O que já respondi?

1. Na Bíblia, quando uma pessoa estava em disciplina, ela não tinha para onde ir, pois só havia uma igreja. A ideia de assembleias independentes não abre precedentes para haver divisões? Pois basta uma pessoa sair, levar consigo outros seguidores e formar outra assembleia. (Pergunta enviada por V. A. M. J. em 05/11/2024).

Resposta: Essa é uma questão bastante relevante e traz à tona o desafio da unidade dentro das igrejas locais, especialmente em tempos onde há uma multiplicidade de congregações cristãs. Vou abordar a questão da disciplina e a prática da assembleia à luz das Escrituras e dos princípios que historicamente guiaram o povo de Deus.

Nos tempos do Novo Testamento, a disciplina eclesiástica tinha um caráter coletivo e visava sempre o arrependimento e a restauração do membro em disciplina. Não havia realmente outra "igreja" para a qual alguém poderia se dirigir. A igreja era vista como o único corpo de Cristo naquela localidade, e a disciplina era um meio pelo qual todos os crentes buscavam a pureza e a unidade dentro desse corpo. Este princípio está claramente ilustrado em passagens como 1 Coríntios 5, onde o apóstolo Paulo ordena que se discipline um membro da igreja em Corinto, visando a purificação da assembleia e, ao mesmo tempo, a possível restauração daquele que pecou.

Sobre a ideia de "assembleias independentes", é importante notar que as igrejas locais, no padrão bíblico, eram autônomas, mas não independentes no sentido de isoladas umas das outras. Elas estavam unidas pela mesma doutrina, pela mesma fé e, sobretudo, pela mesma autoridade da Palavra de Deus e do Senhor Jesus como Cabeça. A autonomia das igrejas locais permitia que cada assembleia tratasse seus próprios assuntos de acordo com as necessidades locais, mas isso nunca deveria levar à divisão do corpo de Cristo. Quando havia um problema doutrinário ou uma questão importante, as igrejas buscavam resolver isso em conjunto, como se vê no Concílio de Jerusalém em Atos 15, onde os apóstolos e anciãos se reuniram para discutir questões que afligiam várias igrejas.

A questão de uma pessoa sair de uma assembleia e "formar outra" é um problema que surge da carnalidade e da falta de submissão à Palavra de Deus. A ideia de divisão não se harmoniza com o ensino do Novo Testamento, onde vemos Paulo frequentemente apelando aos crentes que "falem a mesma coisa" e que "não haja divisões" entre eles (1 Coríntios 1:10). A divisão é, muitas vezes, fruto do orgulho, da falta de submissão e do desejo de seguir preferências pessoais em vez de seguir a direção do Espírito Santo.

Infelizmente, a realidade atual de múltiplas congregações facilita que pessoas em disciplina procurem uma alternativa mais conveniente em vez de se submeterem à correção bíblica. No entanto, essa atitude não segue o espírito do Novo Testamento e não resulta em verdadeira bênção espiritual. De fato, a ideia de "levar seguidores" para formar outra assembleia é mencionada por Paulo como uma característica daqueles que agem de maneira carnal (Atos 20:30) e visa mais a exaltação própria do que a edificação do corpo de Cristo.

Portanto, a prática de igrejas locais deve buscar manter a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 4:3), e os líderes devem estar atentos para lidar com questões de disciplina de forma bíblica e cuidadosa, sempre visando a restauração e não o afastamento definitivo do membro, enquanto mantêm a pureza da assembleia. A ideia de autonomia das igrejas locais é bíblica e saudável, desde que essa autonomia seja acompanhada de comunhão e compromisso mútuo entre os crentes, e uma sincera submissão à vontade do Senhor.

Por Josué Matos

2. Divorciado e no novo casamento, perde a salvação? (13/11/2024)


O tema do divórcio e novo casamento é realmente muito delicado e deve ser abordado com compaixão, sensibilidade e fidelidade à Palavra de Deus. Sabemos que o divórcio traz muito sofrimento para todos os envolvidos — marido, esposa, filhos, e até familiares e amigos próximos. Assim, desejo tratar do assunto à luz do ensino bíblico, de modo a trazer clareza, evitando aumentar a dor daqueles que já sofreram com esta situação.


O Casamento na Perspectiva de Deus

O casamento não é uma instituição criada pela sociedade, mas sim por Deus, e desde o princípio Ele estabeleceu um padrão de união entre um homem e uma mulher para toda a vida (Gênesis 2:23-24). Esta união é chamada de "uma só carne" e deve ser permanente e inseparável, como o próprio Senhor Jesus ensinou: "Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem" (Mateus 19:6). Este é o plano original de Deus: que o casamento seja indissolúvel até que a morte separe o casal.


Fornicação e a Cláusula de Exceção

No Antigo Testamento, o divórcio foi permitido pela dureza do coração dos homens, mas não foi algo estabelecido como plano de Deus. Quando chegamos ao Novo Testamento, o Senhor Jesus menciona uma cláusula de exceção para o divórcio, que aparece em Mateus 19:9: "Qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério."

A palavra "fornicação" (porneia) refere-se, neste contexto, à infidelidade sexual durante o período de desposamento, antes do casamento ser consumado. Ou seja, essa exceção é para casos onde a noiva ou noivo, durante o período de compromisso, foi infiel. Isso significa que, caso ocorra fornicação durante o período de noivado, o parceiro inocente está livre para cancelar o compromisso e casar-se com outra pessoa. Essa exceção não se aplica ao casamento em si, mas sim ao período de desposamento. Portanto, quando o casamento é consumado, ele é visto como uma união indissolúvel, e não há base bíblica para o divórcio e posterior novo casamento enquanto ambos os cônjuges viverem.


Adultério e Novo Casamento

Diferentemente da fornicação, o adultério, que ocorre após o casamento ser consumado, não justifica a dissolução da união aos olhos de Deus. A Bíblia ensina que o divórcio não desfaz o casamento original e, portanto, qualquer pessoa que se divorcia e se casa novamente, enquanto o cônjuge original ainda vive, comete adultério (Marcos 10:11-12; Lucas 16:18).

Mesmo quando ocorre um divórcio legal perante as autoridades humanas, o vínculo matrimonial ainda é considerado válido diante de Deus. Assim, um novo casamento enquanto o cônjuge original vive é, biblicamente, adultério. Este princípio é confirmado por Paulo em Romanos 7:2-3: "A mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele vive, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido."


Base e Continuidade da Salvação

Agora, sobre o ponto importante da salvação. A base da salvação é a fé em Jesus Cristo como nosso Salvador. Efésios 2:8-9 nos diz claramente que somos salvos pela graça, por meio da fé, e isso não vem de nós, é um dom de Deus, não vem das obras, para que ninguém se glorie. Isso significa que não há mérito humano em alcançar a salvação, e não somos salvos pelas nossas boas obras, mas pela obra perfeita de Cristo na cruz.

No entanto, a continuidade da salvação está ligada ao viver uma vida que honre a Deus. A verdadeira fé em Cristo resulta em transformação de vida, e o fruto do Espírito deve ser evidenciado no comportamento do crente (Gálatas 5:22-23). Portanto, embora a salvação não possa ser perdida como se fosse um simples objeto, ela deve ser acompanhada de arrependimento contínuo, crescimento espiritual e obediência à Palavra de Deus.

No caso de pessoas que se encontram em situações de divórcio e novo casamento enquanto o cônjuge anterior ainda vive, isso deve ser tratado à luz do arrependimento e da busca sincera pela vontade de Deus. Não há dúvida de que Deus perdoa todo pecado quando há arrependimento genuíno (1 João 1:9), mas é necessário que haja um reconhecimento do erro e um desejo sincero de viver em conformidade com os padrões estabelecidos por Deus para o casamento.


Como a Igreja Local Deve Agir

Aos casais que se encontram em uma situação de divórcio e novo casamento enquanto o cônjuge anterior ainda vive, é necessário buscar a orientação do Senhor, arrependimento genuíno e, se possível, o apoio de líderes espirituais. Não há uma solução fácil, especialmente quando há filhos envolvidos, mas Deus é misericordioso e sempre pronto a perdoar quando há arrependimento sincero.

Contudo, é importante esclarecer que, embora essas pessoas sejam salvas e façam parte da Igreja, o Corpo de Cristo, elas não podem ser recebidas na comunhão da igreja local enquanto essa situação permanecer. A condição de estarem em um segundo casamento enquanto o cônjuge anterior ainda vive caracteriza adultério aos olhos de Deus, e por isso, elas não podem participar da comunhão da igreja local, o que inclui a Ceia do Senhor e a participação ativa como membros. Essas pessoas, entretanto, podem frequentar as reuniões, ouvir a Palavra, buscar orientação e crescer na fé como outros frequentadores que ainda não fazem parte da comunhão da igreja.

A igreja deve abordar essas situações com amor e compaixão, oferecendo orientação bíblica e apoio espiritual. Ao mesmo tempo, os padrões de Deus não podem ser comprometidos. Em alguns casos, isso pode significar a difícil decisão de viver sem um novo casamento enquanto o cônjuge original vive, seguindo o ensino de 1 Coríntios 7:10-11, onde Paulo instrui que, se houver separação, "fique sem casar, ou se reconcilie com o marido".


A Segurança da Salvação

A salvação, conforme apresentada no Novo Testamento, é um dom de Deus que nos é concedido pela fé no Senhor Jesus Cristo e na obra completa que Ele realizou na cruz. Efésios 2:8-9 nos lembra que "pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie." Isso significa que a nossa salvação não depende das obras que fazemos ou dos erros que cometemos antes de ser salvos ou após ser salvo, mas do sacrifício perfeito de Cristo. 

Quando consideramos questões como o segundo casamento, é importante entender que a salvação não está ligada ao estado civil de uma pessoa. O que salva uma pessoa é a sua fé em Jesus Cristo e o arrependimento genuíno de seus pecados. O arrependimento implica reconhecer nossos erros, pedir perdão a Deus, e procurar viver de acordo com a Sua vontade. Todos nós temos áreas em nossas vidas onde podemos melhorar, e o segundo casamento é um exemplo de uma situação complexa que precisa ser tratada com arrependimento e graça.

O ensino bíblico sobre casamento é claro ao descrever o padrão de Deus: "Portanto, deixará o homem o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne" (Gênesis 2:24). O Senhor Jesus reafirmou a santidade do casamento em Marcos 10:6-9. Contudo, a Escritura também ensina que a graça de Deus cobre uma multidão de pecados e que, em Cristo, encontramos perdão e redenção, independentemente da nossa situação pessoal. O apóstolo Paulo escreveu: "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20).

No contexto do segundo casamento, algumas pessoas podem se sentir culpadas e acreditar que perderam a possibilidade de salvação. No entanto, é crucial lembrar que a segurança da salvação está firmemente baseada na obra consumada de Cristo e não em nossa própria capacidade de manter um estado de perfeição moral. Romanos 8:1 nos diz que "agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Se alguém, em um segundo casamento, se arrependeu e confessou seus pecados diante de Deus, não há razão bíblica para acreditar que essa pessoa esteja excluída da salvação. Deus é fiel para perdoar aqueles que se arrependem sinceramente (1 João 1:9). Após ser salvo, o crente, seguindo em um segundo casamento, tendo ainda o seu cônjuge vivo, está em um pecado moral constante; mas isso não lhe tira a salvação, mas sim o seu testemunho e limitará bastante seu testemunho para Deus no mundo.

Também é necessário entender que a segurança da salvação não se baseia em nossa capacidade de cumprir todos os mandamentos à risca. Todos nós falhamos e caímos em áreas diferentes de nossas vidas. O apóstolo Paulo, em Romanos 7, descreve a sua própria luta contra o pecado, deixando claro que mesmo os maiores homens de Deus enfrentam falhas. Mas ele termina sua reflexão com a declaração de que "graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Romanos 7:25), enfatizando que nossa esperança e segurança não estão em nossa capacidade de ser impecável, mas no que o Senhor Jesus fez por nós.

Portanto, afirmar que alguém em um segundo casamento não poderá ser salvo, se o Senhor Jesus voltar, não está em conformidade com o ensino da graça e do perdão revelado nas Escrituras. A salvação não é determinada pelo estado civil, mas pela fé pessoal no Senhor Jesus, pelo arrependimento sincero, e pela aceitação da graça de Deus.

A nossa segurança está na promessa de Jesus Cristo, que disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:27-28). Aqueles que colocam sua fé em Jesus Cristo e se entregam a Ele podem ter certeza de sua salvação, pois estão seguros em Suas mãos.

Todo o verdadeiro salvo envolvido em um segundo casamento, assim, sofre em seu íntimo, porque ele sabe que a salvação de Deus não é uma autorização para pecar ou viver no pecado. As más escolhas antes de ser salvo, muitas vezes, são difíceis de serem consertadas. É o preço que ele terá que conviver.


Conclusão

Deus aborrece o divórcio, mas Ele é também o Deus da graça e da restauração. Ele deseja que todos vivam de acordo com Sua Palavra, e isso inclui o casamento. Se alguém se encontra em uma situação de segundo casamento enquanto o primeiro cônjuge vive, a solução não é simples, mas é importante buscar arrependimento, orientação espiritual e caminhar em obediência ao Senhor. A igreja deve ajudar aqueles que sofrem com estas situações, oferecendo consolo e direção, mas sem abandonar a verdade das Escrituras.

Que o Senhor Jesus conceda a todos sabedoria e graça para lidar com essas questões de acordo com a Sua vontade, buscando sempre a glória de Deus acima de tudo e lembrando que Ele é um Deus de misericórdia que ama restaurar o pecador arrependido.



Por Josué Matos

3. Blasfêmia contra o Espírito Santo: Diferença nos Evangelhos (16/11/2024)


"Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno." (Marcos 3:29)


"Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir."  (Mateus 12:32)


As palavras do Senhor Jesus sobre o pecado imperdoável contra o Espírito Santo podem nos trazer dúvidas, especialmente sobre o que Ele quis dizer com "neste mundo" e "no porvir". Analisando as Escrituras, vemos que os dois textos se complementam e nos ajudam a entender a gravidade de rejeitar a obra de Deus através do Espírito Santo.

Em Mateus 12:32, o termo "neste mundo" refere-se ao período em que o Senhor Jesus estava presente na Terra, sob a Lei. Jesus, como o Filho do Homem, manifestava a glória de Deus e apresentava o Reino ao povo de Israel. Esse tempo era singular, pois a presença física do Messias entre eles significava a realização das promessas de Deus ao povo de Israel. Mesmo que alguém falasse algo contra o Senhor Jesus naquele momento, havia uma chance de perdão, pois muitas das atitudes poderiam ser atribuídas à ignorância humana, à dúvida ou à dificuldade em compreender plenamente quem Ele era.

Porém, ao mencionar o "porvir", o Senhor se refere a uma era futura - especificamente o Reino Messiânico, quando Ele reinará sobre toda a Terra. Nesse período, a rejeição ao Espírito Santo será ainda mais significativa. O Espírito Santo é quem traz convicção de pecado, revela a verdade de Deus, e testifica da obra de Jesus Cristo. Falar contra o Espírito Santo é, portanto, uma rejeição completa e deliberada da obra de Deus, uma recusa consciente à verdade revelada, tanto durante a era da Lei quanto na era do Reino vindouro.

A blasfêmia contra o Espírito Santo ocorre quando alguém atribui a obra de Deus ao maligno, rejeitando assim o testemunho do Espírito e o plano redentor de Deus de forma consciente e definitiva. Em ambas as eras - tanto durante o ministério terreno de Jesus quanto no Reino Messiânico - tal atitude reflete um coração endurecido que resiste à graça e ao testemunho de Deus de maneira definitiva, tornando impossível o perdão. Esse é o pecado eterno do qual o Senhor Jesus falou em Marcos 3:29, pois envolve um coração irremediavelmente fechado ao arrependimento.

O Senhor Jesus deixa claro que Deus é abundantemente misericordioso e pronto a perdoar aqueles que vêm a Ele com um coração quebrantado, mesmo que tenham falhado em reconhecer o Filho do Homem em Sua primeira vinda. Contudo, a resistência ao Espírito Santo é mais do que uma dúvida passageira; é uma oposição deliberada e consciente ao poder e à verdade de Deus. Tal atitude jamais poderá encontrar perdão, porque não há mais arrependimento onde o Espírito é rejeitado.

Assim, fica evidente que a blasfêmia contra o Espírito Santo é uma questão de rejeitar plenamente a obra divina, tanto durante a época em que Jesus estava presente na Terra quanto no Reino Messiânico futuro. É um alerta solene para permanecermos sensíveis à voz de Deus e abertos ao trabalho do Espírito Santo em nossas vidas.


Blasfêmia contra o Espírito Santo na Dispensação da Graça


"E todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado."  (Lucas 12:10)


Estamos vivendo na chamada dispensação da graça, um período entre a primeira vinda do Senhor Jesus, em que morreu e ressuscitou, e o Seu futuro Reino Messiânico de mil anos aqui na terra. Neste intervalo, surge a pergunta: seria possível cometer a blasfêmia contra o Espírito Santo? E, se sim, haveria perdão para isso?

A blasfêmia contra o Espírito Santo é um pecado muito sério e específico. No ministério terreno do Senhor Jesus, isso foi exemplificado quando os fariseus e líderes religiosos, vendo os milagres que Ele fazia pelo poder de Deus, deliberadamente atribuíram essas obras ao maligno, dizendo que Ele estava expulsando demônios pelo poder de Belzebu (Mateus 12:24-32). Esta atitude não era fruto de um erro ou mal-entendido, mas de uma rejeição consciente da evidência da obra do Espírito de Deus. Eles estavam vendo a manifestação clara do poder divino e, ainda assim, decidiram endurecer seus corações contra isso, atribuindo ao maligno aquilo que era obra de Deus. Este tipo de rejeição, portanto, é descrito como um pecado imperdoável, pois se trata de um endurecimento extremo e deliberado contra a verdade revelada através do Espírito Santo nas obras do Messias prometido a Israel.

Então, se esse tipo de blasfêmia só seria possível na época do Senhor Jesus e no futuro reino messiânico, como seria na atual dispensação da graça? Teria perdão? Eu não diria que na dispensação da graça teria perdão para este tipo de pecado. Mas sim, que vivemos em uma época em que não temos os elementos para se cometer este tipo de pecado.

Na dispensação da graça, o Espírito Santo está presente no mundo para convencer do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8). Ele é quem ilumina os corações, dando entendimento sobre o estado perdido do ser humano, da graça no Evangelho e levando os homens ao arrependimento. Quando uma pessoa resiste continuamente ao testemunho do Espírito Santo, ela está, na prática, fechando seu coração à única fonte que pode levá-la ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo como Salvador pessoal (João 15:26). Essa rejeição persistente e definitiva da obra do Espírito não pode ser considerada uma forma de blasfêmia ao Espírito Santo, mesmo que envolva o ato consciente de resistir e desprezar a oferta de salvação de Deus. Este pecador não está atribuído à obra do Espírito Santo nele ao maligno; ele somente não quer ceder lugar ao Espírito naquele momento.

Portanto, deve-se entender que a blasfêmia contra o Espírito Santo não se refere a uma dúvida momentânea ou uma falha ocasional, mas a uma atitude contínua e definitiva de atribuir ao maligno a obra feita pelo Espírito Santo quando tudo se faz evidente ser Ele o Autor. A Bíblia ensina que Deus é misericordioso e está sempre disposto a perdoar os que se arrependem genuinamente. O apóstolo Pedro enfatiza que Deus "não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3:9). Portanto, enquanto houver um coração disposto a responder ao chamado do Espírito, há esperança de perdão e salvação.

A epístola aos Hebreus traz um forte alerta sobre o perigo de endurecer o coração à voz do Espírito Santo: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações" (Hebreus 3:7-8). Esse chamado é um lembrete contínuo da importância de sermos sensíveis à obra do Espírito e de não resistirmos ao seu convencimento. 

Portanto, enquanto vivemos nesta era da graça, a porta da salvação está aberta a todos que se arrependem e creem no Senhor Jesus. O Espírito Santo continua a operar no mundo, chamando os pecadores ao arrependimento e oferecendo a vida eterna em Cristo. A resistência definitiva e consciente a essa obra é o que torna o pecado imperdoável, pois rejeita a única provisão de Deus para a salvação. Que todos que leem estas linhas já tenham respondido ao Espírito com fé e submissão, aceitando a graça de Deus e vivendo de acordo com a vontade do Senhor Jesus.


Por Josué Matos

4. O que era o "algo indecente", em Deuteronômio 24:1? (28/11/2024)

Deuteronômio 24:1 aborda a questão do divórcio no contexto da sociedade israelita antiga. Tradicionalmente, este versículo é interpretado como referência ao término de um casamento formal. No entanto, entendemos que o texto se refere ao rompimento de um noivado, conhecido como "desposório".

Na cultura judaica, o noivado era um compromisso legalmente vinculante, quase equivalente ao casamento. Durante o período de noivado, o casal era considerado marido e mulher, embora ainda não tivessem consumado a união ou coabitado. Dessa forma, a dissolução de um noivado exigia um procedimento formal semelhante ao divórcio. Essa interpretação é sustentada pelo relato de José e Maria em Mateus 1:18-19, onde José, ao descobrir que Maria estava grávida durante o noivado, planejou "deixá-la secretamente", indicando a necessidade de um ato formal para romper o compromisso.

Aplicando essa perspectiva a Deuteronômio 24:1, o "algo indecente" encontrado poderia referir-se a uma descoberta durante o noivado que justificasse seu término. A exigência de uma "carta de divórcio" assegurava que a dissolução fosse documentada, protegendo os direitos de ambas as partes e permitindo que a mulher pudesse se casar com outro homem, se assim desejasse.

Essa interpretação enfatiza a seriedade do noivado na cultura israelita e a importância de procedimentos formais para dissolvê-lo, garantindo justiça e clareza para ambos os envolvidos.


Deuteronômio 1-4

"Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e acontecer que ela não ache graça aos seus olhos, por ter ele achado nela alguma impureza; então, escreva uma carta de divórcio, e lha dê na mão, e a mande para fora da sua casa. E, quando ela se tiver retirado da sua casa, ela poderá ir e ser mulher de outro homem" (vv.1-2). 


Esta provisão dada por Moisés tem a sua razão esclarecida pelo próprio Senhor Jesus: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres" (Mt 19.8). Essa é parte da resposta que o Senhor Jesus deu aos fariseus, em Mateus 19.1-9, quando o desafiaram a respeito do divórcio.


Os fariseus perguntaram ao Senhor: "É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?" A resposta de Jesus foi clara e direta: "Não lestes que Aquele que os fez no princípio os fez macho e fêmea, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim, já não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem."


Insistentes, os fariseus voltaram a perguntar: "Por que, então, Moisés ordenou que se desse carta de divórcio e que se repudiasse a mulher?" E o Senhor lhes respondeu: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas desde o princípio não foi assim."


O evangelho de Marcos deixa claro que os fariseus estavam tentando colocar Jesus em uma armadilha com suas perguntas: "E os fariseus, aproximando-se dele, perguntaram-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher? tentando-o" (Mc 10.2). Se o Senhor Jesus tivesse dito que não era lícito ao homem repudiar sua mulher, os fariseus teriam citado Deuteronômio 24.1-2 para contradizê-lo. No entanto, se tivesse dito que era lícito, teriam usado Gênesis 2.24 para tentar descredenciá-lo. Parecia, assim, não haver saída para essa situação aparentemente sem solução, pois os inimigos de Jesus aparentemente o colocaram em um dilema impossível. Contudo, suas tentativas de enganá-lo e constrangê-lo fracassaram completamente, pois a resposta do Senhor satisfez ambas as passagens. Mesmo assim, mais tarde, os fariseus, juntamente com os herodianos, tentaram novamente desafiar Jesus com outro dilema aparente, apenas para serem silenciados mais uma vez (Mt 22.15-22). Ele provou ser o Mestre completo da situação em ambas as ocasiões.


É importante observar cuidadosamente como o Senhor lidou com as perguntas dos fariseus. Ele conseguiu silenciá-los explicando as Escrituras de maneira que não houvesse contradição. Para atingir seus objetivos, os fariseus estavam dispostos a colocar uma passagem da Escritura contra a outra. Eles fariam qualquer coisa para desacreditar Jesus. Mas, suas tentativas falharam quando as Escrituras relevantes foram explicadas de forma cuidadosa. Isso nos ensina algo valioso: quando duas passagens parecem se contradizer ou quando outros dizem que há contradição nas Escrituras, um estudo cuidadoso pode resolver o problema. Esse estudo deve envolver uma análise do contexto em que cada declaração foi feita e considerar o propósito original e inalterado de Deus. Agora veremos mais claramente ao examinarmos o ensinamento do Senhor, que faz dois pontos importantes:


a. A Instituição do Casamento por Deus


Em primeiro lugar, devemos notar que o Senhor Jesus respondeu aos fariseus citando o propósito original e imutável de Deus em relação ao casamento: "Não tendes lido que o Criador, no princípio, os fez homem e mulher, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?" Marcos também preserva essa ênfase: "Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher" (Mc 10.6). Jesus citou tanto Gênesis 1.27 quanto 2.24. Isso, por si só, refuta qualquer sugestão de evolução. Ele confirmou a criação de Adão e Eva, o que é natural, pois, como está escrito em João 1.3: "Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada do que foi feito se fez." As palavras de Jesus — "não separe o homem" — não contêm qualificações. "Fica em aberto se a referência é a uma das duas partes envolvidas, a um intruso que tenta destruir o casamento ou a um oficial que pronunciaria um decreto de divórcio" (H. St. John).

Deus deixou claro Seu pensamento sobre o divórcio: "Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que odeia o repúdio" (Ml 2.16). O desejo de todo crente deve ser cumprir a vontade revelada de Deus em relação ao casamento e, portanto, o divórcio nunca deve ser uma opção. No entanto, é necessário abordar os detalhes mencionados em Deuteronômio 24.1-4. Isso nos leva ao próximo ponto:


b. A Provisão para o Divórcio através de Moisés


Há quem sugira que Moisés não tinha autoridade divina direta para fazer provisão para o divórcio, e que isso se apoiaria nas palavras do Senhor Jesus: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres" (Mt 19.8). 

No entanto, esse é um argumento perigoso, pois, se aceito, colocaria em dúvida todos os "estatutos e julgamentos" registrados no livro de Deuteronômio. Ainda que o Senhor tenha afirmado o propósito original e imutável de Deus para o casamento, o fato é que, em resposta à pergunta dEle — "O que Moisés vos ordenou?" — os fariseus responderam corretamente: "Moisés permitiu escrever uma carta de divórcio e repudiá-la" (Mc 10.3-4). Jesus, então, explicou a provisão: "Por causa da dureza do vosso coração (o coração dos homens) ele vos escreveu este mandamento" (Mc 10.5).


A provisão refere-se ao início da vida conjugal: "Quando um homem tomar uma esposa e se casar com ela" (v.1). No livro "Modern Trends in Morality", Wm. T. McBride aponta que isso "não poderia se referir a um casamento bem estabelecido. O texto hebraico indica que a mulher é recém-casada" (p.56). A provisão menciona "alguma impureza nela" (v.1). Certamente, não se refere a adultério, pois a penalidade para o adultério era a morte (Dt 22.22). 

Alguns sugerem que se trata de fornicação durante o noivado, descoberta após o casamento. Contudo, não há evidência explícita de que este seja o caso. A impureza mencionada parece referir-se a algo de natureza física, e não moral, relacionada a funções normais do corpo. A expressão "alguma impureza" também aparece em Deuteronômio 23.13-14, referindo-se ao enterro de dejetos humanos, sugerindo que a "impureza" em Deuteronômio 24.1 se refere a uma emissão corporal. 

McBride aponta que a palavra "contaminado" (Dt 24.4) é da mesma raiz que a palavra usada em Levítico 15.24-25, indicando que pode haver uma relação com a proibição de contato físico durante os dias de menstruação da mulher.


A provisão salvaguarda a mulher contra um futuro sem amor. Uma vez que o homem demonstrou, logo no início do casamento, falta de paciência e cuidado amoroso — aquilo que Jesus chamou de "dureza de coração" — ele deveria "escrever-lhe uma carta de divórcio, entregá-la em sua mão e mandá-la embora de sua casa" (v.1). Se ele já demonstrou esse comportamento nos primeiros dias do casamento, sua conduta futura só tenderia a piorar. Portanto, era para a própria proteção da mulher que lhe era permitido o divórcio, sem qualquer possibilidade de retorno a esse homem.


A provisão também permitia que a mulher se casasse novamente: "E quando ela se tiver separado da casa dele, ela poderá ir e ser esposa de outro homem" (v.2). Não há referência a isso ser uma "abominação" perante o Senhor, nem "fazer a terra pecar" (v.4), a menos que ela tentasse voltar para o primeiro marido, o que era estritamente proibido. Assim, a provisão proibia o novo casamento com o marido original após o divórcio e um segundo casamento.


A razão é claramente explicada: "porque isso é abominação perante o Senhor; e não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança" (v.4). Como Raymond Brown observa, "o casamento era para toda a vida e, se os parceiros pensassem que poderiam mudar suas alianças conjugais livremente, eles tinham que saber que tal conduta seria detestável aos olhos do Senhor". 

Na sociedade atual, a total confusão em relação ao casamento e ao divórcio fez com que nossa "terra pecasse", pois "a justiça exalta as nações, mas o pecado é uma vergonha para qualquer povo" (Pv 14.34).


O Antigo Testamento mostra essa anomalia, ou seja, o repúdio. Esta novidade só apareceu nos dias de Moisés, e temos as leis a este respeito em Deuteronômio. Resumindo, são:

  1. Deuteronômio 22:20-21. O homem casou e acusou falsamente a mulher, dizendo que não era virgem. Neste caso ele seria castigado, pagaria cem siclos de prata ao pai da moça, e ela lhe seria por mulher. Além disto, ele nunca poderia divorciá-la.

  2. Deuteronômio 22:20-21. O homem casou e logo descobriu que não era virgem. Neste caso, não haveria divórcio, a mulher seria apedrejada e morta.

  3. Deuteronômio 22:22. Num caso de adultério, não haveria divórcio, pois ambos seriam mortos.

  4. Deuteronômio 22:23-27. Fornicação.

  1. No caso de uma virgem desposada. Se acontecesse na cidade, ambos seriam mortos, pois ela não gritou pedindo socorro; logo, não haveria divórcio.

  2. Se acontecesse no campo, somente o homem e seria morto, pois a moça gritou e não houve quem a socorresse.

  3. Deuteronômio 22:28-29. No caso de uma virgem não desposada. O homem daria ao pai da moça 50 siclos de prata e ela lhe seria por mulher, e ele nunca poderia divorciá-la.

  4. Deuteronômio 24:1-4. Se um homem casasse com uma mulher e esta "não achar graças aos seus olhos, por nela achar coisa feia", ele poderia dar-lhe carta de repúdio, e ela estaria livre para casar com outro. Se, porém, seu segundo marido falecesse ou lhe repudiasse, ela não poderia casar-se novamente com o seu primeiro marido.

Sem entrarmos em detalhes, podemos perceber um fato importante para nosso estudo. O divórcio foi permitido na lei de Moisés, mão não em caso de adultério. Este pecado seria punido com a morte. Algum outro motivo deveria ser à base do divórcio.

Há mais algumas referências ao divórcio no Antigo Testamento que não afetam este estudo. Nesta altura basta notar que o Antigo Testamento encerra este assunto "...ninguém seja desleal com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio..." (Malaquias 2:15-16).

É claro que nenhuma das anomalias que temos considerado representa a vontade de Deus para a humanidade. Apesar da tolerância à bigamia, da poligamia e do divórcio, o propósito de Deus para a raça humana continua sendo uma união monogâmica que só poderá ser desfeita pela morte de um dos cônjuges.


5. Como saber se devo casar ou não? (28/11/2024)

Bem, listarei alguns assuntos a serem discutidos:

1. Alinhamento Espiritual e Comunhão com Deus: Ambos os jovens devem estar em plena comunhão com Cristo e viver sob a orientação do Espírito Santo. A certeza da vontade de Deus geralmente vem da paz que Ele concede aos envolvidos. Se ambos têm essa paz, é um sinal positivo.

2. Confirmar em Oração e Pela Palavra: É essencial continuar orando e buscar orientação na Palavra de Deus. Um relacionamento que é verdadeiramente da vontade de Deus será confirmado pela Escritura, através de princípios gerais como o amor sacrificial, o desejo de edificar um ao outro e servir juntos ao Senhor.

3. Sinais de Conformidade Com a Vontade de Deus: Deus pode usar circunstâncias, conselhos de irmãos maduros na fé e a situação espiritual de ambos para trazer confirmação. Ouvir o conselho de cristãos espiritualmente maduros pode fornecer discernimento adicional. Deus também pode fechar portas se não for a vontade dEle.

4. Paz Interior e Direção do Espírito Santo: A Bíblia nos encoraja a buscar a paz de Deus como árbitro em nossos corações (Colossenses 3:15). Se ambos experimentam uma paz que persiste em relação ao relacionamento, mesmo em momentos difíceis, isso pode ser um indicativo da direção de Deus.

5. Princípio do Tempo de Deus: A vontade de Deus também é revelada no tempo certo. Não há necessidade de pressa ou pressão. A falta de convicção clara pode ser um indicativo de que ainda não é o momento ou mesmo que o casamento não é o plano de Deus.

6. Considerar a Possibilidade do Dom do Celibato: A vida de solteiro, como a de Paulo, é considerada um dom (1 Coríntios 7:7). Ambos devem buscar diante de Deus se possuem esse dom, que é caracterizado por uma satisfação e realização plena em servir ao Senhor sem a necessidade de um companheiro para tal. Porém, se existe qualquer sentimento de insatisfação de estar só nesta área ou tenha atração por uma determinada pessoa, é um sinal óbvio de que não tem este dom.

Assim, a vontade de Deus para um casamento envolve um discernimento contínuo, buscando a paz de Deus, a confirmação através de Sua Palavra e a direção do Espírito Santo, enquanto consideram conselhos sábios e a situação das portas que Deus abre ou fecha.

6. "Examine-se a si mesmo…" (02/12/2024)


"Portanto, qualquer que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de profanar o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si." (1 Coríntios 27-29)


Este autoexame é uma prática pessoal, onde cada crente avalia sua própria condição espiritual, reconhece pecados não confessados e busca reconciliação com Deus e se for o caso, com os irmãos na fé. A participação digna na Ceia do Senhor requer essa introspecção sincera, assegurando que o ato seja realizado com reverência e entendimento do sacrifício de Cristo.


É importante destacar que Paulo está falando diretamente à igreja em Corinto, ou seja, aos crentes que já estavam em plena comunhão na igreja local. A Ceia do Senhor é um privilégio dado àqueles que fazem parte do Corpo de Cristo e estão em comunhão com a assembleia local. Paulo, ao escrever aos coríntios, deixa claro que o propósito da Ceia é a comunhão dos santos que já foram recebidos na igreja local. Assim, este exame não é dirigido aos crentes de fora, ou seja, àqueles que não estão em comunhão com aquela assembleia específica, mas sim àqueles que já participam ativamente da vida da igreja local.


Essa distinção pode ser vista claramente em 1 Coríntios 10:16-17: "Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão, que partimos, não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão." Aqui, Paulo enfatiza que a Ceia do Senhor é um ato de comunhão daqueles que são parte do corpo local, uma expressão da unidade dos crentes em uma mesma assembleia. Portanto, a Ceia do Senhor não é simplesmente um ato individual, mas uma demonstração da comunhão entre os crentes que compartilham da mesma fé e que estão reunidos como igreja.


A responsabilidade do autoexame é individual, conforme enfatizado por Paulo, e deve ser feita por aqueles que estão em comunhão com a igreja. No entanto, a liderança da igreja tem o papel de instruir e orientar a congregação sobre a importância dessa prática, garantindo que todos compreendam a seriedade da participação na Ceia do Senhor. Isso não implica que líderes devam examinar ou julgar a condição espiritual de cada membro, mas sim fornecer ensino e encorajamento para que cada um faça seu próprio autoexame.


Assim, a prática de líderes examinarem outros antes da participação na Ceia não encontra respaldo bíblico. Cada crente, já estando em comunhão com a igreja local, é chamado a autoavaliar-se, reconhecendo suas falhas e buscando a graça de Deus, para que participe da Ceia de maneira digna e em comunhão no Corpo de Cristo. Desta forma, a Ceia do Senhor é reservada para aqueles que já fazem parte da comunhão eclesiástica, e não é um evento aberto para qualquer crente que não esteja devidamente em comunhão com a igreja local.


Ao ser recebido na comunhão de uma igreja local, o crente não é apenas recebido para uma reunião específica, a ceia do Senhor. Ele foi recebido para todos os privilégios e responsabilidades que estão relacionados a uma assembleia local biblicamente.

7. Uso do véu é cultural ou devemos usar hoje? (05/12/2054)

A questão do uso do véu pelas mulheres, conforme abordado em 1 Coríntios 11:2-16, é interpretada como um mandamento divino, fundamentado na ordem da criação e na hierarquia espiritual estabelecida por Deus. Nessa perspectiva, o uso do véu não é visto como uma prática cultural específica da época, mas como uma instrução que transcende contextos culturais e temporais, sendo aplicável aos cristãos em nossos dias.


Fundamentação Bíblica:

- 1 Coríntios 11:3-5: Paulo estabelece uma ordem de autoridade: "Quero, porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, e o homem, a cabeça da mulher; e Deus, a cabeça de Cristo. Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada."

- 1 Coríntios 11:7-10: Paulo relaciona o uso do véu à ordem da criação: "O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher, por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos."


Considerações:

- Ordem da Criação: A instrução é baseada na ordem da criação, indicando que a mulher foi criada a partir do homem e para o homem, estabelecendo uma hierarquia que se reflete no uso do véu como sinal de submissão.

- Presença dos Anjos: A menção de "por causa dos anjos" sugere uma dimensão espiritual na observância dessa prática, indicando que os anjos observam a ordem e a submissão na adoração.

- Prática Universal: A ausência de referências a costumes culturais específicos sugere que a instrução é destinada a todas as igrejas, independentemente do contexto cultural.


Aplicação Prática:

Igrejas que adotam essa interpretação mantêm a prática do uso do véu por mulheres durante os cultos e momentos de oração, considerando-a uma demonstração de obediência à ordem divina e um testemunho público de submissão à autoridade estabelecida por Deus.


Conclusão:

O uso do véu é entendido como um mandamento divino, fundamentado em princípios teológicos que transcendem contextos culturais específicos, sendo, portanto, aplicável aos cristãos em todas as épocas e lugares.


 Assista ao vídeo com estudo em 1 Coríntios 11:
Clique Aqui