problema da culpa humana (Salmo 40:6). Afinal, o que as vacas sabem sobre pecado? Elas não vão para a cama, à noite, assombradas por uma consciência culpada. 

As considerações morais permanecem para sempre sem afetá-las. É a glória e o fardo do ser humano ser consciente das exigências da moralidade.Na melhor das hipóteses, portanto, os sacrifícios de animais eram apenas uma forma simbólica de reconhecer que a pena do pecado deve ser paga, para que a consciência tenha descanso pelo perdão. Hoje, o judaísmo perdeu até mesmo o sistema de símbolos e não tem nada para colocar em seu lugar. Nisso, assemelha-se ao islamismo, que ensina as pessoas a lançarem-se sobre a misericórdia do Altíssimo, mas não pode apontar qualquer sacrifício que possa adequadamente pagar o preço do pecado.


A IMPARIDADE INQUESTIONÁVEL DE CRISTO
Neste contexto, o cristianismo é único, pois, embora ensine as pessoas a serem boas, esse não é o maior impulso de sua mensagem. O coração de sua mensagem é que Deus, o juiz contra o qual todos nós pecamos, tomou para si a tarefa de defender a honra de sua lei e da justiça pública, oferecendo o seu Filho como um sacrifício para tirar o pecado do mundo. Nisso, Cristo é único. 

De todos os grandes fundadores e líderes de religiões, ele é o único que vem a nós alegando ser nosso Criador encarnado, o qual veio lidar com o problema da culpa do nosso pecado pelo seu sacrifício no Calvário, para que possamos receber perdão e paz com Deus. Por exemplo, como H. D. Lewis afirma: "... e o próprio Buda, de acordo com o famoso texto que descreve o seu falecimento, desmentiu, na época de sua morte, quaisquer afirmações peculiares feitas em seu nome como instrumento de salvação".5 

Perguntar por que temos de pensar que Cristo é o único caminho para Deus é perder o ponto completamente. Ninguém mais se oferece para tratar desse problema fundamental.Cristo é o único. Não é mente estreita aceitar de Cristo o que ninguém mais oferece!Além disso, é importante ser esclarecido sobre a condição básica na qual a oferta de Cristo é feita, pois aqui, mais uma vez, está uma área em que o cristianismo é único.Como nem todos aqueles que professam o cristianismo viram esta distinção, nós a salientamos, considerando a metáfora familiar que representa a religião como um caminho ou uma trilha. No budismo, é o "Caminho Óctuplo" ou "Caminho do Meio", e, desde tempos muito antigos, o cristianismo era conhecido como "O Caminho". 

Nesse esquema de coisas, geralmente, há uma porta no início, através da qual se deve entrar, ou algum ritual, ou experiência pela qual se deve passar a fim de pôr-se a caminho. Em muitos, há também um portão no final, que leva para o céu, nirvana etc. — embora os budistas Zen afirmem que a iluminação (satori) é possível nesta vida presente.A ideia comum a todas elas é que, passar pelo por tão final ou não (ou atingir a iluminação ao longo do caminho ou não), depende de como você progride ao longo do caminho — o princípio básico é o mérito. 

As pessoas costumam pensar nisso da mesma forma como o fazem por um diploma universitário. Se você deseja obter um diploma de uma universidade, você deve passar pelo exame de ingresso necessário a fim de se qualificar para entrar na universidade. Se você não passar por essa porta, você não pode nem mesmo começar o curso universitário que possa levá-lo a uma graduação. Mas entrar por essa porta no início não é garantia de que você vai obter um diploma no final do curso, pois existe uma outra porta no final do curso, a saber, a prova final. Chegar ou não a esse portão, dependerá de quão bem você se sairá no curso e na prova final. 

Os professores empenhar-se-ão para ajudá-lo, mas mesmo eles não podem garantir que você passará. No final, tudo depende de seu mérito. Você tem de ganhar o diploma, mas não pode ser decidido se você fez o suficiente para ganhá-lo até a prova final.

Na mente popular, o próprio cristianismo é uma religião desse tipo. Para obter a salvação e a aceitação de Deus, você primeiro deve entrar através da porta no início da estrada, isto é, o ritual do batismo. Entrar nessa porta o coloca na corrida para a salvação; mas, naturalmente, isso não significa que você já está salvo. 

Conseguir a salvação e a aceitação de Deus depende de passar pela prova no final do curso, isto é, o juízo final; e passar nesse juízo final deve depender do progresso que você fez e do mérito que você atingiu durante a vida. Naturalmente, a "igreja" e seus dirigentes estão lá para ajudá-lo em tudo o que puderem; mas mesmo eles não podem garantir que você vai passar no juízo final. 

Assim, a questão da sua aceitação final por Deus deve ser deixada em aberto até a avaliação final, porque (conforme as pessoas pensam) a aceitação de Deus depende das obras, do progresso e do mérito de alguém.Agora isso, por mais plausível que pareça, é exatamente o oposto daquilo que o Novo Testamento realmente ensina sobre a aceitação de Deus, pois, nessa matéria, o cristianismo vai claramente contra toda religião. Ele diz, categoricamente, que a salvação não é por obras e mérito. É dom de Deus (Efésios 2:8-9).

Como um dom gratuito, portanto, a salvação não pode tornar-se dependente de quão bem alguém progrediu no caminho. 

A pergunta, então, surge: em que ponto, ao longo do caminho, alguém recebe esse dom? Em que ponto Deus nos dá a garantia de que ele nos aceitou? No final do caminho? Não! 

No início do caminho, como o Senhor Jesus explicou aos seus contemporâneos: "Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida" (João 5:24). 

Ou, como Paulo explicou: "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da gloria de Deus" (Romanos 5:1-2).

Além disso, vemos em ambas as declarações a garantia de que, com o fundamento de termos sido justificados no início da estrada, Deus nos assegura que passaremos pelo portão no final da estrada também. 

Como o apóstolo Paulo explicou: "Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira " (Romanos 5:9).


BOM DEMAIS PARA SER VERDADE?
À primeira vista, isso soa de modo tão contrário ao que as pessoas pensam, que elas são inclinadas a descartar isso e a considerar que essa não pode ser uma verdadeira interpretação do cristianismo. Mas esta segurança básica e o senso de ser aceito por Deus foi central nos ensinamentos de Jesus.

"As minhas ovelhas," disse ele, "ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. Aquilo que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar" (João 10:27-29).

Mas, no caso de ainda acharmos difícil aceitar que um crente em Cristo possa desfrutar, nesta vida, a paz da aceitação completa de Deus, vamos considerar, por analogia, a mais profunda das relações humanas, que é entre um homem e sua esposa. Para assegurar um casamento feliz, seria sábio um marido deixar o maior tempo possível, depois de uma cerimônia de casamento, antes de permitir que sua esposa saiba que ele a aceitou? A resposta é óbvia. 

Para uma mulher, passar toda a sua vida de casada incerta de haver feito o suficiente para ganhar a aceitação de seu marido iria transformar essa vida em uma espécie de escravidão. Em casamentos normais, o marido assegura a sua esposa de sua aceitação e de seu compromisso com ela desde o início. É a confiança da esposa no amor e na aceitação de seu marido, desde o início, que traz à tona sua devoção a ele e a dele para ela.

A analogia não é inverossímil. 

De acordo com o cristianismo, a salvação não é um esquema de acumulação de méritos que compra a aceitação de Deus. É uma questão de entrar em um relacionamento pessoal presente com nosso Criador, que a Bíblia descreve em termos de amor de um marido para sua esposa (Efésios 5:22-33). 

Essa relação não é para ser deixada na incerteza até o fim da vida. Na verdade, se for para ser formada, ela deve ser formada agora, nesta vida. Mas uma vez formada, durará eternamente.Mais uma vez, para muitas pessoas, parece que isso simplesmente não pode ser verdade; pois, se fosse, seria, elas pensam, perigoso. 

"Se pudéssemos ter certeza, nesta vida, da aceitação de Deus", elas dizem, "isso não nos levaria a abusar de seu amor e de sua graça por vivermos indignamente?"A questão parece razoável o suficiente, especialmente para pessoas que nunca experimentaram o que acontece quando alguém responde ao convite de Cristo e entra nessa relação pessoal com ele. Mas a resposta à pergunta é "Não", decididamente "Não". E "Não", devido à porta pela qual devemos passar para começar o caminho cristão. 

A porta não é o rito de batismo infantil, realizado em um bebê que desconhece completamente o que está acontecendo. É o verdadeiro novo nascimento, produzido em uma pessoa pelo poder regenerador do Espírito Santo (Tito 3:3-7; João 3:5-16). 

Não é alcançado pelo esforço de uma pessoa e pelas suas obras. É um dom dado a todos que pessoalmente se arrependem e recebem a Cristo como Senhor e Salvador (João 1:12-13; Efésios 2:8-10), mas, porque o dom é a nova vida espiritual, com novos poderes, novos desejos, novos objetivos e, acima de tudo, uma nova relação com Deus, isso naturalmente leva a boas obras, na verdade, a um novo estilo de vida. Isso não significa que o crente seja perfeitamente sem pecado; mas, quando pecar, um crente verdadeiro se arrependerá, confessará seus pecados e receberá o perdão prometido de Deus (1 João 1:9).Esta, então, é a glória do evangelho cristão. 

Mas carrega um corolário grave. Quando não há nenhuma evidência de um estilo de vida mudado, há todas as razões para duvidar se esse novo nascimento aconteceu de fato, se realmente a pessoa em questão já entrou pela porta. As Escrituras dizem: "Assim como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé sem obras é morta" (Tiago 2:26). 

Não é pelo choro que o bebê ganha a vida; mas um recém-nascido que não chora provavelmente está morto.


A AFIRMAÇÃO DA VERDADE DE CRISTO NÃO É TIRANA
Um ponto final surge em conexão com a afirmação de Cristo ser o único Salvador. Por exemplo, ele disse: "Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14:6). 

Da mesma forma, seus apóstolos proclamaram sua desigualdade: "Não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos" (Atos 4:12). 

Agora, em um mundo cada vez mais pluralista, muitas pessoas ficam muito apreensivas quando ouvem tais afirmações. Elas compartilham o medo articulado por Karl Popper no seu famoso livro, The Open Society, de que a crença de que apenas um possui a verdade é sempre implicitamente totalitária. 

Popper salienta que é apenas um pequeno passo da confiança que diz: "Eu tenho certeza..." à tirania que diz: "...portanto, devo ser obedecido". 

Isso leva Popper dizer que todas as afirmações de verdade absoluta devem ser rejeitadas para proteger a sociedade. Como a história nos fornece muitos exemplos da realidade desse medo, é de importância vital que vejamos que Cristo, que fez tais afirmações, repudiou a violência e a tirania. Na verdade, esta é uma das glórias da mensagem cristã: que Cristo não forçou seu caminho na vida das pessoas com demonstrações explícitas de poder — e não lhe faltava poder. Ele queria que homens e mulheres viessem confiar e amar a Deus — e confiança e amor não podem ser forçados, eles só podem ser ganhos. 

Cristo demonstrou seu amor e seu cuidado para com as pessoas, como os Evangelhos descrevem em detalhes. E, quando algumas pessoas, no entanto, o rejeitaram e lhe pediram para que saísse, ele não os forçou violentamente a se submeterem a ele, contudo aceitou seu veredito e foi embora triste (Mateus 8:34-9:1). 

E, quando seus discípulos pegaram espadas para defendê-lo, ele os impediu imediatamente, proferindo as famosas palavras: "Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada a espada perecerão" (Mateus 26:52). 

Para Pilatos, o procurador romano, diante de quem ele tinha sido acusado como um potencial líder de insurreição, ele disse: "O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus..." (João 18:36) Respondendo a essa declaração, com a plena autoridade de Roma atrás dele, Pilatos pronunciou-se: "Eu não acho nele crime algum" (João 18:38). 

O contexto é a afirmação de Cristo a Pilatos de que ele era um rei, vindo ao mundo "a fim de dar testemunho da verdade" e afirmando que "Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz" (João 18:37). Assim, a sentença de Pilatos mostra que ele não viu nenhuma ameaça política na afirmação de Cristo.Além disso, Cristo até orou pelos soldados que foram designados para crucificá-lo. Ele não pode, portanto, ser responsabilizado por aqueles de seus professos seguidores que, em desobediência direta a seu comando explícito, usaram força e violência para tiranizar outros. Tal comportamento simplesmente não é cristão, seja lá o que possa afirmar o contrário. As afirmações de Cristo, se verdadeiramente aceitas, levam as pessoas a obedecerem a seus ensinamentos e, sobretudo, a amarem até seus inimigos. Cristo não pode ser nem um pouco criticado pelo comportamento daqueles que, ao longo dos séculos e ainda hoje, rejeitam seus ensinamentos e transformam o cristianismo em uma tirania.


NOTAS DE FIM

1. R. C. Zaehner, The Concise Encyclopaedia of Living Faiths, London: Hutchinson, 1977, p. 265.

2. Ibid., p. 275.

3. Ibid., p. 409.4. Ibid., p. 265.

5. Lewis and Slater, World Religions, London: Baltimore Penguin Books, 1966.


Por David Gooding & John Lennox

18. O terrível estado dos não-convertidos

"Então, o carcereiro, tendo pedido uma luz, entrou precipitadamente e, trêmulo, prostrou-se diante de Paulo e Silas. Depois, trazendo-os para fora, disse: Senhores, que devo fazer para que seja salvo?" 

(Atos 16:29,30)


Temos aqui e no contexto um relato da conversão do carcereiro, que é uma das mais notáveis nas Escrituras. Ele, anteriormente, parece não apenas ter estado completamente insensível às coisas da religião, mas ter sido um perseguidor, tendo perseguido estes mesmos homens, Paulo e Silas, embora agora venha a eles de forma tão urgente, perguntando-lhes o que devia fazer para ser salvo. 

Lemos no contexto que todos os magistrados e multidões da cidade juntaram-se a uma em um tumulto contra Paulo e Silas, arrebatando-os, e lançando-os na prisão, encarregando o carcereiro da sua guarda. Imediatamente ele os lançou na prisão interior, e prendeu seus pés ao tronco. E é provável que não tenha agido assim meramente como um servo ou instrumento dos magistrados, mas que tenha se juntado com o resto do povo na sua fúria contra os apóstolos, e que assim o fez induzido por sua própria vontade, bem como pelas ordens dos magistrados, o que o fez executar suas ordens com tal rigor.Mas quando, à meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores, repentinamente houve um grande terremoto, e Deus abriu de forma tão maravilhosa as portas da prisão, e todas as cadeias foram afrouxadas, o carcereiro ficou extremamente aterrorizado, e, em uma espécie de desespero, estava prestes a se matar. 

Mas Paulo e Silas gritaram para ele: "Não te faças mal algum, pois estamos todos aqui". Então, pediu uma luz, e saltou dentro [ARC], como temos o relato no texto. 


Podemos observar:

1. O objeto de sua preocupação. Ele está ansioso acerca de sua salvação: está aterrorizado por sua culpa, especialmente por sua culpa no maltrato destes ministros de Cristo. Está preocupado em escapar desse estado de culpa, o estado miserável que se encontrava devido ao pecado.

2. O senso que tem do horror do seu estado atual. 


Isto ele manifesta de diversas maneiras:

1. Por sua grande pressa em escapar desse estado. 

Por seu afã em inquirir o que deve fazer. Ele parece estar tolhido pela mais premente preocupação, sensível à sua presente necessidade de libertação, sem qualquer adiamento. 

Antes, estava quieto e seguro em seu estado natural; mas agora seus olhos foram abertos, está na mais urgente pressa. Se a casa estivesse em chamas sobre sua cabeça, não poderia ter sido mais diligente, ou estar mais apressado. Se apenas tivesse andado, poderia logo ter chegado a Paulo e Silas, para perguntar-lhes o que devia fazer. Mas estava em grande pressa para andar apenas, ou correr, pois saltou; pulou para o lugar em que estavam. Ele fugia da ira. Fugia do fogo da justiça divina, e por isso apressava-se, como alguém que foge pela sua vida.

2. Pelo seu comportamento e gesto diante de Paulo e Silas. Ele se prostrou. Que tenha se prostrado diante daqueles a quem havia perseguido, e atirado à prisão interior, e prendido os pés ao tronco, mostra qual era o estado de sua mente. Mostra alguma grande perturbação, que o alterou de tal maneira que o levou a isto. 

Estava, por assim dizer, despedaçado pela perturbação de sua mente, em um senso do horror de sua condição.

3. Sua maneira urgente de inquiri-los acerca do que devia fazer para escapar desta condição miserável: "Senhores, que devo fazer para ser salvo?" Estava tão perturbado, que foi levado a se dispor a qualquer coisa; ter a salvação em qualquer termo, e por qualquer meio, mesmo que difícil; foi levado, por assim dizer, a escrever uma fórmula, e entregá-la a Deus, para que Ele prescrevesse seus próprios termos.


DOUTRINA: Os que estão em um estado natural, estão em uma condição terrível.Isto me esforçarei para provar por uma consideração particular do estado e condição das pessoas não regeneradas.

I. Quanto a seu estado atual neste mundo.

I. Quanto as suas relações com o mundo futuro.

I. A condição daqueles que não são convertidos é terrível no mundo presente.


Primeiro. Devido ao estado depravado de suas naturezas. Os homens, quando vêm ao mundo, têm naturezas terrivelmente depravadas. O homem, em seu estado primitivo, era uma peça nobre de habilidade Divina; mas, pela Queda, está horrivelmente desfigurado. É triste pensar que uma criatura tão excelente deva estar tão arruinada. 

O horror desta condição, na qual se encontram os não-convertidos neste respeito, prova-se pelo seguinte:


1. O horror de sua depravação evidencia-se pelo fato de serem tão insensivelmente cegos e ignorantes. 

Deus deu ao homem a faculdade da razão e do entendimento, que é uma nobre faculdade. Por ela, ele se diferencia de todas as outras criaturas inferiores. 

É exaltado em sua natureza acima delas, e é, neste aspecto, semelhante aos anjos, capacitado a conhecer a Deus, e conhecer as coisas eternas e espirituais. Deus lhe deu entendi-mento para este fim, para que O pudesse conhecer, e conhecer as coisas celestiais, e o fez capaz de compreendê-las como quaisquer outras. Mas o homem degradou a si mês-mo, e perdeu sua glória neste respeito. Tornou-se ignorante da excelência de Deus à maneira das próprias feras. Seu entendimento está cheio de obscuridade; sua mente está cega; está completamente cego para as coisas espirituais. 

Os homens são ignorantes de Deus, e ignorantes de Cristo, ignorantes do caminho da salvação, ignorantes de sua própria felicidade, cegos em meio a mais brilhante e clara luz, ignorantes sob todas as formas de instrução. 

Rm 3:17: "Desconheceram o caminho da paz". 

Is 27:11: "Não é povo de entendimento". 

Jr 4:22: "O meu povo está louco, já não me conhece; são filhos néscios e não inteligentes". 

Sl 95:10, 11: "É povo de coração transviado, não conhece os meus caminhos. Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso":1 Co 15:34: "Alguns ainda não têm conhecimento de Deus; isto digo para vergonha vossa".Há um espírito de ateísmo prevalecendo nos corações dos homens; uma estranha disposição para duvidar da própria existência de Deus, e do outro mundo, e de qualquer coisa que não possa ser vista com os olhos físicos. 

Sl 14.1: "Diz o insensato no seu coração, não há Deus". Não percebem que Deus os vê, quando pecam, e os chamará a prestar contas por isso. E, portanto, se podem esconder os pecados dos olhos dos homens, não se preocupam, e são ousados em cometê-los. 

Sl 94:7-9: "E dizem: O SENHOR não o verá; nem para isso atentará o Deus de Jacó. Atendei, ó brutais dentre o povo; e vós, loucos, quando sereis sábios? Aquele que fez o ouvido, não ouvirá? E o que formou o olho, não verá? [ARC]" 

Sl 73:11: "E diz: Como sabe Deus? Acaso, há conhecimento no Altíssimo?" São tão insensivelmente incrédulos das coisas futuras, do céu e do inferno, que comumente preferem correr o risco da condenação a ser convencidos. São estupidamente insensíveis da importância das coisas eternas. Como é difícil levá-los à fé, e dar-lhes real convicção de que ser feliz por toda a eternidade é melhor que todos os outros bens; e ser miserável por toda eternidade, debaixo da ira de Deus, é pior que todo mal. Os homens mostram-se insensíveis o suficiente nas coisas temporais, mas muito mais nas espirituais. 

Lc 12:56: "Hipócritas, sabeis interpretar o aspecto da terra e do céu e, entretanto, não sabeis discernir esta época?" São muito engenhosos para o mal; mas rudes naquelas coisas que mais os importam. 

Jr 4:22: "São sábios para o mal e não sabem fazer o bem". Os ímpios se mostram mais tolos e insensíveis para o que lhes é melhor, do que os brutos. 

Is 1:3: "O boi conhece o seu possuidor, e o jumento, o dono da sua manjedoura; mas Israel não tem conhecimento, o meu povo não entende". 

Jr 8:7: "Até a cegonha no céu conhece as suas estações; a rola, a andorinha e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece o juízo do SENHOR".


2. Não há bem algum neles. 

Rm 7:18: "Em mim, isto é, na minha carne, não habita bem algum". Não há neles nenhum princípio que os disponha a qualquer coisa boa. Os não-convertidos não têm princípio mais elevado em seus corações do que o amor-próprio. E nisso não excedem os demônios. 

Estes amam a si mesmos, e sua própria felicidade, e tem em sua própria miséria. E não vão mais longe. Seriam tão religiosos quanto os melhores dos não-convertidos, se estivessem nas mesmas circunstâncias. Seriam tão moralistas, e orariam com o mesmo fervor a Deus, e sofreriam o mesmo tanto pela salvação, se houvesse oportunidades semelhantes. E, assim como não há bom princípio nos corações dos não-convertidos, também nunca há quaisquer bons exercícios do coração, nunca um bom pensamento, ou mover de coração neles. Particularmente, neles não há amor por Deus. Jamais tiveram o mínimo grau de amor pelo Ser infinitamente glorioso. Jamais tiveram o mínimo respeito verdadeiro pelo Ser que os criou, e em cujas mãos está sua respiração, e de quem procedem todas as suas misericórdias. 

Conquanto, às vezes, possam parecer fazer coisas por respeito a Deus, e vistam o rosto como se O honrassem, e altamente O estimassem, tudo não passa de hipocrisia. Mesmo que haja um exterior limpo, são como sepulcros caiados; por dentro não há nada senão putrefação e podridão. Não têm amor por Cristo, o glorioso Filho de Deus, que é tão digno de seu amor, e que mostrou graça tão maravilhosa pelos pecadores ao morrer por eles. 

Jamais fizeram qualquer coisa por respeito verdadeiro ao Redentor do mundo, desde que nasceram. Jamais produziram quaisquer frutos a esse Deus que os criou, e em quem vivem, movem-se e tem seu ser. Jamais responderam de alguma forma ao fim para o qual foram criados. Têm, até agora, vivido completamente em vão, e sem nenhum propósito. Jamais obedeceram com sinceridade a um mandamento de Deus; nunca moveram um dedo motivados por um espírito verdadeiro de obediência a Ele, que os fez para servi-lO. 

E quando pareceram, externamente, concordar com os mandamentos de Deus, em seus corações não o fizeram. Jamais obedeceram movidos por um espírito de sujeição a Deus, ou por qualquer disposição em obedecê-lO, mas meramente foram levados a isso pelo medo, ou de alguma forma influenciados por seus interesses mundanos. Jamais deram a Deus a honra de nenhum de Seus atributos. Nunca Lhe deram a honra de Sua autoridade, obedecendo-Lhe. Jamais Lhe deram a honra por Sua soberania, submetendo-se a Ele. Jamais Lhe deram a honra de Sua santidade e misericórdia, amando-O. 

Nunca Lhe deram a honra por Sua suficiência e fidelidade, confiando nEle; mas olharam para Deus como Alguém indigno de ser crido e confiado, e o trataram como se fosse um mentiroso: 1 Jo 5:10: "Aquele que não dá crédito a Deus o faz mentiroso". 

Eles jamais agradeceram de coração a Deus por uma simples misericórdia recebida em toda sua vida, embora Ele os tenha sustentado, e tenham vivido debaixo de Sua liberalidade. Jamais agradeceram genuinamente a Cristo por ter vindo ao mundo, e morrido para lhes dar a oportunidade de serem salvos. Jamais lhe mostrariam alguma gratidão a ponto de recebê-lO, quando bateu em suas portas; mas sempre lha fecharam, embora tenha batido sem nenhum outro propósito senão o de oferecer-Se para ser seu Salvador. Jamais tiveram qualquer desejo verdadeiro por Deus ou Cristo em toda a sua vida. Quando Deus se ofereceu para ser sua porção, e Cristo, para ser o amigo de suas almas, não os desejaram. Jamais quiseram ter Deus e Cristo como sua porção. 

Prefeririam, ao contrário, estar sem eles, se pudessem evitar o inferno sem Sua companhia. Jamais tiveram um pensamento honroso sobre Deus. Sempre estimaram as coisas terrenas antes dEle. E, apesar de tudo o que ouviram nos mandamentos de Deus e de Cristo, sempre preferiram um pequeno ganho mundano ou um prazer pecaminoso a eles.3. Os não-convertidos estão em uma condição terrível devido à horrível impiedade que há neles.


1. O pecado possui uma natureza terrível, e isso se dá porque é cometido contra um Deus infinitamente grande e santo. 

Há na natureza do homem inimizade, desprezo e rebelião contra Deus. O pecado se levanta como um inimigo do Altíssimo. É terrível para a criatura ser inimiga do Criador, ou ter no coração algo como uma inimizade, como ficará bem claro, se considerarmos a diferença que há entre Deus e a criatura, e como as criaturas, comparadas a Ele, são como o pó da balança, como nada, menos do que nada, um vácuo. Há um mal infinito no pecado. Se víssemos a centésima parte do mal que há no pecado, isso nos tornaria sensíveis que aqueles que têm qualquer pecado, ainda que seja mínimo, estão em uma condição terrível.


2. Os corações dos não-convertidos estão completamente cheios de pecado. 

Se tivessem apenas um pecado neles, seria suficiente para tornar suas condições muito terríveis. Mas têm não apenas um pecado, mas todo tipo de pecado. Há todo tipo de desejo carnal. O coração é um mero poço de pecado, uma fonte de corrupção, de onde emerge todo tipo de regatos imundos. 

Mc 7:21, 22: "Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura". 

Não há um desejo maligno no coração do diabo, que não esteja no coração do homem. Os homens naturais são à imagem do diabo. A imagem de Deus é demolida, e a imagem do diabo é estampada nele. Deus graciosamente se agrada em restringir a impiedade dos homens, especialmente pelo temor e respeito que têm pelos seus créditos e reputações, e pela educação. Não fosse tais restrições, não haveria tipo de impiedade que os homens não cometeriam, quando lhes viessem ao encontro. A prática daquelas coisas que os homens agora, à simples menção, prontamente ficam chocados quando ouvem o relato, seria comum e geral; e a terra seria um tipo de inferno. Se não temesse, o que o homem natural não faria? Mt 10:17: "acautelai-vos dos homens". 

Os homens têm não apenas todo tipo de luxúria, e disposições ímpias e perversas em seus corações, mas as têm em um grau desesperador. Não há apenas o orgulho, mas um grau fantástico dele: orgulho tal que o dispõe a colocar-se acima até mesmo do trono do próprio Deus. Os corações dos não-convertidos são meras sarjetas de sensualidade. O homem se tornou como as feras ao colocar sua felicidade nas diversões sensuais. O coração está cheio das paixões mais repugnantes. Suas almas são mais vis e abomináveis que a de qualquer réptil. Se Deus abrisse uma janela no coração, de forma que pudéssemos contemplar o seu interior, seria o espetáculo mais repugnante que já se viu sob nossos olhos. Não há apenas malícia nos corações dos homens naturais, mas uma fonte dela. 

Os homens merecem, portanto, a linguagem aplicadas a eles por Cristo em Mateus 3.7: "Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?" e Mt 23:33: "Serpentes, raça de víboras!" Eles, não fosse pelo medo e outras restrições, não apenas cometeriam toda sorte de pecado, mas a que grau, a que distância não procederiam! O que impede um homem natural de abertamente blasfemar contra Deus, como faz qualquer um dos demônios; sim, de destroná-lo, se fosse possível, e não houvesse o medo e outras restrições no caminho? Sim, não aconteceria isto com muitos dos que agora aparecem com um rosto justo, falando muito de Deus, e com muitas pretensões de adorá-lO e servi-lO? 

A grande impiedade dos homens naturais aparece abundantemente nos pecados que cometem, não obstante todas estas restrições. Todo homem natural, se refletir, pode ver o suficiente para mostrar-lhe como é excessivamente pecador. O pecado flui do coração com tanta constância como a água flui de uma fonte. Jr 6:7: "Como o poço conserva frescas as suas águas, assim ela, a sua malícia". E esta impiedade, que abunda desta maneira nos corações, tem domínio sobre eles. São escravos dela: Rom 7:14: "eu, todavia, sou carnal, vendido à escravidão do pecado". Estão de tal maneira debaixo do pecado, que são conduzidos por suas luxúrias em um curso contra suas próprias consciências, e contra seu próprio interesse. Apressam-se em direção à própria ruína, e isso ao mesmo tempo, em que suas próprias razões lhes advertem que isto provavelmente será sua perdição. 2 Pedro 2.14: "Insaciáveis no pecado". Devido ao fato dos ímpios estarem de tal maneira sob o poder do pecado, o coração humano é descrito como desesperadamente corrupto em Jr 17.9 e Ef 2.1 diz: "[estáveis] mortos nos vossos delitos e pecados".


3. Os corações dos não-convertidos são terrivelmente endurecidos e incorrigíveis. 

Nada, a não ser o poder de Deus, os moverá. Apegar-se-ão ao pecado, e continuarão nele, aconteça o que acontecer. 

Pv 27:22: "Ainda que pises o insensato com mão de gral entre grãos pilados de cevada, não se vai dele a sua estultícia". Não há nada que abale seus corações, e nada que os leve à obediência: quer sejam misericórdias ou aflições, ameaças ou chamados e convites da graça, reprovação ou paciência e longanimidade, ou conselhos e exortações paternais. 

Is 26:10: "Ainda que se mostre favor ao perverso, nem por isso aprende a justiça; até na terra da retidão ele comete a iniquidade e não atenta para a majestade do SENHOR".

Em segundo lugar: O estado relativo dos não-convertidos é terrível. Isso será evidente se considerarmos:1. Seu estado relativo com respeito a Deus; e isso porque:1. Eles estão sem Deus no mundo. Não têm interesse ou parte com Deus: Ele não é o Deus deles. Ele próprio declarou que não o seria (Os 1:9). 

Deus e os crentes têm uma relação pactual mútua e direito um ao outro. Eles são seu povo, e Ele é o Deus deles. Mas não é o Deus pactual daqueles que estão em um estado natural. Há uma grande alienação e estranhamento entre Deus e os ímpios: Ele não é seu pai e porção, não têm nada com que possam questioná-lo, não têm direito a nenhum de seus atributos. O crente pode reivindicar um direito no poder de Deus, em Sua sabedoria e santidade, Sua graça e amor. Tudo é renovado para ele, em seu benefício. 

Mas o não-convertido não pode reivindicar direito algum a qualquer das perfeições de Deus. Não têm Deus para defendê-los e protegê-los neste mundo mau: para defendê-los do pecado, de Satanás ou de qualquer mal. Não têm Deus para guiá-los e orientá-los em quaisquer dúvidas ou dificuldades, para confortá-los e apoiar suas mentes nas aflições. Estão sem Deus em todos as suas ocupações, em todos os negócios que realizam, em seus assuntos familiares, e em todas os seus projetos pessoais, nas suas preocupações exteriores e nas preocupações de suas almas.Como poderia uma criatura ser mais miserável do que estando separada de seu Criador, e não ter um Deus a quem possa chamar de seu? É miserável, de fato, aquele que vagueia pelo mundo, sem um Deus para velar por si, e ser seu guia e protetor, e abençoá-lo nos seus afazeres. A própria luz da natureza ensina que o Deus de um homem é seu tudo. 

Jz 18:24: "Os deuses que eu fiz me tomastes; que mais me resta?" Não há senão um Deus, e não têm direito algum a Ele. Estão sem aquele Deus, cuja vontade deve determinar sua inteira existência, tanto aqui quanto na eternidade. Que os não-convertidos estão sem Deus mostra que estão sujeitos a todo tipo de mal. 

Estão sujeitos ao poder do diabo, ao poder de todo tipo de tentação, pois não têm Deus para protegê-los. Estão sujeitos a ser seduzidos e enganados pelas opiniões errôneas, e a abraçarem doutrinas condenadas. Não é possível enganar os santos desta maneira. Mas os não-convertidos podem ser enganados. Podem tornar-se papistas, ou pagãos, ou ateus. Nada que tenham pode livrá-los disso. Estão sujeitos a ser entregues à dureza judicial de Deus no coração. Eles a merecem, e, uma vez que Deus não é o seu Deus, não têm certeza se não lhes aplicará esse terrível julgamento. Como estão sem Deus no mundo, estão sujei-tos a cometer todo tipo de pecado, e, até mesmo, o pecado imperdoável. Não podem ter certeza se não vão cometê-lo. Estão sujeitos a construir uma falsa esperança do céu, e, com essa esperança, irem ao inferno. 

Estão sujeitos a morrer insensíveis e estúpidos, como muitos morrem. Estão sujeitos a morrer da mesma maneira que morreram Judas e Saul, sem temor do inferno. Não estão seguros disso. Estão sujeitos a todo tipo de engano, uma vez que estão sem Deus. Não podem dizer o que poderá lhes suceder, nem quando estão seguros de qualquer coisa. Não estão seguros nem por um momento. Dez mil enganos fatais podem recair sobre eles, e torná-los miseráveis para sempre.Os que têm Deus por seu Deus estão livres de tais males. 

Não é possível que recaiam sobre eles. Deus é seu Deus pactual, e têm sua promessa fiel de ser seu refúgio. Mas quantos enganos há que não possam recair sobre os não-convertidos? Quaisquer esperanças que tiverem poderão ser desapontadas. Qualquer perspectiva ingênua que possa aparentemente haver de sua conversão e salvação, pode desvanecer. Podem fazer grandes progressos em direção ao reino de Deus, e, ainda assim, falhar no final. Podem parecer estar em um estado deveras esperançoso de serem convertidos, e, ainda assim, jamais o serem. Um homem natural não tem segurança alguma. Não está seguro de bem nenhum, nem de escapar de qualquer mal. É, portanto, terrível a condição na qual se encontra o não-convertido. Os que estão no seu estado natural estão perdidos. Desviaram-se de Deus, e são como ovelhas perdidas, que se desviaram do seu pastor. São pobres criaturas desamparadas, em um deserto cheio de uivos, sem pastor para protegê-las ou guiá-las. Estão desolados, e expostos a inúmeros enganos fatais.2. Estão não apenas sem Deus, mas a Sua ira permanece sobre eles, João 3.36: "O que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus". 

Não há paz entre Deus e eles, mas Deus está irado com eles, diariamente. Não está apenas irado, mas o está num grau terrível. Há um fogo aceso na ira de Deus: ela está em chamas. A ira permanece sobre eles, que, se fosse ela executada, os lançaria no mais profundo inferno, e os tornaria miseráveis por toda eternidade. Provocaram o Santo de Israel à ira. Deus sempre esteve irado com eles, desde que começaram a pecar: tem sido provocado diariamente, e mais e mais, a cada hora. A chama de sua ira está continuamente ardendo. Provocaram a Deus mais do que muitos no inferno, e com maior frequência. Aonde quer que vão, convivem com a terrível ira de Deus sobre si. Comem, bebem e dormem debaixo de Sua ira. Como é terrível, portanto, a condição em que estão! É muito triste para a criatura ter a ira do seu Criador sobre si. Essa ira de Deus é algo infinitamente terrível. 

A ira de um rei é como o rugido de um leão; mas o que é a ira de um rei, que não é senão um verme do pó, comparada à ira do Deus infinitamente grande e terrível? Como é horrível estar debaixo da ira do Ser Primeiro, o Ser dos seres, o grande Criador e poderoso dono dos céus e da terra! Como é terrível para uma pessoa estar debaixo da ira de Deus, que lhe deu o ser, e em quem se move e existe, que é onipresente e sem o qual ela não pode dar um passo, nem um suspiro! Os não-convertidos, além de estarem debaixo de ira, estão debaixo de maldição. A ira e a maldição de Deus estão continuamente sobre eles. Não podem ter um conforto razoável, portanto, em qualquer de suas diversões, pois nada sabem, senão que elas lhes são dadas em ira, e serão amaldiçoados por elas, e não abençoados. 

Como é dito em Jó 18.15: "Espalhar-se-á enxofre sobre a sua habitação". Como podem, então, ter algum conforto em suas refeições, ou posses, quando nada sabem senão que isso lhes é dado para prepará-los para a execução?


II. O estado relativo deles se mostrará terrível, se considerarmos como estão relacionados ao diabo.

1. Os que estão em um estado natural são filhos do diabo. 

Assim como os santos são filhos de Deus, os ímpios são filhos do diabo: 

1 Jo 3:10: "Nisto são manifestos os filhos de Deus e os filhos do diabo" 

Mt 13:38, 39: "o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo". 

Jo 8:44: "Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos". São, por assim dizer, descendência do diabo; procedem dele: 1 Jo 3:8: "Aquele que pratica o pecado procede do diabo". Assim como Adão gerou um filho à sua semelhança, os ímpios são à imagem e semelhança do diabo. Eles reconhecem esta relação, e se consideram filhos do diabo, consentindo que ele seja seu pai. Sujeitam-se a ele, ouvem os seus conselhos, como os filhos ouvem os conselhos de um pai. Ele os ensina a imitá-lo, e a fazer como ele faz, assim como as crianças aprendem a imitar seus pais. 

Jo 8:38: "Eu falo das coisas que vi junto de meu Pai; vós, porém, fazeis o que vistes em vosso pai". Como é terrível este estado! Como é horrível ser um filho do diabo, o espírito das trevas, o príncipe do inferno, esse ímpio, maligno e cruel espírito! 

Ter alguma relação com ele é mui terrível. Seria considerado algo medonho e assustador o mero encontro com o diabo, aparecendo ele em uma forma visível para alguém. Como é terrível, então, ser seu filho; como é assustador para qualquer pessoa ter o diabo por seu pai!


2. Eles são cativos e servos do diabo. 

O homem, antes da queda, estava em um estado de liberdade; mas, agora, caiu nas mãos de satanás. O diabo foi vitorioso, e o tomou cativo. Os homens naturais estão em posse de satanás, e estão sob seu domínio. São conduzidos por ele em sujeição a sua vontade, para seguirem suas instruções, e fazerem o que ele ordena, 2 Tm 2:16: "Tendo sido feitos cativos por ele para cumprirem a sua vontade". O diabo governa sobre os ímpios. São todos seus escravos, e o servem com trabalhos forçados. Isto mostra que sua condição é terrível. 

Os homens consideram um estado de vida infeliz ser um escravo; e, especialmente, ser escravo de um senhor mau, de alguém que seja duro, implacável e cruel. Quão miseráveis consideramos aqueles que caíram nas mãos dos turcos, ou outras nações bárbaras semelhantes, sendo destinados a mais baixa e cruel escravidão, e tratados pior do que o gado! 

Mas o que é ser tomado cativo pelo diabo, o príncipe do inferno, e ser escravo dele? Não seria melhor ser escravo de qualquer um na terra a ser seu escravo? O diabo é, de todos os senhores, o mais cruel, e trata os seus servos da pior maneira. Coloca-os na realização dos mais vis serviços, os mais desonrosos no mundo. Nada é mais desonroso que a prática do pecado. O diabo põe seus servos para realizar obras que os degrada abaixo da dignidade da natureza humana. Devem tornar-se semelhantes às feras para fazer esse serviço e servir às suas concupiscências imundas. 

E, além da vileza do trabalho, é um trabalho árduo. O diabo os escraviza às custas de sua própria paz de consciência, e, com frequência, às custas de suas reputações, de suas posses, e encurtando seus dias. O diabo é um senhor cruel, pois o serviço a que submete seus escravos os destrói. Ele os põe em trabalhos forçados, dia e noite, para trabalharem em suas próprias ruínas. Jamais pre-tende lhes recompensar por suas lidas, mas estas servem para edificar sua destruição eterna. Serve para acumular combustível e chamas de fogo para eles mesmos serem atormentados por toda a eternidade.


3. A alma de um não-convertido é a habitação do diabo. 

Ele é não apenas pai deles, e seu chefe, mas habita neles. É terrível para um homem ter o diabo nas cercanias, visitando-o com frequência. Mas é ainda mais terrível tê-lo habitando com um homem, e aceitar sua habitação; e é ainda terrível tê-lo consigo, habitando no coração. Mas é isto que ocorre com o não-convertido. Ele tem o diabo habitando no seu coração. Assim como a alma de um justo é a habitação do Espírito de Deus, a alma de um ímpio é a habitação de espíritos imundos. 

Assim como a alma de um justo é o templo de Deus, a alma do ímpio é a sinagoga de Satanás. Ela é chamada na Escritura de casa de Satanás, e palácio de Satanás, Mt 12:27: "Ou como pode alguém entrar na casa do valente", querendo dizer, o diabo. 

E Lc 11:21: "Quando o valente, bem armado, guarda a sua própria casa, ficam em segurança todos os seus bens". 

Satanás não apenas vive, mas reina, no coração do ímpio. Não apenas fez sua morada lá, mas estabeleceu seu trono. O coração de um ímpio é lugar de encontro do diabo. As portas do seu coração estão abertas aos demônios. Têm livre acesso a ele, embora esteja fechado para Deus e Jesus Cristo. Há muitos demônios, sem dúvidas, que se relacionam com um ímpio, e seu coração é lugar de encontro deles. A alma de um ímpio é, como se diz da Babilônia, a habitação dos demônios, e a casa de todo espírito imundo, e um ninho de toda ave imunda e odiosa. Assim, terrível é a condição de um homem natural por causa da relação em que ele está com o diabo.

O Terrível Estado Dos Não-ConvertidosSermão de Jonathan Edwards Fonte: CCEL.orgTradução: O Estandarte De Cristo.com Fonte: CCEL.org 

Título Original: Natural Men in a dreadful Condition

Tradução: OEstandarteDeCristo.com

19. O evangelho de Deus


JUSTIFICAÇÃO DOS PECADOS


1. QUAL O SIGNIFICADO DA PALAVRA "EVANGELHO"?

A palavra grega significa "boa notícia" (ou "boas-novas"). Na Grécia antiga, quando uma batalha era ganha, enviava-se um mensageiro à cidade. Ao se aproximar, ele exclamava esta palavra: "evangelion" - boas novas - a batalha foi vencida!O homem não procurou por Deus, mas a boa notícia é que Deus está procurando o homem (Lucas 15)!

2. QUAL É O TEMA DO EVANGELHO?

Na Bíblia, o evangelho relata-nos como, quando o homem fracassou completamente, Deus providenciou-lhe um caminho para que pudesse chegar até Ele. Esse caminho é seu Filho, o Senhor Jesus, que era e é Deus, mas se fez homem e morreu na cruz pelos pecadores: "o evangelho de Deus [...] acerca de seu Filho"(Rm 1:1,3).Esse é o único caminho que leva o ser humano a Deus.


3. POR QUE PAULO NÃO SE ENVERGONHAVA DO EVANGELHO (RM 1:16-17)?

Por vários motivos. Primeiro, porque o evangelho é "o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (v. 16).O evangelho tem o poder de levar as pessoas a Deus e transformá-las (desde que aceitem e creiam). Além disso, o evangelho é universal (para judeus e gentios). Por fim, a justiça de Deus é apresentada ("revelada")nesse evangelho.

4. O QUE É A JUSTIÇA DE DEUS?

Deus é justo quando, em sua ira, condena o pecador (Rm 1:17-18). (Deus é amor (1 João 4:16), mas Deus também é luz (1 João 1:5)).Deus foi justo quando ressuscitou Jesus e lhe deu um lugar de honra (Jo 16:10). É justo quando perdoa os pecados confessados (1 Jo 1:9), e é justo quando justifica aqueles que creem em Jesus (Rm 3:25; 4:5). Esta última situação é surpreendente à primeira vista; para saber por quê, leia a pergunta 12.


5. QUEM PRECISA DO EVANGELHO?

Todos. Paulo divide a humanidade em três grupos: os bárbaros (pessoas incultas), os pagãos civilizados e os judeus. Todo ser humano pertence a um desses três grupos. E o apóstolo demonstra (Rm 1:18-2:23) que cada grupo é culpado perante Deus. Sem o evangelho, pessoa alguma tem esperança.


6. EXISTE ALGUMA EXCEÇÃO? E AS PESSOAS DE BEM, CULTAS, OU MESMO A NAÇÃO DE ISRAEL?

Não, não existe nenhuma exceção. Os bárbaros incultos são culpados (mesmo que jamais tenham ouvido o evangelho), porque poderiam ter conhecido o Criador tão somente observando a criação em torno deles, mas eles recusaram essa mensagem acerca de Deus. As pessoas civilizadas fazem regras, mas não as guardam. E Israel tinha a lei, mas violou-a. "Não há um justo, nem um sequer" (Rm 3:10)."Não há distinção, pois todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Rm 3:22b-23).


7. NÃO HÁ SOLUÇÃO? COMO O HOMEM PODE CHEGAR A DEUS?

Há solução. Para entender exatamente qual é essa solução, tenha em mente que Deus é um juiz justo. E ele é onisciente. Deus tem conhecimento de cada um de nossos pecados. Há duas opções somente. Se deve nos condenar ou nós temos de nos tornar "justos" perante Ele. Para entender como isso pode ocorrer, por favor, leia as perguntas seguintes.

8. O QUE SIGNIFICA SER "JUSTIFICADO" (RM 3:20)?

Justificado significa"declarado justo". Isso é até melhor que ser inocente. Se somos justificados, podemos indicar Cristo à direita de Deus e dizer: "Eu pertenço a Ele, por isso sou justo". Adão quando ainda inocente não podia fazer isso. Portanto, se alguém quisesse nos condenar como culpados, teria primeiro de condenar a Cristo como injusto - e isso é impossível.


9. O QUE QUER DIZER. "OBRAS DA LEI" (RM 3:20)?

Obras da lei não são apenas as obras que visam a guardar a lei de Moisés - a lei dada a Israel no Sinai-, mas obras que visam a guardar qualquer tipo de lei (literalmente: "obras de lei"). Refere-se a um padrão de ser justo ou reto diante de Deus. Um padrão que nós poderíamos tentar alcançar por meio de nossos próprios esforços, mas nada do que venhamos a fazer jamais terá esse efeito.


10. ENTÃO, COMO ALGUÉM PODE SER JUSTIFICADO DIANTE DE DEUS (RM 3:22-25)?

No que diz respeito a nós, somente pela fé. No que diz respeito a Deus, somente pela graça. "Pela fé" significa que nós confiamos em Cristo; cremos que Se pagou o preço por nossos pecados e que isso é suficiente. "Pela graça" significa que nós podemos apenas aceitar a justificação, não podemos fazer na da nem acrescentar nada ao que Deus fez. Porém, somos também justificados pelo sangue. Isso significa que o Senhor Jesus teve de morrer (como nosso substituto).


11. OQUE QUER DIZER: "DEUS [o] PROPÔS PARA PROPICIAÇÃO PELA FÉ NO SEU SANGUE" (RM 3:25)?

Apalavra "propiciação'' significa satisfação quanto ao pecado, de forma que aquele contra quem se pecou possa ser favorável ao pecador. Paulo emprega essa palavra aqui referindo-se ao propiciatório ou a tampa - da arca da aliança no tabernáculo sendo aspergido com sangue (Lv 16).As tábuas da lei estavam na arca (declarando que o homem era culpado), e os querubins olhavam para baixo sobre a tampa de ouro da arca, que falava da glória imaculada de Deus (e assim tinham de reconhecer que Deus tinha de condenar o homem).Mas, então, a tampa era aspergida pelo sumo sacerdote com o sangue de uma vítima inocente derramado em favor do culpado povo de Israel.Desse modo, Deus podia poupar esse povo e continuar habitando entre os israelitas.Isso é uma prefiguração do que Cristo fez na cruz: Ele deu sua vida, derramando Seu sangue, para que Deus não tivesse de nos julgar. Fomos "cobertos": Cristo deu Sua vida por nós".


12. COMO DEUS PODE JUSTIFICAR UM PECADOR E, AO MESMO TEMPO, SER JUSTO?

Porque Cristo tornou-se o substituto. Se alguém paga minha dívida, o que o juiz pode então fazer? Nada! Alguém pagou em meu favor.Homem nenhum poderia ter inventado essa maravilhosa mensagem. Deus perdoa(só isso já é maravilhoso), mas não "faz vista grossa"para os pecados.Se perdoa depois de ter julgado e condenado o pecado. O problema foi resolvido, mas de forma justa. A palavra "expiação", ou cobertura, empregada no Antigo Testamento é intimamente relacionada com a palavra empregada para a tampa (cobertura) da arca. O sumo sacerdote aspergia a tampa da arca com sangue uma vez por ano, no Dia da Expiação.


13. E OS SANTOS DO ANTIGO TESTAMENTO? COMO ELES FORAM JUSTIFICADOS (CAP. 4)?

Do mesmo modo que os crentes do Novo Testamento: pela fé. Abraão creu em Deus e isso lhe foi imputado por justiça. Deus podia fazer isso com retidão porque olhava para o sacrifício de Cristo (futuro nessa época) - Romanos 3:25-26.


14. MAS TIAGO NÃO AFIRMA QUE ABRAÃO FOI JUSTIFICADO PELAS OBRAS?

Bem, sim. Mas lago está falando acerca da justificação diante dos homens (obras como prova da fé, Tiago 2:21). Como os homens poderiam saber que Abraão era justo? Somente por suas obras. Quando foi oferecer Isaque, deu a prova de fé. Mas Deus sabia muito antes que Abraão cria e lhe creditou isso como justiça(Gn 15:67).


15. QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DA JUSTIFICAÇÃO (RM 5:1)?

Temos paz com Deus. Isso é esplêndido. Não há mais problema algum entre Deus e nós! Nada que nos separe. Os incrédulos estão em inimizade com Deus e precisam reconciliar-se com Ele. Para o crente há paz (não apenas uma promessa de que terá paz com Deus, mas que ele já tem paz agora!). E há muito mais. Leia Romanos 5: 1-11 para conhecer as maravilhosas consequências da justificação e da paz com Deus.


16. POR QUE CRISTO TEVE DE SER RESSUSCITADO PARA NOSSA JUSTIFICAÇÃO?

A obra de Cristo se completou quando Ele disse: "Está consumado!" e entregou o espírito (João 19:30).Nada a não ser a ressurreição demonstraria que Sua morte tinha sido suficiente para Deus! A ressurreição de Cristo é prova para todos de que Deus está plenamente satisfeito com Ele, e que aceitou o Seu sacrifício em nosso favor (Rm 4:25).


LIVRAMENTO DO PODER DO PECADO
Quando as pessoas chegam a Cristo, confessam seus pecados e creem que Sua obra na cruz do Calvário é suficiente para elas, ficam cheias de alegria.Descobrem que têm "paz com Deus" (Rm 5: 1). Muitas dessas pessoas saem a contar para todo o mundo o que encontraram e como estão felizes. E então, de repente, acontece. Algo dá errado; elas têm um mau pensamento ou diz em uma palavra feia, ou coisa pior. E agora? Elas começam a se perguntar: Como pude fazer isso? Eu tinha confessado todos os meus pecados e recebi Cristo como meu Salvador, mas agora fiz isso de novo... Então começam a surgir dúvidas. Minha conversão foi verdadeira?Será que me arrependi o suficiente?Será que estou salvo de verdade? As perguntas e respostas a seguir foram elaboradas para ajudar alguém que esteja com esse dilema.


17. QUAL A DIFERENÇA ENTRE PECADOS E O PECADO?

Pense numa árvore com seus frutos. Os pecados, maus pensamentos, palavras e ações - são como os frutos produzidos por uma árvore. O pecado é a própria árvore, a fonte que produz os atos pecaminosos, resumindo numa palavra: a natureza má do homem.

18. QUAL A SOLUÇÃO DIVINA PARA OS PECADOS E PARA O PECADO?

OS pecados são perdoados. Se você crê em Cristo, está justificado dos seus pecados. Mas o pecado como tal jamais pode ser perdoado. Só pode ser condenado. E é isso que Deus fez na cruz (Rm 8:3). Maus pensamentos, palavras e ações podem ser perdoados, mas a natureza má deve ser condenada.


19. O CRENTE AINDA ESTÁ SOB O PODER DO PECADO?

Não. Pode acontecer do crente pecar (1 João 2: 1), sim, mas ele não precisa.Na verdade, ele não deve pecar.Para ver como o crente é liberto do poder do pecado, atente para as perguntas e respostas a seguir.


20. QUAIS SÃO AS DUAS FAMÍLIAS APRESENTADAS EM ROMANOS 5?

Naturalmente, todo ser humano é filho ou filha de Adão. Mas, diferentemente, aqueles que recebem Cristo e creem nele passam a pertencer à família (ou raça) de Cristo. Veremos mais adiante que passamos por uma morte que encerra nossa ligação com Adão. Quando esta acontece, Cristo passa a ser nossa nova cabeça.


21. E QUAL A CONSEQUÊNCIA DE PERTENCER À FAMÍLIA DE ADÃO?

Todo filho de Adão herda uma coisa dele: o pecado. A consequência do pecado é a morte. O próprio fato de que todos morreram até agora é prova de que todo filho de Adão é pecador.


22. E QUAL A CONSEQUÊNCIA DE PERTENCER À FAMÍLIA DE CRISTO?

A graça de Deus abundou sobre muitos e trouxe justificação (Rm 5: 15-19). Colocando-se em outros termos: todo membro da família de Cristo é justificado.


23. SE EU ME TORNEI PARTE DA FAMÍLIA DE CRISTO, E TUDO ISSO É PELA GRAÇA, TENHO AUTORIZAÇÃO PARA CONTINUAR PECANDO?

Não. A graça jamais é desculpa para o pecado (veja também a pergunta seguinte).


24. POR QUE NÃO?

Porque" moremos para o pecado (veja as perguntas sobre Romanos 6). Cristo morreu na cruz, e nosso batismo nos "identifica" com Ele nisso. Ele morreu e nós morremos também (no que diz respeito a nosso velho homem -o velho ser-, o "filho de Adão").


25. POR QUE, ENTÃO, ÀS VEZES EU AINDA COMETO PECADOS? 

AFINAL, NÃO ESTOU MORTO COM CRISTO?

O velho ser morreu com Cristo, mas nós aprendemos, muitas vezes pela experiência dolorosa, que ainda temos em nós a carne, ou a natureza pecaminosa. Isso significa, portanto, que ainda é possível pecarmos. Para saber mais sobre isso, veja as perguntas sobre Romanos 7.


26. QUE QUER DIZER "O NOSSO VELHO HOMEM FOI COM ELE CRUCIFICADO" (RM 6:6)?

Meu "velho homem" é a minha pessoa antes da conversão, como filho de Adão e membro da família de Adão (Rm 5: 12 ss.). Antes da conversão, eu era responsável e culpado perante Deus. Porém, esse velho homem - vou chamá-lo pelo meu nome: Michael foi crucificado. Desse modo, nós crentes não estamos mais "na carne (de Adão)", mas "no Espírito" (Rm 8: 8-9). O velho homem não existe mais perante Deus.Podemos sentir isso? Não, mas é verdade mesmo assim - porque Deus diz que é. Continuar no pecado seria um insulto á graça e ao próprio Senhor Jesus Cristo, que sofreu por nossos pecados {se você recebeu Cristo e sabe o enorme preço que Ele pagou (o próprio sangue derramado), vai querer agradá-Lo, não insultá-Lo, continuando no pecado}.


27. QUE QUER DIZER "PARA QUE O CORPO DO PECADO SEJA DESFEITO, A FIM DE NÃO SERVIRMOS MAIS AO PECADO" (RM 6:6b)?

O "corpo do pecado" é todo o mecanismo, ou sistema, do pecado em nós, antes de nossa redenção. O crente (não deve, mas) pode ainda cometer pecados, porque a carne (velha natureza) ainda habita nele, mas: o pecado já não é mais o poder predominante sobre ele.

28. O PROBLEMA DE NOSSOS PECADOS É RESOLVIDO PELA MORTE DE CRISTO POR NÓS. MAS COMO SE RESOLVE O PROBLEMA DO PECADO E DE SEU PODER?

Não pela morte de Cristo por nós, mas pela nossa morte com Cristo. Compare isso com a relação entre um escravo e seu dono. O dono faz exigências do servo, mas somente enquanto o servo está vivo. Depois que o servo morre, seu dono nada mais pode fazer. O mesmo ocorre conosco. Assim que morremos com Cristo, o pecado não tem mais reivindicação nem autoridade sobre nós.


29. QUAL O SIGNIFICADO DO BATISMO?

O batismo implica numa identificação com Cristo. Do mesmo modo que Cristo morreu e foi sepultado, também nós fomos batizados (Rm 6: 2-3). O batismo também fala de outras coisas, por exemplo, que a pessoa batizada é discípulo de Cristo (Jo:1-2 e 1 Co 10:2), etc., mas a questão aqui, de Romanos 6, é que nós nos identificamos com Cristo na Sua morte, ou seja, nós morremos com Ele.Por favor, preste atenção: ser batizado não é um passaporte para o céu!


30. COMO POSSO SABER QUE MORRI COM CRISTO? POSSO SENTIR ISSO?

Não. Isso não é algo que se possa sentir. Se você recebeu Cristo pela fé, sua morte com Cristo é um fato e você pode sabê-lo porque Deus lhe diz isso em sua Palavra.


31. SE EU MORRI COM CRISTO, DE QUE FORMA ISSO INFLUI NA MINHA RELAÇÃO COM O PECADO?

O pecado (o princípio do mal, de oposição contra Deus) não tem mais reivindicações nem direitos sobre nós. É como o homem que pagou uma grande quantia a fim de não ir para a guerra eque outro fosse no lugar dele. Quando o governo escreveu-lhe dizendo: "Você tem de ir para a guerra agora, seu substituto morreu", ele respondeu, dizendo: "Infelizmente, eu não posso ir para a guerra, estou morto". Esse homem compreendia que tinha o direito de considerar-se morto porque seu substituto havia morrido.


32. SE EU MORRI COM CRISTO, QUE SIGNIFICADO PRÁTICO ISSO TEM EM MINHA VIDA DIÁRIA?

Quando o pecado quer exercer direitos sobre nós, nós temos direito (e obrigação) de nos considerar mortos (veja a pergunta anterior).


33. O CRENTE, ENTÃO, DEVE GUARDAR A LEI (OU PELO MENOS ALGUMAS DELAS) PARA TER MAIS CERTEZA DE NÃO PECAR?

Não. Guardar a lei, ou mesmo certas regras, não é o caminho. É um princípio carnal (porque se baseia na capacidade natural do homem). Além disso, temos de reconhecer (para ser sinceros) que assim que tentamos fazer isso, falhamos. Paulo explica que estamos mortos para a lei (da mesma forma que estamos mortos para o pecado - ver Romanos 7: 1-6).Nota: Além disso, a lei de Moisés foi dada a um povo somente (Israel).


34. COMO, ENTÃO, O CRENTE PODE VIVER DE MODO QUE AGRADE A DEUS?

Não guardando a lei, mas se ocupando de Cristo. Isso vai fazer com que fiquemos cada vez mais parecidos com Ele e vivamos nossa vida cotidiana para Ele.Se permitirmos que o Espírito Santo nos ocupe de Cristo, então o Espírito também nos dará poder para viver de um modo que agrada a Deus (veja as perguntas sobre Romanos 8:1-4).


35. QUEM É O "EU" DE ROMANOS 7 (VERSÍCULOS 7-25)? SERIA PAULO?

Não pode ser Paulo, porque ele diz: "Outrora eu vivia sem lei..." (v.9).Isso não se aplica a Paulo, que foi criado como rígido fariseu (Fp 3:5).


36. QUEM É O "EU" DE ROMANOS 7? É UM CRENTE NORMAL?

Não, não pode ser um crente normal. A afirmação: "Eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado" (v.14) dificilmente corres-penderia à descrição de um crente normal.


37. QUEM É O "EU" DE ROMANOS 7? É UM NÃO-CRENTE?

Não, não pode ser um não crente.A pessoa de Romanos 7 já tem a nova natureza; ela deseja fazer o bem (v.19) e diz: "Pois segundo o homem interior, tenho prazer na lei de Deus (v. 22). Evidentemente, esses desejos são da nova natureza, que Deus concede por ocasião do novo nascimento (Jo 3:3).


38. ENTÃO, QUEM É O "EU" DE ROMANOS 7?

É uma pessoa que nasceu de novo (veja a pergunta anterior), mas não é espiritual, e sim carnal, alguém que está confiando em sua própria força, tentando guardar a lei, tentando fazer o bem (por sua própria força)e, portanto, constantemente sem sucesso nas tentativas e extremamente infeliz. Essa pessoa não sabe que a carne mais "espiritual" e na melhor de suas intenções ainda é carne.Isso não é o estado normal de um cristão. Entretanto, muitos passam por ele em algum estágio da vida até aprender a confiar não somente em Cristo, mas também na Sua obra como suficiente para eles. Em outras palavras, até serem "libertados".


39. QUAL O PROBLEMA DESSA PESSOA?

Várias e várias vezes a pessoa descobre-se num grande dilema. É a batalha entre sua nova natureza e a velha. Deseja fazer coisas boas, mas acaba não as fazendo. Não deseja fazer coisas ruins, mas tropeça várias vezes fazendo-as de novo.


40. O QUE ESSA PESSOA DESCOBRE?

Pelo menos três fatos.Primeiro, que ela ainda tem a natureza velha (caracterizada pelo pecado). Segundo, que bem nenhum habita na sua pessoa.Terceiro, que ela não pode libertar-se por si mesma, mas precisa de alguém para isso.


41. O"eu" DE ROMANOS 7 AGORA DESCOBRIU QUE NÃO PODE AJUDAR-SE A SI MESMO. DE ONDE VEM A AJUDA, ENTÃO?

No final do capítulo, ele para de procurar ajuda em si mesmo e começa a procurá-la fora. Não se trata de" como vou me libertar?", mas de "quem vai me libertar?" (v. 24).

42. A QUE CONCLUSÃO SE CHEGA NO CAPÍTULO 7?

A conclusão desse capítulo tem dois aspectos. Primeiro, a pessoa aprendeu pela experiência que não pode fazer nada de bom dela mesma; não há bem nenhum na carne (v.18).Segundo, ela descobre que existe, mas duas naturezas: a velha (e má) e também a nova. Essas duas são opostas entre si. Em seguida, ela agradece a Deus (v. 25) porque entende: somente Deus pode livrá-la. A condução plena é alcançada no capítulo 8:1-11 (veja a próxima pergunta).

43. O CRENTE PODE ALGUMA VEZ SER CONDENADO POR DEUS?

Não, porque o crente agora está "em Cristo". E, não se esqueça, Cristo está glorificado à direita de Deus. Portanto, se alguém quisesse condenar o crente, teria de condenar a Cristo - o que é impossível!

44. O QUE QUER DIZER A "LEI DO ESPÍRITO DE VIDA" E A "LEI DO PECADO E DA MORTE"?

A palavra "lei" também pode significar "princípio". Uma pedra cai no chão. Isso é uma "lei" da natureza. A "lei" do Espírito também é um princípio, isto é, o Espírito nos guia e nos ocupa de Cristo. A lei do pecado também é um princípio, isto é, oposição a Deus que leva à morte. Uma vez que o crente dá crédito a Cristo, crê que Sua obra é suficiente e não há condenação para os que estão em Cristo Jesus {isto é, uma vez que o crente creu no evangelho de sua salvação (Ef 1:13)}, o Espírito de Deus está livre para operar nele.

45. QUAL É A SOLUÇÃO DE DEUS PARA O PECADO (O PRINCÍPIO DO MAL EM NÓS)?

Não perdoá-lo (somente pecados  - pensamentos, palavras e atos - são perdoados), mas condená-lo. Não há nenhum outro meio coerente com a santidade e a justiça de Deus. A lei não foi capaz de realizar nada contra o pecado, porque estava "enfraquecida na carne", isto é, o homem não era capaz de guardá-la.


46. TUDO ISSO QUER DIZER, ENTÃO, QUE O CRENTE É LIVRE PARA FAZER COISAS COMO, ROUBAR E MATAR, POR EXEMPLO. PRÁTICAS QUE SÃO PROIBIDAS PELA LEI? 

Não, pois o crente tem uma nova natureza que não quer o pecado. O Espírito Santo passa a residir nele permanentemente.


47. SE NÃO FOR ESTE O CASO, SE O CRENTE NÃO É LIVRE PARA TAIS COISAS, POR QUÊ?

Não, não é livre para pecar. As justas exigências da lei são cumpridas no crente. A razão disso, porém, não se deve a suas tentativas de guardar a lei por si mesmo, mas no fato dele andar pelo Espírito.

48. COMO ISSO FUNCIONA NA PRÁTICA - ANDAR NO ESPÍRITO?

Bem, o Espírito ocupa o crente de Cristo (Jo 14 e 16). Isso enche o crente de alegria e de desejo de ser semelhante a Cristo. Podemos dizer que à medida que nos tomamos cada vez mais parecidos com Ele, as exigências da lei se cumprem em nós "automaticamente", como consequência natural, e muito mais profundamente.Vamos dar um exemplo. A lei diz: "Não furtarás". O crente não está debaixo da lei, mas o Espírito o ocupa de Cristo. Ele era rico, mas se fez pobre e disse que é mais abençoado dar que receber. À medida que o crente aprende a amar a Cristo e se toma mais parecido com Ele, deseja ajudar os outros. É apenas uma consequência elementar do amor a Cristo, como ele poderia roubar os outros?

49. MAS O CRENTE SEMPRE ANDA NO ESPÍRITO?

Seria normal se fosse assim, mas, infelizmente, nem sempre é o caso, como sabemos por experiência. Em geral, o crente é conduzido pelo Espírito, mas é possível que ele" entristeça" o Espírito. Isso ocorre toda vez que o crente peca por não estar ocupado de Cristo, vivendo sob o olhar dele e em comunhão com Ele.

50. COMO PODEMOS TER CERTEZA DE QUE ESTAMOS ANDANDO NO ESPÍRITO?

Simplesmente abandonando tudo que entristeça o Espírito. Se abrigamos maus pensamentos, precisamos confessá-los ao Pai. Se dissermos uma palavra ruim, devemos fazer o mesmo. Não devemos esperar para fazer isso, mas prestar logo contas a Deus. Então o Espírito ficará livre novamente para nos ocupar de Cristo e nos guiar (8: 14).Desse modo, "mortificaremos as obras do corpo" (8: 13) e andaremos no Espírito.


51. O QUE DEUS FAZ PARA NOS AJUDAR A ANDAR NO ESPÍRITO?

Deus nos enviou Seu Espírito para habitar em nós (Rm 8: 10- 11). O Espírito não somente habita no crente (veja também 1 Co 6:19), mas também o ocupa de Cristo (Jo 16:14) e lhe dá a consciência de que Deus é seu Pai (Rm 8: 15-16). Isto é salvação completa: justificação dos pecados, libertação do poder do pecado e o conhecimento de Deus como Pai amoroso por intermédio do Espírito Santo!


52. SE NOSSA SALVAÇÃO É COMPLETA, POR QUE MUITOS CRENTES AINDA SOFREM DOENÇAS NO CORPO E MORREM? O CORPO NÃO ESTÁ INCLUÍDO EM NOSSA SALVAÇÃO?

Os crentes sofrem porque ainda fazem parte da criação.Paulo explica isso nos versículos seguintes (Rm 8: 18-29). O pecado entrou no mundo por meio do homem e, por consequência, toda a criação "geme". Esse problema, porém, será solucionado um dia. Nós aguardamos a "redenção de nosso corpo" (v. 23). Quando Cristo voltar, receberemos corpos novos. Enquanto isso, temos essa "esperança" e o Espírito que nos ajuda em nossa fraqueza. Pense num exemplo dos esportes. Se um dos dois times que chegou ao final do campeonato não aparece para a partida, o outro time ganha - mas sem glória. São jogadores campeões, mas não campeões com glória.Deus deseja gloriar-se na presença do mal por nosso intermédio, isto é, quer que sejamos semelhantes ao Senhor Jesus neste mundo de pecado, no poder do Espírito Santo.

53. DEUS PREDESTINOU ALGUÉM PARA A CONDENAÇÃO?

Não. A Bíblia jamais diz isso. Deus quer que todos os homens sejam salvos (Tito 2: 11 e 1 Tm 2:4). Além disso, Ele, "manda agora que todos os homens em todos os lugares se arrependam" (Atos 17:30). Em Romanos 9: 18, lemos que Deus endurece a quem Ele quer {mas somente depois que o homem endureceu-se por si mesmo, como mostra o exemplo do faraó (v.14-17)} .Romanos 9:22-23 declara com muito cuidado que Deus prepara os vasos de misericórdia para a glória, mas os vasos da ira são preparados para a condenação (não que Ele já tenha feito isso de antemão). Leia também Romanos 2: 5. O maravilhoso evangelho da salvação é aberto a todos!


RESUMO

Existem três grandes problemas que flagelam a humanidade:

  1. pecados (ações pecaminosas),
  2. o pecado (o princípio do mal, a fonte das más ações), e
  3. os sofrimentos físico, mental e material.


  • O primeiro problema é resolvido pela morte de Cristo por nós.
  • O segundo, se resolve por nossa morte com Cristo.
  • O terceiro problema se resolverá quando Cristo voltar.

Em todos os casos, porém, devemos tudo a Cristo!


Por Michael Hardt

20. A graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens


"Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo, o qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras." 

(Tito 2:11-14)

As Escrituras destacam que a doutrina estabelece a conduta, e a transformação nos relacionamentos é resultado direto da transformação da graça de Deus. Anteriormente, nesta carta, Paulo falou de relacionamentos transformados e agora dará a fundamentação para vidas transformadas, ou para esta transformação.

Anteriormente, Paulo falou de como os homens idosos, as mulheres idosas, as mulheres recém-casadas, os jovens e os líderes deviam viver; para honrar a sã doutrina. Porém, jamais podemos exigir de alguém uma vida transformada sem que esta pessoa já tenha sido transformada pela graça de Deus. Ou seja, aplicar os princípios da ética cristã para alguém que não nasceu de novo não faz sentido. Seria o mesmo que exigir uma conduta adequada de alguém que continua morto e ainda não recebeu vida. E é por isto que Paulo conecta o que já disse nos versículos anteriores com o que ele dirá agora, usando a conjunção "porque".

A conexão entre doutrina e prática diária é extremamente necessária para uma vida cristã saudável. Devemos observar que vivemos no período pós-moderno. E que no período clássico, Deus era o centro de tudo; e no período da modernidade, o homem passou a ser o centro de tudo, mas no tempo em que vivemos, não é o homem que é o centro de tudo, porque o que está no centro de tudo é o prazer.

E, nesta sociedade onde estas pessoas buscam o prazer, três coisas acontecem:

Primeiro que vivemos numa sociedade plural, ou seja, é uma sociedade onde não se tem uma verdade absoluta. Você tem a sua verdade e eu tenho a minha verdade. É como se vivêssemos num eterno supermercado onde existem muitas prateleiras com muitos produtos, e você não pode dizer que este produto é melhor do que aquele outro. Cada um tem o seu produto e cada um acredita que seu produto é o melhor.

Uma sociedade de relativismo absoluto, ou seja, a sua verdade é absoluta para você, pode não ser verdade absoluta para mim. E o que acontece é que a escolha destas ideias é absolutamente individual, particular, subjetiva. Então, se você falar na atualidade de uma verdade absoluta, de uma doutrina na qual as pessoas devem crer, estará nadando contra a maré e estará na contramão do espírito da época.

É o mesmo que acontecia nos dias dos juízes, em que cada um fazia o que parecia reto aos seus olhos (Juízes 21:25).

Quando falamos de uma verdade absoluta em nossos dias, muitos até se riem e dizem que somos muito revolucionistas, dogmáticos e que estamos querendo impor a nossa crença, a nossa convicção para outras pessoas. A defesa da fé se tornou antiquado.

Mas por que isto é importante? Bem, se você notar, a confusão moral em que se meteu a cristandade é exatamente o resultado direto da falta da verdade absoluta. E desta forma, e neste contexto, as pessoas não querem conhecimento fundamentado na sã doutrina, elas querem somente as experiências. Não querem pensar, querem sentir, porque o sensório tomou o lugar do racional. E todo aquele que pensa que pode ter uma vida agradável a Deus em detrimento, ou abandonando a verdade, a sã doutrina, equivoca-se.

Vida com Deus é resultado da fé. O caráter, a ética cristã, é resultado direto da doutrina que você abraça. Paulo, em suas epístolas, conecta doutrina com vida prática. Ele mostra a relação que uma coisa tem com a outra. Note como Paulo vai desenvolver este princípio aqui em Tito 2:11-14.

A primeira coisa que ele destaca é que "a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens" (v.11).

A palavra "manifestou" é muito importante no grego, é a palavra "epiphaino". É a mesma palavra usada no versículo 13, para a manifestação do Senhor Jesus, quando Ele virá em glória para julgar e reinar neste mundo por mil anos.

Portanto, a primeira coisa que Paulo diz é que houve uma "epiphania" da graça. Manifestação da graça. Aparecimento da graça. Porém, note uma coisa, a graça sempre existiu. Deus sempre foi gracioso; aliás, Ele é o Deus de toda a graça (1 Pedro 5:10). Nunca Deus deixou de ser gracioso em qualquer tempo. Então, o que Paulo quer dizer com a "manifestação da graça"?

Esta palavra "manifestação", no grego clássico, era usada para o amanhecer. Numa certa hora, em que está tudo escuro, se vê, lá no horizonte, por trás das montanhas, o aparecimento do sol. E esta luz vai brilhando, brilhando e as trevas vão se dissipando até o ponto no qual o sol está a pino e tudo se torna absolutamente claro (Provérbios 4:18). A ideia aqui é esta.

A graça estava invisível, mas ela sempre existiu. Quando o sol aparece, você não o estava vendo, estava de noite, estava escuro; mas você não diz que o sol não existia. Ele existia, só não estava sendo visto, notado.

Esta é a mesma palavra "epiphania" usada em Atos 27:20, quando Paulo, em viagem para a Roma, sofreu aquele grande naufrágio. Lá é dito que, por vários dias, "não aparecia – Gr. epiphaino, nem sol, nem estrelas". Portanto, não é que o sol e as estrelas não existiam, mas eles não estavam vendo. De repente, esta graça de Deus, que parecia estar oculta dos homens, apareceu, se manifestou. Mas, de que maneira houve este raiar da graça?

A manifestação da graça vem a nós por meio de Jesus Cristo. Começando com o Seu nascimento humilde naquela manjedoura, Sua vida de trabalho na carpintaria, Seu curto ministério público com alguns discípulos e Sua morte na cruz.

A manifestação da graça vem da Sua compaixão em alimentar uma multidão faminta, de purificar os leprosos, ressuscitar os mortos, de pregar com sabedoria e autoridade as multidões que o rodeavam.

Mas quando foi que a graça alcançou o seu auge, como um sol a pino? Foi quando Jesus Cristo teve a Sua morte vicária na cruz, e Sua ressurreição gloriosa.


1. A primeira coisa que Paulo destaca no verso 11 é a origem da graça: "Porque a graça de Deus".

Esta graça tem a sua gênesis no próprio ser de Deus. Mas agora ela tem a sua manifestação visível, esplendorosa, magnífica, eloquente. Viva como um amanhecer do sol na pessoa do Seu Filho Jesus Cristo. No Seu nascimento, na Sua vida, nas Suas obras, na Sua morte e na Sua ressurreição. Esta é a manifestação da graça de Deus.

Esta graça é absolutamente imerecida. A graça de Deus não é algo que você tem porque merece a graça. Aliás, graça é bem ao contrário disto. Graça é quando Deus dá o melhor dos Seus bens para aquele que menos merece os Seus bens. Apesar de não merecer, Deus se volta para você graciosamente. Graça é Deus dar para aquele que não merece, mas precisa, carece, necessita. Eu não mereço, mas preciso.


2. O segundo ponto, ainda no verso 11, é a natureza da graça: "trazendo salvação". A graça de Deus é salvadora. A graça de Deus é o Seu poder ativo que outorga o maior de todos os dons para aquele que merece o maior de todos os castigos. Ela é salvadora! A graça salvadora é maior que o seu pecado e é melhor do que a sua vida. "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20).

Você é salvo pela graça. Você vive pela graça. Você depende da graça e é devido à graça que você estava perdido e foi achado, estava morto e recebeu vida.

A natureza da graça é salvar. E, salvar quem? O que estava perdido, escravizado, pródigo e sem esperança. Não há estada em que a graça não possa descer e salvar o que ali chegou. Não há pessoa que esteja tão arrebatada na vida que a graça de Deus não possa alcançá-la. Não há uma situação em que a pessoa se afastou tanto de Deus que a graça de Deus não possa ir lá e resgatá-la. A graça de Deus é salvadora!


3. O terceiro ponto no versículo 11 é a extensão da graça: "a todos os homens". Quando a Bíblia diz que a graça de Deus se estendeu, se manifestou salvadora a todos os homens, não significa que a manifestação da graça a todos os homens é quantitativamente falando, mas sim, qualitativamente falando. Ou seja, não todos os homens, sem exceção, mas todos os homens sem acepção. Portanto, isto não significa que todos os homens vão ser salvos, mas significa que todos os homens de todas as tribos, de todos os povos, de todas as línguas, de todas as nações, de todas as etnias, de todas as culturas estão ao alcance desta salvação.

O próprio contexto explica o significado de todos os homens, pois nos versículos anteriores Paulo falou de homens idosos, mulheres idosas, jovens solteiros, mulheres recém-casadas e também servos. Em outras palavras, o Evangelho de Deus não tem barreiras, não tem fronteiras, não olha para ninguém com preconceito, não faz acepção de pessoas.

Mas por que não é a todos os homens sem exceção, mas a todos os homens sem acepção? Porque se não fosse assim, seria crer no universalismo, e você deve saber que há um limite para Deus salvar. E qual é o limite? A todo aquele que crê!

A graça de Deus não se manifestou para aqueles que não creem, sejam salvos. A graça de Deus não se manifestou para que aqueles que são rebeldes e recalcitrantes sejam salvos. Porém, a graça de Deus se manifestou salvadora para todos os que creem, realmente, sejam salvos.

E não importa se é homem ou mulher, pobre ou rico, se é branco ou negro, se é amarelo ou indígena, se é sábio ou ignorante. Não importa a sua condição social, raça, língua; se creu, esta graça é salvadora. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2:8-9).

Bem, até agora temos vista a manifestação da graça, olharemos agora para a pedagogia da graça: "Ensinando-nos que, renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente, aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo" (vs.12-13).

A graça nos "ensina, educa" (Gr. paideuo). A palavra no grego "paideuo", é de onde vem a palavra pedagogia; portanto, a graça é educadora, ensinadora. A graça é uma professara divina, que nos toma pela mão e nos ajuda a caminhar pela vida e vai nos instruindo, educando e orientando. Esta é a ideia que Paulo quer passar. A graça de Deus é professara, pedagoga, educadora e orientadora. Mas, o que a graça de Deus ensina?


Paulo enfatiza três verdades que chamam a nossa atenção:

I. Primeiro, a graça nos "ensina, educa" a "renunciarmos, renegarmos" o mau (v.12). A palavra "renunciar, renegar" é muito forte no grego (arneomai). Traz a ideia de algo que já foi feito e de uma vez por todas. Uma coisa que já foi consumada; já foi resolvida. Ou seja, a graça nos educa para dizermos não ao pecado de uma forma definitiva. Renunciarmos e abdicarmos do pecado de uma forma conclusiva.

Mas o que Paulo quer dizer com renunciando à impiedade e às concupiscências mundanas? A graça educa o crente tanto negativamente como positivamente. A graça educa o crente negativamente para que ele renegue à impiedade e às concupiscências mundanas. A graça de Deus educa o crente positivamente para que ele viva no presente século de uma forma sensata, junta e piedosamente.

Portanto, a graça disciplina o crente, tanto para não fazer o que é errado, como o encoraja para fazer o que é certo.


II. A graça nos ensina a renegar a falsa teologia – A palavra "impiedade" (v.12) no grego (asebeia), tem a ver com a sua relação com Deus. Impiedade é sempre a relação que o homem tem com Deus; aí, é a relação errada com Deus. Ao ter uma relação erada com Deus, se tem uma visão errada de Deus e uma teologia errada. Portanto, a graça educa o crente a não ter uma ideia errada de Deus, um conceito errado de Deus, uma noção errada de Deus, para não ter uma teologia errada acerca de Deus.

É importante perceber isto, porque o ímpio não leva Deus em conta e, por conseguinte, não leva a Deus a sério. O ímpio não é aquela pessoa deprava, não. Este é um conceito equivocado que se tem quando a Bíblia fala do ímpio. O ímpio pode ser uma pessoa de vida moral ilibada. Lembra do Salmo 1:1? "Bem-aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios, nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores". Perceba que há progressão nas três coisas: "anda, detém e se assenta". E também os termos são progressivos: "ímpios, pecadores e escarnecedores".

O ímpio é aquela pessoa que não leva Deus em conta. Ele vive a sua vida sossegadamente, gostosamente, ele é ateu. E, mesmo que ele acredite em alguma coisa, ele não leva Deus a sério. Ele é uma pessoa secularizada.

A Bíblia diz que a graça de Deus nos educa para renegarmos este tipo de atitude. Este tipo de cosmovisão; de não levar Deus a sério.


III. A graça nos ensina a renegar a falsa ética – As "paixões mundanas" (v.12) mencionadas por Paulo, são resultados e consequências da impiedade. Quando, por norma, não se leva Deus em conta e não se leva Deus a sério, você, então, se rende às paixões mundanas.

O que são paixões mundanas? Aqui, tem a ver com a vida desregrada em relação à mente, à língua e ao corpo. Paixões mundanas têm a ver com dinheiro, poder e sexualidade.

Por exemplo, uma pessoa que é gananciosa, para tudo que olhar, vai ver dinheiro naquilo. Vivendo a sua vida apenas para ganhar dinheiro. Esta pessoa está entregue às paixões mundanas. Ela pode nunca ter traído o seu cônjuge, nunca ter acessado um site inadequando, mas ela é rendida à paixão mundana, porque o que governa a vida dela é a avareza; o amor ao dinheiro.

Uma pessoa que cobiça poder, é vaidosa, é soberba e quer sempre se ver num pedestal – isto é paixão mundana.

Portanto, Paulo está dizendo que a graça nos educa para renegarmos de vez, tanto uma visão errada de Deus quanto uma visão errada da conduta, ou de ética.

Note que Paulo não está dizendo que a graça salvadora de Deus nos leva a negar às paixões, mas sim, a renegar. Não é que negamos que esta "paixão" salta no coração crente, porque às vezes somos surpreendidos pensando, ou desejando, como de lampejo, alguma coisa que seja inconveniente. O crente até leva um susto no que pensou, e não negamos este fato. Ainda estamos num corpo caído, ainda segue em nós a natureza pecaminosa, e ainda não estamos glorificados. Porém, renegamos isto, renunciamos isto, dizendo que não faz parte mais da minha vida.


IV. Paulo nos diz que a graça salvadora nos educa, não apenas para evitar o que é negativo, mas também para abraçar o que é positivo – "vivamos neste presente século sóbria, justa e piamente" (v.12b).

Depois de Paulo tratar do aspecto negativo, agora ele trata do aspecto positivo. Porque a salvação não é apenas uma mudança de "situação", mas também uma mudança de "atitude".

Portanto, estes três advérbios: sóbria, ou sensata, justa e piedosamente; estão trabalhando os três relacionamentos da vida.

  • Sóbrio, ou sensato, fala do seu relacionamento com você mesmo.
  • Justa, fala do seu relacionamento com o seu próximo.
  • Piedosamente, fala do seu relacionamento com Deus.

Então, a graça de Deus nos educa a lidarmos com nós mesmos, com os nossos semelhantes e também corretamente com Deus.

Dizendo isto de outra forma, a graça de Deus nos educa a olharmos para dentro, para se relacionar consigo mesmo. Ela nos educa a olharmos para fora, para podermos nos relacionar com as outras pessoas, e a graça de Deus nos educa a olharmos para cima, para nos relacionarmos corretamente com Deus.

Note isto com mais detalhes:

  • "Sóbrio, ou sensato", é a mesma palavra já usada por Paulo no versículo 6, onde ele manda que os jovens sejam moderados, criteriosos (Gr. sophroneo). É uma palavra muito rica, pois ela trata do domínio próprio, do autocontrole. É uma pessoa que tem as suas palavras, suas ações e suas reações sob controle. Anteriormente, Paulo fala muitas coisas sobre a conduta dos homens idosos, das mulheres idosas, das jovens recém-casadas, mas quando chega nos jovens solteiros, ele só diz que sejam criteriosos. Por quê? Se você consegue dominar seus impulsos, suas palavras, seu temperamento, sua atitude, suas ações e suas reações, você é uma pessoa que está centrada. Este é o ponto aqui. A Bíblia diz que quem domina a si mesmo é mais forte do que quem domina uma cidade. O ponto destacado aqui é de uma pessoa que está no controle da sua vida e não as paixões que estão no controle. As rédeas da vida estão nas suas mãos e não são os que outros fazem e dizem que vão determinar a sua vida. É você que está no domínio. A graça de Deus educa o crente a dominar a si mesmo.
  • A palavra "justa", no relacionamento com as pessoas, é não pensar de si além do que convém. Ser justo é dar ao outro aquilo que lhe é de direito. Ser justo é não querer ter dois pesos e duas medidas. Ser justo é não querer ser privilegiado mais do que o outro. Se justo, é ser imparcial em suas palavras, seus juízos e suas considerações. E, note você, é só a graça de Deus que pode fazer isto conosco, porque a nossa natureza vai sempre querer o melhor para nós, e o resto, o que sobrar para o outro. Só a graça de Deus para nos educar para agir contrário a isto.
  • "Piedosamente", é o nosso relacionamento para com Deus. A palavra "piedosamente" traz a ideia de reverência para aquele único que é o objeto de adoração. Ou seja, a graça de Deus não apenas nos salva do inferno, mas nos ensina a viver como salvos. Não é apena uma mudança de posição: "eu estava perdido, mas agora estou salvo; eu estava morto, mas agora eu revivi". Não, houve também uma mudança de atitude – a vida mudou. As palavras mudaram, os pensamentos mudaram, a cosmovisão mudou e a postura é outra. Portanto, aqueles que usam da graça de Deus como desculpa para pecar jamais experimentaram o poder da graça. Jamais foram salvos. Paulo, pergunta: viveremos no pecado, nós que para ele morremos? De jeito nenhum! Na igreja de Tiatira, havia aquela mulher Jezabel dizendo que, para vencer o pecado, se deve aprofundar nele. Tem que mergulhar no pecado para dominar o pecado. Tem que experimentar o pecado para saber como ele é, para depois destruí-lo. Isto é um engano, é errado! Você não tem que viver no pecado para saber que ele é ruim. O que Paulo está nos ensinando é que, se a graça nos libertou, ela também nos educa a viver uma vida nova, santa, pura, nos deleitando em Deus.


V. A graça de Deus nos educa para esperar, ou aguardar, a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo (v.13). Devemos notar aqui, que novamente aparece a palavra (Gr. epiphaneia). Paulo falou no verso 11 da "epiphaneia" da graça e agora, no verso 13, ele vai falar da epiphaneia da glória. Veja que coisa fantástica, Paulo está querendo dizer aqui. Olhamos para trás e vemos a manifestação da graça que trouxe vida eterna para nós, e olhamos para frente e aguardamos a manifestação da glória. O cristão vive entre as duas "epiphaneia" de Cristo. Na Sua primeira vinda, encontramos a graça, na Sua segunda vinda, encontraremos a glória. A graça desemboca na glória. Não há glória sem a graça. Não há graça sem glória. Isto é maravilhoso! E o que Paulo está querendo dizer é que, se você foi alcançado pela graça, você vive neste presente século renegando a impiedade, renegando as paixões mundanas, e vivendo de uma maneira justa, sensata e piedosa. Se você foi alcançado pela graça e vive na dependência da graça, estará na expetativa, nas pontas dos pés, olhando para frente, para aquele glorioso e grande Deus, Jesus Cristo, que há de voltar. E esta é uma esperança bendita, Paulo diz, que limpa e purifica todo o crente, na perspectiva da glória.

Aqui, Paulo não fala do arrebatamento, mas da manifestação de Cristo em glória que seguirá o arrebatamento. Evento que ocorrerá sete anos após o arrebatamento.

Depois de Paulo ter falado sobre a "manifestação" da graça, da "pedagogia" da graça, agora ele vai tratar da "operação" da graça. "(Jesus Cristo) o qual se deu a si mesmo por nós, para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (v.14).

Depois de ter falado sobre a manifestação da glória, Paulo volta outra vez a manifestação da graça e vai falar para nós, como esta salvação aconteceu na nossa vida.

  • O presente da graça - "(Jesus Cristo) o qual se deu a si mesmo por nós" (v.14a). Não foi a cruz que produziu a graça, mas foi a graça que produziu a cruz. Deus não começou a ser favorável a você porque Cristo morreu na cruz por você. Cristo morreu na cruz por você, porque Deus se tornou favorável a você. O amor de Deus por você não é devido à morte de Cristo na cruz. A morte de Cristo na cruz é por causa do amor de Deus por você. Note isto! Cristo é o presente da graça. E aqui, sendo Ele o criador do universo, nasceu numa manjedoura. Sendo Ele o Rei, se fez servo. Sendo Ele dono do universo, se fez pobre. Sendo Ele bendito, foi feito pecado. Sendo Ele exaltado, se humilhou até a morte e morte de cruz. Tendo Ele todo o poder nos céus e na terra, deixou que os homens cuspissem, açoitasse e o coroasse com espinhos. Sendo Ele o Deus da vida, o doador da vida, deu a Sua vida, se entregou por nós. Ele mesmo, Jesus Cristo, é o presente da graça. Não foi algo que Deus deu; Deus deu a si mesmo. Deus, o Pai, deu Seu Filho eterno. Ele deu tudo.

Quando Paulo diz que Ele se deu por nós, traz a ideia de expiação. Se não entendermos a expiação, não vamos entender a questão da salvação.

Cristo morreu na cruz, não para possibilitar a sua salvação, mas para efetivar a sua salvação. Por quê? Porque estamos falando de expiação. E o que é expiação? Expiação é quando alguém morre no seu lugar. E se alguém morreu no seu lugar, você não precisa morrer. Ele foi seu substituto, representante e fiador. Ele morreu a sua morte e foi de tal maneira que, quando Cristo morreu por você, não poderá ser mais condenado, porque a morte que deveria sofrer, Cristo sofreu no seu lugar. E é isto que significa quando diz que Ele se deu por nós.

  • O propósito da graça – "para nos remir de toda iniquidade e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (v.14b).

Aqui tem dois propósitos, um negativo e outro positivo. O negativo: "remir de toda iniquidade". Ou seja, nos remiu daquele poder que nos faz pecar. Deus não nos salvou no pecado, mas Ele nos salvou do pecado. Deus não salva, para que aqueles que permanecem no pecado sejam salvos. A graça nos foi dada para que aqueles que creem sejam salvos. A graça não se manifestou para que aqueles que vivem no pecado sejam alcançados pela redenção; mas a graça se manifestou para nos remir de toda a iniquidade.

Cristo nos libertou da penalidade do pecado – isto é passado e tem a ver com a justificação.

Cristo nos liberta do poder do pecado – isto é presente e tem a ver com a santificação.

Cristo nos libertará da presença do pecado – isto é futuro, na glorificação.

O aspecto positivo da graça remidora é "purificar para si um povo seu especial". Deus quer um povo limpo e um povo exclusivo. Ele não quer um povo de coração dividido e nem quer um povo sujo. Este é o propósito da compra realizada por Cristo, e agora somos propriedade exclusiva dEle.

  • O resultado da graça – "um povo zeloso de boas obras" (v.14c). Qual é o propósito de Deus na sua salvação? Para que você seja uma pessoa zelosa de boas obras. A palavra "zelosa", no grego (zelotes), traz a ideia de uma pessoa entusiasmada com as boas obras. O alvo do cristão não é apenas ter a capacidade de realizar boas obras, mas ter entusiasmo e paixão por fazê-las. Tem intenso desejo de fazer boas obras. Pulsa no coração, lateja na alma do crente. Esta é a ideia que Paulo quer passar aqui de ser "zeloso de boas obras".

Está claro no texto que Deus não salvou você por causa das boas obras, mas a graça salvou você para as boas obras. De tal maneira que a graça é o fundamento das boas obras e não as boas obras o fundamento da graça.

Tudo isto aconteceu porque Deus quer um povo zeloso de boas obras. Esse é o motivo de Deus ter salvado você. "Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas" (Efésios 2:8-10).