O que já respondi?
1. Na Bíblia, quando uma pessoa estava em disciplina, ela não tinha para onde ir, pois só havia uma igreja. A ideia de assembleias independentes não abre precedentes para haver divisões? Pois basta uma pessoa sair, levar consigo outros seguidores e formar outra assembleia. (Pergunta enviada por V. A. M. J. em 05/11/2024).
Resposta: Essa é uma questão bastante relevante e traz à tona o desafio da unidade dentro das igrejas locais, especialmente em tempos onde há uma multiplicidade de congregações cristãs. Vou abordar a questão da disciplina e a prática da assembleia à luz das Escrituras e dos princípios que historicamente guiaram o povo de Deus.
Nos tempos do Novo Testamento, a disciplina eclesiástica tinha um caráter coletivo e visava sempre o arrependimento e a restauração do membro em disciplina. Não havia realmente outra "igreja" para a qual alguém poderia se dirigir. A igreja era vista como o único corpo de Cristo naquela localidade, e a disciplina era um meio pelo qual todos os crentes buscavam a pureza e a unidade dentro desse corpo. Este princípio está claramente ilustrado em passagens como 1 Coríntios 5, onde o apóstolo Paulo ordena que se discipline um membro da igreja em Corinto, visando a purificação da assembleia e, ao mesmo tempo, a possível restauração daquele que pecou.
Sobre a ideia de "assembleias independentes", é importante notar que as igrejas locais, no padrão bíblico, eram autônomas, mas não independentes no sentido de isoladas umas das outras. Elas estavam unidas pela mesma doutrina, pela mesma fé e, sobretudo, pela mesma autoridade da Palavra de Deus e do Senhor Jesus como Cabeça. A autonomia das igrejas locais permitia que cada assembleia tratasse seus próprios assuntos de acordo com as necessidades locais, mas isso nunca deveria levar à divisão do corpo de Cristo. Quando havia um problema doutrinário ou uma questão importante, as igrejas buscavam resolver isso em conjunto, como se vê no Concílio de Jerusalém em Atos 15, onde os apóstolos e anciãos se reuniram para discutir questões que afligiam várias igrejas.
A questão de uma pessoa sair de uma assembleia e "formar outra" é um problema que surge da carnalidade e da falta de submissão à Palavra de Deus. A ideia de divisão não se harmoniza com o ensino do Novo Testamento, onde vemos Paulo frequentemente apelando aos crentes que "falem a mesma coisa" e que "não haja divisões" entre eles (1 Coríntios 1:10). A divisão é, muitas vezes, fruto do orgulho, da falta de submissão e do desejo de seguir preferências pessoais em vez de seguir a direção do Espírito Santo.
Infelizmente, a realidade atual de múltiplas congregações facilita que pessoas em disciplina procurem uma alternativa mais conveniente em vez de se submeterem à correção bíblica. No entanto, essa atitude não segue o espírito do Novo Testamento e não resulta em verdadeira bênção espiritual. De fato, a ideia de "levar seguidores" para formar outra assembleia é mencionada por Paulo como uma característica daqueles que agem de maneira carnal (Atos 20:30) e visa mais a exaltação própria do que a edificação do corpo de Cristo.
Portanto, a prática de igrejas locais deve buscar manter a unidade do Espírito no vínculo da paz (Efésios 4:3), e os líderes devem estar atentos para lidar com questões de disciplina de forma bíblica e cuidadosa, sempre visando a restauração e não o afastamento definitivo do membro, enquanto mantêm a pureza da assembleia. A ideia de autonomia das igrejas locais é bíblica e saudável, desde que essa autonomia seja acompanhada de comunhão e compromisso mútuo entre os crentes, e uma sincera submissão à vontade do Senhor.
Por Josué Matos
2. Divorciado e no novo casamento, perde a salvação? (13/11/2024)
O tema do divórcio e novo casamento é realmente muito delicado e deve ser abordado com compaixão, sensibilidade e fidelidade à Palavra de Deus. Sabemos que o divórcio traz muito sofrimento para todos os envolvidos — marido, esposa, filhos, e até familiares e amigos próximos. Assim, desejo tratar do assunto à luz do ensino bíblico, de modo a trazer clareza, evitando aumentar a dor daqueles que já sofreram com esta situação.
O Casamento na Perspectiva de Deus
O casamento não é uma instituição criada pela sociedade, mas sim por Deus, e desde o princípio Ele estabeleceu um padrão de união entre um homem e uma mulher para toda a vida (Gênesis 2:23-24). Esta união é chamada de "uma só carne" e deve ser permanente e inseparável, como o próprio Senhor Jesus ensinou: "Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem" (Mateus 19:6). Este é o plano original de Deus: que o casamento seja indissolúvel até que a morte separe o casal.
Fornicação e a Cláusula de Exceção
No Antigo Testamento, o divórcio foi permitido pela dureza do coração dos homens, mas não foi algo estabelecido como plano de Deus. Quando chegamos ao Novo Testamento, o Senhor Jesus menciona uma cláusula de exceção para o divórcio, que aparece em Mateus 19:9: "Qualquer que repudiar sua mulher, a não ser por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério."
A palavra "fornicação" (porneia) refere-se, neste contexto, à infidelidade sexual durante o período de desposamento, antes do casamento ser consumado. Ou seja, essa exceção é para casos onde a noiva ou noivo, durante o período de compromisso, foi infiel. Isso significa que, caso ocorra fornicação durante o período de noivado, o parceiro inocente está livre para cancelar o compromisso e casar-se com outra pessoa. Essa exceção não se aplica ao casamento em si, mas sim ao período de desposamento. Portanto, quando o casamento é consumado, ele é visto como uma união indissolúvel, e não há base bíblica para o divórcio e posterior novo casamento enquanto ambos os cônjuges viverem.
Adultério e Novo Casamento
Diferentemente da fornicação, o adultério, que ocorre após o casamento ser consumado, não justifica a dissolução da união aos olhos de Deus. A Bíblia ensina que o divórcio não desfaz o casamento original e, portanto, qualquer pessoa que se divorcia e se casa novamente, enquanto o cônjuge original ainda vive, comete adultério (Marcos 10:11-12; Lucas 16:18).
Mesmo quando ocorre um divórcio legal perante as autoridades humanas, o vínculo matrimonial ainda é considerado válido diante de Deus. Assim, um novo casamento enquanto o cônjuge original vive é, biblicamente, adultério. Este princípio é confirmado por Paulo em Romanos 7:2-3: "A mulher que está sujeita ao marido, enquanto ele vive, está-lhe ligada pela lei; mas, morto o marido, está livre da lei do marido. De sorte que, vivendo o marido, será chamada adúltera se for de outro marido."
Base e Continuidade da Salvação
Agora, sobre o ponto importante da salvação. A base da salvação é a fé em Jesus Cristo como nosso Salvador. Efésios 2:8-9 nos diz claramente que somos salvos pela graça, por meio da fé, e isso não vem de nós, é um dom de Deus, não vem das obras, para que ninguém se glorie. Isso significa que não há mérito humano em alcançar a salvação, e não somos salvos pelas nossas boas obras, mas pela obra perfeita de Cristo na cruz.
No entanto, a continuidade da salvação está ligada ao viver uma vida que honre a Deus. A verdadeira fé em Cristo resulta em transformação de vida, e o fruto do Espírito deve ser evidenciado no comportamento do crente (Gálatas 5:22-23). Portanto, embora a salvação não possa ser perdida como se fosse um simples objeto, ela deve ser acompanhada de arrependimento contínuo, crescimento espiritual e obediência à Palavra de Deus.
No caso de pessoas que se encontram em situações de divórcio e novo casamento enquanto o cônjuge anterior ainda vive, isso deve ser tratado à luz do arrependimento e da busca sincera pela vontade de Deus. Não há dúvida de que Deus perdoa todo pecado quando há arrependimento genuíno (1 João 1:9), mas é necessário que haja um reconhecimento do erro e um desejo sincero de viver em conformidade com os padrões estabelecidos por Deus para o casamento.
Como a Igreja Local Deve Agir
Aos casais que se encontram em uma situação de divórcio e novo casamento enquanto o cônjuge anterior ainda vive, é necessário buscar a orientação do Senhor, arrependimento genuíno e, se possível, o apoio de líderes espirituais. Não há uma solução fácil, especialmente quando há filhos envolvidos, mas Deus é misericordioso e sempre pronto a perdoar quando há arrependimento sincero.
Contudo, é importante esclarecer que, embora essas pessoas sejam salvas e façam parte da Igreja, o Corpo de Cristo, elas não podem ser recebidas na comunhão da igreja local enquanto essa situação permanecer. A condição de estarem em um segundo casamento enquanto o cônjuge anterior ainda vive caracteriza adultério aos olhos de Deus, e por isso, elas não podem participar da comunhão da igreja local, o que inclui a Ceia do Senhor e a participação ativa como membros. Essas pessoas, entretanto, podem frequentar as reuniões, ouvir a Palavra, buscar orientação e crescer na fé como outros frequentadores que ainda não fazem parte da comunhão da igreja.
A igreja deve abordar essas situações com amor e compaixão, oferecendo orientação bíblica e apoio espiritual. Ao mesmo tempo, os padrões de Deus não podem ser comprometidos. Em alguns casos, isso pode significar a difícil decisão de viver sem um novo casamento enquanto o cônjuge original vive, seguindo o ensino de 1 Coríntios 7:10-11, onde Paulo instrui que, se houver separação, "fique sem casar, ou se reconcilie com o marido".
A Segurança da Salvação
A salvação, conforme apresentada no Novo Testamento, é um dom de Deus que nos é concedido pela fé no Senhor Jesus Cristo e na obra completa que Ele realizou na cruz. Efésios 2:8-9 nos lembra que "pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie." Isso significa que a nossa salvação não depende das obras que fazemos ou dos erros que cometemos antes de ser salvos ou após ser salvo, mas do sacrifício perfeito de Cristo.
Quando consideramos questões como o segundo casamento, é importante entender que a salvação não está ligada ao estado civil de uma pessoa. O que salva uma pessoa é a sua fé em Jesus Cristo e o arrependimento genuíno de seus pecados. O arrependimento implica reconhecer nossos erros, pedir perdão a Deus, e procurar viver de acordo com a Sua vontade. Todos nós temos áreas em nossas vidas onde podemos melhorar, e o segundo casamento é um exemplo de uma situação complexa que precisa ser tratada com arrependimento e graça.
O ensino bíblico sobre casamento é claro ao descrever o padrão de Deus: "Portanto, deixará o homem o seu pai e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher, e serão ambos uma só carne" (Gênesis 2:24). O Senhor Jesus reafirmou a santidade do casamento em Marcos 10:6-9. Contudo, a Escritura também ensina que a graça de Deus cobre uma multidão de pecados e que, em Cristo, encontramos perdão e redenção, independentemente da nossa situação pessoal. O apóstolo Paulo escreveu: "Onde o pecado abundou, superabundou a graça" (Romanos 5:20).
No contexto do segundo casamento, algumas pessoas podem se sentir culpadas e acreditar que perderam a possibilidade de salvação. No entanto, é crucial lembrar que a segurança da salvação está firmemente baseada na obra consumada de Cristo e não em nossa própria capacidade de manter um estado de perfeição moral. Romanos 8:1 nos diz que "agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus". Se alguém, em um segundo casamento, se arrependeu e confessou seus pecados diante de Deus, não há razão bíblica para acreditar que essa pessoa esteja excluída da salvação. Deus é fiel para perdoar aqueles que se arrependem sinceramente (1 João 1:9). Após ser salvo, o crente, seguindo em um segundo casamento, tendo ainda o seu cônjuge vivo, está em um pecado moral constante; mas isso não lhe tira a salvação, mas sim o seu testemunho e limitará bastante seu testemunho para Deus no mundo.
Também é necessário entender que a segurança da salvação não se baseia em nossa capacidade de cumprir todos os mandamentos à risca. Todos nós falhamos e caímos em áreas diferentes de nossas vidas. O apóstolo Paulo, em Romanos 7, descreve a sua própria luta contra o pecado, deixando claro que mesmo os maiores homens de Deus enfrentam falhas. Mas ele termina sua reflexão com a declaração de que "graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor" (Romanos 7:25), enfatizando que nossa esperança e segurança não estão em nossa capacidade de ser impecável, mas no que o Senhor Jesus fez por nós.
Portanto, afirmar que alguém em um segundo casamento não poderá ser salvo, se o Senhor Jesus voltar, não está em conformidade com o ensino da graça e do perdão revelado nas Escrituras. A salvação não é determinada pelo estado civil, mas pela fé pessoal no Senhor Jesus, pelo arrependimento sincero, e pela aceitação da graça de Deus.
A nossa segurança está na promessa de Jesus Cristo, que disse: "As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem; eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; ninguém as arrebatará da minha mão" (João 10:27-28). Aqueles que colocam sua fé em Jesus Cristo e se entregam a Ele podem ter certeza de sua salvação, pois estão seguros em Suas mãos.
Todo o verdadeiro salvo envolvido em um segundo casamento, assim, sofre em seu íntimo, porque ele sabe que a salvação de Deus não é uma autorização para pecar ou viver no pecado. As más escolhas antes de ser salvo, muitas vezes, são difíceis de serem consertadas. É o preço que ele terá que conviver.
Conclusão
Deus aborrece o divórcio, mas Ele é também o Deus da graça e da restauração. Ele deseja que todos vivam de acordo com Sua Palavra, e isso inclui o casamento. Se alguém se encontra em uma situação de segundo casamento enquanto o primeiro cônjuge vive, a solução não é simples, mas é importante buscar arrependimento, orientação espiritual e caminhar em obediência ao Senhor. A igreja deve ajudar aqueles que sofrem com estas situações, oferecendo consolo e direção, mas sem abandonar a verdade das Escrituras.
Que o Senhor Jesus conceda a todos sabedoria e graça para lidar com essas questões de acordo com a Sua vontade, buscando sempre a glória de Deus acima de tudo e lembrando que Ele é um Deus de misericórdia que ama restaurar o pecador arrependido.
Por Josué Matos
3. Blasfêmia contra o Espírito Santo: Diferença nos Evangelhos (16/11/2024)
"Mas aquele que blasfemar contra o Espírito Santo, nunca terá perdão, mas será culpado de um pecado eterno." (Marcos 3:29)
"Se alguém proferir alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á isso perdoado; mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será isso perdoado, nem neste mundo nem no porvir." (Mateus 12:32)
As palavras do Senhor Jesus sobre o pecado imperdoável contra o Espírito Santo podem nos trazer dúvidas, especialmente sobre o que Ele quis dizer com "neste mundo" e "no porvir". Analisando as Escrituras, vemos que os dois textos se complementam e nos ajudam a entender a gravidade de rejeitar a obra de Deus através do Espírito Santo.
Em Mateus 12:32, o termo "neste mundo" refere-se ao período em que o Senhor Jesus estava presente na Terra, sob a Lei. Jesus, como o Filho do Homem, manifestava a glória de Deus e apresentava o Reino ao povo de Israel. Esse tempo era singular, pois a presença física do Messias entre eles significava a realização das promessas de Deus ao povo de Israel. Mesmo que alguém falasse algo contra o Senhor Jesus naquele momento, havia uma chance de perdão, pois muitas das atitudes poderiam ser atribuídas à ignorância humana, à dúvida ou à dificuldade em compreender plenamente quem Ele era.
Porém, ao mencionar o "porvir", o Senhor se refere a uma era futura - especificamente o Reino Messiânico, quando Ele reinará sobre toda a Terra. Nesse período, a rejeição ao Espírito Santo será ainda mais significativa. O Espírito Santo é quem traz convicção de pecado, revela a verdade de Deus, e testifica da obra de Jesus Cristo. Falar contra o Espírito Santo é, portanto, uma rejeição completa e deliberada da obra de Deus, uma recusa consciente à verdade revelada, tanto durante a era da Lei quanto na era do Reino vindouro.
A blasfêmia contra o Espírito Santo ocorre quando alguém atribui a obra de Deus ao maligno, rejeitando assim o testemunho do Espírito e o plano redentor de Deus de forma consciente e definitiva. Em ambas as eras - tanto durante o ministério terreno de Jesus quanto no Reino Messiânico - tal atitude reflete um coração endurecido que resiste à graça e ao testemunho de Deus de maneira definitiva, tornando impossível o perdão. Esse é o pecado eterno do qual o Senhor Jesus falou em Marcos 3:29, pois envolve um coração irremediavelmente fechado ao arrependimento.
O Senhor Jesus deixa claro que Deus é abundantemente misericordioso e pronto a perdoar aqueles que vêm a Ele com um coração quebrantado, mesmo que tenham falhado em reconhecer o Filho do Homem em Sua primeira vinda. Contudo, a resistência ao Espírito Santo é mais do que uma dúvida passageira; é uma oposição deliberada e consciente ao poder e à verdade de Deus. Tal atitude jamais poderá encontrar perdão, porque não há mais arrependimento onde o Espírito é rejeitado.
Assim, fica evidente que a blasfêmia contra o Espírito Santo é uma questão de rejeitar plenamente a obra divina, tanto durante a época em que Jesus estava presente na Terra quanto no Reino Messiânico futuro. É um alerta solene para permanecermos sensíveis à voz de Deus e abertos ao trabalho do Espírito Santo em nossas vidas.
Blasfêmia contra o Espírito Santo na Dispensação da Graça
"E todo aquele que disser uma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado; mas ao que blasfemar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado." (Lucas 12:10)
Estamos vivendo na chamada dispensação da graça, um período entre a primeira vinda do Senhor Jesus, em que morreu e ressuscitou, e o Seu futuro Reino Messiânico de mil anos aqui na terra. Neste intervalo, surge a pergunta: seria possível cometer a blasfêmia contra o Espírito Santo? E, se sim, haveria perdão para isso?
A blasfêmia contra o Espírito Santo é um pecado muito sério e específico. No ministério terreno do Senhor Jesus, isso foi exemplificado quando os fariseus e líderes religiosos, vendo os milagres que Ele fazia pelo poder de Deus, deliberadamente atribuíram essas obras ao maligno, dizendo que Ele estava expulsando demônios pelo poder de Belzebu (Mateus 12:24-32). Esta atitude não era fruto de um erro ou mal-entendido, mas de uma rejeição consciente da evidência da obra do Espírito de Deus. Eles estavam vendo a manifestação clara do poder divino e, ainda assim, decidiram endurecer seus corações contra isso, atribuindo ao maligno aquilo que era obra de Deus. Este tipo de rejeição, portanto, é descrito como um pecado imperdoável, pois se trata de um endurecimento extremo e deliberado contra a verdade revelada através do Espírito Santo nas obras do Messias prometido a Israel.
Então, se esse tipo de blasfêmia só seria possível na época do Senhor Jesus e no futuro reino messiânico, como seria na atual dispensação da graça? Teria perdão? Eu não diria que na dispensação da graça teria perdão para este tipo de pecado. Mas sim, que vivemos em uma época em que não temos os elementos para se cometer este tipo de pecado.
Na dispensação da graça, o Espírito Santo está presente no mundo para convencer do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8). Ele é quem ilumina os corações, dando entendimento sobre o estado perdido do ser humano, da graça no Evangelho e levando os homens ao arrependimento. Quando uma pessoa resiste continuamente ao testemunho do Espírito Santo, ela está, na prática, fechando seu coração à única fonte que pode levá-la ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo como Salvador pessoal (João 15:26). Essa rejeição persistente e definitiva da obra do Espírito não pode ser considerada uma forma de blasfêmia ao Espírito Santo, mesmo que envolva o ato consciente de resistir e desprezar a oferta de salvação de Deus. Este pecador não está atribuído à obra do Espírito Santo nele ao maligno; ele somente não quer ceder lugar ao Espírito naquele momento.
Portanto, deve-se entender que a blasfêmia contra o Espírito Santo não se refere a uma dúvida momentânea ou uma falha ocasional, mas a uma atitude contínua e definitiva de atribuir ao maligno a obra feita pelo Espírito Santo quando tudo se faz evidente ser Ele o Autor. A Bíblia ensina que Deus é misericordioso e está sempre disposto a perdoar os que se arrependem genuinamente. O apóstolo Pedro enfatiza que Deus "não quer que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento" (2 Pedro 3:9). Portanto, enquanto houver um coração disposto a responder ao chamado do Espírito, há esperança de perdão e salvação.
A epístola aos Hebreus traz um forte alerta sobre o perigo de endurecer o coração à voz do Espírito Santo: "Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações" (Hebreus 3:7-8). Esse chamado é um lembrete contínuo da importância de sermos sensíveis à obra do Espírito e de não resistirmos ao seu convencimento.
Portanto, enquanto vivemos nesta era da graça, a porta da salvação está aberta a todos que se arrependem e creem no Senhor Jesus. O Espírito Santo continua a operar no mundo, chamando os pecadores ao arrependimento e oferecendo a vida eterna em Cristo. A resistência definitiva e consciente a essa obra é o que torna o pecado imperdoável, pois rejeita a única provisão de Deus para a salvação. Que todos que leem estas linhas já tenham respondido ao Espírito com fé e submissão, aceitando a graça de Deus e vivendo de acordo com a vontade do Senhor Jesus.
Por Josué Matos
4. O que era o "algo indecente", em Deuteronômio 24:1? (28/11/2024)
Deuteronômio 24:1 aborda a questão do divórcio no contexto da sociedade israelita antiga. Tradicionalmente, este versículo é interpretado como referência ao término de um casamento formal. No entanto, entendemos que o texto se refere ao rompimento de um noivado, conhecido como "desposório".
Na cultura judaica, o noivado era um compromisso legalmente vinculante, quase equivalente ao casamento. Durante o período de noivado, o casal era considerado marido e mulher, embora ainda não tivessem consumado a união ou coabitado. Dessa forma, a dissolução de um noivado exigia um procedimento formal semelhante ao divórcio. Essa interpretação é sustentada pelo relato de José e Maria em Mateus 1:18-19, onde José, ao descobrir que Maria estava grávida durante o noivado, planejou "deixá-la secretamente", indicando a necessidade de um ato formal para romper o compromisso.
Aplicando essa perspectiva a Deuteronômio 24:1, o "algo indecente" encontrado poderia referir-se a uma descoberta durante o noivado que justificasse seu término. A exigência de uma "carta de divórcio" assegurava que a dissolução fosse documentada, protegendo os direitos de ambas as partes e permitindo que a mulher pudesse se casar com outro homem, se assim desejasse.
Essa interpretação enfatiza a seriedade do noivado na cultura israelita e a importância de procedimentos formais para dissolvê-lo, garantindo justiça e clareza para ambos os envolvidos.
Deuteronômio 1-4
"Quando um homem tomar uma mulher e se casar com ela, e acontecer que ela não ache graça aos seus olhos, por ter ele achado nela alguma impureza; então, escreva uma carta de divórcio, e lha dê na mão, e a mande para fora da sua casa. E, quando ela se tiver retirado da sua casa, ela poderá ir e ser mulher de outro homem" (vv.1-2).
Esta provisão dada por Moisés tem a sua razão esclarecida pelo próprio Senhor Jesus: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres" (Mt 19.8). Essa é parte da resposta que o Senhor Jesus deu aos fariseus, em Mateus 19.1-9, quando o desafiaram a respeito do divórcio.
Os fariseus perguntaram ao Senhor: "É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?" A resposta de Jesus foi clara e direta: "Não lestes que Aquele que os fez no princípio os fez macho e fêmea, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne? Assim, já não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem."
Insistentes, os fariseus voltaram a perguntar: "Por que, então, Moisés ordenou que se desse carta de divórcio e que se repudiasse a mulher?" E o Senhor lhes respondeu: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas desde o princípio não foi assim."
O evangelho de Marcos deixa claro que os fariseus estavam tentando colocar Jesus em uma armadilha com suas perguntas: "E os fariseus, aproximando-se dele, perguntaram-lhe: É lícito ao homem repudiar sua mulher? tentando-o" (Mc 10.2). Se o Senhor Jesus tivesse dito que não era lícito ao homem repudiar sua mulher, os fariseus teriam citado Deuteronômio 24.1-2 para contradizê-lo. No entanto, se tivesse dito que era lícito, teriam usado Gênesis 2.24 para tentar descredenciá-lo. Parecia, assim, não haver saída para essa situação aparentemente sem solução, pois os inimigos de Jesus aparentemente o colocaram em um dilema impossível. Contudo, suas tentativas de enganá-lo e constrangê-lo fracassaram completamente, pois a resposta do Senhor satisfez ambas as passagens. Mesmo assim, mais tarde, os fariseus, juntamente com os herodianos, tentaram novamente desafiar Jesus com outro dilema aparente, apenas para serem silenciados mais uma vez (Mt 22.15-22). Ele provou ser o Mestre completo da situação em ambas as ocasiões.
É importante observar cuidadosamente como o Senhor lidou com as perguntas dos fariseus. Ele conseguiu silenciá-los explicando as Escrituras de maneira que não houvesse contradição. Para atingir seus objetivos, os fariseus estavam dispostos a colocar uma passagem da Escritura contra a outra. Eles fariam qualquer coisa para desacreditar Jesus. Mas, suas tentativas falharam quando as Escrituras relevantes foram explicadas de forma cuidadosa. Isso nos ensina algo valioso: quando duas passagens parecem se contradizer ou quando outros dizem que há contradição nas Escrituras, um estudo cuidadoso pode resolver o problema. Esse estudo deve envolver uma análise do contexto em que cada declaração foi feita e considerar o propósito original e inalterado de Deus. Agora veremos mais claramente ao examinarmos o ensinamento do Senhor, que faz dois pontos importantes:
a. A Instituição do Casamento por Deus
Em primeiro lugar, devemos notar que o Senhor Jesus respondeu aos fariseus citando o propósito original e imutável de Deus em relação ao casamento: "Não tendes lido que o Criador, no princípio, os fez homem e mulher, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?" Marcos também preserva essa ênfase: "Mas desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher" (Mc 10.6). Jesus citou tanto Gênesis 1.27 quanto 2.24. Isso, por si só, refuta qualquer sugestão de evolução. Ele confirmou a criação de Adão e Eva, o que é natural, pois, como está escrito em João 1.3: "Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada do que foi feito se fez." As palavras de Jesus — "não separe o homem" — não contêm qualificações. "Fica em aberto se a referência é a uma das duas partes envolvidas, a um intruso que tenta destruir o casamento ou a um oficial que pronunciaria um decreto de divórcio" (H. St. John).
Deus deixou claro Seu pensamento sobre o divórcio: "Porque o Senhor, o Deus de Israel, diz que odeia o repúdio" (Ml 2.16). O desejo de todo crente deve ser cumprir a vontade revelada de Deus em relação ao casamento e, portanto, o divórcio nunca deve ser uma opção. No entanto, é necessário abordar os detalhes mencionados em Deuteronômio 24.1-4. Isso nos leva ao próximo ponto:
b. A Provisão para o Divórcio através de Moisés
Há quem sugira que Moisés não tinha autoridade divina direta para fazer provisão para o divórcio, e que isso se apoiaria nas palavras do Senhor Jesus: "Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres" (Mt 19.8).
No entanto, esse é um argumento perigoso, pois, se aceito, colocaria em dúvida todos os "estatutos e julgamentos" registrados no livro de Deuteronômio. Ainda que o Senhor tenha afirmado o propósito original e imutável de Deus para o casamento, o fato é que, em resposta à pergunta dEle — "O que Moisés vos ordenou?" — os fariseus responderam corretamente: "Moisés permitiu escrever uma carta de divórcio e repudiá-la" (Mc 10.3-4). Jesus, então, explicou a provisão: "Por causa da dureza do vosso coração (o coração dos homens) ele vos escreveu este mandamento" (Mc 10.5).
A provisão refere-se ao início da vida conjugal: "Quando um homem tomar uma esposa e se casar com ela" (v.1). No livro "Modern Trends in Morality", Wm. T. McBride aponta que isso "não poderia se referir a um casamento bem estabelecido. O texto hebraico indica que a mulher é recém-casada" (p.56). A provisão menciona "alguma impureza nela" (v.1). Certamente, não se refere a adultério, pois a penalidade para o adultério era a morte (Dt 22.22).
Alguns sugerem que se trata de fornicação durante o noivado, descoberta após o casamento. Contudo, não há evidência explícita de que este seja o caso. A impureza mencionada parece referir-se a algo de natureza física, e não moral, relacionada a funções normais do corpo. A expressão "alguma impureza" também aparece em Deuteronômio 23.13-14, referindo-se ao enterro de dejetos humanos, sugerindo que a "impureza" em Deuteronômio 24.1 se refere a uma emissão corporal.
McBride aponta que a palavra "contaminado" (Dt 24.4) é da mesma raiz que a palavra usada em Levítico 15.24-25, indicando que pode haver uma relação com a proibição de contato físico durante os dias de menstruação da mulher.
A provisão salvaguarda a mulher contra um futuro sem amor. Uma vez que o homem demonstrou, logo no início do casamento, falta de paciência e cuidado amoroso — aquilo que Jesus chamou de "dureza de coração" — ele deveria "escrever-lhe uma carta de divórcio, entregá-la em sua mão e mandá-la embora de sua casa" (v.1). Se ele já demonstrou esse comportamento nos primeiros dias do casamento, sua conduta futura só tenderia a piorar. Portanto, era para a própria proteção da mulher que lhe era permitido o divórcio, sem qualquer possibilidade de retorno a esse homem.
A provisão também permitia que a mulher se casasse novamente: "E quando ela se tiver separado da casa dele, ela poderá ir e ser esposa de outro homem" (v.2). Não há referência a isso ser uma "abominação" perante o Senhor, nem "fazer a terra pecar" (v.4), a menos que ela tentasse voltar para o primeiro marido, o que era estritamente proibido. Assim, a provisão proibia o novo casamento com o marido original após o divórcio e um segundo casamento.
A razão é claramente explicada: "porque isso é abominação perante o Senhor; e não farás pecar a terra que o Senhor teu Deus te dá por herança" (v.4). Como Raymond Brown observa, "o casamento era para toda a vida e, se os parceiros pensassem que poderiam mudar suas alianças conjugais livremente, eles tinham que saber que tal conduta seria detestável aos olhos do Senhor".
Na sociedade atual, a total confusão em relação ao casamento e ao divórcio fez com que nossa "terra pecasse", pois "a justiça exalta as nações, mas o pecado é uma vergonha para qualquer povo" (Pv 14.34).
O Antigo Testamento mostra essa anomalia, ou seja, o repúdio. Esta novidade só apareceu nos dias de Moisés, e temos as leis a este respeito em Deuteronômio. Resumindo, são:
Deuteronômio 22:20-21. O homem casou e acusou falsamente a mulher, dizendo que não era virgem. Neste caso ele seria castigado, pagaria cem siclos de prata ao pai da moça, e ela lhe seria por mulher. Além disto, ele nunca poderia divorciá-la.
Deuteronômio 22:20-21. O homem casou e logo descobriu que não era virgem. Neste caso, não haveria divórcio, a mulher seria apedrejada e morta.
Deuteronômio 22:22. Num caso de adultério, não haveria divórcio, pois ambos seriam mortos.
Deuteronômio 22:23-27. Fornicação.
No caso de uma virgem desposada. Se acontecesse na cidade, ambos seriam mortos, pois ela não gritou pedindo socorro; logo, não haveria divórcio.
Se acontecesse no campo, somente o homem e seria morto, pois a moça gritou e não houve quem a socorresse.
Deuteronômio 22:28-29. No caso de uma virgem não desposada. O homem daria ao pai da moça 50 siclos de prata e ela lhe seria por mulher, e ele nunca poderia divorciá-la.
Deuteronômio 24:1-4. Se um homem casasse com uma mulher e esta "não achar graças aos seus olhos, por nela achar coisa feia", ele poderia dar-lhe carta de repúdio, e ela estaria livre para casar com outro. Se, porém, seu segundo marido falecesse ou lhe repudiasse, ela não poderia casar-se novamente com o seu primeiro marido.
Sem entrarmos em detalhes, podemos perceber um fato importante para nosso estudo. O divórcio foi permitido na lei de Moisés, mão não em caso de adultério. Este pecado seria punido com a morte. Algum outro motivo deveria ser à base do divórcio.
Há mais algumas referências ao divórcio no Antigo Testamento que não afetam este estudo. Nesta altura basta notar que o Antigo Testamento encerra este assunto "...ninguém seja desleal com a mulher da sua mocidade. Porque o Senhor, Deus de Israel, diz que aborrece o repúdio..." (Malaquias 2:15-16).
É claro que nenhuma das anomalias que temos considerado representa a vontade de Deus para a humanidade. Apesar da tolerância à bigamia, da poligamia e do divórcio, o propósito de Deus para a raça humana continua sendo uma união monogâmica que só poderá ser desfeita pela morte de um dos cônjuges.
5. Como saber se devo casar ou não? (28/11/2024)
Bem, listarei alguns assuntos a serem discutidos:
1. Alinhamento Espiritual e Comunhão com Deus: Ambos os jovens devem estar em plena comunhão com Cristo e viver sob a orientação do Espírito Santo. A certeza da vontade de Deus geralmente vem da paz que Ele concede aos envolvidos. Se ambos têm essa paz, é um sinal positivo.
2. Confirmar em Oração e Pela Palavra: É essencial continuar orando e buscar orientação na Palavra de Deus. Um relacionamento que é verdadeiramente da vontade de Deus será confirmado pela Escritura, através de princípios gerais como o amor sacrificial, o desejo de edificar um ao outro e servir juntos ao Senhor.
3. Sinais de Conformidade Com a Vontade de Deus: Deus pode usar circunstâncias, conselhos de irmãos maduros na fé e a situação espiritual de ambos para trazer confirmação. Ouvir o conselho de cristãos espiritualmente maduros pode fornecer discernimento adicional. Deus também pode fechar portas se não for a vontade dEle.
4. Paz Interior e Direção do Espírito Santo: A Bíblia nos encoraja a buscar a paz de Deus como árbitro em nossos corações (Colossenses 3:15). Se ambos experimentam uma paz que persiste em relação ao relacionamento, mesmo em momentos difíceis, isso pode ser um indicativo da direção de Deus.
5. Princípio do Tempo de Deus: A vontade de Deus também é revelada no tempo certo. Não há necessidade de pressa ou pressão. A falta de convicção clara pode ser um indicativo de que ainda não é o momento ou mesmo que o casamento não é o plano de Deus.
6. Considerar a Possibilidade do Dom do Celibato: A vida de solteiro, como a de Paulo, é considerada um dom (1 Coríntios 7:7). Ambos devem buscar diante de Deus se possuem esse dom, que é caracterizado por uma satisfação e realização plena em servir ao Senhor sem a necessidade de um companheiro para tal. Porém, se existe qualquer sentimento de insatisfação de estar só nesta área ou tenha atração por uma determinada pessoa, é um sinal óbvio de que não tem este dom.
Assim, a vontade de Deus para um casamento envolve um discernimento contínuo, buscando a paz de Deus, a confirmação através de Sua Palavra e a direção do Espírito Santo, enquanto consideram conselhos sábios e a situação das portas que Deus abre ou fecha.
6. "Examine-se a si mesmo…" (02/12/2024)
"Portanto, qualquer que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de profanar o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice. Pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si." (1 Coríntios 27-29)
Este autoexame é uma prática pessoal, onde cada crente avalia sua própria condição espiritual, reconhece pecados não confessados e busca reconciliação com Deus e se for o caso, com os irmãos na fé. A participação digna na Ceia do Senhor requer essa introspecção sincera, assegurando que o ato seja realizado com reverência e entendimento do sacrifício de Cristo.
É importante destacar que Paulo está falando diretamente à igreja em Corinto, ou seja, aos crentes que já estavam em plena comunhão na igreja local. A Ceia do Senhor é um privilégio dado àqueles que fazem parte do Corpo de Cristo e estão em comunhão com a assembleia local. Paulo, ao escrever aos coríntios, deixa claro que o propósito da Ceia é a comunhão dos santos que já foram recebidos na igreja local. Assim, este exame não é dirigido aos crentes de fora, ou seja, àqueles que não estão em comunhão com aquela assembleia específica, mas sim àqueles que já participam ativamente da vida da igreja local.
Essa distinção pode ser vista claramente em 1 Coríntios 10:16-17: "Porventura o cálice de bênção, que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão, que partimos, não é, porventura, a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, sendo muitos, somos um só pão e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão." Aqui, Paulo enfatiza que a Ceia do Senhor é um ato de comunhão daqueles que são parte do corpo local, uma expressão da unidade dos crentes em uma mesma assembleia. Portanto, a Ceia do Senhor não é simplesmente um ato individual, mas uma demonstração da comunhão entre os crentes que compartilham da mesma fé e que estão reunidos como igreja.
A responsabilidade do autoexame é individual, conforme enfatizado por Paulo, e deve ser feita por aqueles que estão em comunhão com a igreja. No entanto, a liderança da igreja tem o papel de instruir e orientar a congregação sobre a importância dessa prática, garantindo que todos compreendam a seriedade da participação na Ceia do Senhor. Isso não implica que líderes devam examinar ou julgar a condição espiritual de cada membro, mas sim fornecer ensino e encorajamento para que cada um faça seu próprio autoexame.
Assim, a prática de líderes examinarem outros antes da participação na Ceia não encontra respaldo bíblico. Cada crente, já estando em comunhão com a igreja local, é chamado a autoavaliar-se, reconhecendo suas falhas e buscando a graça de Deus, para que participe da Ceia de maneira digna e em comunhão no Corpo de Cristo. Desta forma, a Ceia do Senhor é reservada para aqueles que já fazem parte da comunhão eclesiástica, e não é um evento aberto para qualquer crente que não esteja devidamente em comunhão com a igreja local.
Ao ser recebido na comunhão de uma igreja local, o crente não é apenas recebido para uma reunião específica, a ceia do Senhor. Ele foi recebido para todos os privilégios e responsabilidades que estão relacionados a uma assembleia local biblicamente.
7. Uso do véu é cultural ou devemos usar hoje? (05/12/2024)
A questão do uso do véu pelas mulheres, conforme abordado em 1 Coríntios 11:2-16, é interpretada como um mandamento divino, fundamentado na ordem da criação e na hierarquia espiritual estabelecida por Deus. Nessa perspectiva, o uso do véu não é visto como uma prática cultural específica da época, mas como uma instrução que transcende contextos culturais e temporais, sendo aplicável aos cristãos em nossos dias.
Fundamentação Bíblica:
- 1 Coríntios 11:3-5: Paulo estabelece uma ordem de autoridade: "Quero, porém, que saibais que Cristo é a cabeça de todo homem, e o homem, a cabeça da mulher; e Deus, a cabeça de Cristo. Todo homem que ora ou profetiza, tendo a cabeça coberta, desonra a sua própria cabeça. Mas toda mulher que ora ou profetiza com a cabeça descoberta desonra a sua própria cabeça, porque é como se estivesse rapada."
- 1 Coríntios 11:7-10: Paulo relaciona o uso do véu à ordem da criação: "O homem, pois, não deve cobrir a cabeça, porque é a imagem e glória de Deus; mas a mulher é a glória do homem. Porque o homem não provém da mulher, mas a mulher, do homem. Porque também o homem não foi criado por causa da mulher, mas a mulher, por causa do homem. Portanto, a mulher deve ter sobre a cabeça sinal de poderio, por causa dos anjos."
Considerações:
- Ordem da Criação: A instrução é baseada na ordem da criação, indicando que a mulher foi criada a partir do homem e para o homem, estabelecendo uma hierarquia que se reflete no uso do véu como sinal de submissão.
- Presença dos Anjos: A menção de "por causa dos anjos" sugere uma dimensão espiritual na observância dessa prática, indicando que os anjos observam a ordem e a submissão na adoração.
- Prática Universal: A ausência de referências a costumes culturais específicos sugere que a instrução é destinada a todas as igrejas, independentemente do contexto cultural.
Aplicação Prática:
Igrejas que adotam essa interpretação mantêm a prática do uso do véu por mulheres durante os cultos e momentos de oração, considerando-a uma demonstração de obediência à ordem divina e um testemunho público de submissão à autoridade estabelecida por Deus.
Conclusão:
O uso do véu é entendido como um mandamento divino, fundamentado em princípios teológicos que transcendem contextos culturais específicos, sendo, portanto, aplicável aos cristãos em todas as épocas e lugares.
Assista ao vídeo com estudo em 1 Coríntios 11: Clique Aqui
8. J.N. Darby era Calvinista? (08/01/2025)
Caro irmão W. K.,
Agradeço sua mensagem e o interesse em compartilhar sobre esse tema. A questão do livre-arbítrio, especialmente no contexto dos escritos de John Nelson Darby, é de fato profunda e merece uma análise cuidadosa.
Em relação à carta que você mencionou, é importante reconhecer que Darby, em sua vasta obra, frequentemente abordou a natureza humana e a soberania divina, colocando um forte ênfase na incapacidade do homem natural em buscar a Deus por si mesmo. Sua posição sobre o livre-arbítrio é consistente com a visão das Escrituras sobre a condição caída do homem. Darby argumenta que o homem, em seu estado natural, está morto em delitos e pecados (Efésios 2:1), incapaz de agradar a Deus ou de buscar a salvação sem a intervenção soberana da graça divina.
Essa visão não é uma negação da responsabilidade humana, mas uma rejeição da ideia de que o homem possui, por si só, a capacidade de escolher a Deus sem a obra do Espírito Santo. Para Darby, a liberdade verdadeira só é encontrada em Cristo, quando o Espírito Santo vivifica o pecador. Ele cita frequentemente Romanos 8:7-8, que afirma que "a mente carnal é inimizade contra Deus" e que "os que estão na carne não podem agradar a Deus". Isso reforça sua posição de que a vontade humana, à parte da graça, está escravizada ao pecado.
No entanto, Darby divergia dos calvinistas em alguns aspectos importantes. Embora compartilhasse da visão reformada sobre a depravação total e a necessidade da graça, ele discordava da ideia da predestinação incondicional nos moldes em que foi defendida por muitos calvinistas. Para Darby, a soberania de Deus não anulava a responsabilidade humana. Ele acreditava que todos os homens são chamados ao arrependimento e à fé no Evangelho, mas que somente aqueles que respondem a essa chamada pela graça divina podem ser salvos. Ele também rejeitava qualquer noção que pudesse sugerir que Deus fosse o autor do pecado ou que a vontade humana fosse irrelevante no processo de salvação.
Uma discordância fundamental de Darby em relação aos calvinistas estava na visão lógica que, se Deus elegeu uns para a salvação, então os outros teriam sido eleitos para a perdição. Para Darby, essa conclusão não era bíblica e comprometia o caráter de Deus. Ele afirmava que a Escritura não ensina a dupla predestinação dessa forma, mas apresenta Deus como justo e amoroso, desejando que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3:9). Embora reconhecesse que apenas os eleitos são salvos, ele enfatizava que a condenação dos ímpios é resultado de sua própria rejeição deliberada da graça de Deus e não de um decreto divino que os destina à perdição.
Darby via a responsabilidade humana e o livre-arbítrio como realidades que coexistem com a soberania divina, mas enfatizava que, na prática, o homem só pode exercer essa responsabilidade corretamente quando capacitado pela graça de Deus. Ele ilustrava isso com a figura do pecador que, ao ouvir o Evangelho, é chamado a responder. Embora incapaz por natureza, o Espírito Santo opera no coração para torná-lo disposto e apto a crer. Assim, a responsabilidade do homem está em aceitar ou rejeitar a luz que Deus lhe concede, mesmo que a capacidade de aceitar venha exclusivamente de Deus.
Na prática, isso significa que o crente, ao pregar o Evangelho, deve fazê-lo com a plena consciência de que Deus é quem opera a salvação. No entanto, essa pregação nunca deve ser negligenciada com base em uma suposta incapacidade do ouvinte, pois, como Darby afirmava, Deus usa a Palavra para alcançar os corações. Além disso, Darby insistia que todos os homens são responsáveis por seus pecados e pela rejeição do Evangelho, pois Deus não nega a ninguém a oportunidade de ouvir e responder à Sua Palavra.
Se considerarmos o contexto histórico e teológico em que Darby escreveu, perceberemos que ele estava reagindo contra sistemas que enfatizavam excessivamente o papel da vontade humana na salvação, muitas vezes em detrimento da obra redentora de Cristo e da soberania de Deus. Essa ênfase está em linha com a teologia reformada clássica, que também sublinha a depravação total e a necessidade da graça irresistível.
Portanto, ao examinar os escritos de Darby, incluindo a carta mencionada, parece claro que sua posição sobre o livre-arbítrio é autêntica e consistente com sua teologia geral. Não há indícios de adulteração no conteúdo dessa carta, mas sim uma reafirmação de princípios que ele defendeu amplamente em sua obra.
Espero que essas observações sejam úteis para esclarecer sua dúvida. Caso tenha interesse em explorar mais profundamente os escritos de Darby ou discutir outros temas, estarei à disposição para ajudar.
Com um forte abraço em Cristo,
Josué Matos
9. Reunido com uma pessoa há mais de três anos, já podemos nos considerar como uma igreja local? (10/01/2025)
Definição de Igreja Local e Considerações
Pergunta: Se estou reunido com uma pessoa há mais de três anos, já podemos nos considerar como uma igreja local?
Resposta Baseada nas Escrituras:
A definição de igreja local não se baseia exclusivamente na duração do tempo em que as pessoas estão reunidas, mas sim em princípios bíblicos claros e objetivos. Abaixo estão alguns pontos importantes para esclarecer a questão:
1. O Conceito de Igreja Local
Na Escritura, uma igreja local é uma expressão visível do corpo de Cristo em uma localidade específica (1 Coríntios 1:2; Apocalipse 1:11). É composta por crentes que se reúnem no nome do Senhor Jesus (Mateus 18:20), sob a autoridade da Sua Palavra e guiados pelo Espírito Santo.
2. Elementos Essenciais de uma Igreja Local
Para que um grupo seja considerado uma igreja local, os seguintes princípios devem estar presentes:
- Reconhecimento da Autoridade do Senhor Jesus: O grupo se reúne exclusivamente no nome do Senhor Jesus, reconhecendo Sua soberania (Colossenses 1:18).
- Obediência à Palavra de Deus: As Escrituras são a única regra de fé e prática (2 Timóteo 3:16-17).
- Prática das Ordenanças: Uma igreja local celebra o batismo e a ceia do Senhor conforme ordenado pelo Novo Testamento (Atos 2:41-42; 1 Coríntios 11:23-26).
- Disciplina e Ordem: Há exercício da disciplina, quando necessário, para preservar a santidade (1 Coríntios 5:6-7).
- Pluralidade de Liderança: Quando possível, deve haver anciãos (presbíteros) para cuidar da igreja, conforme o modelo bíblico (Atos 14:23; Tito 1:5).
3. O Número de Pessoas Necessárias
Embora o Novo Testamento não estabeleça um número mínimo para formar uma igreja local, é evidente que a igreja é coletiva por natureza. Reunir-se com uma outra pessoa é significativo e valioso, mas para ser considerado uma igreja local, o grupo deve refletir a realidade de um corpo composto por múltiplos membros com diferentes dons e serviços (1 Coríntios 12:12-27).
4. Tempo de Reunião
O tempo que vocês estão reunidos, por mais longo que seja, não define automaticamente uma igreja local. A formação de uma igreja envolve mais do que frequência ou constância; requer conformidade com os princípios bíblicos mencionados acima.
5. Conselho Prático
Reflita sobre os seguintes pontos:
- Vocês estão reunidos no nome do Senhor Jesus, com o compromisso de viver sob Sua autoridade e Palavra?
- Há o reconhecimento e prática das ordenanças bíblicas?
- Existe o desejo de ser um testemunho visível para a localidade onde vocês estão?
Caso essas características estejam presentes, pode-se considerar que vocês estão em processo de serem reconhecidos como uma igreja local. É recomendável buscar a orientação de anciãos experientes ou de igrejas irmãs para ajudar neste discernimento.
Conclusão: O fato de se reunir com outra pessoa é louvável e demonstra um desejo de obedecer ao Senhor. Contudo, para ser considerado uma igreja local, é necessário avaliar se os princípios estabelecidos nas Escrituras estão sendo observados. Que o Senhor continue abençoando vocês nesta caminhada de testemunho e fidelidade.
Josué Matos
10. Cronologia do fim dos Tempos (10/01/2025)
Segue abaixo o que foi enviado para mim por uma pessoa no meu canal do YouTube. Ele dá a sua visão do fim dos tempos. Na primeira parte, é o que ele julga estar correto, na segunda parte, que também foi enviada por ele, e o que ele imagina que eu creia, e por fim, tem a minha resposta:
1º Parte - CRONOLOGIA BÍBLICA DO FIM
(O que ele imagina estar correto)
- O dia do Senhor virá como ladrão de noite (1 Tessalonicenses 5:2).
- Os cristãos não estão em trevas para que aquele dia os surpreenda como um ladrão (1 Tessalonicenses 5:4).
- O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor (Joel 2:31; Atos 2:20).
- Depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu; então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem vindo sobre as nuvens (Mateus 24:29-30).
- O arrebatamento acontecerá no ressoar da última trombeta (1 Coríntios 15:52).
- Ele acontece depois da ressurreição dos santos que dormem (1 Tessalonicenses 4:15-17).
- A ressurreição dos que dormem acontece no "último dia" (João 6:39-40, 44, 54; João 11:24).
- Os santos que dormem virão com Ele em sua vinda (1 Tessalonicenses 4:13-14).
- Os santos anjos também vêm na sua vinda de glória (Mateus 25:31; Mateus 16:27; Marcos 8:38; 2 Tessalonicenses 1:7; 1 Tessalonicenses 3:13; Zacarias 14:5).
- Os que são de Cristo serão ressuscitados na sua vinda (1 Coríntios 15:23).
- Mas os outros mortos não reviveram até que os mil anos acabaram (Apocalipse 20:5).
- No "último dia", soa a "última trombeta", os mortos ressuscitam primeiro (João 6:39-40, 44, 54; João 11:24) e depois os vivos serão transformados (1 Coríntios 15:52).
- No toque da "última trombeta", se cumpre o mistério de Deus (1 Coríntios 15:51-52; Apocalipse 10:7).
- Depois da sétima trombeta, os reinos do mundo vieram a ser de nosso Senhor e do seu Cristo (Apocalipse 11:15).
- No seu reino e na sua vinda, Cristo há de julgar os vivos e os mortos (2 Timóteo 4:1).
- Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus (1 Coríntios 15:24).
2º Parte - Na CRONOLOGIA PRÉ TRIBULACIONISTA acontece da seguinte maneira:
(O que ele imagina que eu creia)
-
No "último dia" (Jo 6.39, 40, 44, 54; 11.24), ao toque da "última trombeta" (1 Co 15.52), os mortos ressuscitam primeiro e depois os vivos são arrebatados.
-
Sete anos depois do "último dia", toca outra trombeta (Ap 10.7; 11.15), "depois da última trombeta", e então ocorre a vinda visível de Cristo para arrebatar os judeus (Mt 24.29-31).
-
A "última trombeta" (1 Co 15.52) passa a ser, na prática, a "penúltima trombeta", já que toca outra trombeta (Ap 10.7; 11.15) depois da "última".
-
A ressurreição dos que dormem acontece no "último dia" (Jo 6.39, 40, 44, 54; 11.24).
-
Os que são de Cristo serão ressuscitados no "último dia", na vinda invisível (arrebatamento) (1 Co 15.23).
-
Os mártires salvos na tribulação perderam a ressurreição, pois esta já ocorreu na vinda invisível (1 Co 15.23).
-
Depois da vinda visível para arrebatar os judeus (Mt 24.29-31), Cristo implanta o Seu reino na terra (Ap 11.15).
-
No Seu reino e na Sua vinda, Cristo há de julgar os vivos e os mortos (2 Tm 4.1).
-
Depois virá o fim, quando tiver entregado o reino a Deus (1 Co 15.24).
Veja, meu querido, como ficaria na prática a cronologia do fim, segundo a visão pré tribulacionista. Uma verdadeira confusão, completamente desconectada de textos bíblicos. Eu deixo essa reflexão ao querido irmão! (E.L.)
Minha Resposta:
A cronologia apresentada possui pontos de interpretação que merecem revisão à luz das Escrituras. A seguir, analisaremos as passagens mencionadas e responderemos, oferecendo uma compreensão mais coesa e fiel ao contexto bíblico.
1. "O dia do Senhor virá como ladrão de noite" (1 Ts 5.2)
- O contexto sugere que o "dia do Senhor" refere-se à manifestação da ira divina sobre os ímpios, não ao arrebatamento em si. Para os cristãos, que não estão em trevas (1 Ts 5.4), esse dia não será inesperado, uma vez que aguardam a redenção.
2. "O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor" (Jl 2.31; At 2.20)
- Estes sinais cósmicos apontam para eventos associados à segunda vinda visível de Cristo, que é distinta do arrebatamento. Os pré-tribulacionistas identificam o arrebatamento como um evento separado, que ocorre antes da tribulação.
3. "Depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá..." (Mt 24.29-30)
- Mateus 24 refere-se claramente ao retorno visível de Cristo, no final da tribulação. O arrebatamento não é descrito neste texto. A confusão surge ao misturar eventos da segunda vinda com os do arrebatamento.
4. "O arrebatamento acontecerá no ressoar da última trombeta" (1 Co 15.52)
- A "última trombeta" em 1 Coríntios 15:52 deve ser entendida no contexto do arrebatamento e não confundida com as trombetas de Apocalipse, que estão associadas ao julgamento divino. A trombeta do arrebatamento é um chamado para os crentes, não um ato de juízo.
5. "A ressurreição dos santos que dormem acontece no 'último dia'" (Jo 6.39, 40, 44, 54)
- O termo "último dia" pode ser entendido como o fechamento de uma era, marcando o fim da Igreja na terra. A ressurreição dos santos no arrebatamento não conflita com as ressurreições posteriores descritas em Apocalipse 20:4-5.
6. "Os santos que dormem virão com Ele" (1 Ts 4.13-14)
- 1 Tessalonicenses 4 distingue entre os santos que serão ressuscitados e os que serão transformados. O texto não implica que todos os eventos devem ocorrer simultaneamente.
7. Confusão Sobre Trombetas e Ressurreição
- A argumentação de que a "última trombeta" é contraditória ignora o contexto específico de cada passagem. As trombetas de Apocalipse pertencem ao período da tribulação, enquanto a trombeta de 1 Coríntios 15:52 é uma referência ao arrebatamento.
8. "No seu reino e na sua vinda, Cristo há de julgar os vivos e os mortos" (2 Tm 4.1)
- Este versículo aponta para o julgamento no final do milênio (Ap 20:11-15), distinto do arrebatamento e do julgamento das nações (Mt 25.31-46).
Conclusão
A cronologia pré-tribulacionista não é confusa quando analisada em seu próprio contexto. Ela distingue claramente entre:
- O arrebatamento da Igreja, como descrito em 1 Tessalonicenses 4:16-17 e 1 Coríntios 15:51-52.
- A tribulação, conforme descrita em Apocalipse 6-19.
- A segunda vinda visível de Cristo, mencionada em Mateus 24:29-31.
- O milênio e os julgamentos subsequentes (Ap 20).
Misturar passagens que tratam de eventos distintos gera confusão. Uma leitura atenta e respeitosa dos textos é essencial para uma compreensão adequada do plano escatológico divino.
Josué Matos
11. Na estátua de Nabucodonosor, hoje estamos nos pés da estátua? (11/01/2025)
A estátua do sonho de Nabucodonosor, descrita em Daniel 2, é uma representação profética dos impérios que dominariam o mundo ao longo da história. Ela é composta por diferentes materiais, cada um simbolizando um reino:
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Cabeça de ouro - Representa o Império Babilônico, reinado por Nabucodonosor. Este era o império mais glorioso e poderoso do seu tempo, simbolizado pelo ouro, o metal mais precioso.
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Peito e braços de prata - Refere-se ao Império Medo-Persa, que sucedeu Babilônia. A prata, embora valiosa, é inferior ao ouro, indicando a diminuição relativa da glória.
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Ventre e coxas de bronze - Simbolizam o Império Grego, liderado por Alexandre, o Grande. Este império é conhecido por sua força militar e expansão cultural.
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Pernas de ferro - Representam o Império Romano, caracterizado pela força e pela dominação esmagadora, assim como o ferro, um metal duro e resistente.
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Pés de ferro misturado com barro - Indicam um reino futuro, ainda por vir, que será marcado por divisões e alianças frágeis. Essa parte da estátua simboliza o período da Grande Tribulação, após o arrebatamento da Igreja. Durante esse tempo, uma confederação de reinos será formada, mas será instável e fragmentada, como o ferro misturado com barro.
Hoje, de acordo com uma análise mais detalhada das Escrituras, ainda não estamos vivendo no período dos pés da estátua. Este tempo será instaurado após o arrebatamento da Igreja, conforme descrito em Daniel 7:23-25 e Apocalipse 17:12-14, que falam sobre a formação de uma confederação de reinos sob a liderança do Anticristo. Esta confederação será caracterizada pela mistura de força e fraqueza, refletida no ferro e no barro.
É importante ressaltar que o período da Igreja não faz parte diretamente das profecias de Daniel, mas é um intervalo entre a 69ª e a 70ª semana de Daniel, conforme descrito em Daniel 9:24-27. Este intervalo, conhecido como o "tempo dos gentios", é marcado pela pregação do evangelho e pela formação da Igreja, o corpo de Cristo, composto de judeus e gentios que creem no Senhor Jesus como salvador pessoal.
O sonho revela que a estátua será destruída por uma pedra cortada sem auxílio de mãos humanas, que se tornará um grande monte e encherá toda a terra. Esta pedra simboliza o Reino eterno de Deus, estabelecido pelo Senhor Jesus Cristo, que substituirá todos os reinos humanos e nunca terá fim (Daniel 2:44-45).
Portanto, vivemos no tempo da graça, aguardando o retorno do Senhor Jesus para arrebatar Sua Igreja. Este é um chamado à vigilância e à fidelidade, sabendo que o plano soberano de Deus se cumprirá no tempo determinado, como revelado nas Escrituras.
Josué Matos
12. Onde fica o inferno? (13/01/2025)
A doutrina bíblica do inferno é frequentemente alvo de questionamentos, mas é importante abordar o tema com seriedade, baseando-se exclusivamente nas Escrituras Sagradas. A Bíblia descreve o inferno não como uma invenção humana para controle, mas como uma realidade espiritual mencionada de forma clara por diversos autores bíblicos e, especialmente, pelo próprio Senhor Jesus Cristo.
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A Realidade do Inferno na Bíblia - A Bíblia não descreve o inferno como um lugar visível no plano físico, pois trata-se de uma realidade espiritual, assim como o céu. O Senhor Jesus falou sobre o inferno de forma consistente, usando palavras como "fogo eterno" (Mateus 25:41) e "lugar de tormento" (Lucas 16:23). Ele advertiu que é um lugar onde "o fogo nunca se apaga e o verme não morre" (Marcos 9:43-48). Essas não são metáforas, mas advertências sérias para levar os homens ao arrependimento.
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A Criação do Inferno - A Bíblia indica que o inferno foi preparado, originalmente, para o diabo e seus anjos: "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos" (Mateus 25:41). Não se trata de um lugar criado para os homens, mas a consequência da rejeição a Deus é a mesma sorte destinada ao diabo. Assim, o inferno não é uma narrativa omitida na criação, mas uma consequência do juízo de Deus contra o pecado.
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A Condição do Pecador - Romanos 6:23, que afirma que "o salário do pecado é a morte", refere-se à separação eterna de Deus. Essa separação é amplamente descrita em Apocalipse 20:14-15, onde o "lago de fogo" é chamado de "segunda morte". Portanto, a morte e o inferno são realidades espirituais, não aniquilação.
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Salmos e Provérbios - Os textos de Salmos 37 e Provérbios 2 enfatizam o destino final dos ímpios na terra em contraste com os retos. No entanto, o ensino bíblico completo revela que esse destino se estende além desta vida. Os "maus serão exterminados" (Salmos 37:9) significa que perderão a bênção de Deus e enfrentarão Seu julgamento eterno. Apocalipse 14:11 reforça que o castigo é contínuo: "a fumaça do seu tormento sobe para todo o sempre".
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O Papel do Inferno no Ensino Bíblico - A doutrina do inferno não é uma ferramenta de manipulação, mas um chamado à seriedade do evangelho. O apóstolo Paulo, por exemplo, nunca usou o medo do inferno para exigir dízimos ou controle; ao contrário, ele pregou o amor de Deus demonstrado em Jesus Cristo, que veio para salvar os pecadores (1 Timóteo 1:15). O inferno é a consequência da rejeição à salvação oferecida gratuitamente por Cristo, não um meio de extorsão.
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O Ensino de Jesus - A ideia de que Jesus ensinou o inferno apenas como metáfora é infundada. Ele falou do "Geena" (um vale fora de Jerusalém associado à destruição e impureza) para ilustrar o juízo eterno, mas sempre fez isso para advertir sobre realidades espirituais (Mateus 5:22, 10:28). Se essas advertências fossem meramente simbólicas, elas perderiam sua seriedade.
Conclusão - O inferno é apresentado na Bíblia como uma realidade séria e espiritual, resultado da justiça divina. Não se trata de controle humano, mas de um apelo ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo para a salvação pessoal (Atos 16:31). Deus não deseja que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento (2 Pedro 3:9). Negar o inferno é minimizar a seriedade do pecado e a necessidade da obra redentora de Cristo. A solução não está em ignorar o juízo, mas em aceitar o amor de Deus, que enviou Seu Filho para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16).
Josué Matos
13. Já estamos da 70ª semana de Daniel? (16/01/2025)
A interpretação da profecia das setenta semanas em Daniel 9:24-27 é um dos temas mais debatidos na escatologia bíblica. Abaixo, uma explicação clara e organizada sobre este assunto:
O Que São as Setenta Semanas de Daniel?
O texto de Daniel 9:24-27 apresenta uma revelação profética sobre 70 semanas, que representam 490 anos (cada semana sendo um período de sete anos). Esse período é dividido em três partes principais:
- Primeiras 7 semanas (49 anos): Inicia com o decreto para restaurar e edificar Jerusalém, culminando na conclusão da reconstrução da cidade e do templo.
- Seguintes 62 semanas (434 anos): Seguem imediatamente após as primeiras 7 semanas e terminam com a manifestação do Messias.
- Última semana (7 anos): Refere-se ao período final de eventos antes da plena restauração de Israel e do estabelecimento do reino messiânico.
Onde Estamos na Linha do Tempo?
Os eventos das primeiras 69 semanas (483 anos) foram cumpridos com exatidão histórica. A chegada do Messias ocorre ao final da 69ª semana, quando Jesus Cristo foi apresentado publicamente. Em seguida, Ele foi "cortado" (crucificado), conforme o texto profético: "Depois das sessenta e nove semanas será cortado o Messias, mas não para si mesmo" (Daniel 9:26).
Entretanto, após a 69ª semana, há uma pausa profética antes da 70ª semana. Este intervalo é conhecido como o "período da Igreja", um tempo em que Deus está reunindo um povo para si, tanto de judeus quanto de gentios (Efésios 3:6; Romanos 11:25).
A 70ª semana de Daniel é claramente descrita como um período futuro, que não se iniciou ainda. Este período de sete anos é frequentemente associado aos eventos apocalípticos descritos no livro de Apocalipse (capítulos 6 a 19), incluindo a grande tribulação.
Por Que Não Estamos na 70ª Semana?
1. Intervalo Entre as Semanas:
A crucificação de Cristo não marca o início da 70ª semana, mas o final da 69ª. A destruição de Jerusalém em 70 d.C. e o atual período da Igreja fazem parte deste intervalo profético.
2. Ausência de Sinais Clássicos da 70ª Semana:
A 70ª semana é caracterizada pela confirmação de uma aliança por "um príncipe" (provavelmente o Anticristo) com Israel, seguida pela interrupção dos sacrifícios no meio da semana (Daniel 9:27). Esses eventos ainda não ocorreram.
3. Natureza Escatológica da 70ª Semana:
Este período coincide com o tempo da grande tribulação, descrito por Jesus Cristo em Mateus 24:15-21. Os acontecimentos associados à tribulação, como o surgimento do Anticristo e os juízos divinos, ainda não são evidentes no mundo atual.
Conclusão:
Portanto, afirmar que estamos atualmente na 70ª semana de Daniel é um erro de interpretação. Estamos, sim, vivendo no intervalo entre a 69ª e a 70ª semana, um período em que Deus está cumprindo Seu plano de redenção através da Igreja. A 70ª semana, ainda futura, será um tempo de juízo e preparação para o estabelecimento do reino messiânico.
Este entendimento é sustentado por uma leitura cuidadosa de Daniel 9, combinada com outros textos escatológicos do Novo Testamento.
Josué Matos